• Nenhum resultado encontrado

6 AS CAPACIDADES DE LINGUAGEM E OS MODELOS DE LEITURA

6.1 Aspectos organizacionais e o contexto de produção dos manuais dos educadores

6.1.5 Contexto de produção e aspectos organizacionais das obras de 2010

Os processos políticos que envolvem a proposição e a materialização de políticas públicas no Brasil, através da legislação e dos programas, têm se pautado, historicamente, por políticas governamentais que, em geral, não conta com a participação efetiva da sociedade brasileira para o planejamento e execução das ações. Dentre as ações que visavam ir na contramão desse cenário, deve-se destacar a realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE), realizada em abril de 2010, que tinha o objetivo de contribuir para a construção de políticas educacionais mais democráticas e que contassem com a participação de vários setores da sociedade para a sua construção.

Antes de ocorrer o evento nacional, aconteceram, em 2009, conferências municipais, regionais e estaduais que precederam à CONAE. Todas as conferências foram

guiadas pelo seguinte tema geral: Construindo um Sistema Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação, suas Diretrizes e Estratégias de Ação. Quanto à participação dos setores da sociedade, as conferências locais e a nacional mobilizaram representantes dos setores público e privado, pais, estudantes, funcionários professores e militantes dos movimentos sociais. Tal processo, construído coletivamente, teve como objetivo estabelecer as bases e as diretrizes das diversas modalidades da educação nacional, tendo a conferência como espaço político da maior importância nessa construção coletiva. É importante destacar, ainda, que toda essa discussão veio para contribuir com a consolidação do novo Plano Nacional de Educação no período de 2011 a 2020.

As últimas quatro décadas, sobre as quais tratamos anteriormente, foram palco de movimentos de lutas, avanços e recuos na construção democrática do Estado de direito. A Constituição de 1988 expressa positivamente a década de 1980 neste processo, no entanto, na década de 1990 instaura-se um projeto neoliberal, cujas diretrizes se pautavam na venda do patrimônio púbico. Os governos de Lula e Dilma Rousseff, que perpassaram pelas décadas de 2000 e 2010, apesar de não realizarem reformas estruturais, estabeleceram ganhos reais para a população mais pobre, mediante políticas sociais de transferência de renda e da possibilidade de acesso das classes populares ao Ensino Médio e à Universidade.

Após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, em 2014, emergiu um intenso embate sobre a legitimidade das eleições, desencadeando o reaparecimento de discursos de viés antidemocrático, que pareciam estar adormecidos, no contexto brasileiro, pelo menos na primeira década do século XXI. No campo da escolarização pública, estes discursos reacionários avançaram significativamente no que se refere às discussões sobre gênero e sexualidade nas escolas, além de propagar o slogan como o “Escola Sem Partido” que busca barrar as discussões políticas e sociais em sala de aula.

Os efeitos da crise mundial do sistema capitalista no Brasil foram agravados por um boicote que impossibilitou a governabilidade da gestão atual. Além disso, houve uma estratégia de por culpa da crise na conta do “excesso” de gastos públicos no campo das políticas sociais e de assistência. Em agosto de 2016, é deflagrado um golpe de Estado que culminou com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, agravando o clima de instabilidade política no país. O impeachment veio articulado à PEC 55, já aprovada, que congelou por vinte anos os novos investimentos em saúde, educação, articulados à reforma da previdência e à reforma trabalhista. Concomitantemente a estas reformas, sempre que há golpes há mudanças mais ou menos profundas no campo educativo.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fruto das discussões do Plano Nacional de Educação (PNE 2014), vem sendo pensada já há muitos anos e não representa uma ruptura total com os documentos anteriores como a LDB e os PCN’s, mas estabelece diretrizes que unificam o currículo em 60% do conteúdo escolar nacional. Os outros 40% devem ser definidos localmente, levando em conta o contexto regional, assim os sistemas de ensino e as escolas devem construir seus currículos e suas propostas pedagógicas, considerando as características de sua região, as culturas locais, as necessidades de formação e as demandas e aspirações dos estudantes.

Em função das determinações de adaptação às realidades locais, são detalhadas as habilidades que devem ser trabalhadas por área do conhecimento, considerando que esses componentes curriculares devem ser oferecidos, mas sem a especificação de seriação. Quanto às habilidades que devem ser desenvolvidas na área de linguagens e códigos e suas tecnologias, componente em que se encontram os conhecimentos de língua portuguesa, se definiu habilidades já desenvolvidas no Ensino Fundamental devem ser ampliadas no Ensino Médio. Desse modo, no Ensino Fundamental, focalizam-se a análise e a utilização das diversas linguagens (visuais, sonoras, verbais, corporais), para criar um repertório diversificado sobre as práticas de linguagem, além de desenvolver o senso estético dos alunos e o uso das tecnologias digitais. Já no Ensino Médio, focaliza-se a ampliação do protagonismo e da autoria na utilização prática das diferentes linguagens de maneira crítica, além da apreciação e da participação em diversas manifestações artísticas e culturais e o uso criativo das diversas mídias digitais.

As duas obras produzidas durante a década de 2010 que iremos analisar são: Jornadas.port, publicada em 2012 e Português linguagens, publicada em 2015. Como se pode observar, as duas obras que iremos analisar foram produzidas em um entorno precedente à Base Nacional Comum Curricular, pois, apesar de ser um grande marco dessa década, as coleções que seguem as suas diretrizes somente serão lançadas no ano de 2020. Este fato que impossibilita que analisemos as interferências dessa mudança significativa no ensino nos livros didáticos de português nesta tese, mas desejamos contribuir nesse sentido em trabalhos posteriores.

Nas próximas linhas, passaremos a abordar os aspectos composicionais das duas obras em questão, destacando a planificação geral dos livros, as unidades, seções, o número de páginas a editora, o local e o ano de publicação. Trataremos, primeiramente, da obra Jornadas.port e, posteriormente, da obra Português linguagens.

A obra Jornadas.port, de Dileta Delmato e Laiz de Carvalho, está dividida em 8 unidades cada uma contendo 2 capítulos divididos em 315 páginas, além de conter um encarte no final do livro com informações específicas para o professor. O livro é do 9º ano do Ensino Fundamental e foi publicado em 2012 pela editora Saraiva, localizada, na época, na cidade de São Paulo. As unidades do livro possuem uma estrutura padrão, estando todas divididas a partir de um tema mais geral que guiam todos os textos e as atividades da unidade, são elas: Unidade I – Um conflito, uma história; Unidade II – Propagando ideias; Unidade III – Observar e registrar; Unidade IV – Canta, meu povo!.; Unidade V – Como vejo o mundo; Unidade VI – Luz, câmera, ação; Unidade VII – O terror e o humor; Unidade VIII – Penso, logo contesto.

O livro Português Linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, está dividido em 4 unidades cada uma contendo 3 capítulos divididos em 272 páginas, além de conter um encarte no final do livro com informações específicas para o professor. O livro é do 9º ano do Ensino Fundamental e foi publicado em 2015 pela editora Saraiva, localizada, na época, na cidade de São Paulo. As unidades do livro possuem uma estrutura padrão, estando todas divididas a partir de um tema mais geral que guiam todos os textos e as atividades da unidade, são elas: Unidade I – Caia na rede; Unidade II – Amor; Unidade III – Ser jovem; Unidade IV – Nosso tempo.