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Remodelações do Welfare State (constitucionalismo social):

CAPÍTULO I – SEPARAÇÃO DE PODERES

3. Remodelações do Welfare State (constitucionalismo social):

98 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista / Marx & Engels; tradução Pietro

Nassetti. – 2ª Ed. 10ª reimpressão – São Paulo: Martin Claret, 2011. P. 48.

99 “Desde porém que se desfez a ameaça de volver o Estado ao absolutismo da realeza e a valoração política passou

do plano individualista ao plano social, cessaram as razões de sustentar, em termos absolutos, um princípio que logicamente paralisava a ação do poder estatal e criara consideráveis contrassensos na vida de instituições que se renovam e não podem conter-se, senão contrafeitas, nos estreitíssimos lindes de uma técnica já obsoleta e ultrapassada. O princípio perdeu pois autoridade, decaiu de vigor e prestígio” (BONAVIDES, Paulo. Ciência Política... op. Cit. P. 157).

37 No final do século XIX e início do século XX Nietzsche, Heidegger, Marx, Engels, Althusser e Freud simplesmente, em apoio com os conflitos da I e II Guerra Mundial, o Crash de 1929 e a Guerra Fria, remodelarão em definitivo a percepção de mundo com a ruptura do moderno para a entrada do conceito de pós-moderno.

Para a Separação de Poderes, contudo, os reflexos não foram diferentes e, por isso, sustentou Pedro Abramovay que durante o período dos séculos XIX e XX dois pontos foram severamente atacados na teoria da separação de poderes: (i) a soberania; (ii) imobilismo.

No primeiro caso sustentavam (Troper, Malberg, por exemplo) que a “noção de que a construção da ideia de nação e de soberania era incompatível com qualquer tipo de divisão” 100, enquanto que, para a segunda hipótese, “a crítica refere-se a uma interpretação sobre o que significa separação de Poderes muito diferente daquela que forjou o conceito na modernidade”

101 cuja síntese é a crença de que o modelo liberal gera a manutenção do status quo.

Saldanha, de igual modo, esclareceu que “Aos poucos, porém, o século XX foi pondo em crise e em xeque estes ideias, através de eventos que, uns positivos e outros negativos, desmentiram alguns deles, desmascarando-os e a outros destruíram” 102 e, assim, de todos esses pontos, talvez, a grande crítica venha das questões relacionadas ao Estado social (bem-estar social) “que germinam por obra da ideologia e da reflexão antiliberal do século XX” 103 de

maneira tal que “na segunda metade do século XX foi revista” 104 a teoria a fim de que a

separação rígida erroneamente pensada e repetida por muitas vezes fosse substituída por uma harmonia das ações dos poderes, pois “A experiência mostra que deixar um assunto à apreciação de uma Comissão é a melhor maneira de adiá-lo indefinidamente” 105.

Um reflexo dessa realidade transformada é a Constituição do México de 1917 e da Constituição de Weimar – da Alemanha – de 1919 que serão as primeiras a cristalizar os direitos sociais.

100 ABRAMOVAY, Pedro Vieira. Separação de poderes e medidas provisórias... op. Cit. P. 19. 101 Idem. P. 38

102 SALDANHA, Nelson. O Estado Moderno e a Separação de Poderes... op. Cit. P. 161.

103 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional / Paulo Bonavides. – 30ª ed. até EC 84/2014 – São

Paulo: Malheiros Editores, 2015. P. 578.

104 ABRAMOVAY, Pedro Vieira. Separação de poderes e medidas provisórias... op. Cit. P. 23. 105 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, 1934- A democracia possível... op. Cit. P. 100.

38 Antes e durante esses eventos legislativos (posto durar de 1914 – 1918) verão ainda a I Guerra Mundial com àquilo que chamaria de “O fim do concerto europeu”106 e cujo término

iniciaria a da Liga das Nações – embrião da Organização das Nações Unidas (ONU).

Logo após o Crash de 1929 nos Estados Unidos – uma década antes de eclodir a II Guerra Mundial e uma década depois da I Guerra Mundial – que, em termos mais sólidos, seria praticamente a responsável pela mudança substancial do paradigma liberal para o social (que, notavelmente, conforme as constituições mexicanas e alemãs acima já demonstravam a mudança dos ventos), onde os impasses dos diálogos institucionais da rígida separação liberal não seria mais capaz de atender os reclamos dos controvertidos anos de 1930.

É sob esse cenário que se inaugura o célebre Welfare State.107

Inicialmente, como toda teoria, a missão do Estado de Bem-Estar Social, não buscará fortalecer o Executivo, mas, construir um Estado integralmente prestativo, que:

No Estado de bem estar social, de modo diverso, o que é buscado é uma maior intervenção do Estado como um todo e não apenas do executivo. Observa-se a formação de um Estado forte ante ao cidadão no sentido de ser capaz de protegê-lo e de prover-lhe, de forma mais adequada, tudo aquilo que melhore sua qualidade de vida e sua própria essência humana. Não coincidindo, em nada, essa finalidade com a de intervenção sobre o direito a liberdade, direito este garantido a todos por nossa Constituição.108

106 MACMILLAN, Margaret. A Primeira Guerra Mundial: que acabaria com as guerras / Margaret

MacMillan; tradução Gleuber Vieira – 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Editora Globo, 2014.

107 Cuja síntese pode explica-lo da seguinte maneira: “Welfare State, como padrão de política social, surge como

um fenômeno do século XX e as teorias explicativas sobre sua gênese e desenvolvimento são inúmeras. Há um consenso, entretanto, que se constitui como um elemento estrutural ao capitalismo contemporâneo, sendo que significou mais do que um incremento nas políticas sociais. Representou um esforço de reconstrução econômica, moral e política do mundo industrial desenvolvido e um anteparo à possível ampliação de propostas comunistas. Economicamente significou o abandono da “ortodoxia do mercado”. Moralmente significou a defesa das ideias de justiça social solidariedade e universalismo” (NOGUEIRA, Vera Maria Ribeiro. Estado de Bem-Estar Social

– origens e desenvolvimento / Vera Maria Ribeiro Nogueira. – Universidade Federal de Santa Catariana – Periódicos - Revista Katálysis. N. 5 jul/dez 2001 – Disponível em:

https://periodicos.ufsc.br/index.php/katalysis/article/viewFile/5738/5260 - Acessado em 29.12.2017). Acesso em: 30.08.2018. P. 99.

108 DOURADO, Edvânia A. Nogueira; AUGUSTO, Natália Figueirosa; ROSA, Crishna Mirella de Andrade. Dos

três Poderes de Montesquieu à Atualidade e a Interferência do Poder Executivo no Legislativo no âmbito Brasileiro. – in Anais. Textos completos do IV Congresso Internacional de História / editor Angelo Priori. -- Maringá,PR : UEM/PPH/DHI, 2009. P. 2.467.

39 A partir de então, isto é, da ruptura da certeza inaudita do modelo liberal, diversos autores darão vida às críticas que reconstruirão a separação de poderes direta ou indiretamente.

Entre tantas críticas que o final do século XIX e até, aproximadamente, metade do século XX apareceram – não deixando de mencionar a releitura do Ministro Eros Grau de Althusser109 no Voto da ADI cuja síntese se vislumbra nessas palavras: “Precisamente por isso não há um modelo universal de ‘separação’ ou harmonia e equilíbrio entre os poderes, a cada sociedade política correspondendo um modelo particular e específico seu”110 - deve-se dar destaque a dois

que foram muito bem selecionados por Abramovay de que a impossibilidade de divisão de poderes se dá pela indivisibilidade da soberania e de que o modelo liberal simplesmente impede o progresso das situações emergentes nas travas dos diálogos institucionais.

Portanto, “Essa crítica, se já aprecia entre os teóricos do século XIX, encontra forte eco entre os juristas do Estado Social, no século XX.”111

Findas as Grandes Guerras Mundiais, reestabilizada a economia mundial após a crise de 1929, estabelecida um órgão de cotejo internacional com a ONU em 1948 e mudada substancialmente a sociedade, é neste cenário que se inicia à entrada ao tempo contemporâneo – reiteradamente chamado de pós.

Nele, diversas críticas serão tecidas à separação de poderes, bem como, claro, reinterpretações que, como na citação da ADI 3.367-1 do Ministro Eros Grau, serviram na busca da construção da separação de poderes que melhor atendesse às particularidades de cada nação, povo ou, como no caso dos blocos regionais que se iniciariam com a União Europeia, conforme os anseios de cada bloco regional.