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Contexto da pesquisa: procedimentos e instrumentos de coleta de dados

CAPÍTULO 2 APRESENTANDO O PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO

2.1. Contexto da pesquisa: procedimentos e instrumentos de coleta de dados

A UFSCar é reconhecida nacionalmente por ações de intervenção que trazem como marca a parceria universidade-escola, atuando em diversos programas.

O Portal dos Professores da UFSCar é um dos setores responsáveis por implementar ações formativas para professores das redes de ensino de todo o Brasil. Por ter um alcance nacional, via cursos online, propõe um modelo formativo que atinge diferentes profissionais em diferentes localidades, ampliando a democratização à formação inicial e continuada.

O curso ReAD foi ofertado e realizado pelo Portal dos Professores da UFSCar, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), utilizando a plataforma Moodle. Os dados apresentados e analisados por esta pesquisa referem-se à edição da ReAD 2016.

Ainda que o processo de construção e condução da ReAD19 façam parte

das análises dos dados, pois atuamos como formadora e tutora de referência do programa, não será nosso foco detalhar os processos dessa construção. As informações apresentadas são contextuais para que o leitor compreenda a fonte de dados utilizados nesta pesquisa.

Dito isso, a ReAD focou nos seguintes eixos que discutiram a profissionalização docente, a construção de práticas e o enfrentamento de dificuldades vivenciadas no início da docência. Esses eixos perpassaram os quatro módulos temáticos, quais sejam: Módulo 1 - Familiarização ao AVA e primeiras discussões sobre a docência, Módulo 2 - Início da docência, Módulo 3 - Planejamento e Avaliação e Módulo 4- Diversidade e Inclusão.

O modelo de intervenção da ReAD está amparado em dois pilares fundamentais, os quais a literatura sobre formação de professores vem

19 A equipe que construiu o percurso formativo junto com as professoras experientes era formada por cinco professoras da UFSCar (uma delas orientadora desta pesquisa), duas mestrandas, cinco doutorandas e um doutorando e duas doutoras em educação, egressas do Programa de Pós Graduação da UFSCar e que atuam nas redes de ensino de São Carlos. A equipe atuou no planejamento e construção do ambiente virtual no qual o curso aconteceu. As doutoras egressas do PPGE UFSCar, as mestrandas e doutorandas/doutorando atuaram no curso como tutoras/tutor, participando das discussões nos fóruns e realizando feedback às cursistas.

indicando: a importância da indução à docência e do acompanhamento de professores iniciantes por professores experientes.

A indução à docência constitui-se em programas nos quais professores iniciantes são acompanhados por professores experientes quando são inseridos em suas escolas. Por meio desses programas, tenta-se amenizar o "choque da realidade" e os sentimentos de solidão e angústia tão presentes nos primeiros anos da docência.

Da mesma forma, a indução à docência daqueles que ainda não se inseriram de fato na carreira e ainda estão em formação, pode ser fundamental para a compreensão do que é a profissão docente. Assim, licenciandos que desde o início do curso estão em contato com as escolas aprendem mais sobre a profissão que escolheram. Iniciativas de indução durante a graduação estão presentes em programas desenvolvidos em países como Estados Unidos, Portugal, Chile, Espanha e Brasil.

No Brasil, o PIBID20 atua fortemente nesse sentido, inserindo estudantes

de graduação em contato com escolas para desenvolverem, com a supervisão de professores das escolas onde atuam e dos professores da universidade, atividades com os estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Esse importante programa figura como uma das apostas das políticas públicas voltadas para a docência no Brasil.

Outro pilar fundamental na ReAD diz respeito ao acompanhamento de licenciandas e professoras iniciantes por professoras experientes em momentos formativos nos quais refletem coletivamente sobre a docência e sobre formas de ensinar. No caso das licenciandas que participaram do programa, este acompanhamento ocorreu de duas formas: pelo diálogo constante com as professoras experientes e com as pesquisadoras da universidade.

O diálogo promovido pelo encontro entre diferentes gerações – futuros,

novos e profissionais experientes - possui potencialidades para a formação de professores, uma vez que situa o licenciando sobre o campo de trabalho onde

20 Em 2018, o PIBID continuou a fazer parte da Política Nacional de Formação Docente, com editais para 2019. Além do PIBID, a Portaria Nº 38, de 28 de fevereiro de 2018 instituiu o Programa Residência Pedagógica, o qual consiste na indução de licenciandos em escolas de Educação Básica, a partir da segunda metade de seu curso, acompanhados por um professor experiente da escola e orientado por um professor da instituição formadora.

atuará futuramente e oferece apoio àqueles que já ingressaram na docência, mas que estão vivenciando a fase de dificuldades para lidar com os conflitos de insegurança.

Programas como esse são essenciais para pontuar que a construção da identidade docente seja pensada a partir da colaboração e da troca de experiências entre pessoas de diferentes idades, regiões e com saberes e vivências distintos e que colaboram para a construção da base de conhecimentos necessária para o exercício da docência.

Unir pesquisadoras, professoras experientes, professoras iniciantes e licenciandas em uma rede de aprendizagem é também um momento de juntar gerações diferentes, cujas formações e desenvolvimento profissional da docência acontecem em tempos e lugares distintos.

Dessa forma, o encontro geracional é uma das marcas do programa ReAD, ao trazer as falas e vivências de professoras experientes e iniciantes em diálogos com as licenciandas. Sobre esse encontro Sarti aponta que:

Diferentes gerações de professores convivem no exercício da docência. Ao lado de professores recém-formados – ou ainda em formação – encontram-se docentes cuja formação inicial ocorreu há 10, 15 e outros, ainda, que ingressaram no magistério há mais de 20 anos e estão mais próximos da aposentadoria. Para além das diferenças etárias, esses professores trazem consigo modos por vezes diversos de conceber o ensino, a aprendizagem os alunos, a escola, as relações pedagógicas, entre outros tantos fatores implicados na docência (SARTI, 2009, p. 139).

O encontro intergeracional está presente em todos esses modelos de programas. É esse encontro, que já acontece de maneira informal nas escolas (nas quais há professores em diferentes momentos da carreira) que pode ser potencializado por estes programas e que foi o mote propulsor do programa ReAD.

Destaca-se o fato de que o encontro intergeracional não deve ser entendido sob a perspectiva das faixas etárias envolvidas, mas sim, pelo fato de reunir pessoas que vivenciaram momentos diferentes de formação docente e de vida. O diálogo geracional é ao mesmo tempo um conceito e também uma ferramenta que permite a troca de experiências e de conhecimentos entre diferentes pessoas, com distintas trajetórias pessoais e profissionais.

A ideia de formar uma rede de aprendizagem e desenvolvimento da docência remete ainda à necessidade de que a interação entre iniciantes e

experientes seja promovida de forma planejada e sistemática, ao passo que possa inspirar e sensibilizar as gestões das unidades escolares para o fato de que o início da docência necessita de acompanhamento. Outro ponto importante, que diz respeito à formação inicial de professores, é a importância do diálogo entre licenciandas e professoras que já atuam na profissão. A literatura da área indica que isso não é algo comum durante o curso de licenciatura. (REALI; TANCREDI; MIZUKAMI, 2008).

O programa funcionou de forma híbrida, com encontros presenciais –

quinzenais, durante nove meses do ano de 2016 – com as professoras

experientes e no formato online (via Moodle – Portal dos Professores da

UFSCar), no qual as mesmas desenvolveram atividades com professoras iniciantes e licenciandas do curso de Pedagogia da UFSCar (curso presencial e a distância). Os encontros presenciais tiveram como objetivo construir, coletivamente, as propostas de atividades a serem desenvolvidas no ambiente virtual, bem como para refletir sobre uma determinada temática, trocar conhecimentos e realizar análises conjuntas.

Os programas de formação baseados num caráter híbrido consistem em unir atividades de discussão, reflexão, trocas de experiências, diálogos entre diferentes pessoas, com diferentes trajetórias de vida e com momentos e tempos diversos, unidos pela conectividade tecnológica, além de encontros presenciais.

É importante ressaltar que a opção pela forma híbrida não trata apenas de combinar o presencial com o virtual, mas em promover uma aprendizagem combinada, como defendido por Vaughan (2010).

O ensino híbrido tem sido utilizado e estudado em vários países como Canadá, afim de melhorar o ensino e a aprendizagem. Trata-se de uma perspectiva de ensino e de aprendizagem pautados na colaboração e na construção coletiva do conhecimento, por meio do envolvimento ativo de professores e estudantes, mediado pelo uso de tecnologias. (VAUGHAN, 2010).

Com isso, esse formato de pesquisa-intervenção realizado pelo ReAD, pautando-se no híbrido, reforça a perspectiva do próprio modelo de intervenção pretendido, ou seja, baseia-se em uma perspectiva construtivo-colaborativa de educação. Nesse processo, buscamos unir teoria e prática por meio de

atividades que promovam a reflexão. Assim, as atividades online facilitam a reflexão, mais do que em contatos presenciais, marcados pelo imediatismo de respostas.

A formação de professores realizadas em ambientes híbridos oportuniza a construção de conhecimento e trocas por meio de um ambiente virtual de aprendizagem, respeitando os diferentes tempos e espaços de cada participante. As mudanças e os avanços tecnológicos podem colaborar nesta interação, uma vez que, por meio de atividades planejadas possibilitem a reflexão sobre a docência e seu processo de aprendizagem.

A ReAD pode ser representada pelo seguinte esquema de interação:

Figura 1 - Interação entre as participantes da ReAD 2016.

FONTE: Elaboração própria. 2016.

2.2. Procedimentos metodológicos: Instrumentos de coleta e análise de