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1 do contato normal com a realidade e os objetos e projeção da sua singularidade como status

No documento Processo criador no ensino da moda (páginas 93-96)

de objeto, entre outros.

Por outro lado, as características da modernidade e da pós-modernidade, conforme descrição de Heartney (2002) e Costa (2004), apresentam uma série de transformações que são eclodidas pelas novas tecnologias: a realidade virtual, a indústria cultural, a reprodutibilidade, a comunicação de massa, entre outras. Essas transformações elucidam os desdobramentos da interferência das questões pós-modernas no fazer artístico:

[...] A revolução pós-moderna substituiu a fé modernista na universalidade, autenticidade e progresso artístico por uma visão que transformou a obra de arte em textos, a história em mitologia, o artista em um personagem de ficção e a realidade em uma convenção obsoleta (HEARTNEY, 2002, p.07).

Essa revolução moderna e pós-moderna aniquila as utopias, cria uma nova realidade artística, questiona o autêntico com a apropriação, desmistifica o tradicional objeto artístico (pintura e escultura) com os ready-mades e, principalmente, com as instalações e intervenções urbanas. Uma forte tendência social lançada no modernismo é a ruptura e a negação com passado, que afetam a construção de personalidade dos sujeitos, conforme descreve Bauman (2005), pelo conceito da desterritorialização do sujeito. Nesse contexto, o território deixa de exercer influência sobre as características do sujeito, as tradições deixam de fornecer bases para construção das identidades e a globalização aumenta a oferta de conteúdos para sua criação. A modernidade com seus questionamentos inaugura a crise existencial, o grupo, as normas, a nação deixa de ser referência para os sujeitos e as decisões acerca do que ser ficam por sua responsabilidade, conforme ressalta Hall (2004).

O nascimento do “indivíduo soberano”, entre o Humanismo Renascentista do século XVI e o Iluminismo do século XVIII, representou uma ruptura importante com o passado. Alguns argumentam que ele foi o motor que colocou todo o sistema social da “modernidade” em movimento (HALL, 2004, p. 25).

A extrema liberdade que se desfruta na atual conjuntura não fica restrita à arte e engloba todos os aspectos da existência. Como o estilo de vida, o tipo de leitura, as formas de expressão, de relacionamento, o vestuário, enfim, o que orienta o pensamento no que tange às diversas decisões tomadas cotidianamente, faz o sujeito sentir falta da imposição e dificuldade nas decisões. Portanto, o contexto social, consoante Bauman (1998), gera mal estar nos

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sujeitos e, em consequência dessas possibilidades de existir, de ser e de estar, emergem sentimentos de insegurança, confusão, angústia.

A arte e a moda deflagradas pela modernidade e pós-modernidade atribuem características de seu contexto caótico, desconexo do espaço-tempo, com várias possibilidades para o real, multifacetado às características de composições artísticas como conceituais, autorreferentes, multiplicidade de códigos, tendência à ambiguidade, ao escatológico, com mais carga metafórica e subjetiva, autocrítica, com referência ao cotidiano, ao banal, entre outras.

Por sua vez, as características do contexto cultural, dos artefatos artísticos, influenciam os sujeitos, como observa Resende (2011), que estão cada vez mais desprovidos de identidade fixa, autocríticos, autorreferentes, apropriando-se dos automatismos mentais, mais irônicos, lúdicos, debochados, irreverentes, entre outros. Essas características valorizadas atualmente, segundo a autora citada, são observadas também nos sintomas positivos da esquizofrenia como alucinações, propensão à introversão, à inabilidade social, à excentricidade, formando de forma similar as características cognitivas, comportamentais e de pessoas criativas.

O que distingue esses traços de personalidade e cognição é a intensidade da mudança de imaginações para alucinações. O trabalho criativo também é encontrado nos pacientes, mas despreocupados com a consagração social, com a configuração de um objeto artístico e com a comunicação de um conceito próprio. Um exemplo clássico é a obra de Arthur Bispo do Rosário, que trabalhava por prazer, e não pela motivação de configurar seus artefatos para a autopromoção, mas para cumprir com seu papel dentro de seu mundo fantástico.

A autora pondera que, com a conjuntura atual, as pessoas com predisposição e tendências para a esquizofrenia podem possuir mais intersecções com as características da arte contemporânea e moderna e mais propensão a serem reconhecidas por isso; contudo esse fato não justifica necessariamente que os criativos possuem mais tendências à esquizofrenia.

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Mesmo não configurando um dos objetivos do presente estudo, no qual, neste intertitulo, intui-se investigar as contribuições da neurociência ao processo criativo, penso ser

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pertinente abordar o tema arte/educação e arteterapia, pois as relações entre a contribuição da experiência estética para a plasticidade cerebral implica, inevitavelmente, depararmo-nos com as duas vertentes. Destaco que penso a moda como partícipe do campo expandido da arte e, nesse contexto, quando me refiro à arte/educação, está implícito o ensino da moda.

Vale ressaltar que as pinturas rupestres também podem ser interpretadas como um testemunho da utilização da arte como um recurso terapêutico. Isso porque as pinturas, os rituais, as danças não deixam de ser uma invocação de cura, uma tentativa de organização da experiência vivida. Essas produções definem, ao mesmo tempo, o começo do fazer artístico e o começo da arteterapia.

Discutir sobre a arte/educação e arteterapia consiste em uma tarefa capciosa, já que o tema com frequência é pouco estudado pelos arte/educadores, mesmo não negando a vertente terapêutica da arte, que é inegável. Mesmo com o crescimento de linhas de pesquisa e pós- graduações em arteterapia, o desalinho entre as duas áreas é frequente.

Barbosa (2003) apresenta a União Brasileira de Associações de Arteterapia (UBAAT), cuja missão é: credenciar os arteterapeutas, sugerir uma matriz curricular básica para a área e, principalmente, preservar que a atuação seja restrita a arteterapeutas. Diante disso, penso que a mesma preocupação que os arte/educadores possuem em assegurar que as aulas de arte sejam ministradas por profissionais graduados na área, a UBAAT também tem no tocante a arteterapia. Nesse contexto de similaridades, observa-se que a mesma tendência de "oficinalização" sofrida pela arte/educação também acompanha a arteterapia e isso se justifica porque, nas duas áreas, há um esforço por credenciar e proporcionar formação adequada às pessoas que vão trabalhar.

A 'oficinalização', que consiste em cursos desprovidos de análise e contexto de arte e, geralmente, também desprovidos de conhecimento de técnicas artísticas, utiliza os mesmos 'trabalhinhos' tanto para alunos de escolas como para pacientes dos mais diversos tipos de estabelecimentos. O mesmo ocorre em "oficinas" de moda em que também é priorizado somente o âmbito do fazer, por meio do corte e da costura e com atividades de customização e aproveitamento de retalhos nas quais não é instigado o pensamento criativo, mas somente a execução de tarefas para passar tempo e o seguimento de tendências e de tutoriais de estilo da internet, sem o fomento da autoria. Sendo assim, pode-se observar a mesma tendência de

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