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Em Maio de 1988, a então Direcção-Geral VI da Comissão Europeia, incumbida da Agricultura, tomou a iniciativa de redigir uma comunicação sobre «O Futuro do Mundo Rural». Nesta comunicação foram expressas preocupações que residiam na retracção sentida no sector agrícola e nas respectivas consequências que daí advinham para o mundo rural originadas pela falta de informação (COM (88) 591 final, 1988).

Com esta comunicação, a Comissão Europeia chamou atenção de que as noções de espaço ou de mundo rural envolviam mais do que uma simples delimitação de área geográfica. Correspondiam a todo um tecido económico e social e abrangiam as mais diversas actividades. O espaço rural, para além da função de quadro de vida e de actividade económica, continha funções importantes para a sociedade como um todo. E, pelo facto de ter sido submetido a mutações profundas, o equilíbrio desejado das suas diferentes funções apresentava-se fragilizado.

A Comissão Europeia salientou que a promoção de um desenvolvimento rural que pudesse manter ou que reinstalasse o equilíbrio indispensável e desejado, constituía uma necessidade primordial para o momento. Só desta forma era possível responder à sequência de mutações que tinham vindo a ocorrer (COM (88) 591 final, 1988: 7).

Com esta comunicação, a Comissão Europeia procurou, numa primeira parte, analisar a evolução mutacional verificada no mundo rural, o que lhe permitiu detectar “tendências fortes” que poderiam determinar a sua evolução futura. Numa segunda parte, preconizou uma abordagem comunitária dos problemas do mundo rural, realçando a necessidade de examinar os dispositivos comunitários de intervenção existentes, adaptando-os e complementando-os, no sentido de uma acção reforçada e conjunta. Desta forma foi identificada a necessidade de serem criados programas integrados, que promovessem o desenvolvimento rural. Numa terceira parte, avançou com a indicação dos principais domínios de acção comunitária, com desenvolvimento de orientações e sugestões concretas, tendo por objectivo final, a promoção futura do mundo rural. Por último, a Comissão Europeia analisou os fundos estruturais existentes preconizando a sua reforma e a intervenção financeira a favor do mundo rural (COM (88) 591 final, 1988).

Tal como referiu numa entrevista o chefe da unidade “Cidadãos e Políticas Comunitárias” na DG X – Direcção Geral da Informação, Comunicação, Cultura, Audiovisual da Comissão Europeia da altura, “este documento apresentava uma visão nova e muito interessante do mundo rural” (Comissão Europeia, 2001a): 48).

Esta afirmação baseava-se no facto da Comissão Europeia ter insistido na necessidade de uma acção concertada em vez de medidas pontuais e específicas, visando encorajar o desenvolvimento do mundo rural e a implementação de políticas e programas comuns à Comunidade com impacto no mundo rural europeu.

Colocando a tónica na necessidade de ser efectuada uma abordagem global e não sectorial, esta comunicação preconizava uma ligação entre a política agrícola, o desenvolvimento rural e as restantes políticas comunitárias. O que se enquadra na perspectiva mais global de rede de acordo com o modelo de governação, no qual se procura envolver os actores e promover mais a sua participação. E, tal como o chefe da unidade “Cidadãos e Políticas Comunitárias” na DG X – Direcção Geral da Informação, Comunicação, Cultura, Audiovisual da Comissão Europeia referiu na entrevista citada anteriormente, a comunicação apresentada pela Comissão

“propunha uma estratégia global para o desenvolvimento das zonas rurais” (Comissão Europeia, 2001a): 48).

Com a apresentação desta comunicação, a Comissão Europeia procurou suscitar a mobilização da Comunidade Europeia, bem como dos Estados-Membros para o desenvolvimento do mundo rural. Consequência da importância atribuída através da nova visão do mundo rural implícita, esta comunicação proporcionou uma consulta dos diferentes serviços da Comissão Europeia, dando origem à realização de acções de discussão entre as diferentes Direcções-Gerais. Esta instituição europeia salientou que a inexistência de informação sistemática e rápida em quase todos os domínios (económico, comercial, social,…), era uma forte desvantagem para todos os agentes rurais. Esta realidade era agravada e reforçada pelo défice de comunicação entre os diferentes agentes de uma mesma região.

Para além da falta de informação e comunicação constatava-se a tomada de consciência tardia e incompleta de novas evoluções; a ausência de sensibilidade e mobilização; e, a tomada de posições e ou de reacções, eram muitas vezes desfasadas no tempo e mal concebidas.

Face à inexistência de soluções capazes de resolver os problemas desta natureza, a Comissão Europeia apresentou um conjunto de medidas e meios que poderiam proporcionar uma progressiva evolução no sentido positivo. Desde logo tomou iniciativas concretas e orientadas para a mobilização dos agentes rurais, nomeadamente a organização de seminários, a edição de brochuras e a promoção programas de intercâmbio de informação e experiências no domínio do desenvolvimento rural (COM (88) 591 final, 1988: 60).

Com o objectivo de, por um lado, facilitar e estimular o diálogo, a reflexão e a cooperação entre os agentes socioeconómicos do mundo rural e, por outro lado, facilitar os contactos, o intercâmbio de informações e de experiências entre diferentes regiões, a Comissão Europeia assumiu o compromisso de examinar a possibilidade de “instalar estruturas «visíveis» de informação e de animação, incentivando a criação de pontos de encontro que se poderiam designar por «pontos de encontro de informação e de animação rurais»”. (COM (88) 591 final, 1988: 61). Estes «pontos de encontro» poderiam ser instalados junto de organismos públicos ou privados existentes que, pela sua natureza, já eram considerados focos de animação e de informação. A intenção expressa da Comissão Europeia era a de arrancar, já em 1989, com algumas experiências piloto com o objectivo de recolher rapidamente elementos de apreciação que permitissem uma eventual extensão da acção nos anos seguintes (COM (88) 591 final, 1988: 61).

Estava patente no pensamento dos políticos envolvidos nesta discussão que, para implementar uma abordagem global, era necessário dispor de lugares (fóruns) onde todos os intervenientes da sociedade rural pudessem encontrar-se.

A falta de informação, no mundo rural, era uma das realidades de então.

A comunicação em causa preconizou a criação dos «Pontos de encontro de informação e de animação rurais» designados de «Carrefours Rurais Europeus – Centros de Informação Europeia e Animação Rural». Estes, tal como considerou a Comissão Europeia, constituíam fontes de informação ascendente podendo, desta forma, dar conta da vida e da dinâmica do desenvolvimento rural às instituições comunitárias e vice-versa. Contribuiriam assim, para aumentar o fluxo informativo entre a Comissão Europeia e as populações rurais (COM (88) 591 final, 1988).

Após a apresentação desta comunicação foram realizadas algumas sessões de discussão da mesma, tal como o dissemos anteriormente, no sentido de serem tomadas medidas que conduzissem a resultados resposta às questões nele colocadas. A questão do acesso à informação, por parte dos agricultores, foi também discutida pois considerava-se na altura que os agricultores tinham necessidade de obter informação precisa e conselhos de âmbito agrícola. Neste sentido, para além de um conjunto de propostas de surgimento de projectos pilotos em variadíssimos domínios do desenvolvimento rural, foi feito o apelo para que fossem realmente criados os Carrefours Rurais europeus.

A recepção de intenções por parte de alguns organismos de diferentes Estados-Membros foi rápida e o lançamento dos Carrefours Rurais europeus ocorreu logo no ano de 1989, como projecto-piloto.

Importa também referir que a natureza das entidades hospedeiras desses mesmos Carrefours Rurais europeus era diversificada. Como exemplo, referir que os Carrefours em causa estavam sedeados em Escolas Agrícolas, Universidades, em Centros de Formação Profissional e em Associações de Jovens Agricultores (Comissão Europeia, 2001a): 48-49).

A criação desta rede visou colmatar uma lacuna em termos de divulgação da informação da União Europeia junto dos cidadãos, especialmente para aqueles que, até pela sua posição geográfica, se encontravam excluídos do processo de integração da União Europeia com repercussões para o desenvolvimento rural das regiões rurais.