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estudos preliminares

4.2. Descrição dos instrumentos

Therapeutic Identity Questionnaire: a questionnaire about training, experience, style, and values (ThId)

O ThId é um questionário de autorresposta dirigido a psicoterapeutas, que avalia um conjunto de dimensões relacionadas com a identidade do psicoterapeuta, em particular no que diz respeito ao seu estilo pessoal, atitudes e valores que assume para o processo psicoterapêutico. A versão original do ThId foi desenvolvida por Sandell et al. (2004), sendo posteriormente aperfeiçoada (Sandell, 2010; Sandell et al., 2007).

A versão utilizada neste estudo (versão 3) foi cedida pelo autor em conjunto com o respetivo manual e valores psicométricos para cada uma das subescalas (Sandell, 2010), e é constituída por 150 questões que se repartem por 6 secções, de A a F. As quatro primeiras secções dizem respeito a elementos que caracterizam o terapeuta e as suas opções académicas, profissionais e de formação pessoal. Estas secções asseguram a informação sobre: 1) características sociodemográficas, formação académica e profissional (secção A); 2) experiência profissional (por exemplo, experiência profissional, duração e extensão da prática psicoterapêutica) (secção B); 3) dados relativos à realização anterior de terapia pessoal por iniciativa própria ou no quadro da formação profissional (secção C); 4) identificação das orientações teóricas em que é baseado o respetivo trabalho psicoterapêutico (por exemplo, psicanálise/psicodinâmica, cognitiva, cognitivo-comportamental, psicoterapias humanistas e experienciais, terapia familiar) (secção D); esta secção D é avaliada através de uma escala do tipo Likert de 5 pontos, de acordo com a prática que faz das orientações teóricas referidas (0 = “nada” até 4 = “muito”).

O questionário continua com a 5ª secção (E), constituída por duas subescalas que avaliam a perceção do psicoterapeuta sobre as atitudes terapêuticas. A primeira subescala,

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A 6ª secção, denominada “Pressupostos de base” (F) é composta por 16 itens que abordam as teorias e/ou pressupostos de base do psicoterapeuta acerca da natureza do trabalho psicoterapêutico e da mente humana. Esta última subescala é cotada numa escala bipolar contínua, com uma afirmação em cada pólo, devendo o respondente marcar nessa linha a posição que entende corresponder ao seu grau de concordância relativamente a diferentes pressupostos (p. ex., “a psicoterapia pode ser descrita como… uma forma de arte / uma ciência”, “o comportamento humano é governado essencialmente….por fatores externos objetivos / por fatores internos subjetivos”, “a personalidade é determinada por… hereditariedade / ambiente”). No caso desta última secção, trata-se de uma escala do tipo Visual Analogue Scales (VAS; Escala Analógica Visual), e se traduzida em pontos, podermos afirmar que se avalia num contínuo de 0 até 10 pontos.

O ThId apresenta ainda uma última secção final (G), que apresenta um conjunto de quatro questões abertas baseadas no Psychotherapists Common Core Questionnaire (Orlinsky et al., 1999), a qual foi também traduzida e adaptada, mas não incluída neste estudo, uma vez que se trata de uma secção opcional, pouco utilizada pelos autores do questionário.

O estudo da estrutura fatorial do instrumento original foi feito a partir de uma análise fatorial exploratória e validação cruzada da amostra, até serem atingidos fatores estáveis e interpretáveis (Sandell, 2010; Sandell et al., 2004). Os itens das subescalas E1, E2 e F ficam agrupados em nove fatores, repartidos pelas 3 subescalas com 3 fatores cada uma: E1- “Fatores curativos”, que inclui os fatores “ajustamento”, “insight” e “simpatia”; E2 - “Estilo terapêutico”, que comporta os fatores “neutralidade”, “apoio” e “dúvida em relação a si”; a subescala F- “Pressupostos de base”, que contém os fatores “irracionalidade”, “arte” e “pessimismo”. No que diz respeito à consistência interna, esta foi avaliada através do Alfa de Cronbach. As subescalas que incluem os fatores “ajustamento”, “insight”, “simpatia”, “neutralidade” e “apoio/suporte” revelaram boa consistência (valores de Alfa de Cronbach

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entre .75 e .87). As restantes subescalas, que incluem os fatores “dúvida em relação a si”, “irracionalidade”, “arte” e “pessimismo”, revelaram baixa consistência interna, com valores de Alfa de Cronbach entre .48 e .67 (Sandell, 2010).

Vários estudo têm sido conduzidos com o ThId ou as suas subescalas (Carlsson et al., 2011; Sandell et al., 2004; Sandell et al., 2006; Sandell et al., 2007; Taubner et al., 2010), uma vez que podem ser utilizadas isoladamente com boa avaliação das suas qualidades psicométricas.

Feeling Checklist (FC)

A FC, short version (Holmqvist et al., 2007) é uma escala de autorresposta constituída por 24 itens que correspondem a palavras que cobrem um conjunto de sentimentos. A maioria dos estudos com utilização deste instrumento nas suas diferentes versões (Holmqvist & Armelius, 2006; Katsuki et al., 2006; Rossberg, Hoffart, & Friis, 2003), avaliam sentimentos do terapeuta relativamente a um determinado paciente, essencialmente sentimentos contratransferenciais, e reportam-se a um determinado momento, em regra a sessão psicoterapêutica mais recente (a fim de aumentar o rigor de notação da variável). O psicoterapeuta é convidado a cotar cada uma das palavras que evocam um sentimento (p.ex. “relaxado”, “irritado”, “contente”, “calmo”) numa escala de 4 pontos (de 0 = “nada” a 3 = “muito”). A escala organiza-se num eixo circumplexo de oito subescalas com três itens (palavras), baseada nas dimensões positivo-negativo e próximo-distante.

A primeira versão da FC (Holmqvist & Armelius, 1996) contém 30 palavras. Contudo, foram elaboradas ainda mais duas versões, uma de 48 palavras (Holmqvist, 2001) e outra de 58 palavras (Rossberg et al., 2003). Esta última foi baseada em sugestões de sentimentos transmitidos por terapeutas inquiridos e ainda alguns itens da escala Positive

and Negative Affect Schedule (PANAS; Watson, Clark, & Tellegen, 1988).

As propriedades psicométricas das várias versões (estrutura fatorial, validade e consistência interna) têm sido consideradas satisfatórias nos estudos em que têm vindo a ser utilizadas (Holmqvist & Armelius, 1996; Katsuki et al., 2006; Rossberg & Friis, 2003; Rossberg et al., 2007; Thylstrup & Hesse, 2008). A versão com 58 palavras (Rossberg et al., 2003) é distribuída por 7 fatores que explicam 53% da variância, e apresentam uma consistência interna medida pelo Alfa de Cronbach que varia entre .76 e .91.

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4.3. Tradução e adaptação dos instrumentos Therapeutic Identity Questionnaire