• Nenhum resultado encontrado

O contexto de produção e os aspectos organizacionais das obras de 1990

6 AS CAPACIDADES DE LINGUAGEM E OS MODELOS DE LEITURA

6.1 Aspectos organizacionais e o contexto de produção dos manuais dos educadores

6.1.3 O contexto de produção e os aspectos organizacionais das obras de 1990

A década de 1990 foi marcada pela queda do muro de Berlim, trazendo consigo um novo projeto de sociedade que ia na contramão do “pensamento único”, trazendo um retorno das ideias social-democratas. No Brasil, do ponto de vista da educação, ocorre uma disputa entre o ajuste dos sistemas educacionais às demandas da nova ordem do capital, além de efervescer a ideia de efetiva democratização do acesso ao conhecimento em todos os níveis. É nessa mesma década que se registra a interferência dos organismos internacionais na

educação brasileira os quais entram em cena a partir de grandes eventos, assessorias técnicas e uma farta produção documental.

Um grande marco dessa época foi a “Conferência Mundial sobre Educação para Todos”, financiada pela UNESCO, UNICEF, PNUD, Banco Mundial, e sediada em Jomtien, em 1990, na Tailândia. Esse evento instaurou um grande projeto de educação em nível mundial para a década que se iniciava. A Conferência de Jomtien apresentou uma visão para o decênio de 1990 e tinha como principal eixo a ideia da satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. O texto diz: Cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deverá estar em condições de aproveitar as oportunidades educacionais oferecidas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem (WCEA, 1990, p. 157). Estas necessidades básicas estão associadas aos conhecimentos necessários para que os indivíduos possam sobreviver com dignidade e desenvolver plenamente as duas capacidades, englobando tanto as áreas do conhecimento que são básicas para a inserção do indivíduo na sociedade (leitura, escrita, expressão oral, cálculo, soluções de problemas) como aos conteúdos básicos da aprendizagem (conhecimentos teóricos e práticos, valores e atitudes).

No Brasil, a Associação Brasileira dos Editores de Livros (Abrelivros), mediante acordo do MEC com a Unesco, publica o Plano Decenal de Educação que foi enviado para todas as escolas e órgãos do poder público. As diretrizes contidas no documento situavam o livro didático como um recurso pedagógico essencial e previam políticas públicas que deveriam privilegiá-lo. Na verdade, a qualidade do livro didático foi um dos pontos considerados essenciais para o sistema educativo brasileiro adaptar-se às exigências de um estilo de desenvolvimento economicamente eficiente e socialmente democrático, justo e equitativo.

Em 1993, mesmo ano da publicação do Plano Decenal de Educação para Todos, o Estado, com o intuito de estabelecer critérios para as novas aquisições de livros didáticos, constitui uma comissão para analisar os conteúdos programáticos e os aspectos metodológicos dos livros que vinham sendo comprados pelo MEC. Depois de instaurada a comissão, foram analisados os dez livros mais solicitados pelos professores das escolas públicas de cada disciplina. O governo divulgou, em 1994, o resultado desse estudo por meio da imprensa, demonstrando que o MEC vinha comprando e distribuindo livros com conteúdos preconceituosos, desatualizados e com erros conceituais.

É a partir da necessidade de uma maior fiscalização dos livros que estavam sendo comprados pelo governo e distribuídos nas escolas que, em 1996, o MEC instaurou oficialmente a avaliação pedagógica dos livros didáticos comprados por meio do PNLD. O

resultado desse processo de avaliação passou a ser divulgado nos Guias de Livros Didáticos, que fazem parte da operacionalização do PNLD, e têm o objetivo de auxiliar o professor na escolha do livro didático mais adequado para a sua realidade. O início do processo de avaliação dos livros didáticos se deu pelos livros adquiridos pelo governo para a rede pública de ensino, no entanto, esse processo, também, trouxe repercussões para a rede particular, visto que os resultados da avaliação foram divulgados pelos meios de comunicação o que acabou despertando o interesse do público em geral.

As obras com as quais iremos trabalhar nessa década são: Falando a mesma língua, edição publicada em 1994 e Entre palavras, edição publicada em 1998. A primeira foi publicada antes da avaliação dos conteúdos e dos procedimentos metodológicos operacionalizada pelo PNLD. Descreveremos, nas próximas linhas, os aspectos composicionais das duas obras em questão, destacando a planificação geral dos livros, as unidades, seções, o número de páginas a editora, o local e o ano de publicação.

O manual Falando a mesma língua, de Ângelo Cavalcante, está dividido em 11 unidades divididas em 238 páginas, contendo, ainda, um encarte no início do livro com orientação para o professor sobre as unidades e as seções do livro. O livro é do 8º ano do primeiro grau e a sua edição é de 1994, sendo publicado pela editora FTD, localizada, na época em São Paulo. As unidades da obra possuem uma estrutura padrão, estando todas divididas a partir da seguinte estrutura: Um texto principal, cuja temática direciona todas as atividades que serão trabalhadas na unidade; entendimento do texto, que apresenta questões de intepretação sobre o texto principal; vocabulário, que traz jogos e perguntas relacionadas ao vocabulário da temática sobre a qual trata o texto principal; gramática, traz explicações e questões referentes à gramática; trocando ideia, seção que sempre retoma o texto principal, apresentado um novo texto sobre a temática e questões que devem ser debatidas em sala de aula e criando e compondo, trabalha questões relacionadas à produção textual.

A obra Entrepalavras, de autoria de Mário Ferreira, contém 13 unidades divididas em 292 páginas. O livro é do 8º ano do primeiro grau e a sua edição é de 1998, sendo publicado pela editora FTD, localizada, na época em São Paulo. As unidades da obra possuem uma estrutura padrão, se diferenciando a partir das unidades pares e ímpares. As unidades ímpares apresentam a seguinte estrutura: Ouvir e falar, que apresentam questões relacionadas à oralidade; ler, onde está o texto principal da unidade e as questões de interpretação de texto; ver, onde encontramos questões relacionadas às múltiplas linguagens; escrever, exercícios ligados à produção textual e gramática, explicações e atividades relacionadas à gramática. As

unidades pares apresentam uma organização similar às impares, no entanto não possuem a seção ler e ouvir e contêm uma seção denominada aprender mais, onde encontramos sugestões de peças, filmes e livros. Na próxima seção, situaremos, brevemente, o contexto de produção das obras produzidas na década de 2000.