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CAPÍTULO 4: Pesquisa de campo

4.1 Metodologia de pesquisa

Considerando os dois campos de investigação da Antropologia, o biológico e o cultural (BARRIO, 2005: 20), é necessário optar por métodos e técnicas pertinentes a cada um deles. Se entendermos que metodologia é a determinação de meios e regras que auxiliam os procedimentos investigatórios em busca de respostas, é aceitável que o pesquisador possa estipular diferentes métodos, dependendo da natureza da investigação antropológica. O importante é que cada

método definido atenda aos objetivos de cada pesquisa, trazendo a melhor compreensão possível aos resultados de campo.

Dentro do conceito da Antropologia Cultural, Barrio (2005: 21) apresenta três importantes divisões: (1) a arqueologia, (2) a etnolinguística e (3) a etnologia geral, que, dependendo do enfoque, pode ser denominada de etnografia, etnologia ou antropologia social. Enquanto método de pesquisa, a etnografia foi o primeiro a ser utilizado pelos antropólogos sociais e é a base de toda a antropologia cultural por ser o mais próximo do empirismo de campo, proporcionando os elementos sobre os quais trabalham os demais teóricos. Já a

etnologia vai além da descrição e pretende comparar, analisar as constantes e variáveis que se dão entre as sociedades humanas, e estabelecer generalizações e reconstruções da história cultural. (BARRIO, 2005: 21).

Considerando que a população investigada se concentra em uma comunidade indígena e que o objetivo de pesquisa é estudar quais as possíveis influências que a fotografia exerce no processo de construção histórica deste núcleo social, a etnologia, amparada pelo empirismo etnográfico, serve de base para realização desta investigação científica como sendo a forma de, a partir de registros descritivos, resultar em possíveis comparações e generalizações dos processos imaginativos da sociedade em questão. Desta maneira, busca-se entender, através de análise comparativa, qual o tipo de influência que estímulos visuais produzidos pela imagem técnica, neste caso a fotográfica, exercem sobre a memória histórica manifestada na oralidade quando cruzada com depoimentos espontâneos sobre o mesmo tema.

Destaca-se, nesta pesquisa, a utilização do método História Oral, técnica de registros da oralidade articulada com o uso de imagens fotográficas que serviram de estímulo para provocar a memória envolvendo um determinado assunto. Segundo Freitas (2002: 18) esta é a ferramenta adequada para os registros de campo, considerando que a pesquisa busca o registro de falas para posterior análise. Evidenciando este método, Camargo (1994: 78) diz que o mínimo que podemos referir é que se trata de uma fonte, um documento gravado que pode ser usado como um texto escrito de qualquer natureza, ou seja, uma ferramenta eficiente para geração de dados.

É necessário considerar que esta pesquisa se desenvolve a partir da inserção social. O pesquisador penetra em um universo cultural do qual não faz parte em busca do entendimento da influência de um objeto tecnológico, a fotografia, a qual embora recentemente venha sendo utilizada pela comunidade pesquisada, não possui relação de origem com o ambiente cultural em questão.

Esta condição está sendo evidenciada para chamar a atenção no que tange às situações de adequação metodológica exigidas do pesquisador: em função do tratamento das variáveis previstas, em algum momento tais situações podem ser incompatíveis com a prática de campo, exigindo do pesquisador uma adequação frente às mesmas. Esta adequação também se faz necessária diante de variáveis imprevistas que fujam totalmente ao controle do pesquisador, mas que não devem ser desconsideradas.

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi estipulada nas quatro etapas seguintes:

4.1.1 Definição da população de pesquisa

Esta primeira etapa é destinada à definição de qual etnia deve ser realizada na pesquisa. Considerando que já havia uma decisão prévia de que o projeto se realizaria no Alto Xingu, por interesse pessoal do pesquisador, o critério de seleção deve se concentrar nos atributos de semi-isolamento, que aqui são estabelecidos como sendo a localização, aspectos de comunicação, formas de acesso e nível de dependência cultural e tecnológica em relação à população branca.

4.1.2 Definição das imagens fotográficas a serem utilizadas em campo

A definição das imagens fotográficas para serem utilizadas como ferramenta de pesquisa deve atender ao requisito temático, ou seja, todas as imagens selecionadas devem conter, necessariamente, informações culturais relacionadas ao modo de vida dos povos indígenas do Alto Xingu, que, como dito, apesar de serem compostos por várias etnias, possuem hábitos culturais muito semelhantes. Outro requisito obrigatório de seleção é que parte das imagens deve conter aspectos de possível afetividade através de registros de pessoas com quem

os entrevistados, ou parte deles, podem ter algum tipo de relacionamento pessoal ou mesmo um restrito conhecimento prévio.

4.1.3 Definição das abordagens pessoais

Aqui chamadas de depoimentos, as abordagens pessoais foram pensadas para acontecer em dois momentos. No primeiro, deve ser proposto um tema que esteja relacionado aos hábitos culturais dos pesquisados, como, por exemplo, alimentação, indumentária, hábitos de caça, transporte, artesanato, cantos, festas, pinturas corporais, entre outros. Nesta primeira etapa de depoimentos, o pesquisador introduz o tema sem qualquer estímulo visual, com a menor interferência possível na fala do entrevistado e de maneira mais imparcial possível. Considerando tratar-se de população indígena, é necessário a definição de um tradutor como forma de facilitar a comunicação oral, levando em conta que boa parte da população pesquisada não possui fluência no idioma português, o que pode ser um fator limitante no resultado pretendido.

No segundo momento, os depoimentos devem ser realizados a partir de estímulos visuais com fotografias relacionadas ao tema tratado na primeira etapa (conforme descrito anteriormente). Neste caso, a escolha da imagem pelo pesquisador será aleatória. Cabe destacar que esta aleatoriedade se dá de forma parcial, considerando que as imagens disponíveis para a pesquisa já são fruto de uma pré-seleção realizada na etapa que antecede o trabalho de campo.

O prazo entre as duas etapas de abordagens deve ser o maior possível para que o impacto da memória ativada no primeiro depoimento seja minimizado sobre o segundo depoimento. O pesquisador, já tendo a consciência de que obterá melhor resultado quanto maior for o intervalo de tempo entre as duas etapas de depoimentos, deverá estabelecer e administrar o cronograma de campo conforme a disponibilidade de tempo.

Estas duas etapas devem ser antecedidas de um pré-teste para que eventuais erros de posturas, de abordagem ou de registro por parte do pesquisador possam ser antevistos e corrigidos em tempo de qualificar o trabalho de campo. Aqui, cabe destacar que a reação dos entrevistados frente à abordagem do pesquisador pode ser imprevista, considerando o pouco conhecimento cultural por parte do entrevistador ou mesmo a falta de identificação cultural entre ambos. A

presença do entrevistador no ambiente cultural em questão, a linguagem utilizada para a comunicação ou mesmo o uso de algum equipamento necessário para o registro das entrevistas são aspectos que podem causar impactos no processo de pesquisa, e resultar em constrangimento ou intimidação de ambas as partes. O importante é perceber o pré-teste como uma etapa fundamental e obrigatória de preparação da pesquisa de campo.

4.1.4 Método de coleta de dados

A coleta de dados deve ser realizada, no caso desta pesquisa, a partir do registro de depoimentos realizado através de gravações, que posteriormente deverão ser transcritas em formulário padrão com o objetivo de promover sua organização sistemática, possibilitando a geração de dados que, analisados, produzam informações relevantes à formulação de respostas ao problema investigado. Os depoimentos também poderão ser analisados a partir de reprodução sonora. Levando em conta os aspectos linguísticos que envolve os depoimentos por conta do idioma indígena e da tradução realizada em campo, a transcrição, quando houver, deve respeitar a forma original da fala, pois nela poderão estar contidas algumas expressões denotativas de um padrão cultural e, como tal, deverão ser consideradas. Da mesma forma, uma eventual não manifestação do entrevistado (silêncio) poderá ser interpretada como informação muito relevante.

No que diz respeito ao número de abordagens a serem realizadas, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, não deve ser definida uma amostragem exata, mas, sim, uma seleção espontânea de pessoas conforme disponibilidade em campo. Esta amostragem deverá ser a maior possível dentro do cronograma de trabalho, ou seja, dentro do prazo estipulado para a realização de cada etapa. Esta seleção dependerá muito da capacidade do pesquisador de interagir com a comunidade, determinando, assim, sua aceitação natural no processo cotidiano, o que diminuirá, sobremaneira, os impactos negativos no que diz respeito à recusa de se dar um depoimento.

Outro aspecto que poderá resultar ou não em aceitação e consequente participação na pesquisa é o nível de aproximação cultural existente entre entrevistado e entrevistador, por mais que haja a figura do tradutor que poderá desempenhar um papel aproximativo entre as partes. Neste caso, faz-se necessário

que o pesquisador desenvolva a maior aproximação possível com a cultura antes da aplicação da pesquisa, buscando um maior número de informações que diminua a possibilidade de choques culturais, entendendo os hábitos, costumes e crenças em questão.

A aleatoriedade da escolha dos entrevistados é o que caracteriza, neste caso, uma amostragem não probabilística, pois é impossível fazer uma estratificação categorizada – como, por exemplo, idade, escolaridade e sexo. Neste sentido, a pesquisa deve procurar ser mais imparcial e abrangente possível, evitando, assim, uma possível tendência decorrente da relação das gerações com a imagem técnica, levando em consideração o uso de fotografias como uma ferramenta de pesquisas, bem como a tecnologia de gravação de áudio. Portanto, a seleção dos elementos da população para compor a amostra dependerá, parcialmente, da percepção do pesquisador em campo, pois não há, por parte do mesmo, nenhuma possibilidade prévia de selecionar um elemento qualquer da comunidade para fazer parte da pesquisa, dadas as questões culturais envolvidas.

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