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CAPÍTULO 3: A condição histórica e cultural da etnia Nafukuá

3.2 Contexto histórico do índio xinguano

A reconstrução de um processo histórico verdadeiramente legítimo é sempre muito difícil e impreciso, considerando que os fatos registrados partem sempre da lógica de um observador tratando de um acontecimento que nem sempre o colocou na posição de participe. Muito pelo contrário, normalmente a história é registrada por quem não a vivenciou de forma direta, incutindo-lhe um forte valor de parcialidade, situação esta que não suprime a importância narrativa dos acontecimentos, mas permite entender que é sempre possível ter outras interpretações e abordagens. Não existem histórias absolutas.

Boa parte da história contemporânea foi contada a partir de documentos que resultaram de processos motivados por questões política, sociais e religiosas. A elaboração destes documentos obedeceu – o que é compreensível – a abordagem de determinados grupos e interesses que acabaram por produzir suas versões dos fatos, até mesmo porque a parcialidade, por mais que não seja intencional, é uma condição da construção histórica. Portanto, tratar, mesmo que resumidamente, da história do povo brasileiro a da construção do Brasil como Nação, a partir de uma visão com um viés mais antropológico para fundamentar o entendimento do uso de uma investigação científica, é ter consciência de que se trata apenas de um ponto de vista sobre fatos passados, contados a partir de outras narrativas documentais.

O processo civilizatório brasileiro é uma sucessão de fatos dramáticos, sobretudo amparados na ganância e na ambição dos colonizadores que usurparam

as riquezas naturais locais e, mais grave do que isso, negaram a existência dos primeiros habitantes desta terra como legítima. O grande drama da origem brasileira está na ordem religiosa, quando os colonizadores afirmavam que o índio, verdadeiramente um brasileiro, não tem alma. Ao fazer esta afirmação, dava-se início a uma importante crise de identidade nacional, pois se não sabemos quem somos por não termos ancestralidade, não podemos saber para onde vamos. (GAMBINI apud MÜLLER, C., LIMA, L. O., RABINOVICI. M., 2002).

De acordo com Gambini (apud MÜLLER et. al., 2002: 1), é bastante recente a constatação de que o território brasileiro já estava ocupado há mais de 30.000 anos. Portanto, falar de descobrimento torna-se, no mínimo, uma leitura parcial da história do Brasil como Nação, negando de maneira taxativa sua ancestralidade. Data de 1446, segundo o autor, a chegada de uma frota de oito navios portugueses no litoral norte do Brasil na altura do que hoje são os Estados do Pará e do Maranhão. A partir deste momento, a história da construção do povo brasileiro e do Brasil como uma Nação passa a ser prioritariamente registrada sob a ótica das elites colonizadoras. Importantes acontecimentos (1) religiosos, como a evangelização dos povos indígenas, (2) sociais, como a instalação da escravidão e sua subsequente abolição, e (3) políticos, como a colonização dos portugueses e a independência do Brasil e subsequente proclamação da República, referenciaram um relato histórico importante e fundamental para a definição da atual identidade nacional. No entanto, são muito recentes os relatos e pesquisas desenvolvidas por cientistas e antropólogos que dizem respeito aos habitantes originários desta região. Vale dizer, são tentativas de uma nova narrativa histórica que acontecem há não mais de um século, as quais ainda necessitam de muito aprofundamento para se tornar mais um capítulo definitivo na história do Brasil, atribuindo-lhe a relevância que este assunto merece.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, encontraram índios que eram prioritariamente do tronco Tupi17 e que haviam se instalado séculos antes

17 Segundo Franchetto (2010), “o Brasil é o pais sul-americano com a maior diversidade e densidade

linguística e também com uma das mais baixas taxas de falantes por língua (200/250 falantes). As línguas indígenas no Brasil se distribuem em 2 troncos (Tupi e Macro-Jê), 4 famílias maiores (Aruak, Karib, Pano e Tukano), 6 famílias de tamanho médio (Arara, Katukina, Makú, Nambikwara, Txapakura e Yanomami), 3 famílas menores (Bora, Guaikuru, Mura) e 7 línguas isoladas (Moore, 2008). Se olharmos os números relativos à população de cada etnia, seguindo a lista que consta do site do ISA, eles não podem ser confundidos com o efetivo número de falantes, que varia de um máximo de 20

neste território. Somavam aproximadamente um milhão de indivíduos divididos em dezenas de grupos tribais que compunham conglomerados de várias aldeias de trezentos a dois mil habitantes (FERNANDES apud RIBEIRO, 2012: 31). Segundo Ribeiro (2012: 32), a condição social destes habitantes demonstrava um significativo avanço no fazer agrícola, pois a comunidade como um todo se dedicava a esta atividade através de uma variedade de plantas cultivadas, como milho, mandioca, batata-doce, cará, feijão, amendoim, tabaco, urucu, algodão, cuias, cabaças, abacaxi, mamão, erva-mate, guaraná, entre muitas outras espécies, incluindo árvores frutíferas lhes garantiam sobrevivência. Em determinados nichos ecológicos, esta condição agrícola, somada à condição de caça abundante, permitia a organização de aldeias que chegavam a atingir três mil pessoas, fato este que, de acordo com o autor, confirmava se tratar de conglomerados pré-urbanos.

Apesar da unidade linguística que classificava o povo Tupi como uma macroetnia, eles se opunham as outras etnias em função da conquista territorial que se focava exatamente na capacidade de gerar alimento e não pela ideia da organização de um Estado político. Ribeiro (2012: 33) esclarece que é a própria condição evolutiva deste povo que resultava, além da luta contra outros povos étnicos, na sua divisão em novos grupos autônomos que, ao se afastarem um dos outros, se tornavam mais diferenciados e hostis. No entanto, não foi só a luta por áreas férteis e de abundância de alimento que fez com que os Tupis lutassem contra outras etnias e contra os grupos dissidentes, uma vez que a antropofagia também os estimulava em expedições guerreiras.

O caráter cultural e co-participativo dessas cerimônias tornava quase imperativo capturar os guerreiros que seriam sacrificados dentro do próprio grupo Tupi. Somente estes – por compartilhar do mesmo conjunto de valores – desempenhavam a perfeição do papel que lhes era prescrito: de guerreiro altivo, que dialogava soberbamente com seu matador e com aqueles que iam devorá-lo. Comprova essa dinâmica o texto de Hans Standen, que três vezes foi levado à cerimônia de antropofagia e três vezes os índios se recusaram a comê-lo, porque chorava e se sujava, pedindo clemência. Não se comia um covarde. (RIBEIRO, 2012: 34)

mil/10 mil (como é o caso do Guarani, Tikuna, Terena, Macuxi, Kaingang) aos dedos de uma mão, quando não resta um único e último falante. Cerca de 40 línguas, pelo menos, estão, hoje, em iminente perigo de desaparecimento.” FONTE: https://pib.socioambiental. org/pt/c/no-brasil- atual/linguas/o-trabalho-dos-linguistas. Acessado em 12 de setembro de 2017.

Contudo, Ribeiro (2012: 35) complementa dizendo que o ritual antropofágico é também um atraso, pois os Tupis comiam seus prisioneiros como forma de não gerar consumo diante do pouco que podiam produzir, já que nesta condição não se integrariam ao grupo.

Outras etnias tiveram atuação importantíssima na formação do povo brasileiro, desempenhando diversos papéis nesta construção social. Entre eles é possível destacar, por exemplo, os Bororo, os Xavante, os Kayapó, os Kaingang e os Tapuia18 em geral. Entre os índios que não habitavam o litoral, destacam-se os

Guakuru, que durante o processo colonizatório estiveram aliados, alternativamente, com espanhóis e portugueses, desempenhando um importante papel comercial através do escambo, embora não se deixando dominar por nenhum deles.

O modo de vida dos povos originários das terras brasileiras, ao longo dos últimos séculos, se choca radicalmente com o estilo de vida que lhes é imposto pelos colonizadores. A evangelização e suas consequências culturais, as ferramentas e suas facilidades e a disputa por terras e suas riquezas naturais, impostas por uma ordenação política religiosa, contrapunham-se ao estilo de vida harmonioso dos índios, na sua relação interétnica e na sua concepção de vida. Para os índios, até então “a vida era uma tranquila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária” (RIBEIRO, 2012: 47).

É necessário reconhecer que não foi somente a condição de uma sociedade mais organizada do ponto de vista social e militar, nem tão pouco a condição de superioridade tecnológica dos portugueses e espanhóis, que colocou em risco a existência dos povos indígenas. O convívio com os brancos trouxe doenças como o sarampo, a tuberculose, a coqueluche, a cárie dental, entre outras que também foram responsáveis pelo genocídio que levou à quase extinção dos índios que habitavam as terras brasileiras. Mas tudo isso não garantiu que o homem branco conseguisse um domínio absoluto sobre estes povos, que se mostraram resistentes e estão até hoje lutando legitimamente pelo reconhecimento de seus direitos, bem como por sua própria história. Nem mesmo cerca de seiscentos anos

18 Eram nomeados como Tapuias todos os índios que não falavam línguas pertencentes ao tronco

linguístico Tupi. Eram, prioritariamente, do tronco Macro-jê e habitavam sobretudo as regiões não litorâneas. (N.A.)

de domínio político-religioso e doenças conseguiram ofuscar completamente a essência libertária e autônoma dos índios brasileiros.

As causas indígenas decorrentes desta condição histórica têm tomado espaço nas agendas políticas, sociais e culturais através de inúmeras organizações governamentais e não governamentais, criando o que podemos chamar genericamente de uma importante consciência indigenista que busca reparar, mesmo que parcialmente, os erros históricos cometidos pela sociedade branca que resultaram em um dos mais representativos movimentos de intolerância da história brasileira.

Quando o Brasil começava a se destacar como uma nação importante no cenário mundial, quando grandes guerras estavam definindo um novo mapa da geopolítica global, expedições científicas dão início às explorações etnográficas no Brasil. O primeiro etnógrafo e pesquisador que entrou em terras indígenas na região do centro-oeste brasileiro, o alemão Karl von den Steinen, visitou a região em duas viagens datadas de 1884 e 1887 (FRANCHETTO, 2010, p17). Ele foi o responsável pelas primeiras informações etnográficas que se tem conhecimento, sendo responsável, por exemplo, pela identificação e localização de grupos Karibes19 na

região.

Segundo Heckenberg (apud FRANCHETTO, 2010: 15), as primeiras evidências de ocupação da região Centro-Oeste e Amazônia Central datam do século IX e foram realizadas por colonizadores Arawak20. Conforme aponta

Franchetto (2010: 15), “a família linguística Arawak é a mais amplamente dispersa geograficamente na América do Sul, se estendendo da Ilhas Caribe, ao norte, até a periferia meridional da Amazônia, ao sul”. Complementa a autora que é bem provável que, há cerca de três mil anos atrás, os primeiros colonizadores teriam sido povos Arawak, os quais migraram para o norte e para o sul a partir da Amazônia Central, chegando, assim, à Amazônia Meridional21 e se dispersando num eixo leste-

oeste, das planícies bolivianas ao centro-oeste brasileiro.

19 Os Karibes eram grupos pertencentes ao tronco linguístico Macro-jê. FONTE: https://pib.

socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias. Acessado em setembro de 2017.

20 Os Arúak (Arawak Maipure) eram grupos que, assim como os Karibes, pertenciam ao tronco

linguístico Macro-jê. FONTE: https://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e- familias. Acessado em setembro de 2017.

21 A Amazônia é dividida em quatro grandes regiões: i) Amazônia Oriental, correspondendo

Franchetto sintetiza bem o momento de expansão demográfica na região:

A população alto-xinguana cresceu até meados do século XIII e, por volta de 1250, tinha alcançado proporções impressionantes superando em muito os limites habitualmente atribuídos às sociedades indígenas das terras baixas. O período de “boom” demográfico e cultural durou até meados do século XVII, com aldeias dez vezes maiores do que as atuais, caracterizadas por estruturas defensivas (...) Os sítios pré- históricos (complexos formados por aldeias principais e aldeias satélites) eram conectadas por amplos caminhos indicando uma densa interação social (...) A presença de pontes, barragens, canais, assim como uma transformação significativa da cobertura vegetal, revelam um sistema complexo e uma ocupação e exploração do território surpreendentemente profunda e extensa. (FRANCHETTO, 2010: 16)

As incursões de Steinen no século XIX foram sucedidas por outros pesquisadores alemães, como: Paul Ehrenreich (antropólogo) e Peter Vogel (geógrafo) em 1887; Herrmann Meyer, Karl Ranke (antropólogo) e Theodor Koch- Grünberg (linguista) em 1896 e 1998; Max Schmidt em 1901 e 1926; e, Günther Hartmanm em 1986.22. Outro importante pesquisador (antropólogo, fotógrafo e

cineasta) a visitar a região na primeira metade do século XX foi o austro-húngaro Vladimir Kozak, que se tornou um importante indigenista e cujo acervo está depositado no Museu Paranaense na cidade de Curitiba (Estado do Paraná).

No entanto, foi a partir do ano de 1940, com o início das expedições científicas do Museu Nacional e com a implantação de novas políticas de ocupação pelo Estado brasileiro, que a história dos povos indígenas assume nova configuração, pois é a partir deste momento que a cultura indigenista ganha mais conhecimento e projeção23.

ao extremo norte do Estado do Mato Grosso; ii) Amazônia Meridional, localizada majoritariamente em Rondônia e no Estado do Mato Grosso; iii) Amazônia Central, abrangendo o oeste paraense e porções dos Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, além de todo o Estado do Amapá; e

iv) Amazônia Ocidental, abarcando a porção oeste dos Estados do Amazonas, de Roraima e do

Acre. (N.A.)

22 FONTE: IPHAN, 2006.

23 O Brasil é considerado um país de avançada legislação indigenista. No ano de 2008 a FUNAI

lançou, través da Coordenação Geral de Documentação e Tecnologia da Informação e sob a organização de Luiz Fernando Villares e Silva, uma publicação reunindo toda a legislação que trata direta e indiretamente do assunto, chamada “Coletânea da Legislação Indigenista Brasileira”. (N.A.)

Bôas e Bôas (2012: 34) explica que foi neste período que dois organismos governamentais foram criados pelo governo: (1) a Expedição Roncador- Xingu - ERX e a (2) Fundação Brasil Central - FBC. A primeira tinha a função exploratória, e a segunda uma função mais estratégica para o governo, qual seja, a implantação de núcleos urbanos em pontos considerados ideais pela ERX. Coube ao Ministério da Coordenação e Mobilização Econômica a estruturação destes dois órgãos recém-criados, bem como a organização logística necessária para o sucesso da investida governamental, definindo, assim, o caráter prioritariamente econômico da expedição (BÔAS E BÔAS, 2012: 34).

Como havia acontecido com o contato dos colonizadores portugueses, aqui novamente a doença levada pelo “homem branco” afeta significativamente a população indígena do centro-oeste brasileiro, conforme explica Franchetto (2010: 18): “a contaminação com vírus da gripe e sarampo causou mais uma violenta depopulação, que atingiu seu ápice na epidemia de sarampo de 1954”. Isso fez com que os índios (grupos Karibes) fossem obrigados a se deslocar para as cercanias do Posto Leonardo em busca de assistência médica oferecida pela Fundação Brasil Central. Segundo o mesmo autor, foi a partir dos anos 60 que vários grupos locais começaram a se organizar para reocupar seus territórios tradicionais.

Em meados do século XX, no ano de 1943, o mundo sofria as consequências e influências da Segunda Guerra Mundial em andamento na Europa. Mesmo o Brasil participando dela de forma pouco expressiva, havia uma preocupação com os gastos que poderiam resultar deste envolvimento, pois não se tinha certeza sobre o resultado e muito menos o tempo que esta situação de conflito duraria. No entanto, em decorrência disso, surge a consciência da amplitude geográfica do Brasil e com ela a necessidade de uma espécie de autocolonização como forma de preservação territorial. Desta forma, um forte impulso expansionista toma conta do Estado brasileiro nesta época.

O Brasil Central (como era chamado) e a Amazônia eram territórios desconhecidos. A grande maioria da população da época, cerca de 50 milhões de habitantes, estava concentrada na área que compreendia a grande faixa litorânea e os limites geográficos a Oeste estabelecidos pelo Rio Araguaia e a cidade de Uberlândia, que era o centro urbano mais bem estruturado antes de se atingir o interior do sertão e da região amazônica (IBGE, 2017).

No entanto, o controle financeiro que a segunda Grande Guerra impunha ao Brasil condicionou, de certa forma, que esta ação exploratória necessitasse de doações para que pudesse ter início e ser concluída com êxito; e, de acordo com Bôas e Bôas (2012: 35), em São Paulo o governo teve “boa recepção e farta doação”. O apoio de grandes conglomerados econômicos deixava explícito os interesses econômicos que envolviam a Expedição: Sinhá Junqueira, dona de um império agrícola em Ribeirão Preto (município localizado no Estado de São Paulo), doou noventa mil litros álcool-motor; a São Paulo Alpargatas doou dois mil metros de lona; a Cia. Antártica cedeu milhares de litros de bebidas; a Armour e a Swift doaram cerca de trinta mil galões de corned-beef; e, simbolicamente, as senhoras da elite paulista bordaram a ouro uma bandeira brasileira que acompanharia a Expedição, retificando que esta era uma ação de muito interesse, apoiada pela elite empresarial e envolvendo uma forte articulação social. (BÔAS E BÔAS, 2012: 35)

A expedição não tinha, no seu escopo, a visão humanitária. E alguns importantes membros do Estado brasileiro já manifestavam sua preocupação através de recomendações que diziam respeito ao índio, como demonstra um trecho da carta enviada pelo Marechal Rondon24 aos irmãos Villas Bôas em 1º de abril de

1948:

[...] faço ardentes votos para que os meus dignos amigos e companheiros da causa indígena continuem a bem servir nossa pátria nos trabalhos patrióticos a cargo da Fundação Brasil Central. Permitam-me que lhes recomendem cuidado na escolha do encarregado e trabalhadores que hajam de ficar nesse acampamento quando tiverem de continuar a marcha para a frente em busca da Coletoria dos Tapajós./ Os Srs. Conhecem bem os costumes dos nossos trabalhadores.

24 O General Candido Mariano da Silva Rondon foi escolhido pelo Presidente da República para

chefiar a comissão que organizaria a expedição, e Afonso Pena para chefiar a Comissão das Linhas

Telegráficas e Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, posteriormente conhecida como Comissão Rondon. Esta expedição de reconhecimento territorial, dado que até o momento as terras eram dadas como “desconhecidas”, foi desenvolvida em três etapas: 1ª) A “Expedição de 1907” partiria de Cuiabá indo até o ponto em que alcançaria rio Juruena, tarefa que resultou concluída em 20 de outubro de 1907; 2ª) A “Expedição de 1908” partiria do rio Juruena, que se deu em 20 de julho de 1908, com o

objetivo de atingir a Serra do Norte; e 3ª) A “Expedição de 1909”, que foi dividida em duas: uma

chamada “Turma do Norte”, que teria como incumbência sair de Santo Antônio do Rio Madeira e subir até as cabeceiras do rio Jaci-Paraná, onde estacionaria aguardando a chegada da outra, a “Turma do Sul”, que, chefiada pelo próprio Rondon, partiria da Serra do Norte em direção às cabeceiras do

referido rio. FONTE: http://gentedeopiniao.com.br/noticia/a-expedicao-cientifica-roosevelt-

Homens sem cultura moral, em geral, não respeitarão as famílias dos índios, quando se virem sós, sem fiscalização superior./ Essas tribos do Xingu, até bem pouco tempo, viveram felizes, isolados da pseudocivilização, que os meus caros amigos sabem ser, pelos representantes dela que penetram o sertão, desrespeitadoras das famílias dos índios. (RONDON apud MÜLLER et. al., 2002: 63)

Mesmo chocando com a determinação da investida governamental que não colocava em primeiro plano a preservação do modo de vida e da integridade do índio, e tão pouco dos membros da expedição – como mostra trecho de uma reportagem da época que relata o manifesto do Ministro João Alberto ao colocar que “ninguém poderá voltar, são ou doente, ele permanecerá na expedição, e o objetivo terá de ser atingido, custe o que custar” –, os irmãos Villas Bôas conseguem dar uma abordagem mais humanista à Expedição Roncador Xingu. (MÜLLER et. al., 2002: 42)

Foi este respeito e a percepção visionária da causa humanista que levaram os irmãos Villas Bôas a serem protagonistas de uma das mais importantes ações da cultura indigenista no Brasil, a qual teve reconhecimento e admiração de grandes estudiosos da antropologia e personalidades mundiais, como é o caso do antropólogo Claude Lévi-Strauss e o Rei Leopoldo III da Bélgica, que teriam enviado cartas ressaltando a importância de tais feitos. (MÜLLER et. al., 2002: 65)

Entretanto, a institucionalização da política indigenista no Brasil não tem início com o trabalho dos irmãos Villas Bôas. O Estado brasileiro, possivelmente influenciado pelas incursões de Karl von den Steinen e principalmente pelas expedições chefiadas pelo General Rondon, estabelece em 1910 o Serviço de Proteção aos Índios e Localizações dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN), que, a partir de 1918, passa a ser chamado de Serviço de Proteção aos Índios (SPI)

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