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Após ter ficado decidido, na segunda sessão de grupo focal, que a consulta à restante população do Lagarteiro seria feita através da aplicação de um questionário que seria desenvolvido em coletivo, uma terceira sessão de grupo focal foi preparada com o objetivo único de construir esse ‘co-questionário’. No planeamento desta sessão, foi realizada uma breve revisão bibliográfica, através da qual foi sintetizado um conjunto de orientações básicas para a construção de um questionário (ver Tabela 2) que seria explicado e disponibilizado durante toda a sessão de trabalho.

Com vista a garantir a participação ativa de todos os presentes, foi definida uma configuração do espaço da atividade, com a disposição dos participantes em torno de uma mesa forrada a papel branco (Figura 33) e a atribuição de um marcador de cor distinta a cada um para registo das suas propostas. A coordenação dos fluxos de participação, para a qual foi estipulado que todos devem contribuir com propostas e/ou comentários, o registo será apenas das perguntas que tiverem sido expostas ao escrutínio e aprovação do grupo. À medida que as propostas de perguntas iam sendo registadas, a respetiva sequência foi também sendo discutida e delineada.

Tabela 2. Orientações básicas para a construção de um questionário

Coisas importantes (post-its amarelos) .O que queremos saber?

. Como explicar às pessoas para que vai servir o questionário? . Quantas perguntas? Quanto tempo?

. A quem perguntar? Quantas pessoas? Conselhos (post-its verdes)

. Fazer perguntas simples, para não causar confusões.

. Dar exemplos (escritos, falados, imagens, …) para ajudar a compreender melhor. Exemplos de perguntas64 (post-its azuis)

. Qual a sua cor favorita? Amarelo, Verde, Rosa, Laranja, Branco. . Qual ou quais as suas cores favoritas? Amarelo, Preto, …, Outra.

. Costuma vestir com frequência as seguintes cores: amarelo, branco, azul, preto (escala com 5 itens Likert, entre Nunca e Sempre)

. Costuma pensar no que vai vestir no dia seguinte? Sim, Não, Às vezes. Que cores não gosta de se vestir? Porquê?

64 Os exemplos apresentados foram propositadamente aplicados a um tema diferente, para não influenciar a formulação de perguntas.

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Figura 33. Mesa de trabalho para construção coletiva de questionário para os agregados do bairro.

Através de chamadas, SMS, Facebook, informei a BA, a EA, a CA, a GA que íamos ter nova sessão de trabalho/reunião de grupo e, uma vez que a CA tinha assistente social de tarde, tive que correr de novo o risco de organizar de manhã. A GA disse que não podia, e a EA disse que se pudesse passava. A todas falei da possibilidade de trazerem companhia (serviria como motivação a virem e como o início de

extensão do grupo agora mais pequeno). (…) Como já passava da hora marcada, tentei contactá-las mas ninguém atendeu ou respondeu. Saio e vou a casa da CA. Bato à porta e ninguém abre. Desisto da sessão de hoje. [diário de campo, 9 de Setembro de 2015]

Enquanto esperávamos junto a casa dela – eu, a CA e a IA – fui sabendo que o KO estava por perto e o JO já estava em casa. Se todos aceitassem participar, já seríamos 5! Foi então que propus se queriam fazer a sessão de trabalho em casa deles e eles disseram que sim! [diário de campo, 23 de Setembro de 2015]

Com um nascimento, um despejo e uma oferta de emprego, o grupo primário de participantes ficou bastante reduzido. Depois da tentativa falhada para a terceira sessão de grupo focal, surgiu uma oportunidade de avançar com os objetivos do projeto, em circunstâncias inesperadas, mas que permitiriam incluir gente nova, de diferentes idades e de ambos os sexos, mantendo o envolvimento de uma participante inicial e uma outra que participou no segundo grupo focal. O local de trabalho

previamente preparado, foi transferido para o lar da CA, para tornar possível a participação de JO, com mobilidade reduzida. Estas mudanças obrigaram a alguma improvisação, nomeadamente, a mesa de apoio ao sofá que se converteu em mesa de trabalho e dois telemóveis colocados em ângulos distintos asseguraram o registo audiovisual (Figura 34).

Surge mais um casal de participantes e a sessão começa com alguma timidez em dar a cara na gravação, mas como a sessão se realiza em ambiente familiar, o grupo vai- se abstraindo do registo e prossegue cada vez com mais fluidez.

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Figura 34. Sessão de co-construção de questionário para o bairro (em cima). Mesa de trabalho no final da sessão (em baixo).

EU: E se nós perguntássemos às pessoas se elas têm uma ideia de quanto é que gastam por semana, em alimentação para a família?

LA: Por mês! As pessoas não vão fazer prá semana, vão fazer pró mês. CA: Tem noção em média de quanto gasta por mês nas suas compras? EU: Simplifica.

CA: Diga uma média de quanto é que você gasta nas suas compras… LA: …por mês.

CA: Durante 1 mês, quanto é que você gasta nas suas compras. LA: …isso é uma coisa que elas não vão dizer quanto gastam…!

EU: Em qualquer uma das perguntas que a gente tem para fazer, podem-se… HA: Só respondem se quiser!

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EU: Como é que acha, LA, que nós podíamos fazer a pergunta sem as pessoas se sentirem assim…?

(…)

EU: Depois víamos outra vez juntos se está tudo bem… e assim depois, a IA podia levar para testar… tu (CA), se calhar conseguias testar um também, eu também tentava testar um… e já tínhamos 3 para comparar!

IA: Eu testo meia dúzia deles! Dê-me 6 fotocopias que eu testo lá (casa dela). CA: E vemos mais ou menos, quanto tempo é que demorava…

EU: … ou até se calhar, as pessoas não perceberam muito bem esta pergunta… CA: Eu acho que era bom testar, por exemplo, com a avó do KO… você já testava com uma pessoa mais nova… porque de certeza que demora mais em pessoas mais velhas do que em pessoas mais novas. As pessoas mais velhas têm mais dificuldade em perceber do que as pessoas mais novas…!

(KO participa pouco, mas é muito assertivo. Refere a importância de testar um questionário antes de o aplicar.)

Por se tratar do mesmo tema, as questões formuladas estavam muito próximas das propostas no livrete-sonda. Contudo, discutiu-se a formulação das perguntas e os tipos de resposta, e acrescentaram-se dados que resultaram das atividades

posteriores, como foi o caso das perguntas de escolha múltipla, para as quais as respostas anteriores das participantes integraram a lista de opções de resposta. No final da sessão foram ainda debatidas e calendarizadas as fases seguintes de materialização, teste e estratégia de aplicação do co-questionário. Determinou-se que, no fim do co-questionário, seria integrada uma breve apresentação do projeto, que serviria de apoio à explicação que se considerou importante fazer sobre o objetivo da aplicação da ferramenta e que a materialização do co-questionário (Apêndice X), manteria a linguagem gráfica assumida nas fases anteriores.