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Constituição Federal (Art 103-A – Incluído pela Emenda Constitucional

2.2 SÚMULA VINCULANTE

2.2.3 Previsão Normativa

2.2.3.1 Constituição Federal (Art 103-A – Incluído pela Emenda Constitucional

Antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, a súmula vinculante não era institucionalizada pelo ordenamento jurídico brasileiro, haja vista ser matéria de grande controvérsia na jurisprudência e, principalmente, na doutrina pátria.

A sua promulgação estava inserida em um dos recortes lançados pela Reforma do Poder Judiciário, proporcionada pela PEC nº 96/1992, de autoria do Deputado Hélio Bicudo, que após longo trâmite legislativo, culminou na referida Emenda.

Destaque-se que, a Reforma do Judiciário teve como elementos norteadores, a celeridade processual e a plena eficiência na prestação jurisdicional, numa perspectiva de se emitir uma resposta imediata aos críticos que estigmatizavam o respectivo Poder enquanto “templo” da morosidade processual.

Um dos marcos principais da referida Reforma foi a inclusão no texto constitucional do art. 103-A, trazendo a previsão constitucional do efeito vinculante das súmulas editadas pelo Supremo Tribunal Federal.

As súmulas editadas pelo STF que antes possuíam o caráter meramente consultivo passaram a ter verdadeiro efeito vinculante, e não mais facultativo, não podendo ser contrariada.148

Verifica-se que um dos motivos utilizados pelo legislador reformador refere-se à possibilidade de “desafogamento” da Corte constitucional, porquanto o número excessivo de processos, muitas vezes com conteúdo repetitivo, ocasionava os atrasos da resposta judicial da última instância do Poder Judiciário brasileiro.

Assim, no §1º do Art. 103-A, foram elencados os motivos determinantes para a adoção do efeito vinculante em determinadas decisões, que são traduzidos na existência de controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

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Registre-se que vários Ministros do STF eram favoráveis à inclusão da súmula vinculante no ordenamento jurídico brasileiro, tais como o Ministro Gilmar Mendes e o Ministro Carlos Velloso, bem como Ministros de outros Tribunais Superiores, entendendo que o instituto seria uma solução definitiva para o problema da multiplicação de processos que possuam a mesma temática jurídica.149

Cumpre destacar, nesse momento, o art. 103-A, in verbis:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.150

De fato, tem-se que o legislador reformador optou por esboçar os contornos normativos básicos, que passaram a valer de imediato, logo após a promulgação da Emenda, no que tange à aprovação de súmulas de ofício, transferindo à lei ordinária os contornos finais dos requisitos para o procedimento de sua aprovação, revisão e cancelamento.151

Nesse caso, observa-se a sua eficácia contida, pois a lei a ser promulgada poderia restringir ou regulamentar o procedimento, de maneira mais detalhada, uma vez que o caput do artigo 103-A trata da vinculação, mas indica que os seus contornos específicos será conteúdo de lei futura.

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LIMA, Carlos Eduardo de Oliveira; MARQUES, Edson Rodrigues; AGUIAR, Rodrigo de Souza. Artigo 103-A da Constituição: a introdução da súmula vinculante no ordenamento pátrio. Revista da AGU, Brasília, v.6, n. 12, p.63-80, abr. 2007, p.69.

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BRASIL, Constituição (1988). 151

Frise-se, ainda, que o art. 8º da Emenda Constitucional nº 45/2004, disciplinou o alcance da vinculação das súmulas ordinárias, anteriormente editadas pelo Supremo, porquanto delimita que “somente produzirão efeito vinculante após confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação na imprensa oficial, é dizer, nos mesmos moldes do quórum de aprovação da súmula já emitida com o referido efeito.

Discussões surgiram quanto a essa possibilidade, pela imprecisão constitucional quanto à aplicação de todos os requisitos para a aprovação de nova súmula ou apenas dos requisitos do quórum e publicação em imprensa oficial.

Outra polêmica de grande repercussão surgiu a partir da previsão da reclamação, enquanto instrumento de defesa da súmula vinculante. Se a súmula não for aplicada ao caso concreto, sem motivação, ou aplicada de forma indevida, caberá a reclamação por um dos legitimados, que será dirigida diretamente ao STF, cujas providências podem acarretar na anulação do ato administrativo ou cassação da decisão judicial reclamada.

Discute-se se essa competência originária do STF manifestaria o seu poder centralizador e se essa não seria uma nova via recursal que engessaria a própria atividade da Corte, anulando os motivos determinantes da formalização da súmula vinculante, que são a celeridade processual e a estabilidade jurídica, em contraposição à morosidade do Judiciário.

Com efeito, a regulamentação infraconstitucional do artigo em análise apenas ocorreu com a promulgação da Lei nº 11.417/06, que disciplinou, especificamente, o procedimento para a edição, revisão e o cancelamento da súmula, alvo de observação nas linhas seguintes.