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6 AS CAPACIDADES DE LINGUAGEM E OS MODELOS DE LEITURA

6.1 Aspectos organizacionais e o contexto de produção dos manuais dos educadores

6.1.4 Contexto de produção e aspectos organizacionais das obras de 2000

Apesar de já ter forte influência nos anos 1990, é na década de 2000 que a globalização, juntamente com a informática e a internet, passa por uma ascensão, sendo a responsável pela crescente interdependência econômica dos países, por mudanças radicais quanto ao acesso ao conhecimento, e pela transformação nos postos de trabalho (MARCÍLIO, 2005). É também nessa década que o interesse pela educação universal de qualidade se tornou mais do que nunca vital para enfrentar os novos desafios no final de século XXI.

A LDB de 1996 determinou a obrigatoriedade de um curso superior para todos os docentes que atuavam, ou desejavam atuar, na educação básica. O prazo estabelecido para a adaptação foi até os fins de 2006, para os professores de educação infantil e séries iniciais. Foi nesse contexto que surgiram as licenciaturas de curto período que, muitas vezes, funcionam somente aos fins de semana em condições precárias, graças à inércia do poder público na época e falta de interesse em investir na formação docente de qualidade.

Com os lançamentos dos PCN’s, em 1997, discussão em torno do ensino de gêneros textuais, na perspectiva bakhtiniana, torna-se mais explícita no contexto brasileiro, pois esse é o primeiro documento a conceber os textos como a principal unidade de ensino e os gêneros textuais como objetos mediadores do processo de ensino-aprendizagem. Esse marco motivou diversas reflexões que semearam novos estudos na área do ensino de língua, especialmente no que diz respeito a como trabalhar essa nova perspectiva sobre esse objeto de ensino, o texto, em sala de aula.

No ano de 2000, reunidos em Dakar, 164 países adotaram o compromisso de alcançar seis metas de Educação para Todos até o ano de 2015 são elas: (...) cuidado e educação na primeira infância; educação primária universal; habilidades de jovens e adultos; alfabetização de adultos; paridade e igualdade de gênero; e qualidade da educação (BRASIL, 2014 p. 4). Ao lado de tais metas, outras conquistas foram fortalecidas e deram mais um passo para buscar a famigerada Educação para Todos e a qualidade de vida da população mais pobre. Em 2003, foi instaurado, no Brasil, o Programa Fome Zero que, além

de procurar erradicar a fome no país, ampliou o atendimento a segmentos da população excluída do acesso a bens sociais e de consumo, através da distribuição direta de renda. Outra importante medida do governo para tentar superar as desigualdades foi a instauração do Programa Bolsa Família que, por sua vez, adotou e condicionou a frequência à escola das crianças das famílias de baixa renda para terem direito a receber o benefício.

Do ponto de vista da educação, a perspectiva de incorporar grande parte da população, até então excluída dos lugares de prestígio na sociedade, valorização da sociodiversidade se materializaram em políticas de ação afirmativa para o ensino superior, adoção de medidas específicas para grupos étnicos-raciais e povos indígenas.

No plano legal, foram instauradas leis e resoluções que incluíram no currículo oficial da rede de ensino brasileira obrigatoriedade do tema História e Cultura Afro-Brasileira, através da Lei nº 10.639/2003, e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, através da Resolução CNE/CP nº 1/2004. É importante destacar que também houve medidas legais que tinham por objetivo a valorização das múltiplas etnias e do plurilinguismo relativos aos Povos Indígenas. Desse modo, foi implantada a Lei n° 11.645/2008 que tornou obrigatória a inserção nos currículos das escolas brasileiras a temática das Culturas e das Histórias dos Povos Indígenas.

Quanto às políticas para o livro didático, houve a ampliação do PNLD o qual, até os anos 2000, destinava-se apenas a estudantes do Ensino Fundamental. A partir de então, o Programa foi gradativamente sendo ampliado e passou a acolher uma quantidade maior de alunos através do: PNLD Idade Certa (livros de literatura para as turmas de 1º ao 3º do ensino fundamental); PNLD Campo (material didático específico para alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental das escolas públicas rurais) e o PNLD EJA (livros para os jovens, adultos e idosos das entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado (PBA) e das redes de ensino da educação básica).

As duas obras produzidas durante a década de 2000 que iremos analisar são: Português linguagens e Diálogo. Como se pode observar, as duas obras que foram publicadas após as políticas de ação afirmativa e as leis que contemplavam a multiplicidade étnica, linguística e o ensino da cultura Afobrasileira, bem como a ampliação do PNLD. Nas próximas linhas, passaremos a abordar os aspectos composicionais das duas obras em questão, destacando a planificação geral dos livros, as unidades, seções, o número de páginas

a editora, o local e o ano de publicação. Trataremos, primeiramente, da obra Português linguagens e, posteriormente, da obra Diálogo.

O livro Português Linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, está dividido em 4 unidades cada uma contendo 4 capítulos divididos em 256 páginas, além de conter um encarte com informações específicas para o professor. O livro é do 9º ano do Ensino Fundamental e foi publicado em 2009 pela editora Atual, localizada, na época, na cidade de São Paulo. As unidades do livro possuem uma estrutura padrão, estando todas divididas a partir de um tema mais geral que guiam todos os textos e as atividades da unidade, são elas: Unidade I – Valores; Unidade II – Amor; Unidade III – Juventude; Unidade IV – Nosso tempo.

A obra Diálogo, cuja autoria é de Eliana Santos Beltrão e Tereza Gordilho, encontra-se dividida em 7 módulos, possuindo, cada um, dois textos principais, contento, ao todo, 288 páginas, além de um encarte com orientações para o professor. O livro é do 9º ano do Ensino Fundamental e foi publicado 2005 pela editora FTD, localizada, na época, na cidade de São Paulo. Os módulos do livro não possuem uma estrutura padrão, mas estão divididos por temáticas gerais que direcionam os textos e as atividades de leitura, escrita, interpretação textual e oralidade, são eles: Módulo 1 – Recordar é viver; Módulo 2 – Histórias de arrepiar; Módulo 3 – Cidadão, uma parceria com a vida; Módulo 4 – Uma questão de consciência; Módulo 5 – Adolescência: Transformações, descobertas, desafios; Módulo 6 – A poesia quando chega e Módulo 7 – Desvendando histórias. Na próxima seção, situaremos, brevemente, o contexto de produção das obras publicadas na década de 2010.