subjectividade na investigação empírica
5- Análise e interpretação
5.1.5. Escala de Setting Terapêutico (EST)
Conforme já referido, um dos principais objetivos do presente trabalho foi a construção de um instrumento original de autorresposta para avaliação do setting por parte dos psicoterapeutas. Após as tarefas de elaboração dos itens, nomeadamente quanto à sua compreensibilidade, sintaxe e interesse, passámos à seleção dos itens conforme descrito, para construção da versão preliminar da EST.
Quanto ao tipo de escala, após revisão da literatura no que respeita ao estudo e construção de instrumentos, e atendendo aos diferentes tipos de instrumentos potencialmente apropriados para os nossos objetivos, optamos por uma escala de acordo com o sistema designado “escala de Likert” (Likert, 1932). É a escala mais utilizada em psicologia e em avaliação de atitudes e, portanto, também mais estudada (Ribeiro, 1999). Assim, face a um conjunto de afirmações (itens) os respondentes devem indicar o seu grau de concordância numa escala de intensidade.
Relativamente às possibilidades de resposta, decidimos optar por um número ímpar de alternativas de resposta, obedecendo a uma escala de cinco pontos, dispostos da seguinte forma: 1 = “Discordo totalmente”; 2 = ”Discordo”; 3 = “Não concordo nem discordo”, 4 = “Concordo”; 5 = “Concordo totalmente”. Esta opção pelo número ímpar de alternativas de resposta está de acordo com a maioria dos autores que consideram importante haver uma opção de neutralidade, não forçando a concordância/discordância como uma das opções de resposta. Em relação à opção por cinco alternativas de resposta, para além de ser a mais indicada pelo próprio Likert (Moreira, 2009), a maioria dos autores considera que se for um número superior o sujeito poderá ter dificuldade na discriminação da sua opinião/atitude; pelo contrário, se o número de opções de resposta for inferior pode perder- se informação relevante para o estudo, uma vez que as opções de resposta ficam pouco diferenciadas (Gravetter & Forzano, 2003; Ramos, 2011/12). Também Lissitz e Green (1975) concluíram que a precisão e qualidade dos resultados aumentam quando a escala é aumentada até 5 pontos, sendo que, a partir daí os ganhos são insignificantes.
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Com o intuito de evitarmos “contaminação” de respostas optámos, nesta fase, por proceder à aleatorização dos itens através sistema do saco, onde são colocados os números inicialmente atribuídos aos itens, sendo depois “sorteada” a sua ordem.
No que diz respeito às instruções a constar no inicio da escala, consideramos pertinentes as indicações de autores experientes (Hill & Hill, 2005; Moreira, 2009) que sugerem que estas devem ser breves e incidir sobre aspetos concretos do preenchimento. Deste modo, e seguindo as indicações de Moreira (2009), foi incluída informação sobre: a) o que se pretende avaliar com a escala; b) enquadramento temporal ou contextual da informação pretendida. Por outro lado, sendo uma escala para ser administrada a psicoterapeutas, entendemos ser uma população já com conhecimentos sobre este tipo de instrumentos na sua prática profissional, o que obvia a sua compreensão.
De referir, para manter a ideia presente, que o processo de medida é um processo estocástico, isto é, sujeito às leis de natureza e cálculo probabilístico (tal como acontece com outros instrumentos de medida). Os resultados das medidas efetuadas correspondem a aproximações, podendo esta inconsistência ser diminuída através da repetição sucessiva da medição, utilizando depois medidas de tendência central como a média (Moreira, 2009). Tendo em conta as anteriores considerações e os resultados dos estudos realizados, a primeira versão da escala ficou com 20 itens, conforme apresentamos de seguida.
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Escala de Setting Terapêutico
(Couto, M., Farate, C., Ramos, S., Fleming, M., 2012)
A partir da sua prática psicoterapêutica, refira o grau de concordância ou de discordância relativamente a cada uma das afirmações que se seguem, e que dizem respeito ao modo como organiza habitualmente o setting e a relação terapêutica com os seus pacientes. Discordo totalmente Discordo Não concordo nem discordo
Concordo totalmenteConcordo
1. Faço tudo o que está ao meu alcance para que o paciente se sinta confortável durante a sessão
2. Prolongo o tempo de duração da sessão quando sinto que o paciente está com dificuldade em acabar a sessão 3. Estou atento e reajo à comunicação não-verbal do paciente na sessão 4. Mantenho sempre a minha mente focada/atenta naquilo que se passa no interior da sessão
5. Aceito de bom grado os elogios a meu respeito efetuados pelo paciente 6. Permito-me fazer alguma exposição pessoal para facilitar a relação com o paciente
7. Anoto sempre as tarefas propostas entre as sessões e debato-as na sessão seguinte
8. Exijo que o paciente pague as sessões a que falta, seja qual for a razão da sua falta
9. Defino os objetivos e a estratégia terapêutica em conjunto com o paciente 10. Tolero as queixas do paciente relativamente à ausência de melhorias no seu quadro clínico (sintomas, comportamento, relacionamentos) 11. Atuo de modo a conter o agir sedutor e manipulativo do paciente logo que me dou conta da sua emergência
12. Exijo o respeito escrupuloso das regras do contrato terapêutico (e.g., pagamento, horários, telefonemas, marcação ou desmarcação de sessões)
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13. Converso com familiares do paciente a seu pedido, ou quando entendo que uma tal estratégia terapêutica pode ser útil
14. Realizo ou já realizei o meu próprio processo terapêutico com outros colegas mais experientes
15. Sigo rigorosa e exclusivamente os preceitos técnicos do meu modelo teórico e evito fazer qualquer ajustamento no decorrer do processo terapêutico 16. Participo em grupos de discussão ou supervisão clínica nos quais apresento regularmente o trabalho clínico com os meus pacientes
17. Disponibilizo ao paciente toda a informação relevante sobre o modelo teórico ou técnicas a utilizar no processo terapêutico
18. Faço sempre um comentário final que resume a sessão, em particular as dificuldades que senti no paciente e os avanços que conseguiu fazer
19. Mantenho sem alterações a organização e o arranjo decorativo do espaço físico em que decorrem as sessões
20. Permito que o paciente escolha o que quer ou não quer trabalhar na terapia
A partir desta primeira versão, foram estudadas a estrutura fatorial e as características psicométricas da escala. Os resultados são apresentadas na respetiva secção do capítulo 6.
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