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ENTREVISTADOS (AS) E AS INSTÂNCIAS POLÍTICO-ORGANIZATIVAS DA PROFISSÃO

No documento janainaaparecidaparreira (páginas 191-200)

CAPÍTULO III – O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO/DA ASSISTENTE SOCIAL NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

ENTREVISTADOS (AS) E AS INSTÂNCIAS POLÍTICO-ORGANIZATIVAS DA PROFISSÃO

Conforme trabalhamos no primeiro capítulo desta dissertação, o Projeto Ético-Político de acordo com Teixeira e Braz (2009) apresenta como elementos constitutivos princípios e valores ético-políticos, matriz teórico-metodológica, crítica radical a ordem societária vigente, lutas coletivas e posicionamentos políticos concentrados pela categoria profissional e componentes que materializam esses elementos e atribuem legitimidade a este projeto, sendo eles: a produção de conhecimentos, a dimensão político-organizativa e a dimensão jurídico- política da profissão. Somado a essas dimensões explicitadas pelos autores supracitados, entendemos que no exercício profissional em sua concretude, encontramos possibilidades de efetivação dos princípios presentes no Projeto Ético-Político a partir da direção social, dos valores e do compromisso com a classe trabalhadora que os profissionais podem vir a imprimir nas suas ações profissionais.

Conforme Lukács (2012), baseado em Marx, o trabalho humano difere-se do trabalho realizado pelos animais devido a sua capacidade teleológica de projetar ações, de traçar objetivos e finalidades. Neste processo, entendemos que o homem utiliza da instrumentalidade para atingir os seus objetivos, logo, ele é capaz de criar e transformar instrumentos a partir da sua finalidade. Desta forma, o estabelecimento de finalidades não se transmuta diretamente para a efetividade, sendo que neste processo é preciso a existência de meios para se alcançar as finalidades propostas e “a elaboração de um projeto no qual o profissional lança luzes sobre os fins visados e busca os meios que, a seu juízo, são os mais adequados para alcançá-los” (GUERRA, 2012, p.56).

Sendo assim, a intencionalidade de efetivar o Projeto Ético-Político deve vir acompanhada dos meios e das escolhas dentre alternativas postas para que assim possa se efetivar no exercício profissional e nas demais dimensões (produção de conhecimento, dimensão jurídico-política e a instâncias político-organizativas da profissão).

Após essa breve retomada, cabe explicarmos novamente que a organização da exposição dos dados procurou condensa-los a partir dos componentes que podem vir a materializar o Projeto Ético-Político, informações que serão expostas com maior aprofundamento em conjunto com outros elementos, como por exemplo, neste item ao abordar o perfil dos entrevistados em conjunto com participação dos assistentes sociais em instâncias político- organizativas da profissão. As possibilidades de um agir crítico e reflexivo consubstanciado pelo Projeto Ético-Político necessitam estar atreladas a dimensão coletiva da profissão e não apenas à esfera individual, haja vista que o projeto profissional crítico é fruto de uma elaboração coletiva e pauta-se na defesa de uma nova sociabilidade. Ademais, como afirma Barroco (2012, p.76) “os valores éticos se objetivam mediante posicionamento e ações práticas e seu conteúdo é resultado da escolha e decisão de um sujeito coletivo: a categoria profissional”.

Para uma maior caracterização dos sujeitos entrevistados, o questionário utilizado na pesquisa, contemplava dados que nos permitem indicar o perfil das entrevistadas como sexo, idade, ano da conclusão da graduação, se fez ou está cursando uma pós-graduação (nível stricto

sensu ou latu sensu), a área da pós-graduação e se possuem outro vínculo de trabalho. De

antemão, informamos que utilizaremos gráficos96 e procuramos dar centralidade às falas das

entrevistadas, por entendermos que o cotidiano profissional do assistente social é um espaço rico de conhecimento, significados, possibilidades e desafios.

96 Os gráficos utilizados nesta dissertação são frutos de um trabalho coletivo realizado pelo grupo de pesquisa

Todos os sujeitos entrevistados na pesquisa são mulheres, dado este que demonstra o caráter eminentemente feminino97 da profissão; 12,50% dos entrevistados estão em uma faixa etária entre 20 a 30 anos, 62,50 % dos entrevistados entre 31 a 40 anos, 12,50% entre 41 a 50 anos, 6,25% entre 51 a 60 anos e 6,25% têm 61 anos ou mais. Sobre a graduação, 87,50% (14 assistentes sociais) entrevistadas declararam terem se formado em uma universidade pública (Universidade Federal de Juiz de Fora) e apenas 12,50% (02 assistentes sociais) em instituições privadas na modalidade de ensino presencial, especificamente na faculdade Universo, ambas localizadas no município de Juiz de Fora/MG.

12,5% das entrevistadas concluíram a graduação em Serviço Social entre os anos de 1980 a 1990, supostamente sob a vigência do currículo mínimo de 1982, 43,75% das profissionais entrevistadas entre os anos de 1991 a 2000; 31,25% entre os anos de 2001 a 2010; 12,50% entre os anos de 2011 a 2015. Ou seja, do total de entrevistadas, 06 assistentes sociais se formaram com base nas diretrizes curriculares aprovadas em 1996 que materializam um projeto de formação profissional crítico.

De acordo com Maciel (2016) a construção de um projeto pedagógico crítico expresso nas diretrizes curriculares de 1996 é oriunda da reformulação do currículo mínimo de 1982, onde se identificou lacunas histórico-políticas, conceituais e éticas, bem como a necessidade de reafirmar uma nova direção social que estava sendo construída desde a renovação crítica do Serviço Social com o aporte do pensamento crítico marxista. Essa reformulação é fruto de uma construção coletiva da categoria profissional e sob mediação da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Entretanto, este período é bastante contraditório para a sua reformulação e aprovação devido a égide neoliberal no país desde a década de 1990, a mercantilização e sucateamento da educação superior, disseminação do pensamento pós-moderno e das críticas ao marxismo enquanto uma corrente teórica capaz de explicar a sociedade capitalista.

As diretrizes curriculares de 1996 representam um avanço substantivo no processo de construção do projeto pedagógico da formação profissional em Serviço Social, principalmente em Serviço Social, principalmente no que se refere a afirmação das “dimensões interventivas e investigativas como princípios formativos e condição central da formação profissional e da relação teoria-realidade (ABEPSS, 1997, p.63), e a instauração de uma nova lógica curricular, com base na articulação de “um conjunto de conhecimentos

97 Cisne (2012, p.49) argumenta que o caráter eminentemente feminino da profissão é oriundo de um processo

“resultante de uma sociedade patriarcal que instituiu hierarquicamente o que é trabalho/atividade dos homens e das mulheres. Por isso a divisão sexual do trabalho e todas as habilidades, qualidades e características a ela associadas como naturalmente pertencentes dos sexos, deve ser analisado como construção histórica com a nítida reprodução da desigualdade de gênero associada a interesses dominantes”.

indissociáveis, que se traduzem em núcleos de fundamentação, constitutivos da formação profissional” (MACIEL, 2016, p. 251-252).

Neste sentido, as diretrizes curriculares aprovadas pela ABEPSS em 1996 subsidiam a formação dos assistentes sociais a partir dos núcleos de fundamentação da formação profissional: fundamentos teórico-metodológicos da vida social, fundamentos da formação sócio histórica da sociedade brasileira e fundamentos do trabalho profissional. O núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social busca compreender o ser social a partir da sua inserção na totalidade histórica e os componentes fundamentais da vida social, ambos historicamente situados “no processo de constituição e desenvolvimento da sociedade burguesa, apreendida em seus elementos de continuidade e ruptura, frente a momentos anteriores do desenvolvimento histórico” (ABEPSS, 1996, p.11). O núcleo de fundamentos da formação sócio histórica da sociedade remete ao conhecimento dos processos históricos, econômicos, sociais, políticos e culturais do Brasil, relacionando-os com a “configuração dependente, urbano-industrial, nas diversidades regionais e locais, articulada com a análise da questão agrária e agrícola, como um elemento fundamental da particularidade histórica nacional” (ABEPSS, 1996, p.12). E por fim, o último núcleo refere-se aos fundamentos do trabalho profissional a partir do entendimento do Serviço Social enquanto especialização do trabalho, inserido na divisão social e técnica do trabalho e possui como objeto de trabalho as múltiplas expressões da questão social. (ABEPSS, 1996, p.12).

[...]A ação profissional, assim compreendida, exige considerar as condições e relações sociais historicamente estabelecidas, que condicionam o trabalho do assistente social: os organismos empregadores (públicos e privados) e usuários dos serviços prestados; os recursos materiais, humanos e financeiros acionados para a efetivação desse trabalho, e a articulação do assistente social com outros trabalhadores, como partícipe do trabalho coletivo.[...] Remete, pois, a um entendimento do Serviço Social que tem como solo a história da

sociedade, visto ser daí que emanam as requisições profissionais, os

condicionantes do seu trabalho e as respostas possíveis formuladas pelo assistente social.[...] A competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política são requisitos fundamentais que permite ao profissional colocar-se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de trabalho (ABEPSS, 1996, p.13).

No entanto, as diretrizes curriculares ao passarem pelo processo de aprovação pelo Conselho Nacional de Educação em 2001, tiveram parte do seu conteúdo modificado, divergindo do documento original. Foram feitos reducionismos, bem como a eliminação de alguns conteúdos e princípios, conforme nos explica Iamamoto (2014):

Já o texto legal das diretrizes curriculares, homologadas em 4/7/2001 pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC-Sesu, 1999), sofre forte

descaracterização no que se refere à direção social da formação profissional, aos conhecimentos e habilidades considerados essenciais ao desempenho do assistente social. Assim, por exemplo, no perfil do bacharel em Serviço Social constava "profissional comprometido com os valores e princípios

norteadores do Código de Ética do Assistente Social", o que foi retirado e substituído por "utilização dos recursos da informática". Na definição das competências e habilidades, é suprimido do texto legal o direcionamento teórico-metodológico e histórico para a análise da sociedade brasileira: apreensão crítica dos processos sociais na sua totalidade; análise

do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país (MEC-

Sesu/Coness, 1999). Também os tópicos de estudos foram totalmente banidos do texto oficial em todas as especialidades. Eles consubstanciavam o detalhamento dos conteúdos curriculares anunciados nos três núcleos de fundamentação que compõem a organização curricular: núcleo de

fundamentos teórico-metodológicos da vida social; núcleo de formação sócio-histórica da sociedade brasileira e núcleo de fundamentos do trabalho profissional. Este corte significa, na prática, a dificuldade de garantir um

conteúdo básico comum à formação profissional no país. O conteúdo da formação passa a ser submetido à livre-iniciativa das unidades de ensino condizente com os ditames do mercado, desde que preservados os referidos núcleos (IAMAMOTO, 2014, págs 616, 617.).

Diante do exposto, as entrevistadas que se formaram a partir da vigência do projeto pedagógico crítico de 1996 tiveram uma formação profissional subsidiada a partir da interlocução com as referências marxianas e marxistas, compreendendo a profissão inserida e partícipe das relações sociais, a indissociação entre formação e exercício profissional e uma direção social expressa no Projeto Ético-Político profissional do Serviço Social brasileiro e concomitante a defesa por uma outra ordem societal, tendo como horizonte a emancipação humana.

Sobre a motivação em optar pela profissão de Serviço Social, grande parte das entrevistadas (37,5%) relataram que fizeram uma pesquisa do perfil profissional do assistente social e também identificaram uma vocação para a área de Ciências Humanas e Sociais; 25% disseram que a sua opção aconteceu devido a influência de amigos, familiares e/ ou outros; 18,75% teve influência pelo ambiente de trabalho e 18,75% relataram a opção devido a contribuir com melhores condições de vida da população, romper com as desigualdades sociais, proximidade com políticas públicas/direitos sociais e a busca por justiça social. Ou seja, mesmo em uma proporção reduzida (18,75%), apareceram nas falas das profissionais motivações “que denotam um horizonte de ação humana em prol de outros seres humanos” (EIRAS, MOLJO, SANTOS, 2012, p.125) quando explicitam o desejo de “[...] interferir de maneira mais positiva

no mundo ... Contribuir com os processos de melhoria da condição de vida da população, ne? De se romper com essa reprodução das desigualdades sociais [...]” (Assistente social-12).

No que se refere a permanência ou não da motivação inicial na escolha da profissão, 87,50% (14 assistentes sociais) deram afirmações positivas e que durante a graduação se identificaram com a profissão e com os valores que perpassam toda a formação profissional, e 12,50% afirmaram que a motivação inicial foi alterada devido as péssimas condições de trabalho98 exemplificadas como baixos salários pagos aos profissionais, recursos humanos,

materiais e financeiros escassos, bem como espaço físico inadequado para a realização das atividades.

Desta forma, a partir dos relatos, entendemos que motivação inicial em cursar Serviço Social permaneceu e se aprofundou durante o processo formativo de 87,50% das entrevistadas, a partir da capacidade de reflexão crítica sobre a realidade, sobre as políticas sociais e sobre os valores ético-morais que orientam a profissão e fornecem subsídios para um exercício profissional aliado ao Projeto Ético-Político e ao compromisso com a classe trabalhadora. Como forma de elucidação, apresentamos um relato que ilustra esse dado, uma vez que a profissional apresenta ter clareza sobre os limites e possibilidades de atuação, sobre os aparatos normativos - como a lei de regulamentação da profissão - e sobre o direcionamento das ações profissionais com base no Projeto Ético-Político.

Permanece. Porque assim, embora eu ache que é uma profissão que tem, é, dificuldades em conseguir de fato né, efetivar todas as, as... assim o Projeto Ético Político dela mesmo, justamente por ela estar inserida em política pública e a política pública depende de um contexto né, que não está somente vinculado a aquela política que o assistente social está inserido, mas ele está vinculado a um processo político maior. Então a gente tem muita oscilação em termos assim da garantia dos direitos, da questão de financiamentos dessas políticas... então eu acho que tem essa dificuldade, mas além, embora tem essa dificuldade, é, eu acredito que é possível né. A partir do momento que a gente tem uma lei que resguarda e que a gente pode estar, é, trabalhando a partir dessas leis de direito que resguarda, eu acho que é possível trabalhar na garantia desses direitos, então é por isso que eu ainda fico motivada com isso (Assistente Social –08).

A fala da entrevistada demonstra o seu olhar crítico e com uma perspectiva de totalidade social para compreender a realidade em que se insere o Serviço Social e os desafios inerentes a profissão. O Projeto Ético-Político, a Lei de Regulamentação da Profissão e os demais aparatos normativos auxiliam a profissional para intervir sobre as diversas expressões da questão social

98 No próximo item traremos informações e falas mais precisas que ilustram as condições de trabalho na política

e a formular estratégias e táticas para responder de forma crítica, ética e política as demandas implícitas e explícitas dos usuários que procuram o Serviço Social nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS’s).

Por fim, no rol de perguntas feitas as assistentes sociais entrevistadas com o objetivo de identificar o seu perfil, perguntamos se elas se consideram realizadas profissionalmente e solicitamos que, em caso positivo ou negativo, explicitassem os principais motivos. 62,50% disseram que sim, 25% afirmaram que de forma parcial e 12,50% não se consideram realizadas profissionalmente.

O percentual expressivo de profissionais que afirmaram estarem realizadas profissionalmente (62,50%) e de forma parcialmente (12,50%) justificam suas respostas enfatizando que apesar dos inúmeros desafios existentes no cotidiano profissional, trabalham em uma área que gostam, e conseguem ter o reconhecimento do seu trabalho na medida em que percebem mudanças positivas na vida dos usuários a partir do acesso aos direitos sociais mediante políticas públicas. Em algumas falas, as profissionais reforçam que nem sempre conseguem apresentar resolutividade para as demandas dos usuários, uma vez que a maioria dos serviços dependem de outras políticas sociais e da rede socioassistencial presente no município. Devido a conjuntura neoliberal, sabemos que a rede socioassistencial encontra-se sucateada, pois cada vez menos temos recursos financeiros disponíveis para as políticas e em contrapartida temos um número expressivo de demandas para o Serviço Social devido ao acirramento entre o conflito capital/trabalho produzindo novas expressões da questão social que assolam cotidianamente a vida dos usuários das diversas políticas sociais.

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[...] sim. Porque eu faço o que eu gosto. Eu gosto dessa relação com o usuário, gosto de contribuir com o processo conquista de direitos, do crescimento dele. É bom ver como que ele vai evoluindo. (Assistente Social -02).

[...] sim. Então porque eu gosto da minha profissão, eu gosto do que eu faço. Eu acho que é um trabalho, é uma profissão difícil? É, porque a gente esbarra com muito empecilho, muita coisa que não depende da gente em ta solucionando, depende mesmo de outras políticas, da própria política de assistência, mas é muito gratificante quando a gente consegue fazer alguma coisa pelo usuário da política, quando a gente vê alguma mudança. (Assistente Social -03).

Ah eu tenho a compreensão das possibilidades e dos desafios na nossa profissão. Acho que eu tenho muita consciência do que eu posso fazer, oferecer, até onde eu posso ir. Para mim não me frustrar. Porque a nossa profissão está interligada a outras políticas públicas. Então eu acho que por eu

ter essa compreensão, do sair do zero né. Acho que eu tô realizada (Assistente Social -15).

Entretanto, esse contingente também expõem a problemática dos baixos salários pagos aos assistentes sociais, a precarização das condições de trabalho, falta de recursos, a não valorização da profissão e um contexto macro-societário que dificulta a efetivação do projeto ético-político e a garantia dos direitos sociais.

Eu acho que a realização profissional, ela não pode ser desvinculada do contexto que a gente está né, do contexto político, sócio, principalmente o Serviço Social, porque o nosso projeto ético político, ele tá muito ligado a esse contexto. Então se a gente está num contexto que, é, os direitos dos cidadãos, eles são negados em boa parte, então a gente não tem como estar realizado porque a gente fica impedido de conseguir também né fazer a realização e fazer o que está previsto no nosso código de ética, então eu acho que isso aí é um impedimento para essa realização plena (Assistente Social -08).

Por um lado sim, porque eu tenho um gosto profundo pela profissão... é... mas... As condições objetivas de trabalho trazem muita frustração, então exige sim, que a gente se alimente sempre de muito estudo, tem que ... é... de uma criatividade que as vezes nem é própria da nossa natureza, mas que a gente tem que procurar estimular pra conseguir alcançar algum resultado efetivo pra população que a gente atende... Então assim, as condições objetivas realmente frustram. Salário muito baixo! (ASSISTENTE SOCIAL-12).

De acordo com as respostas anteriores, entendemos que as profissionais compreendem a dinâmica contraditória da sociedade capitalista e não colocam a precarização das condições de trabalho e os limites estruturais das políticas sociais como problemas individuais de cada profissional, pelo contrário, realizam reflexões que abarcam a totalidade do fenômeno da precarização, explicando-nos que este assola todas as profissões, sendo consequência das novas configurações do mercado de trabalho a partir da intensificação da exploração do capital sobre a classe trabalhadora. Apesar das condições de trabalho não serem favoráveis conforme problematizaremos no item a seguir, as profissionais consideram que a motivação pela profissão ainda permanece, não cabendo nenhuma postura fatalista ou messiânica. A motivação pode estar atrelada ao conjunto de valores que as profissionais possuem, bem como ao direcionamento social que atribuem as suas ações profissionais. Cabe destacar também que essa compreensão do real por grande parte das entrevistadas, entendendo os desafios que estão postos na contemporaneidade ao Serviço Social, podem evitar o desenvolvimento de um exercício profissional pautado em ações imediatistas, bem como estimular a compreensão

crítica dos usuários, explicando os seus direitos, os espaços de controle social, o funcionamento dos serviços e da instituição, etc. Essas ações profissionais expressam o compromisso com o Projeto Ético-Político da profissão e se coloca na defesa de um projeto societário de emancipação da classe trabalhadora.

No segundo relato, a profissional expõe que diante dessa realidade cruel e subversiva, é necessário uma formação continuada que lhe dê possibilidades de compreender a dinâmica contraditória da sociedade capitalista, e intervir de maneira criativa através da construção de respostas profissionais às demandas dos usuários que não se encontravam no plano do imediato,

No documento janainaaparecidaparreira (páginas 191-200)