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Objetivos e metodologia geral 3.1 Objetivos gerais

3.2. Fases da investigação

Por motivos de organização e metodologia de trabalho, o processo de investigação a que nos propomos foi repartido por 3 fases principais. No sentido de clarificar o seu desenvolvimento e evolução, o arranjo dos diferentes momentos da investigação distribuídos pelas 3 fases são apresentados no diagrama da Figura 3.1, que descrevemos seguidamente.

Segunda fase estudos intermédios Terceira fase Resultados Construção da primeira versão da EST

estudo da estrutura fatorial e características psicométricas da versão portuguesa da FC estudo da estrutura fatorial e características psicométricas da versão portuguesa do Thld

Seleção dos itens para a eST

Estudo exploratório das características psicométricas

das versões traduzidas do Thld + FC

estudoda estrutura fatorial e características psicométricas da eST estudo q-sort Estudo conjunto - plataforma online Primeira fase estudos preliminares Tradução e adaptação da Thld e da FC

estudo sobre o construto

setting terapêutico Construção dos itens para a eST

73 Numa primeira fase de “Estudos preliminares”, e dado que nos propusemos estabelecer a versão portuguesa de 2 instrumentos de autorresposta para o terapeuta, o primeiro passo consistiu na obtenção da respetiva autorização por parte dos autores das versões originais, seguido da tradução e adaptação linguística do Therapeutic Identity

Questionnaire e da Feeling Checklist. Esta tarefa foi realizada com recurso a profissionais

de tradução-retroversão e consulta a linguistas, seguindo as diretrizes da International Test

Comission (ITC; 2003, 2010), e ainda as recomendações de autores de referência nestes

procedimentos (Gregoire & Hambleton, 2009; Hambleton, Merenda, & Spielberger, 2005; Hill & Hill, 2005; Vilelas, 2009). Este processo foi acompanhado e legitimado pelos autores dos instrumentos.

Paralelamente, e na sequência da revisão da literatura realizada sobre a investigação em psicoterapia, mais concretamente sobre setting terapêutico (em rigor, o primeiro passo do processo de investigação), emergiu a necessidade de operacionalizar o referido construto. este processo foi efetuado por consulta a um painel de especialistas constituído para o efeito, e que aceitaram participar nesta fase do estudo. Os membros deste painel foram consultados individualmente sobre a forma como trabalham com o setting na sua atividade clínica. A informação recolhida foi sujeita a análise categorial, seguida da construção de um conjunto alargado de afirmações, a fim de virem a constituir os itens para a escala sobre

setting, a construir no presente trabalho. Este processo foi devidamente analisado, sendo o

conjunto de itens ajustado tendo em linha de conta as indicações de autores de referência ou que consultamos diretamente (Bardin, 1977; Carmo & Ferreira, 1998; Stainton-Rogers, 2011; Vilelas, 2009).

Passamos de seguida para a segunda fase, que designamos por “Estudos intermédios”, na qual avançámos para a construção da primeira versão da Escala de

Setting Terapêutico (EST) e, no mesmo período, procedemos ao estudo exploratório das

características psicométricas da ThId e da FC, instrumentos já traduzidos e adaptados na primeira fase.

Para a construção da primeira versão da EST foi necessário proceder a uma seleção dos itens já delineados. Para tal, introduzimos aqui mais um passo com o objetivo de ordenar e selecionar os itens, recorrendo à metodologia Q (q-sort). Sendo esta uma metodologia pouco conhecida para nós, realizámos uma cuidada revisão teórica, a fim de adquirirmos conhecimentos que nos permitissem aplicá-la. Para tal, foram contactados autores especializados nesta metodologia (Job van Exel, Steven Brawn, Wendy Stainton- Rogers) e recorremos também à participação num curso sobre a metodologia Q na

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Universidade de Birmingham. Para aplicação prática do q-sort foi depois estabelecida uma parceria com o Departamento de Sistemas de Informação da Universidade do Minho, mais concretamente com o Professor Doutor Leonel Santos, que possui uma ferramenta

Web, criada especificamente para a realização de estudos q-sort, designada por “Delphi

com q-sort”. Prosseguimos com a realização deste estudo, que considerámos intermédio, sendo realizada a ordenação e seleção dos itens para a primeira versão da Escala de

Setting Terapêutico.

Paralelamente, foram testadas, ainda que com caráter exploratório, as versões traduzidas do ThId e da FC numa amostra reduzida. Este estudo permitiu ainda explorar algumas diferenças de estilo terapêutico em função da orientação teórica a partir das respostas obtidas no ThId. As versões portuguesas dos dois instrumentos sofreram ainda pequenos ajustes, tendo em conta as sugestões e dificuldades encontradas no estudo exploratório.

Estabelecidas a primeira versão da EST e as primeiras versões portuguesas do ThId e FC, passámos para a terceira fase, que designamos por “Resultados”. Nesta fase, foram testados os instrumentos referidos numa amostra de psicoterapeutas portugueses. Para este efeito, foram primeiramente estabelecidos contactos com diversas associações/ sociedades científicas que creditam e regulam a atividade dos psicoterapeutas em Portugal, a fim de poderem colaborar e divulgar o presente estudo junto dos seus associados.

Nesta etapa o protocolo de investigação correspondeu ao conjunto das versões constituídas da EST, ThId e FC. Optámos, de novo, por conduzir o processo de acordo com as mais recentes ferramentas e tecnologias, mas de forma segura e fiável. Deste modo, foi adquirido um domínio (www.estudoterapeutas.com), numa plataforma online (www. psychdata.com), especificamente desenhada para a investigação e recolha de dados através da Web, em particular para a investigação em ciências sociais e humanas.

A recolha de dados e construção da base de dados nesta fase foi conduzida nesta plataforma, a partir da qual realizámos, posteriormente, os estudos das características psicométricas das versões produzidas dos 3 instrumentos. O estudo e análises realizadas para cada instrumento serão detalhadamente descritas no capítulo relativo à sua apresentação.

Da mesma forma, os procedimentos específicos correspondentes a cada uma das fases da presente investigação, serão relatadas no respetivo capítulo, tendo em conta o desenho, procedimentos e amostras, que são diferentes para cada fase.

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3.3. Instrumentos

Tendo em vista os objetivos a que nos propusemos, ao longo das três fases foram estudados três instrumentos: o Therapeutic Identity Questionnaire: a questionnaire about

training, experience, style and values; Feeling Checklist; escala de Setting Terapêutico.

Os dois primeiros foram traduzidos e adaptados para a língua portuguesa, e a EST foi totalmente construída no presente trabalho de investigação.

Enunciamos aqui, resumidamente, os dois primeiros instrumentos, porém, eles serão detalhadamente descritos no próximo capítulo, aquando do início dos trabalhos para o seu processo de tradução.

Therapeutic Identity Questionnaire: a questionnaire about training, experience, style and values (ThId)

O ThId é um questionário de autorresposta, desenvolvido por Sandell et al. (2004; 2007), dirigido a psicoterapeutas e explora um conjunto de características que dizem respeito fundamentalmente à formação e experiência profissional, estilo terapêutico, atitudes e valores subjacentes à prática clínica. A versão mais recente, versão 3 (Sandell, 2010), contém 150 questões repartidas por 6 secções (A a F). As primeiras quatro secções reportam-se a características sociodemográficas, formação académica, formação profissional e orientação teórica (secção A a D). A quinta secção é constituída por duas subescalas que averiguam a perceção do psicoterapeuta sobre o valor de vários componentes da psicoterapia (E1 - “Fatores Curativos”) e a forma habitual de condução da psicoterapia bem como o estilo pessoal (E2 - “Estilo Terapêutico”). Na 6ª secção (F - “Pressupostos de Base”) são abordados pressupostos ou teorias de base do terapeuta acerca da natureza da psicoterapia e da mente humana.

Em geral, o ThId apresenta boas qualidade psicométricas e os seus itens foram aperfeiçoados na versão 3 (Sandell, 2010), utilizada no presente trabalho, tendo sido aconselhada e cedida pelo primeiro autor. A escolha deste questionário prendeu-se também com o facto de, no seu todo, se constituir como um instrumento que abrange um vasto conjunto de características ligadas ao psicoterapeuta e ao processo psicoterapêutico, possibilitando uma avaliação muito completa das atitudes e valores associadas a este processo. A sua utilização para o estudo da validade convergente da EST (instrumento a construir neste trabalho), oferece diferentes possibilidades, uma vez que é constituída por várias subescalas, potencialmente apropriadas para serem testadas.

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Por se tratar de um instrumento de reconhecida qualidade e utilidade, já foi traduzido e adaptado para várias línguas estando disponível em Inglês, Castelhano, Alemão, Sueco e Japonês. Deste modo, pareceu-nos que a possibilidade de disponibilizar este instrumento também na versão em língua portuguesa, constituía um contributo de grande utilidade e importância para futuros estudos.

Feeling Checklist (FC)

A FC, short version, é uma escala de autorresposta composta por 24 palavras que cobrem o conjunto dos sentimentos em relação ao outro (ex. “contente”, “aborrecido”, “irritado”) desenvolvida por Holmqvist et al. (2007). A escala foi construída com o intuito de ser dirigida a profissionais de saúde, em particular de saúde mental como psicoterapeutas, a fim de avaliar, fundamentalmente, os sentimentos contratransferenciais. A escala está repartida por 8 subescalas (com base em 4 fatores) com três palavras cada uma, que se organizam num eixo circumplexo. Os autores construíram várias versões da escala com 30, 48 e 58 palavras com as quais foram já efetuados vários estudos (Holmqvist & Armelius, 1996; Katsuki, Goto, Takagi, Ozdemir, & Someya, 2006; Rossberg & Friis, 2003; Rossberg, Karterud, Pedersen, & Friis, 2007; Thylstrup & Hesse, 2008), revelando boas qualidades.

A FC foi selecionada para o presente estudo, tendo em vista um dos objetivos propostos, o de disponibilizar um instrumento desta natureza para os psicoterapeutas portugueses. Tratando-se de uma escala que avalia sentimentos, é do nosso conhecimento que tem sido estudada e utilizada em investigação sobre sentimentos em populações de profissionais de saúde mental e em profissionais de saúde em geral, permitindo fazer um estudo dos sentimentos contratransferenciais.

A escolha da versão reduzida de 24 palavras foi efetuada com base numa consulta ao seu autor, Rolf Holmqvist, o qual referiu vantagens nesta versão por apresentar maior consistência interna, para além de ser melhor concebida do ponto de vista da sua aplicação e cotação.

Tal como com o ThId, pareceu-nos útil e adequada a possibilidade de disponibilizar este instrumento na versão portuguesa, constituindo, assim, mais um contributo para futuros estudos.

Escala de Setting Terapêutico (EST)

Escala a construir no âmbito do presente trabalho, trata-se de uma escala de autorresposta dirigida ao psicoterapeuta, para avaliação da sua forma de manejo do setting

77 terapêutico. O desenvolvimento desta escala constitui um importante objetivo da presente investigação e, como tal, o seu processo de construção, estudo das características psicométricas e da estrutura fatorial serão apresentadas nos respetivos capítulos.