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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

5.2 Contexto da pesquisa

O manual do professor funciona como um dos principais guias de organização do trabalho docente, pois ele descreve a obra, explica as propostas de atividades e situa os elementos teóricos e metodológicos que estão na sua base composicional. Em decorrência da forte influência que ele exerce na prescrição do trabalho do professor, o concebemos como um megainstrumento material e simbólico que realiza a mediação entre professores, objetos de ensino e alunos e que pode nos ajudar a interpretar as representações que se construíram sobre o esse ofício ao longo da história, tendo em vista que ele já é um instrumento que compõe tradicionalmente esse ofício.

A natureza da nossa pesquisa situa-se nos paradigmas descritivo e interpretativo pois, conforme definem Lakatus e Marconi (2003), a pesquisa descritiva caracteriza-se pelo interesse voltado para descrever e observar fenômenos com o intuito de explicá-los a partir de interpretações; já a interpretativa visa tomar uma posição a respeito das ideias analisadas e ler nas entrelinhas para se compreender o objeto em análise. Optamos por esse tipo de leitura dos dados porque temos o interesse tanto de descrever as permanências e as mudanças no acionamento das capacidades de linguagem nas atividades de leitura, ao longo do recorte

temporal selecionado por nós, como também de interpretar a associação desse movimento com as mudanças previstas para o ensino de língua portuguesa em cada período.

Quanto ao tipo de pesquisa, a nossa investigação classifica-se como uma pesquisa de avaliação de acordo com a classificação de Moreira & Caleffe (2008). Segundo os autores, a pesquisa de avaliação tem características peculiares no que se refere à apresentação dos resultados, pois esta estabelece, anteriormente, critérios de avaliação e busca mostrar o grau de convergência entre os critérios estabelecidos e a avaliação dos resultados, com o propósito de clarificar as questões que foram levantadas. Destacamos, de acordo com as características elencadas pelos autores, as que mais se aproximam da nossa pesquisa: a) não pode ser neutra; b) trata sobre produtos e processos; c) preocupa-se com as políticas e as práticas; d) define critérios e explora a eficácia; f) pode ser fundamental no processo formativo do professor.

Nesse sentido, fazemos uma avaliação das permanências e das mudanças no que se refere ao acionamento das capacidades de linguagem nas atividades de leitura do manual do professor de língua portuguesa entre os anos de 1973 a 2015, observando em que medida as propostas do livro didático se aproximam ou se afastam de um ensino de leitura produtivo.

Quanto à técnica de coleta dos dados, a nossa investigação situa-se como uma pesquisa documental, apesar de, conforme já situamos em seções anteriores, concebermos o livro didático como um megainstrumento didático, ultrapassando os limites da função documental, estabelecida por Choppin (2004), a qual encara o livro didático como uma fonte de dados que pode fornecer um conjunto de documentos e textos para serem analisados. Consideramos o livro didático como objeto complexo que está intimamente ligado à historiografia da educação, funcionando como um dos principais organizadores do trabalho docente, assumindo também função de um documento histórico que materializa as concepções de ensino que estavam em vigor em uma determinada época.

De acordo com Gil (1995), um documento não é apenas os escritos utilizados para esclarecer determinada coisa, mas qualquer objeto que possa contribuir para a investigação de determinado fato ou fenômeno (GIL, 1995 p. 147). Nessa perspectiva, a pesquisa documental, apesar de não lidar diretamente com pessoas, pode ser considerada como uma maneira indireta para se realizar uma determinada investigação social, sendo capazes de proporcionar ao pesquisador algumas vantagens como, por exemplo: a) possibilita o conhecimento do passado e , por terem sido produzidos na época que se pretende investigar, são capazes de oferecer dados mais objetivos da realidade; b) possibilita a investigação dos processos de mudança social e cultural, possibilita que se investigue as mudanças da estrutura

social, dos valores e das atitudes; c) Permite a obtenção de dados com menor custo, por não requererem a seleção de uma amostragem e trabalharem com dados já existentes sem a necessidade da obtenção de investimentos; d) favorece a obtenção dos dados sem o constrangimento dos sujeitos, pois ao se trabalhar com dados já existentes não há a necessidade de um contato direto com os sujeitos.

No que se refere ao método de análise dos dados, a nossa investigação ancora-se no método qualitativo o qual, de acordo com Moreira & Caleffe (2008), explora dados verbais, ao passo que a pesquisa quantitativa explora dados numéricos, utilizando mensuração e estatística. Devido ao fato de possibilitar a interpretação de dados verbais, a pesquisa qualitativa tem conquistado grande relevância no campo das Ciências Humanas, pois ela abrange questões globais, holísticas e culturais que fazem parte da realidade dos seres humanos, podendo, desse modo, analisar um determinado contexto e até mesmo propor mudanças.

De acordo com Gil (1995), em se tratando de pesquisa qualitativa, não há uma fórmula pré-estabelecida que oriente o pesquisador (...) a análise dos dados na pesquisa qualitativa passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador (GIL, 1995 p. 175).

Miles e Huberman (1994, apud GIL, 1995) apresentam três etapas essenciais que geralmente são seguidas para analisar dados em uma perspectiva qualitativa: a redução, a exibição e a conclusão/verificação. Explicitaremos, nas próximas linhas, as etapas da pesquisa qualitativa, de acordo com os autores, que apontarão as coordenadas para a organização dos nossos dados.

A redução é a etapa que trata da seleção e simplificação dos dados, transformando os dados originais em sumários levando em consideração os temas definidos nos objetivos da pesquisa. Nesta etapa, é necessário que o pesquisador codifique e agrupe as categorias de análise com o intuito de organizá-las para que as conclusões sejam verificáveis.

A apresentação, por sua vez, é a etapa que organiza os dados selecionados de modo que possibilitem a análise sistemática das semelhanças, das diferenças e seus enlaces. A terceira etapa é a conclusão/verificação que consiste em uma revisão que considera as explicações e as regularidades dos dados. A palavra validade, nessa perspectiva, está associada à avaliação das conclusões obtidas, ou seja, se elas são dignas de crédito. A verificação está interligada à elaboração da conclusão, demandando uma revisão dos dados com o intuito de verificar as concussões emergentes.

Feita a caracterização da nossa pesquisa, trataremos, na próxima seção sobre o procedimento de coleta dos dados para a nossa investigação.