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Da concetualização à realização do design game

3. Fase de implementação

Depois de reformuladas, as ideias foram votadas. Esta votação foi pública e, para acentuar a importância da opinião dos potenciais beneficiários, as habitantes do Lagarteiro tiveram direito a dois votos.

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Figura 41. Na linha superior: identificação dos aspetos positivos e negativos dos hábitos alimentares e gestão de orçamento familiar das famílias inspiração. Na linha inferior: escalas dos aspetos identificados. À esquerda, família Ferreira (equipa 1) e à direita, família Ferreira (equipa 2). Fotografias: Abhishek Chatterjee.

Figura 42. A votação nas propostas de soluções: autocolantes azuis representam os votos recebidos por cada uma das ideias (equipa 2, à esquerda, e equipa 1, à direita). Fotografias: Abhishek Chatterjee.

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À semelhança do que aconteceu na identificação dos aspetos positivos e negativos, também nesta tarefa a equipa 1 listou um conjunto de ideias e apenas algumas foram registadas individualmente em papéis de menor formato. A orientação dada, era para facilitar a leitura, obrigando a resumir a ideia num papel pequeno, e conferindo-lhe um destaque pelo isolamento. Nesta fase, a equipa já não optou por passar a limpo, como fez anteriormente, provavelmente devido à pressão do tempo.

O trabalho das equipas prosseguiu para uma previsão dos recursos necessários, humanos e não-humanos, e das possíveis parcerias, que pudessem contribuir para a viabilização e implementação da proposta selecionada. Para auxiliar esta reflexão, foi apresentado um conjunto de cartões-conceito74, com imagens exemplificativas de possíveis recursos ou entraves a considerar (e.g. o autocarro 400, o talho local, o logotipo do Instituto de Emprego e Formação Profissional, uma criança relutante para comer, entre outros, Figura 43).

Figura 43. Os trinta cartões conceito.

Para a apresentação final dos resultados das equipas, estas tinham que preparar, sobre um painel de cortiça, uma exposição das suas ideias, para a qual deviam definir

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um título, explicar o(s) problema(s) abordado(s) e integrar uma síntese da reflexão que fizeram sobre a viabilização e estratégia de implementação.

Enquanto que a equipa 2 não recorreu aos cartões-conceito, a equipa 1 utilizou-os inclusivamente na sua apresentação.

Por esta altura, o grupo de participantes estava reduzido a onze dos dezasseis elementos que constituíam as equipas 1 e 2.

Perante todos os presentes as equipas apresentaram as suas propostas através de um porta-voz (Figura 44) e do conteúdo no painel de cortiça (Figura 45).

Figura 44. Momento de apresentação da equipa 2. Fotografia: Abhishek Chatterjee.

Além das diferenças específicas das propostas (Tabela 9), as apresentações das equipas divergem no formato. A equipa 1 apresentou um conteúdo essencialmente visual, recorrendo aos cartões conceito e ao desenho para completar os conceitos que os cartões não lhes ofereciam. Apesar do painel da equipa 2 ser fundamentalmente textual, a equipa organizou e destacou diferentes componentes de informação, através de estratégias de composição, servindo-se das folhas de papel A4 como caixas de texto e introduzindo alguns elementos gráficos para estabelecer relações entre as partes. Contudo, ainda que por razões divergentes, ambas as equipas aproveitaram o papel do porta-voz para aclarar as suas propostas.

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Figura 45. Painéis para apresentação das propostas das equipas 1 (em cima) e 2 (em baixo). Fotografias: Abhishek Chatterjee.

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Tabela 9. Síntese das propostas apresentadas pelas duas equipas

Proposta da equipa 1 Proposta da equipa 2

“Festival alimentar do Bairro” “A Escola no Bairro / O Bairro na Escola” (programa)

Problemas abordados:

não saber ou não ter por hábito cozinhar; preferência por refeições pré-cozinhas que também são mais caras; falta de informação sobre alimentação e o que são hábitos

alimentares saudáveis; a componente social da refeição acabou (as pessoas não partilham durante a refeição)

Problemas abordados:

falta de informação e pressão social conduzem a condicionamentos na gestão alimentar (ex. consumo de frescos reduzido, em excesso de açúcar e privação esporádica), na gestão orçamental (ex. pouco, às vezes nenhum, orçamento disponível) e influenciando o estado emocional dos elementos da família.

Evento para todas as idades: campanha de sensibilização alimentar e formação culinária saudável, cozinha comunitária, workshops de culinária, piquenique, música ao vivo e atividades recreativas.

Programa alimentar participativo: envolver os pais através dos filhos; trabalhar a gestão orçamental, alimentar e emocional através da partilha de ideias entre famílias; identificar competências na comunidade; a escola como polo difusor do programa; publicação de livro de receitas e exposição que sintetizam o conhecimento produzido.

Recursos humanos:

pessoas da comunidade; amigos AMTS

Recursos humanos:

alunos e associações de pais; professores e funcionários; gestão escolar; técnicos que trabalham com as famílias; líderes comunitários. Recursos não-humanos:

Parque oriental; cozinha montada no local; cada pessoa contribui com um alimento e um utensílio de cozinha (ex. tachos, colheres de pau…)

Recursos não-humanos:

Escola – cozinha, utensílios e bens alimentares; Bairro(s); registo fotográfico e vídeo.

Parcerias:

Junta de Freguesia; Associação Movimento Terra Solta (AMTS); empresa de eletrodomésticos.

Parcerias:

Junta de Freguesia; paróquias; organizações e associações de caracter social e institucional.

Estas apresentações, que se tinham solicitado breves, seguidas de algumas perguntas e respostas, acabaram por desencadear uma discussão conjunta, que terminou com a constatação de que as propostas das equipas podiam ser complementares. O evento podia funcionar como promotor do programa alimentar ou como ocasião para

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que complementares, as propostas não obedecem a uma precedência, não obrigando a uma ordem de implementação.

Terminada esta reflexão conjunta sobre as propostas desenvolvidas, foi solicitada uma última opinião ao grupo sobre o evento e alguns dos presentes contribuíram. Este momento, que acabou por constituir um louvor aos desígnios do projeto, uma aparente satisfação na participação e entusiasmo em dar continuidade aos trabalhos, uma das intervenções que merece ser salientada veio de uma das habitantes do bairro, a única que acompanhou o projeto do princípio ao fim. Sem pudor, a jovem retrospetiva que a curiosidade foi a motivação inicial à participação no projeto, que o processo foi

desencadeando momentos de autorreflexão sobre a sua realidade alimentar e orçamental, enquanto demonstra que a empatia desenvolvida entre ela e a

investigadora foi um fator determinante para a relação de confiança e cooperação. A sessão é oficialmente encerrada com o agradecimento da presença e colaboração de todos, seguido de um momento informal de convívio, troca de contactos e lanche.