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3.3 ANÁLISE DAS RODAS DE CONVERSA COM OS ESTUDANTES

3.3.2 COMPONENTES CURRICULARES E CONTEÚDOS ESSENCIAIS À

3.3.2.2 Conteúdos teóricos práticos essenciais à formação para APS

Em relação aos conteúdos essenciais, os estudantes percebem como essencial o estudo da Reforma Sanitária, do SUS, dos fundamentos da sua criação e sua realidade atual, segundo relatos das Rodas de Conversa 5 e 1. Além da compreensão das ferramentas importantes de cuidado à saúde na APS, como expresso nas Rodas de Conversa 1, 7 e 4.

No VER-SUS, a gente aprende, é, estuda desde o começo da reforma sanitária até o surgimento do SUS, o porquê de cada coisa dentro do SUS e eles questionam o seguinte: o que você acha que é o problema do SUS? Qual é o tendão de Aquiles do SUS? Eles mostram toda a parte de gestão, de regulação do SUS, de áreas programáticas, tudo (Roda de Conversa 5, IES E).

A gente estudou SUS a fundo, estudou epidemiologia, a gente vai a campo e faz clínica ampliada, fazemos trabalhos em grupo e narrativas (Roda de Conversa 1, IES A).

Conteúdo sobre visita domiciliar, prevenção e estratégias de educação em saúde (Roda de Conversa 7, IES G).

Aprender essa questão do que é genograma, ecomapa, de visitar uma família, de saber como essa família vive [...] (Roda de Conversa 4, IES D).

O estudo do território aparece como arcabouço teórico prático essencial de compreensão da APS, devido o território ser o espaço em permanente construção e produto de uma dinâmica social onde se tencionam sujeitos sociais, o que contribui para entender o modo de vida das pessoas (SANTOS, 2007).

Saber sobre o território, o que tem no território, saber sobre a equipe. (Roda de Conversa 2, IES B).

O TO, ele está lá para trabalhar com o território, ele tem que ter um conhecimento abrangente desse território, eu acho que, assim, você tem que estudar o território (Roda de Conversa 5, IES E).

Tem a questão de saber o perfil epidemiológico do território (Roda de Conversa 3, IES C).

Essas falas dos estudantes estão alinhadas com as contribuições das docentes sobre os conteúdos essenciais à formação para APS, que prevê o estudo sobre a política de saúde e seu percurso histórico e atual, além do estudo do território e de seu perfil epidemiológico. Desse modo, esses conteúdos podem ajudar aos estudantes na construção de competências para lidar com o contexto futuro de trabalho nos serviços da APS, que possuem alta complexidade tecnológica (GONÇALVES-MENDES, 1994). Além disso, a compreensão do território e das diversidades existentes nos contextos dos serviços de APS são necessários para desenvolver a empatia necessária ao ato de cuidar em saúde.

Na atenção básica muitas vezes a gente vê uma realidade muito diferenciada da nossa, se a gente não tiver esse olhar empático não flui (Roda de Conversa 4, IES D).

A gente não sabia falar, mas a gente aprendeu a escutar e conversar muito! (Roda de Conversa 2, IES B).

Também se faz indispensável, a compreensão de maneira densa das “realidades” da questão social vivenciadas pelas pessoas e expressas nos territórios dos serviços de APS que os estudantes atuam, visto que, no território onde o uso e a localização dos serviços essenciais são deixados à mercê do capitalismo, tudo colabora para que as desigualdades sociais aumentem (SANTOS, 2007).

Outro conteúdo destacado pelos estudantes, foi a temática de grupos.

Temos o conhecimento de grupos, de saber fazer [...] (Roda de Conversa 1, IES A).

Pensando em teoria de grupo, que o grupo pode funcionar como uma caixa de ressonância, que as pessoas que estão naquele grupo passam por situações em comum ou parecidas, que podem compartilhar de estratégias de enfrentamento por exemplo [...] O compartilhamento de experiências, ampliar a rede de suportes sociais (Roda de Conversa 4, IES D).

A terapia ocupacional pode trabalhar com a troca de informações com a equipe e a família, às vezes, fazendo trabalhos em grupo naquela região [...] (Roda de Conversa 5, IES E).

Ballarin (2015), diz ser fundamental o aprendizado para trabalhar com grupos, já que se espera que o terapeuta ocupacional tenha um acúmulo de habilidades específicas para compreender, organizar e coordenar grupos, seja atuando como membro de uma

equipe, como gestor, ou na assistência em diversas campos de atuação. Assim, o terapeuta ocupacional ao trabalhar com grupos na APS opera no coletivo efeitos terapêuticos, comunicativos, aprendizados, aumento nos graus de autocuidado e autonomia, criação e fortalecimento de redes sociais (FURLAN, 2015).

A compreensão sobre grupos, assim como sobre cotidiano aparece como conteúdo essencial na fala das docentes e se repetem no discurso dos estudantes, como podemos verificar nos excertos a seguir:

Temos uma visão dos múltiplos aspectos, então conseguimos olhar o contexto inteiro, todo o contexto da vida, toda a questão do cotidiano e das rupturas [...] (Roda de Conversa 1, IES A).

Temos que olhar o desempenho das pessoas em seu cotidiano, o que ela consegue ou não fazer. (Roda de Conversa 4, IES D).

A especificidade da terapia ocupacional aparece como essencial a ser trabalhada na formação para o desenvolvimento de ações de cuidado da terapia ocupacional na APS.

Saber a essência de ser TO, e não agir como psicólogo, como fisioterapeuta, saber sobre o núcleo da profissão na atenção básica [...] (Roda de Conversa 2, IES B).

Perceber a pessoa na sua integralidade, holístico, tanto no teórico, que isso vem da nossa formação, então passar pela compreensão dos hábitos, rotinas, padrão de desempenhos, desempenho ocupacional [...] (Roda de Conversa 4, IES D).

[...] Eu acho que há possibilidade das atividades de vida diária e das atividades instrumentais de vida diária dentro da atenção primária, essas duas são as principais e as que mais se encaixam dentro da proposta da atenção primária (Roda de Conversa 8, IES H).

O TO trabalha com a ocupação e com a atividade humana. Para nossa profissão, essas pequenas coisas do dia-a-dia, AVD, têm uma importância muito grande (Roda de Conversa 5, IES E).

Dessa forma, discutir conteúdos que integram a compreensão das políticas sociais, da política pública de saúde e da realidade social aliado ao estudo das estratégias, atividades, tecnologias e os fundamentos da profissão com enfoque na APS torna-se relevante, como para Lima e Falcão (2014), que já destacaram a carência de conteúdos específicos na formação graduada do terapeuta ocupacional como uma das dificuldades dos profissionais para atuar nas equipes dos dispositivos de APS.

3.3.3 OS CONCEITOS DE ESTUDANTES SOBRE O CUIDADO