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LITERATURA E EDUCAÇÃO: SENSIBILIDADE E FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO

Ivana Pinto Ramos SEDUCE/GO ivanapramos@gmail.com Como é bom correr, brincar, cantar, ler e ouvir histórias! Já fomos crianças e estas atividades fizeram e fazem parte do universo infantil, ou, deveriam fazer, diante dos aparatos tecnológicos oferecido pela sociedade contemporânea. A literatura está presente no cotidiano social, por meio da linguagem oral e escrita. A leitura dos códigos linguísticos, normalmente, se inicia nos bancos da escola, aprendendo o alfabeto e as famílias silábicas, por meio da alfabetização. Mas leitura vai muito além da decodificação.

A leitura de mundo, adquirida na escola da vida, se inicia bem antes do processo de escolarização, como afirma Freire (1993, p. 20): “A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta, implica a continuidade da leitura daquele. ” Desta forma, quando a criança chega à escola, ela traz consigo uma bagagem de conhecimento literário e linguístico que não pode ser desprezado, pelo contrário, ele deve ser ampliado, incentivado, aproveitado no processo de alfabetização.

A literatura entra nesta história de duas formas: primeira, através do contato familiar. O gosto e consequentemente o hábito da leitura, começam a serem formados ainda no berço, incentivada pela família. A criança entra em contato com as primeiras formas literárias através das canções de ninar, brincadeiras, cantigas de roda e com as histórias, contadas por seus pais. Segunda, por meio do contexto escolar, através dos livros infanto-juvenis ou até mesmo nos textos literários, inseridos nos livros didáticos por meio de adaptações. Sem dúvida, o ambiente escolar é o espaço privilegiado da leitura e literatura.

No primeiro contexto, as tribulações da vida familiar de hoje, juntamente com as altas tecnologias, reduzem cada vez mais a possibilidade de pais e filhos compartilharem essa tarefa.

Algumas crianças, antes mesmo de estarem alfabetizadas já recebem um tablet de presente e aprendem a jogar. Algumas mães preferem colocar músicas infantis no celular, tablet, ou computador, para ninar e fazer adormecer seus filhos. Ao invés de brincadeiras e cantigas de roda, as crianças maiores preferem jogar no computador ou no videogame.

A evolução faz parte da história da humanidade e as novas tecnologias acompanham esse percurso em todas as épocas e tipos de relações sociais. Antes pesquisávamos nas enciclopédias e dicionários, hoje as pesquisas são feitas pela internet por meio das novas tecnologias. Essa nova

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maneira de agir e pensar da geração digital tem sido discutida pela educação, pois surgem novas necessidades, consequentemente, surgem novas ações políticas que propiciam a inclusão digital nas escolas. As crianças desenvolvem novas competências e habilidades e a educação precisa acompanhar.

Há quem defenda que os jogos eletrônicos desenvolvem habilidades de raciocínio valiosas em determinados tipos de profissões:

Desenvolvimento de estratégias, ambição coletiva, definição de papéis, entrosamento, respeito aos parceiros, comunicação e regras de bom comportamento em rede (netqueta). São algumas das aprendizagens que esses jogadores incorporam e que são fatores importantes para seu desempenho em atividades profissionais. ” (KENSKI, 2010, p. 117).

É fato que as habilidades motoras, a necessidade de raciocínio rápido, são positivas. Mas e quanto as habilidades de leitura e escrita? E quanto ao processo criador, ao desenvolvimento da imaginação e criatividade que permite o conhecimento de si, do outro e da sociedade? Essa nova geração tem cada dia mais economia ao escrever, abreviações são usadas a todo momento na comunicação. Conversas nos sites de relacionamentos ou em redes sociais, através do computador e Smatphones, abreviam cada dia mais as palavras.

A criança e o jovem são capazes de ficar horas em jogos eletrônicos, mas relutam quando se deparam com a necessidade de ler um livro. Enfrentam muitas dificuldades de elaborar um texto, de se expressar quando são testados seus conhecimentos, em vestibulares ou provas do ENEN (Exame Nacional de ensino Médio). A Literatura estimula a criatividade e as descobertas que são essenciais para o desenvolvimento do humano e tudo isso tem melhor resultado se introduzido nas bases. Ela é um dos melhores caminhos para o aprendizado da norma culta da língua, de uma forma prazerosa e sem “sofrimento”. O contato com a pontuação; a ortografia correta dos signos, a coerência e coesão textual; os regionalismos; as sonoridades e rimas, presentes nos poemas, enfim, os vários aspectos:

ético, estético e linguístico, que envolvem o texto literário.

Toda leitura que, consciente ou inconscientemente, se faça em sintonia com a essencialidade do texto lido, resultará na formação de determinada consciência de mundo no espírito do leitor;

resultará na representação de determinada realidade ou valores que tomam corpo em sua mente. Daí se deduz o poder de fecundação e de propagação de ideias, padrões ou valores que é inerente ao fenômeno literário, e que através dos tempos tem servido à humanidade engajada no infindável processo de evolução que a faz avançar sempre. (COELHO, 1991, p.50)

No segundo contexto, o escolar, ao professor é dada a tarefa não somente de alfabetizar e ensinar a criança, mas também de transformá-la em um leitor competente, qualitativa e

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quantitativamente. Tarefa difícil, pois, nem sempre a escola (tomando por base a escola pública), possui uma biblioteca bem equipada com livros literários, tendo em sua maioria, livros didáticos que vão se acumulando nas estantes.

O livro literário é peça chave neste processo, pois os livros didáticos até trazem textos literários, mas eles estão em sua maioria condensados, resumidos e muito do estético se perde.

Sabemos que a tendência pedagógica da literatura vem com o processo histórico de formação de uma literatura para crianças, inicialmente marcadas pelo artificialismo na linguagem, estruturas morfossintáticas reduzidas, temas pedagógicos, finais moralizadores, etc. A criança considerada um ser em processo incapaz de fazer suas próprias escolhas. Lembremos que todo processo de produção, distribuição e venda é feito por um adulto, à poucas é dada a oportunidade de interlocução, interferência e, o melhor, escolha.

Monteiro Lobato abriu caminhos para inovações que conduzem ao Modernismo, através de uma linguagem coloquial, com presença de humor e ironia, que atingem também a literatura infanto-juvenil, trazendo uma perspectiva nova. Lobato criou personagens infantis (Pedrinho e Narizinho), que protagonizam, interferem, buscam soluções e mudam o curso da história, misturando o imaginário ao real cotidiano. Em suas obras A menina do Narizinho Arrebitado (1920) e Reinações de Narizinho (1934), o maravilhoso e o cotidiano real se misturam, mostrando que o mundo do adulto é diferente do mundo imaginário da criança. Eles partem do cenário do sítio, no ambiente rural, para o reino das águas Claras, universo mágico, em um piscar de olhos.

- Narizinho, vovó está chamando! ...

Tamanho susto causou aquele trovão entre os personagens do reino marinho, que todos sumiram, como por encanto. Sobreveio então uma ventania muito forte, que envolveu a menina e a boneca, arrastando-as do fundo do oceano, para a beira do ribeirãozinho do pomar.

Estavam no sítio de dona Benta outra vez! (LOBATO, 1968, p.29)

A tão querida boneca de pano, Emília, tem o espírito de liderança, obstinada e decidida interfere nas decisões, tem explicação para tudo de uma forma irreverente e simples, trazendo humor à narrativa. Como podemos observar nas obras, Memórias da Emília (1939) e Emília no País da Gramática (1934), humor e ironia se unem de uma maneira lúdica, como uma forma de crítica a sociedade da época e as normas gramaticais, difíceis de serem compreendidas pelas crianças.

Montados em um rinoceronte (que é um gramático), percorrem o país da gramática em

“Portugália”, conhecendo bairros que são as divisões das classes gramaticais. Emília sempre questionadora, tenta compreender o motivo de tantas regras.

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O rinoceronte continuou:

- E há ainda Nomes que possuem dois sexos, isto é, que tanto servem para indicar seres ou coisas do gênero feminino como do masculino. Nós, gramáticos, usamos um nome muito feio para designar tais substantivos - EPICENOS.

- Isso não é designar, é xingar! - Disse Emília.

- Nomes como Onça, Cônjuge, Criança, Jacaré e tantos outros têm o defeito de servir para os dois sexos. São Nomes Epicenos.

- Epiceno é o nariz dos gramáticos - exclamou Emília. - Um defeito a gente deve corrigir. Xingar o defeito com um nome feio não adianta. (LOBATO, 1988, p.26)

O texto literário deve provocar não somente a criatividade e imaginação, mas deve contribuir para a formação de indivíduos críticos, diante de si do outro e da sociedade, por isso é muito importante a aproximação entre educação e literatura. Mas para que haja uma sintonia é preciso repensar a literatura no contexto escolar. Iniciando pelo professor, que precisa ter conhecimento e formação para reconhecer a importância político-pedagógica da literatura. Para isso deve ter contato direto com livros literários e adotar critérios na escolha dos mesmos, pois, nem tudo o que está publicado em formato de livro é literatura. E o mercado editorial direcionado ao público infanto-juvenil é vastíssimo, por isso é preciso adotar alguns critérios básicos, para reconhecer seus valores culturais, sociais e estéticos. Dalvi (2013), propõe alguns critérios para a escolha do textos literários:

Os textos literários lidos e estudados na disciplina de português na escola, devem ser escolhidos levando em consideração o desenvolvimento linguístico, psicológico, cognitivo, cultural e estético dos alunos, mas dever ser sempre textos de qualidade literária, isto é, textos ímpares pela criatividade, pela inovação e pelo risco na utilização da língua e das formas, pela densidade, pela originalidade, pela riqueza e pela sedução dos mundos representados, pela preocupação com o humano, pela possibilidade de leitura aberta – uma leitura literária que não desafie, instigue, provoque, não merece o investimento do precioso tempo escolar. (DALVI, 2003, p.78)

Nos modelos tradicionais de Língua Portuguesa, os textos literários estão presentes no livro didático ou através da adoção de livros literários, normalmente, para avalições ou trabalhos escolares, semestrais ou bimestrais e também, como apoio para o estudo da gramática. Ou seja, uma utilização pouco, ou nada criativa e crítica, sem objetivos específicos, apenas para cumprir o currículo escolar, de uma forma banalizada.

Literatura infanto-juvenil é antes de tudo “Literatura”, manifestação artística do homem através da linguagem. Além do prazer que ela pode proporcionar, é possível explorar e conhecer diferentes culturas, suas origens, tradições, costumes, experiências, contribuindo para o desenvolvimento do indivíduo, sua identidade, para que possa conhecer e valorizar, suas raízes culturais e étnicas.

Kramer (2003) chama a tenção para a dimensão artística e cultural da literatura, afirmando que é complicado reduzir o conceito de conhecimento à sua dimensão de ciência, deixando de lado a

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dimensão artística e cultural que possui. A literatura não pode ser tratada como ciência, mas sim como arte que é.

Esclareço, que não me importa aqui o acesso a essa produção como parte de uma educação livresca e generalista. Longe de propor que alunos e professores aprendam ou ensinem gêneros literários, movimentos estéticos ou poéticos, diferente também do uso dessas produções culturais como modo de melhor ensinar os conteúdos escolares, interessa-me que crianças e adultos possam aprender com a cultura e a arte guardadas nos livros, com os textos, com a história, com a experiência acumulada.

Ainda que ideologicamente marcados, tendo todos eles uma linguagem jamais isenta de preconceitos, a experiência com a produção cultural contribui de maneira básica na formação de crianças, jovens e adultos, pois resgata trajetórias e relatos, provoca a discussão de valores, crenças e a reflexão crítica da cultura que produzimos e que nos produz, suscita o pensar do sentido da vida, da sociedade contemporânea e, nela, do papel de cada um de nós. (KRAMER, 2003, p.15)

A riqueza de temas existentes na literatura infanto-juvenil com produções recentes sobre o multiculturalismo que retomam questões antigas, embora ainda tão atuais, como os preconceitos:

contra a mulher, o negro, o índio, o homossexual, etc. Questões que se revelam um verdadeiro desafio para a escola e para os profissionais da educação. Citemos como exemplo o livro “Menina Bonita do Laço de Fita”1, escrito por Ana Maria Machado, uma das escritoras de destaque da atualidade, a beleza da menina negra, fruto da herança genética, causa fascinação em um coelhinho branco, capaz de tudo para conseguir ficar da cor da menina bonita, quebrando padrões de beleza estereotipados e o preconceito racial. Permeado pelo lúdico, com uma linguagem simples e humor, nas várias tentativas que o coelhinho fez para mudar de cor.

Assim como ela é possível identificar autores que, seguindo os caminhos de Lobato, vem construindo um percurso de continuidades e rupturas na literatura destinada ao público infanto juvenil, tais como: Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Giselda Laporta Nicolelis, Eva Furnari, Tatiana Belink, Ziraldo, Elias José, Ganymédes José, Sylvia Orthof e vários outros que tanto na prosa, quanto na poesia, reinventaram a arte literária para a infância, construindo novas linguagens

É preciso mostrar a importância da literatura infanto-juvenil no processo de escolarização, alfabetização e letramento, consequentemente na formação do indivíduo, especialmente da criança, contribuindo para a sua formação cultural, social e “humana”, pois, por ser uma arte é capaz de despertar os sentidos, através da sensibilidade e emoção.

Quando a criança experimenta o momento de criação da linguagem, ela atualiza, nessa passagem da natureza para a cultura, seu potencial expressivo e criativo, e inicia um diálogo mais profundo entre os limites do conhecimento e da verdade nas relações entre as pessoas. O mundo em que a criança

1 MACHADO, Ana Maria Menina bonita do laço de fita. 7. ed. São Paulo: Ática, 2004.

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vive, suas relações com o outro é um claro-escuro de verdade e engano. Nesse mundo, a verdade não é dada, não está acabada, impressa de forma imutável na consciência humana; a verdade é algo que se faz constantemente nas relações sociais e por meio delas. A linguagem é o local de produção de sentidos e o ponto para o qual jogo, criatividade e pensamento crítico convergem. Portanto o sentido plural da palavra é o caminho para o resgate da criança e do adulto como sujeitos da história.

(PEREIRA; SOUZA, 2003, p.36)

A literatura, enquanto universo ficcional, dá forma às experiências que, muitas vezes são difíceis para ao leitor, ajudando-o a situar-se no mundo de forma crítica. Nesse contexto a literatura vai além do prazer proporcionado pela leitura; ela serve para a efetiva iniciação das crianças na complexidade das linguagens, ideias, valores e sentimentos que governam a vida concreta, do imaginário para o real e do real para o imaginário, tão presente na infância.

No entanto, essas características da literatura, podem ser anuladas se, em sala de aula, o livro ou o texto literário forem submetidos a uma prática pedagógica que o empobreça, reduzindo as possibilidades de sua atuação sobre o leitor, ou sobre a criança. Por isso, para cumprir seu papel de intermediário entre a criança e o livro, entre o mundo real e ficcional, o professor deve estar devidamente preparado, deve se sentir seguro. Uma das formas mais prazerosas tanto para a criança, quanto para o professor, capaz de fazer esse elo entre o leitor e o texto, está na contação de histórias, abrindo caminho para a compreensão do mundo, através das descobertas, das emoções que a história pode proporcionar, como afirma Abramovich (1999, p. 17).

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar...Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário!

O ato de contar histórias, vem perdendo posição para as tecnologias. Por isso, é preciso resgatar esse tipo de atividade na escola, já que está se perdendo ainda mais em família, pois nesta nova geração de pais, poucos ouviram histórias. Já que a escola é o espaço primordial da leitura e literatura é preciso motivar o professor, dar a ele subsídios para essa atividade.

O desenvolvimento tecnológico e científico está associado ao processo de globalização da economia. A velocidade das mudanças e inovações na indústria eletroeletrônica, as novas exigências do mercado, incluindo novas profissões. Toda essa demanda social requer da escola novas posturas, na tentativa de auxiliar os alunos na aquisição de novas habilidades, preparando-os a viver como cidadãos que possam conviver em uma sociedade em constante processo de transformação. É importante criar laboratórios de informática e usar as novas mídias no processo de ensino

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aprendizagem, mas é importante também criar salas de leitura, ou ambientes na própria biblioteca da escola, ou sala de aula, para explorar a literatura.

A contação de histórias é uma atividade cultural muito rica, “O prazer de ser transportado de forma benevolente e cuidadosa, ao universo das palavras que possuem o corpo, das histórias tangíveis, daquilo que nos humaniza.” (SISTO, 2001, p.32) Contar história é uma arte, por isso precisa de dedicação e preparo por parte do professor. Enquanto contadora de histórias que sou2, afirmo que, na prática com a literatura é possível conseguir bons resultados. Mas é preciso buscar técnicas diversas para não cair na monotonia, tais como: entonação de voz, expressão corporal e facial (que podem ser aprimoradas em cursos básicos de teatro); na utilização de recursos visuais e auditivos (fantoches, imagens, caracterizações, vestuário, instrumentos musicais, etc.). O profissional precisa se identificar com uma ou várias técnicas para se dedicar e explorar o texto literário, improvisar jamais. É preciso buscar histórias, se identificar com elas, memorizar a sequência do enredo e usar a criatividade para dar vida ao texto narrado.

A contação de histórias e todos os seus recursos são, portanto, o significante para que, o significado (a história) se torne presente para o espectador. Espectador: é, pois, aquele que aprecia a contação de história, não apenas a ouve. Os gestos, os sons, as expressões, o olhar do contador, informam aquilo que as palavras não dizem. Todos os estímulos provocados por ele (sonoros, visuais) se integram – não estratificados – ao texto para apresentação da história, que só se complementa com a presença e a interpretação do espectador. (MIRANDA, 2009, p.15-16)

Em se tratando de Literatura, não podemos deixar de abordar a poesia, que através da sonoridade, do ritmo e do lúdico, encanta crianças e adultos. A magia da linguagem poética está nas diversidades de sentidos que ela pode proporcionar, dependendo do olhar e da experiência do leitor.

Se devidamente escolhida e explorada, desperta, além da descoberta e criatividade, as sensações, tão presentes no universo infantil: a audição, através das rimas e ritmos no jogo com as palavras; a visão, através das imagens e cores; o olfato; através dos cheiros que ela pode remeter, enfim, há muito que se trabalhar da poesia.

A poesia além de aguçar sensações, desperta os sentimentos profundos do ser humano, sensibiliza o olhar, enriquece a intuição, que vai além das aparências, como afirma Coelho (1991).

Se partirmos do princípio de que hoje a educação da criança visa basicamente a leva-la a descobrir a realidade que a circunda; a ver realmente as coisas e os seres que ela convive, a ter consciência de si mesma e do meio em que está situada (social e geograficamente); a enriquecer-lhe daquilo que

2 Trabalho com Contação de Histórias desde 1995 e atualmente faço parte do Espaço Ciranda da Arte, como professora contadora de Histórias em escola de período integral da Secretaria de Educação do Estado de Goiás.

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está para além das aparências e ensiná-las a se comunicar eficazmente com os outros, a linguagem poética destaca-se como um dos mais adequados instrumentos didáticos. É nesse sentido que cabe àqueles a quem está entregue a orientação da infância, prepararem-se para extrair desse instrumento suas mil virtualidades. (COELHO, 1991, p. 200).

É necessário e possível, mesmo diante das novas tecnologias, que tanto atraem as crianças, cultivar e resgatar a arte literária, que enquanto arte é capaz de despertar a sensibilidade humana. A intenção artística da literatura e a intenção educativa da escola em parceria, juntas, de uma forma

É necessário e possível, mesmo diante das novas tecnologias, que tanto atraem as crianças, cultivar e resgatar a arte literária, que enquanto arte é capaz de despertar a sensibilidade humana. A intenção artística da literatura e a intenção educativa da escola em parceria, juntas, de uma forma