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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.2 Contexto da pesquisa: os desafios de pesquisas com egressos

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Capital social comunitário: é aquele que corresponde às relações sociais comunitárias dos indivíduos.

Refere-se à capacidade que eles possuem de gerar relações sociais baseadas em reciprocidade e confiança nas suas comunidades, além do potencial organizativo que essas mesmas comunidades possuem.

O programa chegou a ser disseminado em sete municípios do Ceará, somando um total de 19 localidades onde se formaram associações estudantis chamadas de EPCs que abrigavam o programa. Estima-se que ao longo desses 22 anos de existência, aproximadamente, 5.000 pessoas, incluindo crianças, jovens e adultos, participaram de alguma das 22 EPCs, das quais aproximadamente 500 chegaram a ingressar em universidades públicas e privadas, sendo a grande maioria delas localizadas no Ceará (BARBOSA, 2016). Na região do Vale do Curu, tendo como epicentro a comunidade Cipó, foram criadas 14 EPCs nos seguintes locais: Cipó, Pentecoste (sede), Boa Vista, Miguá-Terra, Providência, Xixá, Muquém, Ombreira, Serrota, Apuiarés (sede), General Sampaio (sede), Canafístula (distrito de Apuiarés), Paramoti (sede) e Umirim (sede). Dessas, no que se refere ao município de Pentecoste, somente as EPCs de Cipó, Miguá-Terra, Providência, Ombreira e Pentecoste (sede) ainda desenvolvem projetos comunitários11. A seguir, uma figura com todas as EPCs que já existiram e as suas respectivas localidades:

Figura 1 – EPCs e núcleos do PRECE (atuais e desativados)

Fonte: Memorial do PRECE (2017).

Decidimos, no sentido de avaliar a influência do PRECE na participação política de seus membros, pesquisar sujeitos que passaram pela experiência a fim de capturarmos a possível permanência de valores, normas, regras sociais e atitudes que foram internalizadas e

permanecem na conduta dos participantes, mesmo com o passar do tempo e com o distanciamento do programa.

No entanto, vale salientar os desafios que se fazem presente frente a uma pesquisa que envolve egressos. Para Lordelo e Dazzani (2012), egressos de programas e de políticas sociais são uma fonte privilegiada de informações que permitem entender o alcance, efeitos e consequências de uma ação educativa. Entretanto, segundo Silveira (2009), a pesquisa com egressos aponta algumas dificuldades, dentre elas: a localização dos sujeitos, sendo que o banco de dados como endereço eletrônico e físico, telefone, podem estar desatualizados, não retratando a realidade no momento da coleta; a própria disposição do egresso em cooperar, em ceder parte de seu tempo e informações sobre sua vida privada; e a escassez de referenciais teóricos e metodológicos de pesquisas com egressos que sirvam para subsidiar a investigação.

Em nossa pesquisa sobre egressos do PRECE, utilizamos algumas estratégias para buscar alcançar o maior número de entrevistados possíveis. A primeira estratégia foi realizar uma pesquisa junto ao banco de dados do Projeto “Memorial do PRECE”12

no intuito de fazer um levantamento do número de graduados. O objetivo era formular uma lista com informações sobre os egressos contendo o seu endereço eletrônico, e-mail, telefone, etc. As listas foram formuladas, inicialmente, em ordem alfabética, levando em consideração a cidade e a associação do PRECE a qual o entrevistado fez parte.

Devido à dificuldade de aplicação do questionário in loco, seja pela dispersão espacial dos egressos pelo estado do Ceará e até mesmo fora dele, seja pela questão de tempo para a coleta dos dados, elaboramos o questionário utilizando a ferramenta do Google Docs. A estratégia foi elaborar o questionário on-line a partir dessa ferramenta e enviar via e-mail e pela caixa de mensagem do Facebook do egresso. A partir do banco de dados, buscamos identificar os egressos nas redes sociais, principalmente na rede social Facebook. Para isso, utilizei minha conta particular para localizar perfis de egressos na rede social. A estratégia de se realizar um levantamento a partir das redes sociais é uma forma de solucionar o problema de localização de egressos, entretanto, foi difícil encontrar os perfis, haja vista que alguns deles estavam com nomes diferentes ou apelidos, e outros não tinham perfil no Facebook.

Nosso principal problema foi, primeiramente, localizar os entrevistados e, depois, garantir que os entrevistados preenchessem o questionário on-line. Utilizamos, à priori, algumas estratégias: enviamos e-mail com um texto explicando os motivos da realização da pesquisa e pedindo a colaboração (pelo menos aos que tínhamos e-mail), além disso, busquei

12 Projeto do PRECE que faz o registro e arquivamento de materiais escritos, de imagens e materiais audiovisuais.

ligar para o maior número de egressos possível e enviei mensagens privadas para os egressos via WhatsApp ou para grupos de WhatsApp com ex-participantes do PRECE, etc. Vale salientar que, parte do banco de dados obtidos nos arquivos do Projeto Memorial do PRECE já estavam desatualizados por conta do tempo de coleta, o que dificultou o contato via e-mail e telefone. Nem todos da lista presente no banco de dados tinham e-mail e telefone, o que fez com que a principal estratégia de localização tenha sido, de fato, o Facebook, como também o WhatsApp, no caso daqueles que tinham celulares smartphone. A aproximação do pesquisador com boa parte dos entrevistados facilitou a coleta desses dados, além de ter contado com o apoio de membros que fazem parte da rede PRECE atualmente.

3.3 Técnicas da metodologia

Por se tratar de uma pesquisa quanti-qualitativa, buscamos utilizar uma variedade de técnicas. Primeiramente, no que se refere ao colhimento de dados de cunho quantitativo, utilizamos um questionário integrado estruturado. Já para o colhimento dos dados de cunho qualitativo, realizamos grupos focais com egressos, além de entrevistas abertas com lideranças-chave do movimento. Como complemento dos dados, utilizamos a análise documental, contando com o auxílio do acervo do Projeto Memorial do PRECE.

3.3.1 Questionário

Buscando seguir modelos de surveys utilizados para medir estoque de capital social, utilizamos, neste estudo, entrevistas estruturadas com a aplicação de um questionário baseado no modelo de Questionário integrado para medir capital social (QI-MCS) do Banco Mundial (2003), elaboramos o Questionário integrado para medir o potencial de capital social emancipatório e o empoderamento cidadão (QI-PCE) dividido em duas seções: a primeira aborda questões relevantes sobre os indicadores determinantes de capital social com categorias relacionadas ao potencial emancipatório, com questões relacionadas a aspectos do capital social, a confiança interpessoal, a confiança institucional, empoderamento cidadão e participação política. Na segunda seção do questionário, abordamos questões relacionadas à participação do entrevistado na Rede PRECE, sociabilidade, rede pessoal e a influência do programa no que tange à internalização de valores e atitudes na vida dos participantes (questionário QI-PCE no ANEXO A).

Para avaliar a influência do PRECE referente a níveis de participação política dos egressos da experiência, o QI-PCE partiu das seguintes categorias: