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CAPÍTULO I: A ESCOLA NO CONTEXTO ATUAL

5. A Escola em Angola

5.1 Contexto histórico e contemporâneo

Antes da educação formal, iniciada na era colonial já havia a chamada educação “informal” que não tinha por objetivo fornecer diplomas nem passagem de classes, conforme vem estruturado o ensino de hoje. Este ensino era ministrado em ambientes muito diversificados e familiares. São os chamados “Ondjango”, escola tradicional africana.

A situação alterou-se com a chegada dos portugueses a 23 de Abril de 1482, na foz do rio zaire, embarcação chefiada pelo português Diogo Cão. No mesmo local ergueram um padrão que dizia: «na era da criação do mundo de 6681 anos, do nascimento de nosso Senhor 1482 anos o mui alto, mui excelente e mui poderoso Príncipe El-Rei D. João II de Portugal, mandou descobrir estas terras e pôr estes padrões por Diogo Cão, escudeiro da sua casa» (LOURENÇO, 2003:13). Ou, em 1484 (VALAHU,1968:22). São duas datas diferentes, mas assinalam o mesmo

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acontecimento: chegada de Diogo Cão à foz do rio Zaire capital do reino do Congo. Os interesses económicos estiveram na base destas expedições35.

A preocupação inicial de Portugal nada tinha a ver com a educação. Os fatores comerciais imperavam na altura sobrepondo-se aos valores referentes à vida e ao desenvolvimento humano. Nesta época as antigas metrópoles estavam mais interessadas em enriquecer-se em detrimento da África e do tecido humano que aí habitava, feito objeto. Desta feita, é fácil falar da parte histórica da educação em Angola antes e depois da sua oficialização pelo Estado Português. A maior dificuldade da nossa pesquisa prende-se com a ausência notória da literatura. Não há muitas obras especializadas que se debrucem sobre esta temática importante para a (re) construção da história da educação deste país. Angola, como boa parte dos países africanos colonizados, a sua história está ligada aos países colonizadores.

A educação formal em Angola inicialmente esteve a cargo dos missionários. As colónias eram consideradas lugares privilegiados para a missionação. Nesta época o objetivo consubstanciava-se na criação de “espírito imperial”. Era um alargamento do Estado português para lá das fronteiras continentais. No entanto a Igreja era chamada a colaborar na educação dos nativos, inculcando-os valores civilizacionais, tais como: trabalho manual, ensino da língua portuguesa, patriotismo e religião. Isto suscitaria o aumento de escolas primárias e secundárias. As escolas primárias eram maioritariamente frequentadas por europeus e descendentes de uma assimilada pequena burguesia urbana angolana, fixada quase toda nas cidades de Luanda e Benguela. Para os chamados “indígenas” o ensino da matemática não fazia parte dos programas curriculares. Nas trocas comerciais os nativos eram enganados facilmente por não saberem contar. As escolas construídas estavam quase todas, senão mesmo todas, nas zonas urbanas. Daí que podemos compreender a herança histórica que Angola pós independente recebe. É um processo educacional que nasce defeituoso e dificilmente nos livraremos dele se não houver esforços conjugados. Depois de quase quatrocentos anos de ocupação, Portugal oficializa o ensino em Angola:

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Motivos Económicos: exploração das riquezas encontradas em territórios ora, descobertos; Motivos Políticos: extensão do Império português ou dilatação do Reino; Motivos Religiosos: dilatação da fé cristã entre os povos africanos (MUACA, 1991:30).

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«Relativamente à educação, o Ensino Oficial tem o seu início, em Angola, através do decreto de 14 de Agosto de 1845, quando o Estado português assumiu definitivamente a condução do ensino em todo o espaço de jurisdição portuguesa e passou a organizá-lo em novas bases, tornando-o laico. Em 1869, data da abolição da escravatura em todas as possessões portuguesas, é também criada a província de Angola. É decretado o direito do Estado de dar provimento à criação e instalação de escolas, bem como o de fiscalizar a atividade docente» (Decreto de 30 de Novembro de 1869, Cit. in ODM, 2010: 30-31).

Com a queda da monarquia, e a instauração da 1ª República a 5 de Outubro de 1910, não foram notadas alterações em relação a uma maior equidade entre europeus e africanos nas colónias já que a Constituição da República Portuguesa de 1911 mantinha o dever dos “indígenas” terem, obrigatoriamente, de trabalhar pelo menos dois anos. Mas passou a proibir aos patrões de utilizarem castigos corporais.

Um dado a reter para este nosso estudo: “em 1921, através do decreto nº 77, do governador provincial de Angola, o general Norton de Matos ocorre a proibição

do ensino das línguas africanas em escolas públicas e missões religiosas” (Boletim

Oficial de Angola, nº 5, 1ª série, de 9 de Dezembro, 1921, Cit. in BINJI, 2013:34). Com o fim da 1ª República e a instauração do Estado Novo, em 1933, período caracterizado por um regime fascista, a situação da escolarização dos angolanos manteve-se praticamente inalterável até 1961, altura em que um grupo de nacionalistas angolanos dá início à luta armada de libertação nacional, com o assalto às prisões de Luanda, a 4 de Fevereiro.

Do ponto de vista educacional e com o fim da Lei do Indigenato, um maior número de crianças angolanas passou, finalmente, a ter um maior acesso à instrução primária. Porém o processo de consciência independentista já havia começado, pois a grande maioria dos países africanos ao sul do Sahara já tinha alcançado a sua autonomização política na década de 60.

Depois da independência de Angola e com a criação do Ministério da Educação e Cultura (Lei 1/75) simultaneamente, fez-se tomar a primeira medida política de maior impacto e relevância que se prende com o início da “Campanha Nacional de Alfabetização”, a 22 de Novembro de 1976 e, dois anos mais tarde (1978), passou-se para o segundo passo que foi o da implantação de um “Novo

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Sistema de Educação e Ensino”. Contudo, para além do contexto de guerra civil prevalecente nesta altura, a gratuitidade da instrução, o baixo número e qualidade de professores existentes e as poucas instituições educativas herdadas do colonialismo geraram, no seu todo, uma explosão escolar.

A partir de 1981 o sistema de ensino ameaçou a sentir-se asfixiado. Posteriormente, em 1986, com a realização do diagnóstico do Subsistema do Ensino de Base Regular se confirmou que, o mesmo, não era rentável, uma vez que “em cada 1.000 alunos que ingressava na 1ª classe, somente 142 concluíam o I nível, dos quais 34 transitavam sem repetições de classe, 43 com uma repetição e 65 com duas ou três repetições”. Em 1988, iniciam-se as “Medidas para o Saneamento e Estabilização do Sistema de Educação e Ensino” e a “Constituição das Bases Gerais para um Novo Modelo”.

Em 1989 começam as negociações do Governo com o Banco Mundial, visando a obtenção de financiamentos para o reforço institucional do sector educativo. Em 1990, surge o “Projeto de Reformulação do Sistema Educativo” e são aprovados os “Fundamentos para o Novo Modelo de Sistema Educativo”. Em 1991, na sequência da Conferência de Jomtien sobre Educação para Todos, (de 5 a 9 de Março de 1990) o Governo angolano promove a realização de uma “Mesa Redonda sobre Educação para Todos” (22 a 27 de Julho), define o quinquénio 1991/1995 como o da “Preparação e Reformulação do Sistema Educativo” e reinicia a atividade do ensino privado em Angola (Lei 18/91). Foi nesta altura que se abriram vários colégios em todo o país e alguns sem qualidade desejável [JOMTIEN, 1990, Cit. in ODM, 2010:31].

Na mesma senda realizou-se em 1992, o “Exame Sectorial da Educação” (22 de Julho a 31 de Agosto), um segundo diagnóstico ao sistema educativo aos níveis macro, meso e micro-sociológico. Em 1995, o “Plano Quadro Nacional de Reestruturação do Sistema Educativo” (Maio), um ano depois da assinatura do Protocolo de Lusaka entre as forças beligerantes do MPLA e da UNITA. Porém, em 1997, com o adiamento sistemático do processo de reforma educativa e devido às situações político-militares prevalecentes, o sistema educativo ameaçou entrar em colapso total. Sendo que, em 2001, o Conselho de Ministros aprovou a “Estratégia

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o “Fórum Mundial de Educação”, que decorreu em Dakar (entre os dias 26 e 28 de Abril de 2000) e os Objetivos e Metas da “Cimeira Mundial sobre a Infância em

Nova Iorque” (Setembro de 2000), também conhecida pela Cimeira do Milénio. Por

outro lado a casa das leis (Assembleia Nacional) homologou a primeira “Lei de Bases

do Sistema de Educação” em 31 de Dezembro de 2001.

Depois de várias tentativas fracassadas para pôr fim à guerra fratricida, eis o “sopro” da esperança reanimada: em 2002, o país encontrou o caminho para uma paz duradoura e em 2004, o Governo inicia, finalmente, a anunciada reforma educativa» [DAKAR, 2000, Cit. in ODM, 2010:30-32].