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Tentando compreender o processo de construção de sentidos destes profissionais de saúde acerca da soropositividade feminina, encontrou-se na metodologia de entrevistas o caminho para esse processo investigativo. Tal procedimento foi realizado pela pesquisadora e pareceu ser mais coerente com a proposta do trabalho, uma vez que a mesma se propõe a compreender os sentidos construídos pelo sujeitos, através da linguagem, no contexto da interação.

O momento da entrevista é um contexto de interação imediata que proporciona que, por meio da conversa, o entrevistado tenha oportunidade de se permitir uma expressão dos sentidos que constrói sobre a soropositividade feminina. É importante compreender, então, que esses sentidos construídos estão relacionados a um encontro entre pesquisadora e participante e a todas implicações que esse encontro produz, como expectativas geradas em torno da entrevista.

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (consulte o APÊNDICE 1 para informação completa) em que se fez uso de algumas perguntas que auxiliaram entrevistador e entrevistado a

prosseguir com a conversa, sendo que também havia liberdade para ir além das perguntas já elaboradas, dando espaço para perguntas que considerava colaborativas aos objetivos da pesquisa e, também, para os interesses dos entrevistados em outras questões que consideram importantes. Neste sentido, ao final das entrevistas criou-se um espaço para que os entrevistados pudessem abordar outras questões que julgassem relevantes.

As entrevistas realizadas ajudaram a identificar e explorar os repertórios interpretativos, ou seja, os vocabulários e imagens utilizados pelos participantes em suas explicações sobre os assuntos em questão e, ainda, criar espaço para que ocorresse um resgate da história pessoal de cada profissional da equipe e das suas justificativas pessoais para as questões. Tais entrevistas foram realizadas na própria instituição, sendo que foi entregue aos participantes o termo de consentimento livre e esclarecido para que os profissionais ficassem cientes das implicações de sua participação e expressassem seu interesse e consentimento. Ressalta-se que houve a aprovação do projeto desta pesquisada pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade federal de Uberlândia sob o parecer nº 266/07 (ANEXO 1).

Entendendo a relação humana como produtora do conhecimento, a perspectiva aqui enfocada considera que os atores sociais envolvidos na pesquisa, entrevistador e entrevistado, estão sempre ativamente comprometidos com o processo de produção de sentidos.

Segundo Silverman (2001), a entrevista não deve ser tratada como uma mera ferramenta de registro dos fatos ou experiências, sendo que a forma como os sentidos são construídos se torna o foco principal do pesquisador e da pesquisa, ou seja, o que se pretende analisar é a maneira como os entrevistados constroem suas narrativas dos eventos e das pessoas presentes em suas práticas discursivas, ao responder às questões do entrevistador. Assim, considera-se que no

contexto da entrevista o que há são duas narrativas que se interpenetram, se complementam e se constroem.

Como método ou forma de operacionalizar a construção do corpus, a entrevista pode ser considerada uma prática discursiva, na medida em que ela está sendo entendida como ação / interação situada e contextualizada, por meio da qual se produzem sentidos e se constroem versões da realidade (Pinheiro, 2004).

Além disso, foi produzido um diário de campo pela pesquisadora durante o tempo que permaneceu na instituição enquanto aguardava para realizar as entrevistas. Na maioria das vezes esses momentos de espera eram vividos na própria sala de espera do serviço de saúde.

O diário de campo construído ajuda a compreender como era receber no serviço de saúde uma estranha que lhes provocava a falar sobre as questões vividas naquele contexto. Duarte (2002) coloca que os diários de campo permitem que sejam explorados os momentos que vão além das verbalizações, como descrições do momento em que os sujeitos são abordados, a forma de como o entrevistador é recebido e ainda o contexto no qual a entrevista foi desenvolvida e demais aspectos que são relevantes para o processo investigativo e sua compreensão.

Em seu trabalho, Giglio-Jacquemot (2005) fala da importância da participação do pesquisador no cotidiano dos locais onde se é realizado o processo investigativo e como esses dados colaboram na construção do corpus da pesquisa. Pensando a importância das considerações sobre o trabalho de campo desta autora para o trabalho aqui realizado, podemos compreender que demandas e atendimentos a essas mulheres confluem e manifestam-se nesse lugar, sala-de-espera, sendo este espaço privilegiado de acesso a observações e discursos significativos para a pesquisa relativos tanto ao atendimento prestado às mulheres pelos profissionais quanto às interações entre esses profissionais da equipe de saúde.

Ainda segundo a autora, apreender os dados não só a partir do contexto da entrevista, que como foi anteriormente afirmado envolve um encontro entre pesquisador e participante e suas implicações, mas também a partir do movimento e da dinâmica da instituição, possibilita refletir como nele se combinam práticas e construções diversas do atendimento à mulher soropositiva.

Mesmo não sendo analisadas sistematicamente, dados os objetivos e método da análise escolhida, as anotações propiciadas pela utilização dos diários ajudam a compreender questões fora do contexto da entrevista e, mais importante, a proposta dos diários implica numa construção ativa de sentidos pelo pesquisador já no momento de construção dos dados.

Pensando nas considerações que já fizemos no capítulo 4 deste trabalho sobre as implicações da perspectiva construcionista para o fazer científico e considerando que as pessoas constroem o mundo e a si mesmas nas suas práticas discursivas, torna-se pertinente destacar neste estudo questões relativas a negociações lingüísticas que ocorrem no plano relacional, considerando aspectos sócio-históricos e culturais, que possibilitam que se (re) construa determinados sentidos sobre a soropositividade feminina e sua assistência.