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CAPÍTULO II – A SEPARAÇÃO DE PODERES BRASILEIRA

2. Constituição Republicana (1.891);

livre no território nacional, após a abdicação do imperador, acontecimento que consideramos decisivo no longo drama da nossa emancipação”.

180 ROSA, Alcides. Manual de Direito Constitucional... op. Cit. p. 26.

181 SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha. O tribunal constitucional como poder: uma nova visão dos poderes

políticos... op. Cit. P. 86.

182 LYNCH, Christian Edward Cyril. O Poder Moderador na Constituição de 1824 e no anteprojeto de Borges de

Medeiros de 1933: um estudo de direito comparado... op. Cit. p. 102.

183 Outro evento importante para a história do Brasil, mas de pouca repercussão para a Divisão Funcional de

Poderes foi o Ato Adicional promulgado no dia 12 de abril de 1834. Sua repercussão, porém, foi que, “A reforma estabeleceu o poder legislativo local, isto é, as Províncias teriam as suas atribuições delimitadas e definidas.” (ROSA, Alcides. Manual de Direito Constitucional... op. Cit. p. 26). A importância foi o estabelecimento e ampliação do modelo federalista, até então extremamente centralizado. Mesmo pequeno no papel da descentralização e também de relevância para a teoria da separação de poderes, o Ato Adicional foi resultado de tantos impropérios que assolavam o reino como a perda de credibilidade de Dom Pedro I, as diversas revoltas que se emergiam e emergiriam no seio do reinado, como, claro, o próprio descompasso das ambições públicas e a prática de governo e institucionalização do monarca.

Em complemento, anota-se que “após o Ato Adicional de 1834, ocorreram a Cabanagem, no Pará (1835-1840), que não deve ser confundida com a Guerra dos Cabanos em Pernambuco, a Sabinada, na Bahia (1837-1838), a Balaiada, no Maranhão (1838-1840), e a Farroupilha, no Rio Grande do Sul (1836-1845)”. (FAUSTO, Boris. A história do Brasil / Boris Fausto. 13. Ed. 1ª reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. P. 165).

54 O período que se abria com os republicanos – a partir de 1891 constitucionalmente falando – foi extremamente tumultuado no Brasil, pois, “do mesmo modo que em muitos outros países latino-americanos, as décadas de 1870 e de 1880 foram um período de reformas e de compromisso com as mudanças” 184 e, ainda, “um elemento importante da herança liberal da

América Latina foi o entusiasmo pelos esquemas constitucionais” 185 o que veio a culminar na

Constituição Republicana de 1891.

Nesse momento o Brasil adotaria de maneira incontestável a influência da experiência estadunidense186 da tripartição de poderes consolidando, no que tange a separação de poderes,

a seguinte regra “São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si.” 187 (art. 15). O novo sistema jurídico, porém,

não representou – como ocorrera nas treze colônias americanas – em uma ruptura com a realidade social anterior, resultando, na verdade, em um problema denunciado por Costa de que “o ano de 1889 não representou na história brasileira uma ruptura significativa.” 188, já que, na

verdade “a proclamação foi uma consequência da ação combinada de três grupos: uma facção militar (que representava no máximo um quinto do exército), os fazendeiros do oeste de São Paulo e alguns membros das classes médias urbanas.” 189

Isso, claro, se deu porque os segmentos acima (militares, fazendeiros e classe média urbana) “Foram ajudados indiretamente na consecução de seu objetivo pelo declínio de

184 COSTA, Emília Viotti da. Brasil: A era da reforma, 1870-1889. / Emília Viotti da Costa. In História da

América Latina: de 1870 a 1930, Volume V / Leslie Bethell organização; tradução Geraldo Gerson Souza. – 1. Ed. 2. Reimpr. – São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013. P. 705.

185 HALE, Charles A. As ideias políticas e sociais na América Latina, 1870-1930. / Charles A. Hale. In História

da América Latina, volume IV: de 1870 a 1930 / organização de Leslie Bethell; tradução Geraldo Gerson de Souza. – 1. Ed. 2. Reimpr. – São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2015. P. 337.

186 A adesão do modelo Norte-Americano foi simplesmente uma virada de chave, pois “Em termos de Brasil, em

1824 há uma influência do constitucionalismo Francês, a terceira matriz, mas a primeira constituição republicana de 1891 possui influência direta do constitucionalismo norte-americano via Rui Barbosa” (ZANON, Pedro Henrique Nascimento. Texto e contexto do constitucionalismo brasileiro: releituras a partir do constitucionalismo latino americano do Século XXI / Pedro Henrique Nascimento Zanon. Revista Brasileira de História do Direito | e-ISSN: 2526-009x | Brasília | v. 2 | n. 1 | p. 178 - 196| Jan/Jun. 2016. p. 182). No mesmo sentido, quanto a adoção do modelo estadunidense, destaca-se como capitão da empreitada Rui Barbosa que cuidou de externar na Carta Política suas próprias adesões ao modelo ianque, quando “A Lei Constitucional de 1891 foi acentuadamente marcada pela Constituição norte-americana de 1787” (RECH, Daniely; BITELBRON, Marcio Roberto. Constitucionalismo: aspectos históricos e as contribuições para o direito constitucional brasileiro / Daniely Rech, Marcio Roberto Bitelbron. – in REVISTA CONVERSATIO / XAXIM – SC / Vol. 1 / Número 1 / Jan. /Jun. / 2016. p. 71).

187 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 24 DE FEVEREIRO

DE 1891) – Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm> - Acesso em: 04.01.2018.

188 COSTA, Emília Viotti da. Brasil: A era da reforma, 1870-1889... op. Cit. P. 759. 189 Idem. P. 759.

55 prestígio da monarquia”190 com um desgaste de sua imagem com episódios, por exemplo, a

revolta dos “quebra-quilos” explicada por Vargas Llosa, quando, em 1.872, nos derradeiros dias do Império, “a fim de que os metros e litros substituíssem a vara de cinco palmos e a velha tigela do reino”191 que tal revolta é da luta “contra o uso ardiloso que os comerciantes faziam

deles [medida de metros e litros].”192

Essa revolta poderia até ser vista como algo esporádico no cenário imperial, mas a ela deve-se somar, ainda, conflitos como a Cabanada193, Cabanagem194 e Balaiada195 que,

juntamente com a supramencionada Quebra-Quilos, levaram ao completo descrédito do sistema imperial,196 cujo grande relatório se dá na construção de uma proclamação da república bastante

190 Idem.

191 VARGAS LLOSA, Mario. Sabres e Utopias: visões da América Latina / Mario Vargas Llosa; seleção e

prefácio de Carlos Granés; tradução Bernardo Ajzenberg. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. P. 138.

192 VARGAS LLOSA, Mario. Sabres e Utopias: visões da América Latina... op. Cit. p. 139.

193 Nesse sentido, ver: “... ter este movimento ocorrido no agreste meridional de Pernambuco, entre 1832 e 1836,

envolvendo inicialmente senhores-de-engenho que lutavam contra os liberais ocupantes do poder local”. (COVOLAN, Fernanda Cristina. Movimentos populares no Império: terra e cidadania / Fernanda Cristina Covolan – in Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009 (pp. 6.899-6.913). – Disponível em:

https://s3.amazonaws.com/conpedi2/anteriores/XVIII+Congresso+Nacional+-+FMU-

S%C3%A3o+Paulo+(04%2C+05%2C+06+e+07+de+novembro+de+2009).pdf – Acesso em: 29.09.2018. P. 6.901)

194 Explicando: “O Pará foi o palco da primeira dessas revoltas provinciais. Ficou conhecida pelo nome de

Cabanagem (termo derivado de cabanos, nome dado aos rebeldes, igual ao de Pernanbuco...)” (BETHELL, Leslie; CARVALHO, José Murilo de. O Brasil da independência a meados do Século XIX. / Leslie Bethell, José Murilo de Carvalho. – in História na América Latina: da independência a 1870, vol. III / Leslie Bethel organizador; tradução Maria Clara Cescato. – 1ª ed. 3ª reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.p. 720) e complementa-se: “A Cabanagem do Pará é o único movimento político do Brasil em que os pobres tomam o poder, de fato. [...] Os antecedentes históricos da Cabanagem estão na Independência, razão pela qual muitas vezes este movimento é visto apenas como uma das várias faces independentistas do começo do Império. [...] Nos primeiros dias de 1835, a população marginalizada age, então, atacando Belém [...] Ainda que a retomada de Belém se tenha dado em 1836, a cabanagem se estendeu no Amazonas até 1840, em movimentos interiorizados.” (COVOLAN, Fernanda Cristina. Movimentos populares no Império: terra e cidadania... op. Cit. p. 6.903, 6.904 e 6.905).

195 A Balaiada eclode em 1838, tendo por pano de fundo a disputa de poder entre conservadores ocupantes do

poder que usam de todos os artifícios arbitrários possíveis contra os liberais, entre os quais o recrutamento sistemático de “boiadeiros, feitores, agregados e até escravos das fazendas” que “eram requisitados para transmudarem-se em guardas-nacionais” (COVOLAN, Fernanda Cristina. Movimentos populares no Império:

terra e cidadania... op. Cit. p. 6.90) e acrescenta Boris Fausto que “os balaios chegaram a ocupar Caxias, segunda

cidade da província. De suas raras proclamações por escrito constam vivas à religião católica, à Constituição, a Dom Pedro II, à ‘santa causa da liberdade’ [...] a ação das tropas do governo central foi rápida e eficaz. Os rebeldes foram derrotados em meados de 1840. Seguiu-se a concessão de uma anistia, condicionada à reescravização dos negros rebeldes. Cosme foi enforcado em 1842” (FAUSTO, Boris. A história do Brasil / Boris Fausto. 13. Ed. 1ª reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. P. 167).

196 “Considerado os movimentos mais radicais e violentos da história anterior ou posterior do Brasil, esses quatro

levantes foram apenas as mais sérias das muitas insurreições ocorridas nas províncias que foram motivadas, significativamente, pela implantação das reformas liberais, sobretudo do Ato Adicional de 1834” (BETHELL, Leslie; CARVALHO, José Murilo de. O Brasil da independência a meados do Século XIX. / Leslie Bethell, José Murilo de Carvalho. – in História na América Latina: da independência a 1870, vol. III / Leslie Bethel organizador; tradução Maria Clara Cescato. – 1ª ed. 3ª reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.p. 720), o que, ademais, deu-se no período dos regentes que governavam ante a renúncia de Dom Pedro I e, paulatinamente, foi a razão de tamanha tensão no período dos regentes e instabilidade do modelo monárquico.

56 frágil e com a construção de um sistema bem distante dos ideais de liberdade estadunidense copiado:

Embora os “revolucionários” estivessem unidos momentaneamente por seu ideal republicano, profundas divergências entre eles viriam à tona nas primeiras tentativas de organizar o novo regime. Nos primeiros anos da República, contradições latentes explodiram em conflitos que contribuíram para a instabilidade do novo regime. 197

Esse cenário de extrema instabilidade seria responsável pelo século mais caótico vivido até então pelo Brasil – sendo, aliás, o período em que a separação de poderes seria suplantada do ordenamento jurídico quando “veio a ser a Carta de 1937” 198 – que em termos constitucionais seriam experimentados pela ocorrência de pelo menos cinco constituições (1934, 1937, 1946, 1967 – e a EC 69 – e 1988), mantendo, sempre na sombra, a sombra das intervenções militares na política.199

A Constituição de 1891, portanto, em que pese sua adoção quase literal do modelo Norte-Americano de separação de poderes tripartite foi vulnerada em sua capacidade de exercer realmente esse modelo por seus altos índices de corrupção, sobretudo eleitoral, e, claro, de clientelismo, de modo que “tínhamos uma Constituição rigorosa na sua técnica, impecável no vernáculo, fluente no estilo do seu articulado, o que não impedia que a soberania das urnas fosse sempre um mito”200 e, como demonstra a conjuntura histórica, com isso foi impossível

não se evitar a queda da Velha República e a ascensão de uma nova constituição cujo afã foi reformar os diversos fracassos da pseudo-república vivida até então.

197 COSTA, Emília Viotti da. Brasil: A era da reforma, 1870-1889... op. Cit. P. 759. 198 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional... op. Cit. P. 567.

199 A história brasileira (e latino-americana de um modo geral) se transformaram em um fértil laboratório de

ciências políticas capazes de proporcionar diagnósticos sólidos como o proferido por Robert Dahl: “É improvável que as instituições políticas democráticas se desenvolvam, a menos que as forças militares e a polícia estejam sob pleno controle de funcionários democraticamente eleitos” (DAHL, Robert A. Sobre a democracia / Robert A. Dahl; tradução de Beatriz Sidou. – Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001, 2016. (2ª reimpressão). p. 165), “Assim, a poliarquia tem sido possível no Chile, onde os militares têm-se mostrado tradicionalmente relutantes em interferir na arena política, ao passo que na vizinha, Argentina, a poliarquia é impossível já que os militares aceitam a crença de que seus líderes têm o direito e o dever de descartar resultados eleitorais sempre que os resultados forem considerados perniciosos ao país, no seu entender” (DAHL, Robert A. Poliarquia: Participação e Oposição / Robert A. Dahl: prefácio Fernando Limongi; tradução Celso Mauro Paciornik. – 1ª ed. 3ª reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015. p. 65).

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