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Consumo de medicamentos e conhecimentos sobre genéricos

3. Material e Métodos

5.5. Utilização dos serviços de saúde

5.5.6. Consumo de medicamentos e conhecimentos sobre genéricos

Percebeu-se que houve maior consumo de medicamentos entre os deficientes visuais nos 3 dias anteriores à entrevista quando comparados com os não-deficientes. Após

ajuste, observou-se que houve consumo de medicamentos 17% maior entre os deficientes quando comparados com os não-deficientes visuais.

Sobre a indicação do consumo de medicamentos, entre os deficientes visuais foi maior a prescrição por médico ou dentista. A indicação de farmacêutico ou balconista foi feita mais vezes entre os não-deficientes. Entre os deficientes, a automedicação foi maior. A indicação de parente, vizinho ou amigo foi mais importante entre os não-deficientes do que entre os deficientes visuais. Outras indicações foram seguidas em maior porcentagem pelos não-deficientes. A RP ajustada mostra que entre os deficientes o consumo de medicamentos por indicação do farmacêutico ou balconista foi 74% menos que no grupo de não-deficientes.

Entre os deficientes visuais, o desconhecimento a respeito dos genéricos foi maior do que entre os não-deficientes visuais. O desconhecimento da possibilidade de substituição do medicamento usado por genérico foi maior entre os não-deficientes. Entre os não- deficientes foi maior a porcentagem de medicamentos usados que não eram passiveis de substituição por genéricos. A substituição por genéricos era possível em maior proporção entre os medicamentos usados pelos não-deficientes. O uso de genéricos foi maior entre os deficientes visuais do que entre os não-deficientes. O cálculo da RP ajustada mostra que entre os deficientes 105% mais pessoas não sabiam o que eram os genéricos. Mas o uso de genéricos era 61% maior do que entre os não-deficientes.

Quando perguntados sobre as vantagens dos genéricos, os deficientes citaram mais vezes que não havia vantagem no uso de genéricos. A porcentagem de pessoas que responderam que a vantagem dos genéricos é o fato de serem mais baratos foi aproximada entre os deficientes visuais e os não-deficientes. Ter mais opções foi a vantagem apontada mais pelos deficientes visuais que pelos não-deficientes. Facilidade de encontrar foi dito como vantagem dos genéricos mais vezes pelos não-deficientes. Outras vantagens foram citadas mais pelos deficientes visuais. A RP ajustada revela que entre os deficientes houve 764% mais respostas de que a principal vantagem dos genéricos seria a maior quantidade de opções quando comparados com os não-deficientes visuais.

Entre os deficientes auditivos o consumo de medicamentos foi do maior que entre os não-deficientes. A indicação do medicamento pelo médico ou dentista foi maior entre os deficientes auditivos quando comparados com os não-deficientes. A indicação do

farmacêutico ou balconista foi seguida mais vezes entre os não-deficientes. A automedicação foi mais praticada pelos não-deficientes. A indicação de parente, amigo ou vizinho foi mais seguida pelos não-deficientes do que pelos deficientes. Outras indicações foram relatadas mais pelos deficientes auditivos do que pelos não-deficientes.

Quando questionados sobre a substituição do medicamento que usavam por genéricos, a porcentagem dos indivíduos que desconheciam o que eram os genéricos foi aproximadamente igual entre os deficientes auditivos e os não-deficientes. O mesmo se aplica àqueles que responderam não saber dizer se a substituição do medicamento usado por genérico era possível. Mais deficientes auditivos relataram não ser possível a substituição do medicamento usado por genéricos quando comparados aos não-deficientes. A substituição do medicamento usado por genéricos era possível em porcentagens próximas entre os deficientes e os não-deficientes. A porcentagem de uso de genéricos era aproximada quando se considerava o grupo de deficientes auditivos frente aos não- deficientes.

Sobre as vantagens de se usar genéricos, mais não-deficientes auditivos disseram não haver nenhuma vantagem no uso de genéricos. O menor preço foi mais relatado como vantagem dos genéricos entre os deficientes auditivos. Entre os deficientes, mais indivíduos apontaram a maior quantidade opções como vantagem dos genéricos. A facilidade de obtenção foi mais relatada pelos deficientes auditivos. Outras vantagens foram mais citadas pelos não-deficientes.

No caso dos deficientes auditivos, todas as diferenças perderam-se após o ajuste por idade e sexo, indicando que esse padrão diferenciado entre deficientes auditivos e não- deficientes auditivos pode ser mais fruto da influência da idade e do sexo do que da deficiência propriamente.

Entre os deficientes físicos, o consumo de medicamentos foi maior do que entre os não-deficientes. A RP ajustada indica que houve 40% mais consumo entre os deficientes físicos quando comparados com os não-deficientes.

A indicação do medicamento por médico ou dentista foi mais corriqueira entre os deficientes físicos do que entre os não-deficientes. O consumo de medicamentos por indicação de balconista ou farmacêutico foi mais relatado pelos não-deficientes. A automedicação foi mais realizada pelos não-deficientes. O consumo de medicamento por

indicação de parente, amigo ou vizinho foi mais importante no grupo de deficientes físicos. Outras indicações foram seguidas mais vezes pelos não-deficientes. O cálculo da RP ajustada mostra que entre os deficientes físicos houve 99% menos consumo de medicamentos indicados por farmacêutico ou balconista quando comparados com os não- deficientes; 86% menos automedicação do que entre os deficientes e 98% menor foi o consumo por indicação de outras fontes que entre os não-deficientes físicos.

Mais pessoas entre os deficientes físicos relataram desconhecimento acerca dos genéricos. Entre os deficientes foi menor o desconhecimento sobre a substituição do medicamento usado por genérico. A substituição do medicamento usado por medicamento genérico não era possível em maior porcentagem no grupo de não-deficientes físicos. Percebeu-se pela RP ajustada que entre os deficientes o desconhecimento sobre genéricos era 226% maior do que entre os não-deficientes. A impossibilidade de substituição do medicamento utilizado por genérico era 92% menos entre os deficientes do que entre os não-deficientes.

Sobre as vantagens dos genéricos maior porcentagem de sujeitos entre os não- deficientes físicos disse não haver nenhuma. O menor preço foi citado como vantagem em maior proporção pelos deficientes físicos. Mais opções de escolha foi a resposta mais dita entre os deficientes físicos. Nenhum dos deficientes relatou facilidade na compra como vantagem. Outras vantagens foram citadas por mais vezes pelos deficientes físicos. A RP ajustada revela que entre os deficientes físicos a opção que dizia que não há vantagens nos genéricos foi 98% menos dita que entre os não-deficientes; a maior quantidade de opções foi 1174% mais relatada entre os deficientes físicos do que entre os não-deficientes.

Comparando-se o consumo de medicamentos entre os deficientes, percebe-se que os deficientes físicos foram os que mais consumiam medicamentos; seguidos pelos deficientes visuais; por último os deficientes auditivos. No Brasil, BERTOLDI et al. (2004), em um estudo também de corte transversal e base populacional com amostragem ponderada, relatam prevalências de 65,9%, prevalência diferentes das aqui encontradas, porém, o tempo referente ao consumo de medicamentos deste inquérito foi de 15 dias, enquanto que em nosso estudo esse tempo foi de 3 dias. Foram registradas a prevalência de 38,4% de uso de medicamentos em adultos quando o tempo sugerido de uso era de 30 dias; quando o tempo referente ao uso foi de 90 dias a prevalência sobe para 73,3% (BERTOLDI et al.,

2004). Em Fortaleza foi verificada a prevalência de consumo de medicamentos de 49,7% na população geral (ARRAIS et al., 2005). Ainda segundo ARRAIS et al. (2005), o medicamento é um bem essencial à saúde e uma importante ferramenta terapêutica, responsável por boa parte da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Esses autores também ressaltam que o conhecimento do perfil de consumo de medicamentos na população é um instrumento importante para o delineamento de medidas de contenção de gastos farmacêuticos e melhoria das políticas de assistência à saúde do cidadão. Os deficientes não são uma exceção e conforme demonstrado nessa pesquisa, têm uma maior necessidade de medicação para suprir suas necessidades de saúde, sendo indispensável a esses indivíduos uma atenção especial com relação à questão do acesso e consumo de medicamentos.