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e Feeling Checklist

4.5. Construção dos itens para a Escala de Setting Terapêutico

Depois de estabelecido um conjunto de categorias e subcategorias relativamente ao setting terapêutico, foi elaborada uma pool de afirmações com o objetivo de delinear uma versão inicial de itens para a EST. O conteúdo das afirmações assenta na revisão da literatura e na análise categorial realizada a partir da consulta ao painel de especialistas sobre o construto setting terapêutico.

Assim, num primeiro momento, foi criado um conjunto de 52 afirmações ou itens iniciais (Tabela 4.2), todas eles originais já que não conhecemos instrumentos semelhantes e/ou com o mesmo fim, a partir dos quais pudéssemos adaptar alguns itens.

Tabela 4.2. Conjunto dos 52 itens iniciais construídos para a EST Item Descrição

1 Utilizo o telefone durante as sessões sempre que necessário e independentemente do momento da sessão 2 Deixo que o paciente utilize o telefone durante as sessões seja qual for o motivo do telefonema 3 Exijo que o paciente pague as sessões a que falta, seja qual for a razão da sua falta

4 Mantenho inalterados os objetivos definidos no contrato terapêutico seja qual for a evolução da terapia (ritmo, vicissitudes transferênciais, resistências) 5 Altero o dia ou a hora das sessões sempre que tiver necessidade de fazê-lo, ou a pedido do paciente 6 Disponibilizo o contacto pessoal ao paciente, com indicação de que me pode telefonar sempre que necessite 7 Ajusto os meus honorários quando entendo que é apropriado

8 Faço a contenção emocional e cognitiva do acting-out negativo por parte do paciente

9 Atuo de modo a conter o agir sedutor e manipulativo do paciente logo que me dou conta da sua emergência 10 Exprimo o que estou a sentir em relação às atitudes e sentimentos do paciente a meu respeito 11 Tolero os silêncios do paciente seja qual for o significado que lhes atribuo

12 Faço sempre um comentário final que resume a sessão, em particular as dificuldades que senti no paciente e os avanços que conseguiu fazer 13 Mudo o mobiliário ou a decoração do consultório a meu gosto sempre que sinto essa necessidade 14 Submeto a supervisão clínica regular o trabalho que efetuo com os meus pacientes

15 Participo em grupos de discussão clínica nos quais apresento regularmente o trabalho clínico com os meus pacientes 16 Reajo sempre de um modo explícito às mudanças de humor e às alterações de comportamento do paciente 17 Tolero a quebra de regras do contrato terapêutico por parte do paciente se o sentir emocionalmente vulnerável

91 18 Mantenho sempre um ambiente sossegado e sem interferências sonoras no consultório

19 Faço tudo o que está ao meu alcance para que o paciente se sinta confortável durante a sessão 20 Estou atento e reajo à comunicação não-verbal do paciente na sessão

21 Mostro a minha empatia pelo paciente sempre que me é possível 22 Aceito de bom grado os elogios e as prendas ofertadas pelo paciente

23 Tenho dificuldade em tolerar as queixas do paciente relativamente à ausência de melhorias no seu quadro clínico (sintomas, comportamento, relacionamentos) 24 Cumprimento sempre o paciente de modo caloroso no início e no fim da sessão

25 Mantenho sempre a minha mente focalizada naquilo que se passa no interior da sessão

26 Intervenho sempre que me dou conta de que a mente do paciente se distrai ou afasta da sessão 27 Levo em consideração as crenças e convicções espirituais do paciente nas minhas atitudes e comentários no interior da sessão 28 Questiono regularmente o paciente sobre quais são as suas expectativas em relação à terapia 29 Sigo rigorosamente os preceitos técnicos do meu modelo teórico e evito fazer qualquer ajustamento, mesmo nos momentos mais problemáticos da sessão 30 Deixo que o paciente conduza a sessão em momentos de maior avanço reflexivo ou quando me sinto indeciso ou confuso (sobre o sentido do material ou do impacto emocional que me causa) 31 Relembro ao paciente os objetivos e as regras do contrato terapêutico sempre que o sinto mais distante, hesitante ou resistente ao tratamento 32 Altero o foco ou os objetivos do tratamento em função das expectativas do paciente

33 Remeto para o “aqui e agora” da relação terapêutica atual a interpretação das queixas do paciente relativamente a terapeutas anteriores 34 Converso com familiares do paciente a seu pedido, ou quando entendo que uma tal estratégia terapêutica pode ser útil 35 Permito que o paciente escolha o que quer ou não quer trabalhar na terapia

36 Faço tudo para facilitar ao paciente a remarcação das sessões em caso de falta ou de indisponibilidade pontual 37 Prolongo o tempo de duração da sessão a pedido o paciente, e quando sinto que está com dificuldade em acabar a sessão 38 Altero a periodicidade das sessões ou alterno o tempo de intervalo entre sessões a pedido do paciente 39 Favoreço a proximidade física quando sinto que ajuda a conter sentimentos negativos ou facilita a expressividade emocional do paciente 40 Exijo o respeito escrupuloso das regras do contrato terapêutico (e.g., pagamento, horários, telefonemas, marcação ou desmarcação de sessões) 41 Mantenho sem alterações a organização e o arranjo decorativo do espaço físico em que decorrem as sessões 42 Estimulo a verbalização das vivências do paciente no “aqui e agora” da relação terapêutica comigo 43 Tolero que o paciente utilize livremente o espaço físico do consultório (i.e., que se levante e volte a sentar, caminhe pelo consultório) 44 Defino os objetivos e a estratégia terapêutica em conjunto com o paciente e também combino com ele as alterações ao plano inicial 45 Altero o tom de voz, a postura e a expressão facial em reação às mudanças de humor e às alterações do comportamento do paciente em sessão

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46 Permito-me fazer alguma exposição pessoal para facilitar a relação com o paciente

47 Forneço ao paciente toda a informação relevante sobre o modelo teórico ou técnicas a utilizar no processo terapêutico 48 Anoto sempre tarefas propostas entre as sessões e debato-as na sessão seguinte

49 Uso o setting como elemento integrante do processo terapêutico 50 Defino o plano terapêutico em conjunto com o paciente

51 Aceito fazer alguma exposição pessoal do terapeuta

52 Realizo ou já realizei o meu próprio processo terapêutico com outros colegas mais experientes

Estes itens foram analisados quanto ao conteúdo, compreensibilidade e adequação. Uma vez que alguns deles foram sendo construídos à medida que eram analisadas as respostas dos especialistas, verificámos que, muitos se repetiam no seu conteúdo, apenas diferindo na redação do texto. Deste modo, foram eliminados os itens que se revelaram redundantes e os que apresentavam conteúdo incoerente com a literatura científica sobre o tema. Os itens pouco compreensíveis ou que entendemos que não traduziam corretamente o que foi transmitido pelo grupo de especialistas inquiridos foram corrigidos no que respeita à sua redação.

Para seleção final dos itens optámos por utilizar a metodologia Q, com um estudo

q-sort, que será descrito no capítulo seguinte (segunda fase) desta dissertação. No entanto,

por se tratar de uma metodologia específica, decidimos consultar uma especialista nesta matéria, Wendy Stainton-Rogers7, ainda nesta fase dos estudo, no sentido de nos ajudar

a esclarecer se os itens estariam adequados para introduzir numa metodologia deste tipo. Assim, a pool de itens foi traduzida para inglês e enviada para a referida especialista. Por fim, foram ainda ajustados ou eliminados alguns itens de acordo com as indicações da referida especialista, tendo ficado estabelecido um conjunto de 30 itens para utilizar no estudo Delphi com q-sort, de acordo com a metodologia Q, aos quais fizemos corresponder a respetiva categoria (Tabela 4.3).

7 Wendy Stainton-Rogers é Professora Catedrática na Faculty of Health & Social Care, Open University, London, UK, e especialista reconhecida em metodologia Q.

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Tabela 4.3. Conjunto dos 30 itens e respetivas categorias para incluir no estudo q-sort

Item Descrição Categorias*

1 Mantenho inalterados os objetivos definidos inicialmente no contrato terapêutico seja qual for a evolução da terapia (ritmo, resistências, melhorias etc.) R/C + CT

2 Mantenho sempre a minha mente focada/atenta naquilo que se passa no interior da sessão CT

3 Altero o dia ou a hora das sessões sempre que eu tiver necessidade de fazê-lo R/C

4 Disponibilizo o contacto pessoal ao paciente, com indicação de que me pode telefonar sempre que necessite CT; R/C; RT

5 Atuo de modo a conter o agir sedutor e manipulativo do paciente logo que me dou conta da sua emergência CP; CT; RT

6 Exprimo o que estou a sentir em relação às atitudes e sentimentos do paciente a meu respeito CT; CP

7 Tolero os silêncios do paciente seja qual for o significado que lhes atribuo RT; CT; CP

8 Faço sempre um comentário final que resume a sessão, em particular as dificuldades que senti no paciente e os avanços que conseguiu fazer CT

9 Exijo que o paciente pague as sessões a que falta, seja qual for a razão da sua falta R/C

10 Utilizo o telefone durante as sessões sempre que necessário e independentemente do momento da sessão R/C; CT

11 Estou atento e reajo à comunicação não-verbal do paciente na sessão RT; CT

12 Aceito de bom grado os elogios a meu respeito efetuados pelo paciente RT; CT; CP

13 Tolero as queixas do paciente relativamente à ausência de melhorias no seu quadro clínico (sintomas, comportamento, relacionamentos) RT; CT

14 Permito que o paciente escolha o que quer ou não quer trabalhar na terapia CT; RT

15 Levo em consideração as crenças e convicções espirituais do paciente para o processo terapêutico em curso CT

16 Sigo rigorosa e exclusivamente os preceitos técnicos do meu modelo teórico e evito fazer qualquer ajustamento no decorrer do processo terapêutico R/C; CT

17 Permito-me fazer alguma exposição pessoal para facilitar a relação com o paciente CT; RT

18 Participo em grupos de discussão ou supervisão clínica nos quais apresento regularmente o trabalho clínico com os meus pacientes CT

19 Converso com familiares do paciente a seu pedido quando entendo que uma tal estratégia terapêutica pode ser útil CT; CP

20 Faço tudo o que está ao meu alcance para que o paciente se sinta confortável durante a sessão eT

21 Realizo ou já realizei o meu próprio processo terapêutico com outros colegas mais experientes. CT

22 Disponibilizo ao paciente toda a informação relevante sobre o modelo teórico ou técnicas a utilizar no processo terapêutico CT; RT

23 Reajo sempre de um modo explícito às mudanças de humor e às alterações de comportamento do paciente CT; CP; RT

24 Promovo a proximidade física quando sinto que ajuda a conter sentimentos negativos ou facilita a expressividade emocional do paciente RT; CT; CP

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26 Prolongo o tempo de duração da sessão quando sinto que o paciente está com dificuldade em acabar a sessão R/C; CT; CP

27 Mantenho sem alterações a organização e o arranjo decorativo do espaço físico em que decorrem as sessões eT

28 Defino os objetivos e a estratégia terapêutica em conjunto com o paciente. RT; CT

29 Tolero que o paciente utilize livremente o espaço físico do consultório (i.e., que se levante e volte a sentar, caminhe pelo consultório) eT; CT

30 Anoto sempre tarefas propostas entre as sessões e debato-as na sessão seguinte CT

* R/C = Regras/contrato; CT = Características do terapeuta; CP = Características do paciente; ET = Espaço terapêutico; RT = Relação terapêutica

Cumprido este passo demos início aos contactos e procedimentos para realização do estudo com q-sort (metodologia Q) a fim de ordenar e selecionar os itens, e determinar assim a primeira versão da EST.