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5 O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO POLÍTICO

5.2 O Movimento Município Que Queremos (MQQ)

Em setembro de 2010, em meio ao às eleições para parlamentos estadual e federal e executivo estadual e federal, algumas lideranças do PRECE que lideraram a criação do MQQ tomam a decisão de apoiar candidaturas. Segundo as lideranças, o objetivo era buscar apoio nas comunidades para ganhar força política nas eleições e desenvolver um projeto para o município que realmente apoiasse os estudantes, os professores, os agricultores, os pequenos comerciantes, as associações comunitárias, etc. A grande maioria dos participantes do grupo político era formada por professores, agrônomos, pedagogos, cientistas sociais, estudantes universitários (de graduação e pós-graduação) e lideranças comunitárias do município de Pentecoste (O MUNICÍPIO…, c2017).

Em meio à cultura política clientelista em Pentecoste (RODRIGUES, 2007), o grupo firmava o compromisso de não comprar voto e de garantir que, cada voto dado aos candidatos que eles apoiassem, pudessem servir para fortalecer a população por ele representada e não apenas a alguns indivíduos ou líderes políticos como na velha política tradicional.

Naquela eleição de 2010, o grupo político MQQ resolveu apoiar as candidaturas de Ivo Gomes para deputado estadual, e Ariosto Holanda para deputado federal, ambos do Partido Socialista Brasileiro (PSB), com a justificativa de que os dois eram fortemente envolvidos com a causa da educação. Para o Professor Edilson da Costa (EN3), coordenador do MQQ na época, o apoio às candidaturas iniciou a relação do PRECE com a política partidária e a mudança de visão de algumas lideranças do movimento quanto a estratégias de ação:

Foi uma experiência legal e foi a nossa entrada ou nossa aproximação com a política partidária, a partir daí os debates se intensificaram, porque a gente até debatia que era importante no meio de todo esse movimento grandioso que era o PRECE e seu poder de articulação, pensamos que tivessem pessoas que pudessem também influenciar e participar da política partidária, que pudessem se candidatar, que ocupassem cargos, que tivessem pessoas que ocupassem cargos na administração pública, que tivessem representação no poder legislativo, que pudessem ter uma articulação com o centro das tomadas de decisões que é o poder legislativo e também o executivo (EN3, p. 4).

Após as eleições, o apoio com transporte, que já era disponibilizado pelo Governo do Estado desde 2009, continuou a ser mantido pela SEDUC-CE, parceria que consolidada desde 2010 com o PRECE. Entretanto a maior conquista foi a articulação para gerir o maior patrimônio educacional da história do município de Pentecoste, a Escola Estadual de Educação Profissional Alan Pinho Tabosa. A articulação foi feita através de um Convênio entre a UFC e a SEDUC-CE, que definiu que a UFC seria corresponsável pela parte pedagógica da instituição, com a finalidade de implementar a metodologia da aprendizagem cooperativa na escola, projeto sob a responsabilidade do Professor Manoel Andrade e com total apoio da gestão da UFC.

No entanto, essa questão gerou uma forte tensão política com a gestão municipal na época, que já tinha inclusive definido quem seria o provável diretor da escola, haja vista o prefeito fazer parte da base aliada do Governador Cid Gomes. O governo local não aceitava que a escola fosse gerida por um grupo, que na visão do prefeito, fazia oposição à sua gestão. Mesmo com constantes pedidos da gestão municipal ao Governo do Estado, a articulação com o deputado Ivo Gomes, e, principalmente, a relação com a SEDUC-CE, contando com o aval da secretária na época, Izolda Cela, e do subsecretário Professor Maurício Holanda, sacramentaram o convênio entre UFC e SEDUC-CE. A EEEP Alan Pinho Tabosa foi inaugurada em junho de 2011, a primeira escola de aprendizagem cooperativa do Ceará. O feito é visto até hoje como uma vitória política do movimento do PRECE:

[…] porque todos esses movimentos que nós tivemos, todos esses projetos, digamos assim, ter uma escola era uma concretização de uma vontade dos principais líderes do PRECE, essa ideia foi amadurecendo em 2010, 2011, porque a gente tinha uma vontade imensa de atuar dentro de um espaço que pudesse gerar oportunidades para as pessoas, agora é claro que na escola pública nós temos várias limitações, era um desafio pra gente, era um desafio na época, com essa mobilização para deputado a gente teve a oportunidade de gerir uma escola (EN2, p. 7).

O MQQ realizou durante o ano de 2011 e 2012 uma série de articulações com lideranças políticas de Pentecoste. A intenção era articular a formação e fortalecimento de um grupo que pudesse influenciar nas Eleições 2012 em Pentecoste. O grupo teria candidatos a vereador e, na composição do grupo, se poderia indicar um nome para disputar a prefeitura de

Pentecoste. Naquele período algumas lideranças do PRECE já tinham se filiado ao Partido Social Democrático (PSD) na época, partido que fazia parte da base aliada do Governador Cid Gomes.

No entanto, ao se aproximar as eleições de 2012, o MQQ, que nesse período praticamente já se resumia a lideranças do PRECE, não conseguiu mobilizar lideranças políticas para formar um grupo e lançar uma candidatura a prefeito. O movimento então decidiu lançar um candidato a vereador, foi escolhido o atual coordenador do MQQ à época, o pedagogo e professor Edilson da Costa. Segundo o Professor Jocélio Moraes (EN2), um dos líderes do MQQ, a candidatura foi um amadurecimento das ideias do grupo, era uma forma de fazer com que os projetos pudessem chegar à Câmara Municipal, projetos na área de educação, na área de desenvolvimento local, na área de apoio às lideranças comunitárias.

E aí a gente decidiu lançar um candidato representando o nosso movimento, aí é claro dentro dos princípios que a gente debatia muito, da justiça social, dentro dos princípios da honestidade, do respeito, da valorização da própria representação do grupo né, que o indivíduo pudesse ser bem democrático, que o indivíduo que fosse representar a gente, pudesse representar o grupo e não ele mesmo. Então assim essa ideia de querer lançar foi nosso amadurecimento mesmo de nossa atuação dentro do município (EN2, p. 7).

Após a decisão de lançar uma candidatura, um conflito foi criado no seio do próprio PRECE, que não se resumia apenas ao grupo político, mas também a uma rede de EPCs com o desenvolvimento de projetos educacionais, e, principalmente, de muitas pessoas que retornavam da universidade, mas que não tinham ligação com o grupo político formado a partir do PRECE. Para algumas pessoas, existia uma separação entre o “PRECE movimento educacional” e o “PRECE movimento político”. Entretanto, para as lideranças do PRECE, a candidatura não representava somente os estudantes do PRECE, mas outras pessoas que pudessem se engajar à mesma. Naquela época, a posição das lideranças da Rede de EPCs do PRECE foi que as pessoas estavam livres para votar no candidato que eles quisessem, essa era a posição internamente. Para evitar conflitos com pessoas pertencentes às EPCs que não eram ligados ao grupo político, o MQQ orientou ao candidato que não usasse o nome do PRECE em sua campanha, apesar que externamente era muito difícil tirar da cabeça das pessoas que aquele era o candidato do PRECE nas eleições. Segundo Edilson da Costa (EN3) existia essa preocupação, “[…] a gente discutia, debatia ressaltava as diferenças, candidatura partidária é uma coisa e o trabalho do PRECE é outra, entendeu? No começo não misturamos […]” (EN3, p. 5).

Mesmo com uma boa votação no que tange à Pentecoste (555 votos), Edilson da Costa não conseguiu se eleger. Para Jocélio Moraes (EN2), a cultura política local foi um dos entraves para que a candidatura tivesse sucesso:

Não deu certo pelo fato da própria estrutura política muito arcaica no nosso município, não é só no nosso município, mas na maioria dos municípios interioranos, nós temos ainda muitas correntes de, digamos assim, de lideranças que dependem daquele político pra poder ganhar. Aí nosso candidato era muito na questão de, por exemplo, não comprar voto, não fazer alianças somente para se beneficiar, também essa questão de ser um voto muito consciente, que uma avaliação que eu faço é que tem muita gente que vota consciente mas o movimento não conseguiu, por exemplo, não conseguiu chegar nessas pessoas fora do PRECE, (EN2, p. 8).

Após a eleição de 2012, houve um arrefecimento do MQQ que veio a se findar. Muitas lideranças que faziam parte do grupo político chegaram ao seu fim de ciclo no PRECE. Nem mesmo projetos como o programa de rádio resistiram. Para Jocélio Moraes (EN2), isso se deu porque as lideranças que formavam e militavam no movimento político do PRECE desde 2005, a maioria delas, foram partindo para projetos individuais, como a formação acadêmica e a busca pela sustentabilidade financeira, e, assim, foram se afastando do município.

Em 2015, um pequeno grupo de profissionais egressos do PRECE se engajaram num partido político em Pentecoste, Partido Verde (PV). Nas eleições municipais de 2016, o professor Edilson da Costa, já desligado do PRECE, lançou novamente a candidatura, não sendo eleito. Concomitantemente, lançamos minha candidatura28 pelo Partido Verde, realizando uma campanha educativa pautada no voto consciente. A candidatura mobilizou principalmente a juventude em sua maioria estudantes secundaristas, universitários e egressos do PRECE e da EEEP Alan Pinho Tabosa, além de algumas lideranças precistas que participaram do movimento na fase de politização. Apesar da boa votação (585 votos), a candidatura não obteve êxito, no entanto, a campanha se destacou nas eleições pela forma como foi organizada em contraponto à política tradicional pautada no clientelismo e na compra de votos.

Paralelo ao processo de arrefecimento político, o PRECE continuou a desenvolver seus projetos educacionais no município a partir de sua Rede de EPCs que passou por um processo de reestruturação.