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Segundo a definição que consta no Dicionário de Língua Portuguesa, a parceria é entendida como a “reunião de indivíduos para um fim de interesse comum…uma sociedade…” (Costa e Melo, 1994). Etimologicamente, este conceito, segundo Figueira e Olímpio (2005:130), parece

ter estado relacionada com a partilha de trabalho a nível agrícola, entre o trabalhador e o proprietário.

Actualmente a sua terminologia tem sido utilizada e identificada no sentido de caracterizar os designados de novos modelos de relação entre as várias organizações da sociedade. A parceria pode ser considerada “arte”, implicando na sua construção habilidades e talentos organizacionais.

Torna-se necessário saber ouvir os intervenientes no processo da sua definição, descobrir e identificar pontos e espaços de identidade, possibilidades individuais que, conjugadas, possam proporcionar resultados benéficos para todos os envolvidos.

De uma forma geral e um pouco por todo o mundo, os governos e as organizações/instituições para melhorar a governação estimulam a formação de parcerias de base territorial.

Mas ao que nos referimos, quando falamos em parcerias? Pelas leituras que efectuamos na procura de uma definição deparamos sim com um manancial de definições que, de certa forma, se complementam entre si, pois o campo de abordagem é muitas vezes diferenciado.

A parceria consubstancia-se na cooperação entre organizações onde está patente a acção conjunta, motivada pela existência de interesses e objectivos comuns e pela partilha e mobilização de recursos que dispõem para atingirem esses objectivos. Estas, através da identificação e uma maior consensualização dos problemas e necessidades locais, visam a definição de prioridades de intervenção em comum. Assim, a acção conjunta dos intervenientes directos do desenvolvimento, contribui para a uma coerência e adequação de políticas nacionais, bem como para uma melhor adequação às condições e necessidades locais. Só assim, por ventura, estes conseguem uma gestão mais eficaz dos recursos e um desenvolvimento efectivo.

A distinção das parcerias, advém da qualidade da relação entre organizações, ou seja, a forma como organizações com diferentes interesses, poderes, recursos e atribuições, constroem um espaço onde se afirmam como iguais na definição de objectivos comuns, das atribuições e das contribuições de cada uma das organizações envolvidas.

No entanto, o objectivo do estabelecimento de parcerias vai para além da obtenção de interesses mútuos.

Está patente uma dimensão de complementaridade, que procura obter do outro os recursos e capacidades de que não dispõem, mas que se tornam necessários para atingir os seus

objectivos. É patente que esta troca ou complementaridade é impulsionada e motivada pelo atingir de objectivos compartilhados e externos a cada organização parceira envolvida. Isto porque os objectivos vão para além da realidade em que as organizações envolvidas actuam. Como tal, não suprem apenas necessidades, mas procuram formas de ampliar e divulgar os efeitos do trabalho promovido, bem como modos de sensibilizar, mobilizar e co- responsabilizar outros sujeitos para acções que promovam a cidadania.

Actualmente, vivemos um período em que a sociedade é chamada a somar esforços e coordenar conhecimentos e recursos, no sentido de reforçar as possibilidades de actuação. Nos últimos anos, temos vindo a assistir a uma crescente obrigatoriedade da constituição de parcerias mais ou menos formalizadas em todas as vertentes da intervenção (Teixeira, 2004:151).

Não se fique com a ideia que são apenas os governos que promovem as parcerias para atingirem os seus objectivos últimos. A realidade actual mostra-nos que muitas das parcerias que surgem hoje, surgem «de baixo para cima», da vontade dos actores locais quererem participar activamente na definição e implementação das políticas para o seu território. Esta vontade de participação advém, em parte, das políticas centralizadas que deram pouca importância às especificidades locais.

Na verdade, e tal como considera Teixeira (2004:157), “as parcerias facilitam a consulta, coordenação e cooperação entre agentes constituindo-se em instrumentos, de facto para a melhoria da governância”.

Teixeira (2004:151), citando Combat Poverty Agency (1995), considera que a parceria “pode ser definida como a relação entre parceiros iguais mas diferentes. Estes parceiros diferem, provavelmente, na sua origem, natureza, missão, objectivos, actividades, recursos, estruturas e contribuições, mas são naturalmente essenciais para o sucesso de determinado processo e/ou projecto”. Este mesmo autor salienta que podemos definir parceria local ou de bases territorial, citando Walsh, Craig, McCafferty (1998), “como uma estrutura organizacional para a definição de políticas e sua implementação, que mobiliza uma variedade de interesses e o compromisso de um conjunto de parceiros em redor de objectivos comuns e um programa de acção comum, para combater a exclusão social e promover a inclusão social” (Teixeira, 2004:151).

Estivill et al (1997:37) salientam ainda que parceria é “aquele processo pelo qual dois ou mais agentes de natureza distinta e sem que percam a sua especificidade, se põem de acordo para

realizar algo num tempo determinado, que é mais do que a soma deles, ou que cada um só poderia fazer ou que é distinto do que já fazem, implicando riscos e benefícios que partilham”. Dependendo dos contextos e perspectivas que nos encontremos a analisar, conseguimos certamente encontrar pontos comuns aos quais se deve ter atenção e evidenciar, pelo facto de nos trazarem algo de novo para a investigação ou análise que se esteja a efectuar.

Em forma de síntese, parece-nos importante salientar que, quando nos referimos a parcerias, estamos a referenciar relações entre parceiros iguais – isto é sem a existência de uma hierarquização entre eles – mas de actores sociais diferentes entre si, aos mais diversos níveis, como por exemplo, natureza, origem objectivos. Por outro lado, estamos certamente a referir- nos que estes parceiros assumem um projecto comum, em que cada um deles contribuirá com a sua especificidade, sem perder a sua identidade. E, cada um deles contribui mas espera algumas mais-valias para si próprio. Importa ainda salientar que, se queremos que as parcerias sejam eficazes, todos os parceiros têm de contribuir mas também têm todos de ganhar algo com a respectiva parceria (Teixeira, 2004:151).

No que diz respeito à importância das parcerias nos processos de desenvolvimento, Figueira e Olímpio (2005:122) referem que “não é retórica mas antes um princípio que está intrínseco a qualquer estratégia de desenvolvimento”. E, estes mesmos autores salientam que, “a mobilização institucional, através do estabelecimento, a várias dimensões, de parcerias, procura reforçar a articulação interna da economia e sociedade local, bem como assegurar um melhor posicionamento institucional do concelho no espaço regional e nacional” (Figueira e Olímpio, 2005:122).