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artigo 26.º da Lei da Droga foi ponderada, tendo apenas sido aplicada numa (Caso 2).

II. Objetivos I Resumo

4. Consumidor-traficante 5 Prática e gestão processual

5.1. Considerações Iniciais 5.2. Meios de Obtenção de Prova

5.3. Perda de Objetos e Perda Ampliada de Bens IV. Hiperligações e referências bibliográficas

I. Introdução

É antes do ópio que a minh’alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola

E eu vou buscar ao ópio que consola Um Oriente ao oriente do Oriente. (...)

Álvaro de Campos, “O Opiário”

O fenómeno da droga e da toxicodependência, de dimensão mundial, e as ameaças colocadas pelas drogas à saúde pública e à segurança demandam respostas várias do legislador, tanto ao nível da prevenção como da sua repressão criminal.

O legislador nacional determina que o tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas é crime de prevenção prioritária – artigo 2.º, alínea j), da Lei n.º 96/2017, de 23 de agosto, que aprova a Lei de Política Criminal para o biénio de 2017-2019.

O consumo de estupefaciente, por seu turno, e tanto a criminalização ou intervenção penal como a intervenção administrativa na conduta de consumir droga ou estupefacientes suscitam, diferentemente, reações diversas a cada um dos nós.

Porém, se frequentes são os argumentos de que o consumo de droga se situa na disponibilidade pessoal e do próprio corpo do consumidor, e de que este, principalmente

PUNIBILIDADE DO CONSUMIDOR-TRAFICANTE E DO TRAFICANTE-CONSUMIDOR DE ESTUPEFACIENTES

2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

toxicodependente1, é um doente, carente da substância psicotrópica, o certo é que em

Portugal, por referência à população com idades compreendidas entre os 15 e os 74 anos, recentes estudos apontam prevalências de consumo de qualquer droga de 10% ao longo da vida, 5% nos últimos 12 meses e de 4% nos últimos 30 dias2.

Se adjetivações sobre o fenómeno do consumo de droga e da toxicodependência e considerações sobre a bondade do caráter objetivamente progressista das opções político- legislativas tomadas em Portugal3 ficam de fora do presente ensaio, o certo é que o consumo

de drogas comporta profundo impacto social ao nível da saúde pública, das consequências sociais e económicas, bem como pelo que acarreta no seu tratamento e prevenção. De perto, ainda pela criminalidade que provoca ou lhe está indireta ou mais diretamente associada. Quanto ao tráfico de droga, escusado seria renovar que faz parte da criminalidade objetivamente grave, com consequências de elevada danosidade, que corrói as sociedades modernas e constitui um verdadeiro flagelo à escala mundial.

II. Objetivos

O presente ensaio, em primeiro lugar, revisita as opções legislativas mais recentes e mais relevantes em matéria de tráfico e consumo de estupefaciente.

Em segundo lugar, pretende fornecer uma abordagem teórico-prática dos crimes relativos ao tráfico e ao consumo de estupefacientes, previstos no Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, nos termos em que estão vigentes. Pretende dar-se um contributo para a tarefa de enquadrar a atuação de determinado agente num dos ilícitos penais de tráfico, em qualquer das suas vertentes, ou de um crime de consumo, assim como se pretende debater sobre uma figura menos tratada e de relativa inexistência doutrinária e jurisprudência, o traficante-consumidor. Pretende-se conferir, ainda, uma abordagem iminentemente prática sobre a direção de uma investigação relativa a factos suscetíveis de consubstanciar a prática de algum desses ilícitos penais, procurando dar contributos sobre alguns meios de prova com especial utilidade na investigação e posterior prossecução criminal desses ilícitos.

1 Segundo a Organização Mundial de Saúde, (OMS, 2011), a toxicodependência consiste “num conjunto de fenómenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem depois de repetido uso de uma substância e que incluem tipicamente um forte desejo de tomar a droga, dificuldades em controlar o seu uso, persistindo no seu uso apesar das suas consequências nefastas, uma maior prioridade dada ao uso da droga do que a outras atividades e obrigações, tolerância aumentada, e às vezes um estado de privação física”.

2 Relatório Anual 2017 – A situação do país em matéria de drogas e toxicodependências, SICAD, 2018, disponível em

http://www.sicad.pt/PT/Publicacoes/Paginas/detalhe.aspx?itemId=145&lista=SICAD_PUBLICACOES&bkUrl=BK/Publ icacoes/

3 https://www.theguardian.com/news/2017/dec/05/portugals-radical-drugs-policy-is-working-why-hasnt-the-

world-copied-it

PUNIBILIDADE DO CONSUMIDOR-TRAFICANTE E DO TRAFICANTE-CONSUMIDOR DE ESTUPEFACIENTES

2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

III. Resumo

Não obstante o tema do presente trabalho, como o indica o título, ser, de forma particular, as figuras jurídicas do “traficante-consumidor” e do “consumidor-traficante”, é nossa convicção que, para otimistamente almejarmos tratar tais institutos jurídicos com clareza e assertividade, e procurar oferecer ao leitor a compreensão das consequências jurídicas que comportam e do seu tratamento processual, é necessário atentar à evolução legislativa em matéria de consumo e de tráfico de drogas e estupefacientes. Sem descurar um olhar sobre a opção legislativa da descriminalização do consumo de drogas e estupefacientes, operado pela Lei n.º 30/2000, de 29 de novembro, analisaremos, de forma sintética, os diferentes tipos de crime estabelecidos na Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro.

A evolução legislativa registada constituirá o ponto de partida do tratamento da presente problemática jurídica, sobretudo uma vez que a reação do legislador penal tanto face ao tráfico como ao consumo de droga se alterou de forma evidente ao longo das últimas décadas. Uma vez que nas expressões “traficante-consumidor” e “consumidor-traficante” estão textualmente contidas atividades que, isoladamente, constituirão crimes ou tipos autónomos de crime, trataremos de as analisar por si, para depois as tratarmos enquanto realidades coexistentes. Procuraremos, assim, abordar sob um ponto de vista prático os vários crimes de tráfico de estupefacientes e o crime de consumo previstos no Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro.

Por fim, no que concerne ao tratamento processual, às implicações diretas na tramitação do inquérito crime e à sustentação de uma acusação, na fase subsequente do julgamento, procuraremos aludir a elementos probatórios e a diligências de prova, designadamente as que reputamos de mais relevantes na investigação e prossecução penal destes ilícitos criminais.