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A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E OS SEUS ELEMENTOS CONSTITUINTES

No documento janainaaparecidaparreira (páginas 86-104)

CAPÍTULO I: SERVIÇO SOCIAL E PROJETO ÉTICO-POLÍTICO: um retrospecto das suas bases sócio-históricas.

1.5 A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E OS SEUS ELEMENTOS CONSTITUINTES

O Projeto Ético-Político é fruto de uma construção histórica que foi gestada a partir do processo de Renovação do Serviço Social brasileiro, especificamente com a sua vertente crítica, conhecida como intenção de ruptura, e com a aproximação do Serviço Social com a tradição marxista. Buscando construir reflexões sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social, entendemos como pertinente iniciarmos a nossa explanação a partir do debate sobre a concepção de projeto a partir da obra Ontologia do ser social de Lukács, e posteriormente aprofundamos nos análises a partir da distinção entre projetos societários e projetos profissionais.

Os projetos envolvem uma dimensão de ação, um horizonte, uma finalidade e, todas as atividades que perpassam interesses sociais, são permeadas pela contradição entre as classes sociais. Ao projetar uma finalidade, o ser social utiliza a sua capacidade teleológica, sendo

capaz de transformar a sua relação com o mundo, com tudo aquilo que o cerca, e transforma a si mesmo. Desta forma, segundo Lukács (2013), a capacidade teleológica é mais do que um ato de consciência humana voltado para um fim, pois ela engloba um conjunto de peculiaridades nas quais o ser social antes de produzir um determinado objeto, o projeta em sua mente levando em consideração suas características, seus nexos causais e o que é necessário para realizá-lo. Ao final do processo, o objeto produzido se transforma na materialização do que foi previamente idealizado.

Para Lukács (2013) o ato de projetar é uma característica do ser social e as necessidades que foram construídas ao longo do seu desenvolvimento originaram atividades distintas que devem ser compreendidas a partir de uma perspectiva de totalidade, ou seja, a partir das determinações que perpassam a realidade.

Apesar da importância da capacidade teleológica para a construção de qualquer objeto, ela por si só não é capaz de concretizar o que idealizamos, sendo necessário acionar um conjunto de mediações neste processo. Para Lukács (2013) a causalidade é o processo em que o objeto previamente idealizado se materializa, ou seja, é a colocação em prática daquilo que foi idealizado no plano do pensamento. Na natureza, a causalidade se dá por movimentos espontâneos dos nexos causais nos quais os objetos são transformados.

Vale dizer que, enquanto a causalidade é um princípio de automovimento que repousa sobre si próprio e mantém esse caráter mesmo quando uma cadeia causal tenha o seu ponto de partida num ato de consciência, a teleologia, em sua essência, é uma categoria posta: todo processo teleológico implica o pôr de um fim e, portanto, numa consciência que põe fins. Pôr, nesse contexto, não significa, portanto, um mero elevar-a-consciência, como acontece com outras categorias e especialmente com a causalidade; ao contrário, aqui, com o ato de pôr, a consciência dá início a um processo real, exatamente ao processo teleológico. Assim, o pôr tem, nesse caso, um caráter irrevogavelmente ontológico (LUKÁCS, 2013, p. 48).

Ao mencionar que “todo processo teleológico implica o pôr de um fim”, Lukács infere que as ideações que não tem por finalidade se objetivar, não se caracterizam como um processo teleológico e sim um ato de vontade. Portanto, o “pôr teleológico” do complexo do trabalho é uma categoria ontológica central, apesar de não ser a única, para compreensão a do ser social. As mediações necessárias a produção de um determinado objeto pressupõe o papel ativo da

consciência, conforme explica Lukács (2013, p.52):

Para produzir, por exemplo, como fogo, a carne, o espeto, etc., um alimento humano, as propriedades, as relações etc., destes objetos que são apresentados

objetivamente em si e de modo absolutamente independente do sujeito ativo devem ser corretamente conhecidas e corretamente usadas.

No entanto, o papel ativo da consciência na realização da produção, não nos permite afirmar que os produtos das ações humanas sejam conscientes ou resultantes de uma projeção ideal, uma vez que, os homens estão inseridos em uma realidade histórica, social e dinâmica (BARROCO, 2010). Comumente, existem interpretações equivocadas baseadas em perspectivas idealistas e na racionalidade formal abstrata que desconsideram as relações sociais nas quais o ser social estão inseridos, afirmando que “basta a intencionalidade para se transformar uma realidade, uma identificação entre representação e teoria (concreto), entre desejo e possibilidade, do que resulta de uma confusão de que é o pensamento que engendra a realidade (e não o contrário) ” (GUERRA, 2015, p.48).

Deste modo, a práxis significa o papel ativo da consciência no exercício do trabalho, ou seja, uma intervenção dotada de consciência do homem sobre a matéria e a criação de algo. A consciência é especificamente uma capacidade do homem, pois, somente ele é capaz de responder as suas carências e projetar finalidades (BARROCO, 2010).

Na direção desta reflexão, os projetos constituem um esboço geral, algo provisório devido a sua intencionalidade em realizar algo futuramente. Eles podem ser construções individuais ou coletivas e neles estão presentes as finalidades que são orientadas por intencionalidades. Ao estabelecer finalidades e materializá-las, os homens tomam decisões a partir de alternativas mediantes as posições teleológicas futuras. Portanto, os projetos são orientados por uma práxis e possuem na atividade material transformadora e revolucionária seus fundamentos (GUERRA, 2015).

No entanto, a capacidade projetiva, teleológica, confronta-se com as causalidades

postas e desta maneira que, em sua maioria, inviabilizam que os resultados das ações sejam

iguais ao da ideação. Deste modo, o homem necessita conhecer a realidade sobre a qual ele irá atuar, os processos históricos e definir as estratégias e táticas que se adequam a sua finalidade, que consiste na semelhança entre o objeto idealizado e a sua concretude. “O conhecimento sobre o real se junta ao aprimoramento das habilidades humanas necessárias para atuação sobre a realidade. Quanto mais o homem incide sobre o real, mais ele desenvolve suas habilidades” (ORTIZ, 2015, p.183).

Enfim, compreender o desenvolvimento histórico do ser social, sua capacidade teleológica e as causalidades postas nas relações no interior do complexo trabalho, significa entender que em diferentes tipos de sociedade o desenvolvimento de suas forças e a existência de classes distintas e antagônicas conformam novos modos de vida em sociedade. Ainda que

não possamos identificar as suas bases originárias devido a sua complexidade, neste processo estão colocadas necessidades materiais, espirituais, interesses individuais e coletivos. “Esses são fundamentos que nos permitem considerar os projetos sociais e profissionais, uma vez que podemos inferir a existência de vínculos entre tais projetos e as condições que determinam a vida em sociedade e os interesses dos sujeitos sociais” (FORTI; COELHO, 2015, p.19). A partir desta inflexão, é imprescindível a diferenciação entre projetos profissionais e projetos societários, uma vez que os projetos profissionais surgem a partir da posição da categoria profissional frente à contradição entre capital e trabalho, e também determinados pela divisão social e técnica do trabalho.

De acordo com Netto (2006) os projetos societários “apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la”. Os projetos societários são sempre projetos coletivos e macroscópicos e devido à forma como está organizada a nossa sociedade, em classes, podemos afirmar que “os projetos societários são, necessários e simultaneamente, projetos de classe”. Sendo assim, os projetos societários e coletivos possuem uma dimensão política que lhes é inerente, pois devido à própria sociabilidade capitalista, os antagonismos entre as classes sociais e as relações de poder envolvidas neste contexto fazem com que as escolhas estejam pautadas em valores (Netto, 2006, p.143).

Os projetos societários perpassados por interesses classistas e cujas ações respondem aos mesmos, constituem-se estruturas flexíveis e cambiantes, na medida em que podem vir a incorporar novas demandas e reinvindicações conforme a conjuntura sócio histórica e política (NETTO, 2006).

Para Netto (2006), a disputa entre projetos societários está relacionada à democracia política, pois é a partir da liberdade de expressão, de votar e ser votado, de organização, que os projetos societários podem confrontar-se entre si e disputar a adesão da sociedade civil. Entretanto, na sociabilidade comandada pelo capital, apesar de termos uma democracia política, “os projetos societários que respondem aos interesses das classes trabalhadoras e subalternas sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar os projetos das classes proprietárias e politicamente dominantes” (NETTO, 2006, p.3).

Os projetos profissionais também possuem um caráter coletivo devido a sua relação com as profissões, em específico aquelas que possuem reconhecimento jurídico e uma formação teórica e prática de nível superior (NETTO, 2006).

Os projetos coletivos se relacionam com as diversas particularidades que envolvem os vários interesses sociais presentes numa determinada sociedade. Remetem-se ao gênero humano uma vez que, como projeções sócio históricas particulares, vinculam-se aos interesses universais presentes no movimento da sociedade. Em outras palavras, os interesses particulares de determinados grupos sociais, como o dos assistentes sociais, não existem independentemente dos interesses mais gerais que movem a sociedade. Questões culturais, políticas e, fundamentalmente, econômicas articulam e constituem os projetos coletivos. Eles são impensáveis sem estes pressupostos, são infundados se não os remetemos aos projetos coletivos de maior abrangência: os projetos societários (ou projetos de sociedade). Quer dizer: os projetos societários estão presentes na dinâmica de qualquer projeto coletivo, inclusive em nosso projeto ético-político. (BRAZ, 2001, p.2)

Desta forma, os projetos profissionais são construídos pela categoria profissional53 e expressam o posicionamento frente à luta de classes vigente nesta sociabilidade. Os projetos profissionais constituem-se como

a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a quem cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). (NETTO, 2006, p. 4)

Por serem estruturas dinâmicas, os projetos profissionais podem sofrer modificações através das transformações societárias, das mudanças oriundas no interior da profissão, das novas expressões da questão social que surgem com o passar dos anos, exigindo novas ações profissionais sintonizadas com as mudanças que perpassam a profissão e a sociedade.

Os projetos profissionais também são estruturas dinâmicas, respondendo às alterações no sistema de necessidades sociais sobre o qual a profissão opera, às transformações econômicas, históricas e culturais, ao desenvolvimento teórico e prático da própria profissão e, ademais, às mudanças na composição social do corpo profissional. Por tudo isto, os projetos profissionais igualmente se renovam, se modificam (NETTO, 2006, p.4).

A construção de projetos profissionais é algo processual e que necessita ser feita democraticamente, posto que deve se consolidar nos diversos espaços de discussão e deliberação que garantem a participação democrática de todos os profissionais que atuam em

53 Entendemos que participam deste processo: profissionais que atuam na docência, pesquisadores, profissionais

diversas áreas e que possuem concepções políticas, teóricas e ideológicas distintas (RAMOS, 2007).

Os projetos profissionais também possuem dimensões políticas inelimináveis que se relacionam com os projetos societários e com as perspectivas particulares da própria profissão. Entretanto, mesmo que as dimensões políticas estejam presentes nos projetos profissionais, muitas vezes não são explicitadas, especialmente, quando estão atreladas a projetos societários conservadores ou reacionários. Deste modo, a negação das dimensões políticas e ideológicas constituem uma das características do conservadorismo (NETTO, 2006).

Dentro dessa perspectiva, os projetos profissionais são construídos pelo coletivo da categoria profissional, indivíduos que possuem características diferentes, valores, modo de vida, posições teóricas e políticas diferentes. Ou seja, “o corpo profissional é uma unidade não- homogênea, uma unidade de diversos, nele estão presentes projetos individuais e projetos societários diversos” (NETTO, 2006, p.5) que conformam um espaço plural. Isto nos permite considerar que a construção de um projeto profissional se dá em um terreno de lutas e debates, e que a hegemonia de um determinado projeto profissional não extingue as divergências presentes no interior da categoria profissional. Por isso, a defesa do pluralismo é um dos valores que orientam o nosso projeto ético-político. Conforme Iamamoto (2015, p.226), o pluralismo prevê “o reconhecimento da presença de orientações distintas na arena profissional assim como o embate respeitoso com as tendências regressivas do Serviço Social, cujos fundamentos liberais e conservadores legitimam o ordenamento social instituído”. Entretanto, como nos explica Netto (2006, p.6) o respeito ao pluralismo, “não deve ser confundido com uma tolerância liberal para com o ecletismo, não pode inibir a luta de ideias”.

Corroborando com o pensamento dos autores supracitados, Carlos Nelson Coutinho (1991), ao explicitar as dimensões teóricas e políticas do pluralismo, ressalta o cuidado que se deve ter para que o pluralismo não se torne sinônimo de ecletismo, mas sim, o respeito a posições diferentes, o que também não significa aceitar qualquer concepção, aderindo a um relativismo moral.

Vejam bem: não é apenas tolerância de quem tem a verdade no bolso e tolera a existência do diferente. Não. É uma posição de abertura de quem julga fundamental a tolerância para o progresso da ciência, para o enriquecimento da própria posição. O que não significa que dois e dois devem se tornar cinco ou seis. Vamos debater para chegar a descoberta de verdades que, em geral, são verdades tipicamente científicas, ou seja, com a certeza de que, para questão, só há uma resposta globalmente verdadeira (COUTINHO, 1991, p.14).

A partir deste pluralismo, os projetos profissionais podem se articular e se desenvolver reforçando determinados projetos societários que sejam hegemônicos na sociedade. Porém, “embora seja frequente a sintonia entre o projeto societário hegemônico e o projeto hegemônico de um determinado corpo profissional, podem ocorrer – e ocorrem – situações de conflito e mesmo de contradição entre eles” (NETTO, 2006, p.6).

Em decorrência deste quadro plural de ideias e concepções, a hegemonia de um determinado projeto profissional pressupõe um pacto entre os seus membros sobre aspectos que se apresentam no projeto como imperativos ou indicativos (NETTO, 2006). Os aspectos imperativos são “os componentes compulsórios, obrigatórios para todos os que exercem a profissão (estes componentes, em geral, são objeto de regulação jurídico-estatal)”. Já os aspectos indicativos “são aqueles em torno dos quais não há um consenso mínimo que garanta seu cumprimento rigoroso e idêntico por todos os membros do corpo profissional” (NETTO, 2006, p.7)54.

Os projetos profissionais requerem sempre uma fundamentação em valores éticos que devem permear todo o projeto e não apenas se fazer presente nos Códigos de Ética Profissional. Sendo assim, os valores éticos presentes nos projetos profissionais não se limitam apenas a direitos e deveres, mas se alinham também a opções teóricas, ideológicas e políticas dos profissionais (NETTO, 2006).

Na trajetória histórica do Serviço Social, desde o seu surgimento até a metade da década de 1960, a profissão esteve vinculada a projetos societários hegemônicos da burguesia, e somente com o movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino-Americano e com a Renovação Crítica do Serviço Social brasileiro que essa hegemonia começa a ser questionada pela categoria profissional. Decorreram a partir de então, processos que culminaram nas bases sócio históricas da criação de um projeto profissional crítico, conhecido por Projeto Ético- Político. Processos estes, que foram discutidos no item anterior deste capítulo, ao abordarmos a recusa e crítica ao conservadorismo profissional nos anos 1970, com a perspectiva de intenção de ruptura do Serviço Social.

A elaboração do Projeto Ético-Político do Serviço social e a sua vinculação a outro projeto societário que não seja o de defesa dos interesses e das classes dominantes, que busca a superação da sociedade capitalista, foi possível também devido à luta contra a ditadura militar

54 Alguns exemplos de componentes imperativos são os cursos em Serviço Social que devem ser oferecidos na

modalidade de nível superior, serem reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e seguirem um currículo mínimo estabelecido; a inscrição no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) para que o assistente social possa atuar nos variados espaços sócio ocupacionais; e o Código de Ética Profissional aprovado em 1993.

e o retorno da democracia política, processos estes que possibilitaram o embate entre projetos societários distintos no interior da categoria profissional (NETTO, 2006).

É neste contexto que o histórico conservadorismo do Serviço Social brasileiro, tantas vezes reciclado e metamorfoseado, confrontou-se pela primeira vez com uma conjuntura em que a sua dominância no corpo profissional (que, sofrendo as incidências do “modelo econômico” da ditadura, começa a reconhecer-se como inserido no conjunto das camadas trabalhadoras) podia ser contestada – uma vez que, no corpo profissional, repercutiam as exigências políticas e sociais postas na ordem do dia pela ruptura do regime ditatorial (NETTO, 2006, p.10).

Neste cenário com forte ascensão dos movimentos sociais e defesa pela elaboração e aprovação da Constituição Federal de 1988, a categoria profissional foi questionada quanto a sua prática política por segmentos da sociedade civil. Este processo exigiu novas respostas profissionais para as demandas postas no cotidiano profissional, respostas estas que não mais o conservadorismo e o tradicionalismo; bem como alterações no âmbito do ensino, pesquisa e nas organizações políticas da categoria (IAMAMOTO, 2015).

Pensar o projeto profissional supõe articular uma dupla dimensão: de um lado, as condições macrossocietárias, que estabelecem o terreno sócio histórico em que se exerce a profissão, seus limites e possibilidades; e, de outro, as respostas sócio históricas, ético-políticas e técnicas de agentes profissionais a esse contexto, as quais traduzem como esses limites e possibilidades são analisados, apropriados e projetados pelos assistentes sociais (IAMAMOTO, 2015, p. 222).

Neste mesmo período (final de década de 1970 e início dos anos 1980) a profissão conquistou legitimidade no âmbito acadêmico e posteriormente consolidou-se a produção de conhecimentos na área do Serviço Social, sendo que um dos vetores responsáveis para este avanço a criação dos Cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado). Para Netto (2008) este processo originou a criação de uma massa crítica considerável, permitindo a profissão estabelecer diálogos com as ciências sociais, bem como a realização de pesquisas que produzam conhecimentos de natureza teórica. Com o passar dos anos, a profissão conquistou legitimidade como uma área de produção de conhecimentos, inclusive com reconhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Isto é, no âmbito teórico, a produção de conhecimentos incorporando matrizes teórico-metodológicas com um viés crítico a partir da tradição marxista, viabilizou a perda de hegemonia do conservadorismo teórico-

metodológico na profissão e concomitantemente, a consolidação do Projeto Ético-Político do Serviço Social.

Sinteticamente, esses elementos destacados acima, propiciaram a construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro. Mas afinal do que se trata o Projeto Ético- Político do Serviço Social brasileiro? Quais os seus elementos constitutivos?

O Projeto Ético-Político apresenta uma dimensão ética e política “que estos actores se

reconocen y que sirven como base para el ejercicio profesional, para la formación académica y para la organizácion de la categoria professional” (MARTINS, MOLJO, SANTOS, 2017, p.

149-150). Primeiramente cabe elucidarmos que essa dimensão ética não se limita a conceitos ou apenas normas. A ética presente no Projeto Ético-Político visa romper com uma ética da neutralidade que se fez presente nos Códigos de Ética Profissionais anteriores ao elaborado em 1986. Os princípios éticos e políticos que norteiam este projeto profissional demonstram o compromisso da categoria profissional com a busca por uma nova ordem societária. Mais do que isso, os princípios éticos e políticos “se revelam como fundamento filosófico do agir profissional, denotando o avanço no campo teórico e de produção de conhecimento alcançado pela profissão” (MUSTAFÁ, 2004, p.177). A partir desse pressuposto o conteúdo ético presente no Projeto Ético-Político

[...] não é uma abstração que preconiza princípios e valores desprovidos da materialidade, nem apenas um conjunto de regras que normatiza a ação individual, profissional e coletiva. É, antes de tudo, um componente da sociabilidade humana e suporte teleológico das lutas sociais (MUSTAFÁ, 2004, p.168).

Sobre a dimensão política presente no Projeto Ético-Político do Serviço Social, Mustafá (2004) expõe que a mesma permite o entendimento das situações como elas realmente são: a partir da sua dimensão do real. No entanto, ao enfatizarmos a importância do componente político atrelado a dimensão ética não estamos defendendo que exista uma prevalência desses

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