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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RESSIGNIFICAÇÃO DE LEITURAS DE MUNDO

Joana Dark Leite3 – joanadarkl@yahoo.com.br

Este trabalho apresenta resultados parciais sobre uma investigação-ação, realizada junto uma associação de idosos, visando à ressignificação das suas leituras de mundo por meio da contação de histórias. Procura-se trazer à tona aspectos das vivências socioculturais dos participantes, tendo como base relatos da atividade denominada “círculos de cultura de contação de histórias”. Esta atividade caracteriza-se pela participação dos membros da comunidade em momentos de contação de histórias, que envolvem dimensões educativas que podem ser pensadas à luz da teorização das performances culturais. Argumenta-se, a título de considerações, que o processo vivido pode contribuir para que os participantes ressignifiquem suas leituras de mundo, diante da concepção de círculo de cultura como espaço político-pedagógico, que possibilita ao seres humanos reconherem a si mesmos como fazedores de cultura.

Palavras-chave: ressignificação; leitura de mundo; círculo de cultura; contação de histórias; performances culturais.

Introdução:

O presente texto apresenta reflexões acerca da contação de histórias como possibilidade de ressignificação de leituras de mudo. O texto resulta de uma investigação, que vem sendo realizada em uma Associação de Idosos, na qual a nossa prática vem problematizando a seguintes questão5: a vivência coletiva de círculos de cultura de contação de histórias em uma associação de idosos pode contribuir para a ressignificação das suas leituras de mundo na medida em que o narrador idoso, talvez, venha perdendo seu espaço na atual configuração vida em sociedade?

Nesse sentido, a investigação-ação sobre a prática de educadora-educanda contadora de histórias, dialoga com o entendimento de que:

O narrador é um mestre do ofício que conhece seu mister: ele tem o dom do conselho. A ele foi dado abranger uma vida inteira. Seu talento de narrar lhe vem da experiência; sua lição, ele extraiu da própria dor; sua dignidade é a de contá-la até o fim, sem medo. Uma atmosfera sagrada circunda o narrador (BOSI, 2004, p.91).

3Mestranda em Performances Culturais, Universidade Federal de Goiás – Goiânia/Go.

4Professor Doutor do Programa da Pós-graduação em Performances Culturais e da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, Goiânia-Go.

5 A pesquisa está sendo desenvolvida no Mestrado em Performances Culturais da Universidade Federal de Goiás (UFG), sob a orientação do Professor Doutor Márcio Penna Corte Real.

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Assim, temos desenvolvido um percurso de investigação-ação que se dá a partir da ação de contar histórias. Pois, para ouvir as histórias dos participantes da Associação de idosos conta-se uma história, na qual a participação da educadora-contadora de histórias é partilhada com os participantes do círculo de cultura. As reflexões têm possibilitado pensar sobre as performances da narrativa e a memória desses participantes do processo de investigar os desafios da prática. Visto que:

A investigação-ação explora dimensões como os hábitos, os usos costumeiros, os precedentes, as tradições, as estruturas de controle e as rotinas burocráticas, enfim, os problemas e desafios, a fim de identificar e superar aqueles aspectos da educação e da escolaridade que são contraditórios e irracionais, parafraseando Carr e Kemmi’s (1988, p.233 apud CORTE REAL, 2006, p.22).

Não obstante, o ato de contar uma história nos remete às memórias e às práticas sócio-histórico-culturais vividas. Por sua vez, a memória, como aponta Bosi (1994) “poderá ser conservação ou elaboração do passado, mesmo porque o seu lugar na vida do homem acha-se a meio do caminho entre o instintivo, que se repete sempre [...] de onde resulta uma concepção extremamente flexível da memória: a lembrança é a história da pessoa e o seu mundo, enquanto vivenciada” (p.68).

A narração da própria vivência, da experiência revela “a sua memória” essa memória que remete a lembranças (BOSI, 1994). Portanto, as histórias contadas carregam consigo a memória e consequentemente as tradições e resultam na construção de uma narrativa.

Deste modo, as narrativas carregam valores sociais de determinada vivência com aponta Turner (1992, pg. 86, 87 apud HARTMANN, 2000, pg. 107): “a narrativa seria o instrumento para comprometer os valores e objetivos, que motivam a conduta humana, especialmente quando homens e mulheres tornam-se atores no drama social”.

Neste caminho, em termos da organização da exposição, na primeira parte deste trabalho refletimos sobre o campo privilegiado nesta investigação-ação – o qual consiste na referida associação de idosos, em que a prática investigativa é vivida pelo princípio do “círculo de cultura de contação de histórias”. Pretendemos, assim, vislumbrar a possibilidade da ressignificação da leitura de mundo dos participantes; visto que o desafio do círculo de cultura, como unidade educativa que problematiza a escola tradicional, é o de que estes educandos-contadores de histórias se “reconheçam a si próprios como criadores de culturas” (Freire, p.1996). Embora, neste percurso investigativo, reconheçamos que, se por um lado, ao contar uma história vivida, o participante do círculo de cultura pode explicitar sua vivência sócio-histórico-cultural e apropriar-se criticamente do seu mundo vivido; por outro, as injunções de uma sociedade capitalista podem tensionar ou mesmo minimizar o papel do narrador-idoso.

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A partir do processo de investigação vivido, tomamos como objeto de análise excertos de atividades práticas dos círculos de cultura de contação de histórias, apresentados a partir de relatos na segunda parte deste texto. Estas atividades são organizadas por momentos de “contação de histórias geradoras”, de outras histórias contadas pela educadora-educanda contadora de histórias; em uma aproximação da concepção de tema gerador de Paulo Freire (1987) em que o desenvolvimento do trabalho com um tema, no círculo de cultura, leva a apreensão de outros temas que garantem o desenvolvimento do programa educativo. Os participantes, por sua vez, contam as histórias que vieram em suas mentes no momento que ouviam a contadora de histórias. Nas considerações, argumentamos que processo investigativo tem contribuído para ressignificação das leituras de mundo dos participantes dos círculos de cultura de contação de histórias vividos com os narradores-idosos.

2 - Era uma vez: o círculo de cultura de contação de histórias em uma Associação de Idosos

O espaço desta investigação-ação consiste em uma Associação de idosos, localizada na cidade de Goiânia/GO, que, há 26 anos, realiza atividades recreativas e formativas com este público.

Possibilita um ambiente na forma ponto de encontro de pessoas, que têm à sua disposição diversas atividades. As atividades são previamente planejadas pela diretoria e fixadas em um mural. Além da escolha de uma atividade a ser realizada em conjunto, os participantes também realizam na associação refeições, como café da manhã, almoço e lanche.

Nas programações, encontram-se alternativas para a sua escolha, típicas do Estado de Goiás, como folia, pamonhada, festa junina, bailes, ateliê de fiandeiras, de tapetes. De maneira geral, o público da associação tem contato prévio com essas práticas e, por vezes, já as vivenciou. Portanto, os participantes da associação podem reviver, reconstruir e reorganizar esses momentos de práticas culturais em grupo.

Os idosos trazem consigo diversos conhecimentos, histórias e vivências que muitas vezes ficam adormecidos. Existem múltiplas formas de opressão sofridas por eles, sendo que uma delas é a de, por vezes, não poderem falar, contar e compartilhar suas experiências. Talvez, inclusive fruto da forma como vivemos em sociedade e do papel que nesta ocupa o idoso – o que tem deixado de ocupar – pudemos perceber que, até o momento da nossa inserção na Associação de Idosos não havia uma prática de contação de histórias. Chauí aponta que,

a função social do velho é lembrar e aconselhar – memini, moneo – unir o começo e o fim, ligando o que foi e o porvir. Mas a sociedade capitalista impede a lembrança, usa o braço servil do velho e recusa seus conselhos. Sociedade que, diria Espinosa,

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“não merece o nome de Cidade, mas o de servidão e barbárie”, a sociedade capitalista desarma o velho mobilizando mecanismos pelos quais oprime a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela história oficial celebrativa (CHAUÍ 2004, pg. 18 apud BOSI, ano, p.).

A partir desse entendimento, a investigação tem procurado problematizar a contação de histórias como possibilidade de ressignificar as leituras de mundo nos idosos ao mesmo tempo que procuramos pensar sobre o seu lugar na sociedade.

Exatamente por isso, momentos de contação de histórias se fazem presentes na pesquisa.

Justamente para que o participante da pesquisa ouça e em seguida conte também uma história. O ato de contar uma história desenvolve momentos onde os idosos podem narrar os seus valores históricos, culturais e sociais, ou seja, “integrando ao seu contexto, resultante de estar não apenas nele, mas com ele” (FREIRE, 1996, p.50).

As histórias contadas pela pesquisadora contadora de histórias são os temas geradores de outras histórias, a partir de uma história, que sempre é em torno de uma vivência dos causos populares, da literatura regional, ou da própria vivência. O diálogo se abre e o grupo participante poderá contar a sua história, pois quem “dialoga, dialoga com alguém sobre alguma coisa” (FREIRE, 1996, p.116).

No “círculo de cultura de contação de histórias” “essa alguma coisa” mencionada por Freire (1996) são as histórias contadas, que além dinamizar o diálogo, os idosos vivem momentos reflexivos sobre seus conhecimentos e práticas culturais. Assim, “o círculo de cultura é o lugar onde trava a relação do ser humano mediado pela suas relações “homens-mundo”” (FREIRE, 1996).

Na relação do diálogo sobre práticas culturais, histórias e memórias teremos a construção de uma narrativa. Deste modo essas narrativas carregam em seu bojo os valores sociais de determinada sociedade onde homens e mulheres tornam-se atores no “drama social” (TURNER, 1992, p. 86, 87 apud HARTMANN, 2000, pg. 107)

Portanto, dirigimos a nossa atenção para os “atores do drama social”, na medida em que temos procurado investigar e compartilhar as memórias e experiências do grupo de narradores-idosos nos

“círculos de cultura de contação de histórias”.

3 - Eu conto, eles contam: nós podemos contar juntos?

No trabalho desenvolvido junto à associação, cada “círculo de cultura de contação de histórias” inicia com uma contação de histórias, realizada pela educadora-educanda contadora de histórias. A história contada é o tema gerador de outras histórias. Por isso, a investigação-ação se faz

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presente para auxiliar na interpretação da “própria prática por meio de situações reais concretas”

(GRABAUSKA e BASTOS, 1998). Nesse sentido, a investigação-ação não trata da prática pela prática, como mero ativismo. Mas, “Lembremos que a observação e a reflexão conjunta das ações desenvolvidas são um importante ponto da investigação-ação que, em suma, se dá no agir e no refletir, que educadoras (es) e educandas(os) podem promover junto às práticas educativas” (CORTE REAL, 2006, p. 211).

As imagens que a contação de história produz nos participantes “revelam, alimentam e instigam o universo de imagens internas que, ao longo de sua história, dão forma e sentido às experiências de uma pessoa no mundo” (MACHADO, 2004).

Essas formas e sentido são determinantes para a que a contação de histórias seja narrada pelo participante do círculo de cultura. Os participantes contadores de história, criadores de cultura (FREIRE, 1996) apresentam o que Benjamim (1983) diz que “o narrador colhe o que narra na experiência própria ou relatada. E transforma isso outra vez em experiência própria dos que ouvem sua história”.

Ao ouvir uma experiência o participante-contador narra a história que lhe vem a mente - a partir do que foi ouvido. No “círculo de cultura de contação de histórias”, a narrativa abordada nesse momento, entretanto, ora “possui dispositivos bem marcados de início, meio e fim... lida com a linguagem poética e envolve grande engajamento corporal e vocal do contador, que procura demonstrar "competência comunicativa" ( Hymes, 1975, apud Hartmann, 2005); ora apresenta um relato sobre a vivência fazendo uma relação com a história contada pela contadora de histórias.

O momento de círculo de cultura de contação de histórias transcrita a seguir mostra que, a partir da contação de história pela educadora-educanda contadora de histórias gerou outras histórias.

Era um dia de semana, na parte da manhã por volta das 10h30:

- Educadora-Contadora de Histórias: Bom dia! Estamos no “círculo de cultura de contação de histórias”, sejam todos bem-vindos. Hoje começarei com uma história e depois vocês, quem quiser poderão contar também.

Lembrando que as histórias podem ser acontecidas, vivenciadas ou histórias que alguém contou para você.

Era uma vez...um lugar onde as pessoas pediam pouso de uma noite. Nesse lugar havia umas tantas práticas que se cumpriam religiosamente:

Ô de Casa!

(...)

Acontecia à noite, alta noite com chuva, frio ou lua clara, passantes com cargueiros e família darem: "Ô, de casa..."

Meu avô era o primeiro a levantar, abrir a janela:

"Ô de fora... Tome chegada."

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O chefe do comboio se adiantava:

"De passagem para o comércio levando cargas, a patroa perrengue, mofina, pedia um encosto até "demanhã".

Mais, um fecho para os "alimais".

Meu avô abria a porta, franqueava a casa.

Tia Nhá-Bá, de candeia na mão, procurava a cozinha,

acompanhada de Ricarda sonolenta. Avivar o fogo, fazer café, a praxe, Aquecer o leite. Meu avô ouvia as informações. Não especulava.

Oferecia acomodação, no dentro, quarto de hóspedes.

Quase sempre agradeciam. Se arrumavam ali mesmo no vasto alpendre [coberto

Descarregavam as mulas, encostavam a carga.

Tia Nhá-Bá comparecia, oferecia bacião de banho à dona, e aos [meninos,

quitandas.

Aceitavam ou não. Queriam, só mais, aquele encosto, estendiam os couros, baixeiros, arreatas, se encostavam.

Meu avô franqueava o paiol. Milho à vontade para os animais de sela, [de carga.

Eles acendiam fogo, se arranjavam naquele agasalho bondoso, [primitivo.

Levantávamos curiosas, afoitas, ver os passantes.

Acompanhá-los ao curral, oferecer as coisas da casa.

Ajoujavam os cargueiros, remetiam as bruacas nas cangalhas.

Faziam suas despedidas, pediam a conta das despesas.

Meu avô recusava qualquer pagamento — Lei da Hospitalidade.

Os camaradas já tinham feito o almoço lá deles. Já tinha madrugado para as restantes cinco léguas. Convidava-se a demorar mais na volta.

Despediam-se em gratidão e repouso.

Era assim no antigamente, naqueles velhos reinos de Goiás.

In: CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 3. ed. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1985.

Era assim nas fazendas em Goiás. Também tinha um rigor muito grande quando Cora era pequena.

Ela nos conta que:

Sequências

Eu era pequena. A cozinheira Lizarda tinha nos levado ao mercado, minha irmã, eu.

Passava um homem com um abacate na mão e eu inconsciente:

“Ome me dá esse abacate”...

O homem me entregou a fruta madura.

Minha irmã de pronto: “vou contar pra mãe que ocê pediu abacate na rua”. Eu voltava trocando as pernas bambas.

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Meus medos, crescidos, enormes... A demúncia confirmada, o auto, a comprovação do delito. O impulso materno...consequência obscura da escravidão passada, o ranço dos castigos corporais.

Eu, aos gritos, esperneando.

O abacate esmagado, pisado, me sujando toda.

Durante muitos anos minha repugnância por esta fruta Trazendo a recordação permanente do castigo cruel.

Sentia sem definir, a recreiação dos que ficaram de fora, assistentes acusadores.

Nada mais aprazível no tempo, do que presenciar a criança indefesa espernear numa coça de chineladas.

“É pra seu bem”, diziam, “doutra vez não pedi fruita na rua”.

In: CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 3. ed. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1985.

Educadora-Contadora de Histórias: Cora Coralina nos apresenta um pouco de sua vivência na infância. Agora, quem quiser nos conte uma história.

Participante 1 – Eu tenho uma coisa para contar. Lá na casa dos meus pais na fazenda, quando chegavam os viajantes o meu pai recebia eles de forma muito parecida com o que você contou.

Só que era assim:

Viajante: ô de casa?

Meu pai respondia: ô de fora, Tome chegada, se desapeia, vamo abancá.

Viajante: descia do cavalo e abancáva, ou seja, ele entrava casa adentro.

Educadora-Contadora de Histórias: olha que maravilha, aprendemos uma palavra nova hoje: abancá. Uma salve de palmas!

Participante 2 – Eu quero contar uma história que ouvi a muitos, muitos anos atrás:

Há muito tempo atrás, muito antigamente mesmo, havia um rei que tinha três filhos, todos já adultos. Certo dia, o rei chamou-os e disse:

– Meus filhos, quero que cada um de vocês faça um arco e atire uma flecha. Aquela que trouxer sua flecha de volta será sua mulher; aquele cuja flecha não for trazida de volta não se casará.

O filho mais velho atirou sua flecha, e a filha de um príncipe trouxe-a de volta. O filho do meio atirou sua flecha, e a filha de um general trouxe-a de volta. Mas a flecha do principezinho foi trazida de volta do pântano por uma rã, que a segurava entre os dentes. Seus irmãos estavam alegres e felizes, mas o principezinho ficou triste e chorou:

– Como vou viver com uma rã? Afinal de contas, é algo para a vida inteira, não é como cruzar um rio ou atravessar um campo!

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Chorou muito, muito, mas não havia como se safar e, por isso, ele tomou a rã como esposa.

Todos os três filhos e suas noivas casaram de acordo com os costumes do país; a rã foi colocada em cima de um prato para a cerimônia.

E passaram a viver juntos. Certo dia, o rei pediu a todas as três noivas que lhe dessem presentes feitos por elas, a fim de saber qual era a mais habilidosa das três. O principezinho ficou novamente muito triste, e chorou lamentando:

– O que minha rã pode fazer? Todos vão rir de mim!

A rã só pulava no chão e coachava. Quando o principezinho caiu no sono, ela saiu até a rua, lançou fora a sua pele e transformou numa jovem lindíssima, que gritou:

– Amas, amas! Façam alguma coisa!As amas trouxeram imediatamente uma camisa de tecido muito fino e delicado. A moça pegou, dobrou e colocou ao lado do principezinho, e transformou novamente em rã. Como nunca tivesse sido outra coisa na vida! O principezinho acordou, ficou radiante de felicidade com a camisa e levou ao rei, que a recebeu, examinou e disse:

– Bem, essa é realmente uma camisa para ser usada em festas!Depois o irmão do meio trouxe uma camisa. O rei disse:

– Essa só serve para ir tomar banho!E, quanto à camisa trazida pelo irmão mais velho, o rei exclamou ao ver:

– Esta só pode ser usava na cabana de um camponês bem pobre!Os filhos do rei foram embora, e os dois mais velhos comentaram entre si:

– Fizemos mal ao fazer troça da esposa do príncipe, ela não é uma rã, é uma feiticeira astuciosa!

O rei resolveu dar um baile para ver qual das noras dançava melhor. Todos os convidados e as noras se reuniram, e também os filhos, exceto o principezinho, que ficou triste: como poderia ir ao baile com uma rã? E nosso principezinho começou a chorar. A rã disse:

– Não chore, príncipe. Vá ao baile. Estarei lá daqui a uma hora. Ela pegou imediatamente o braço do príncipe e dirigiu para a pista. Dançou e dançou, girou e girou, uma maravilha de se olhar!

Acenou a mão direita e apareceram lagos e bosques; acenou a mão esquerda, e vários pássaros começaram a voar pelo salão. Todos estavam assombrados. Ela terminou de dançar e tudo o que criara desapareceu. Depois as outras noras se dirigiram para a pista. Queriam fazer o que a moça fizera; acenaram a mão direita, e os ossos voaram direto nos convidados; e de sua manga esquerda voaram salpicos de vinho, que também atingiram os convidados. O rei ficou aborrecido com aquilo, e gritou: Chega, chega! As noras pararam de dançar. O baile terminou. O

Acenou a mão direita e apareceram lagos e bosques; acenou a mão esquerda, e vários pássaros começaram a voar pelo salão. Todos estavam assombrados. Ela terminou de dançar e tudo o que criara desapareceu. Depois as outras noras se dirigiram para a pista. Queriam fazer o que a moça fizera; acenaram a mão direita, e os ossos voaram direto nos convidados; e de sua manga esquerda voaram salpicos de vinho, que também atingiram os convidados. O rei ficou aborrecido com aquilo, e gritou: Chega, chega! As noras pararam de dançar. O baile terminou. O