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1.2 Contexto hospitalar: problemáticas organizacionais

O contexto clínico apresenta-se como um espaço problemático onde diariamente se lida com a doença e a morte. Do ponto de vista psicológico requer uma grande adaptação da parte de quem os integra, havendo a necessidade de conceber estratégias individuais que permitam aos profissionais lidar com o sofrimento humano, sem ficarem desequilibrados emocionalmente com a realidade que os rodeia.

Disso nos dá conta Matos (2003) ao descrever as organizações de saúde como “sistemas complexos constituídos por diversos departamentos e profissionais,

tornando-a sobretudo uma organização de pessoas confrontadas com situações emocionalmente intensas, tais como vida, doença e morte.” Tais características pode resultar em aumento dos níveis de ansiedade, tensão, fadiga física e/ou mental dos profissionais de saúde.

As organizações de saúde estão imbuídas em contextos sociais complexos onde coexistem tecidos socioculturais, racionalidades e ideologias distintas (Abreu, 2001). Constituem-se como um espaço onde coexistem elementos de todos os segmentos da população, uma vez que inevitavelmente todos terão necessidade de recorrer aos serviços de cuidados de saúde em diversos momentos da sua vida. Nessa perspectiva os profissionais que integram as instituições de saúde têm de estar preparados para lidar com o cenário multicultural e social característico dos utentes que a elas acorrem.

Também ao nível dos profissionais que integram as organizações de saúde se verificam assimetrias como nos dá conta Abreu (2001: 61) quando afirma que as instituições de saúde se constituem como um “lugar social onde os actores possuem diversos tipos de socialização profissional, percurso formativo e localizações na divisão de trabalho clínico”. Características que tendem a promover o conflito e disputa entre os vários grupos profissionais e até entre os elementos do mesmo grupo.

Os hospitais constituem-se como as instituições de saúde preponderantes na formação clínica dos alunos Técnicos de Radiologia, pois tal como refere Abreu (2001:59) “o hospital continua a constituir-se como um espaço social fundamental, quer no que se refere à produção de cuidados quer no que concerne à formação de profissionais de saúde”.

A Direcção Geral de Saúde (1998) define o hospital como “um estabelecimento de saúde de diferentes níveis de diferenciação, constituído por meios tecnológicos e humanos, cujo objectivo nuclear é a prestação de cuidados de saúde durante vinte e quatro horas por dia… a sua actividade é desenvolvida através do diagnóstico, da terapêutica e da reabilitação, quer em regime de internamento, quer em ambulatório. Compete-lhe, igualmente, promover a investigação e o ensino, com vista a resolver os problemas de saúde”.

Numa outra perspectiva, Canário (1998) refere, a respeito das organizações de saúde, que “constituem sistemas de acção colectiva não redutíveis a agregados de indivíduos, em que a acção e interacção colectivas tendem a ser regulados por mapas cognitivos comuns, construídos e reconstruídos, de forma permanente, pelos actores em contexto”.

A importância do hospital na formação dos alunos por vezes vai para além dos objectivos que a escola define para esse espaço formativo. Um estudo realizado por Macedo (2004) no âmbito dos ensinos clínicos em Enfermagem, no qual foram recolhidas, ao longo de três anos, as opiniões de alunos que frequentavam o 2º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem sobre as suas experiências em estágio, revelou que o hospital constitui um espaço de formação que ultrapassa os objectivos estabelecidos para a Licenciatura em Enfermagem, uma vez que os alunos desenvolvem saberes na acção e sobre a acção que não foram previamente definidos pela Escola.

Os hospitais estão organizados de acordo com o modelo Biomédico, sendo feita a sua divisão de acordo com as diversas especialidades. Esta organização reflecte o paradigma utilizado até há pouco tempo na abordagem das questões ligadas à saúde e que ainda hoje não está totalmente posto de parte em muitas Instituições e nos hábitos enraizados dos seus profissionais.

De acordo com o paradigma holístico mais consentâneo com as concepções actuais sobre as questões relacionadas com a saúde, este compartimento organizativo rígido e mecanicista de distribuição dos doentes tendo apenas em consideração o foro da enfermidade de que padece, não obedece a um conceito moderno de saúde centrado no indivíduo enquanto um ser único com características e especificidades próprias. Nem tão pouco se compadece com a nova geração de utentes, que tendo à sua disposição informação detalhada e massificada pelos diversos meios de comunicação, são alertados para as questões ligadas à saúde, reivindicando cuidados de saúde combinados e integrados.

Assiste-se actualmente a uma discussão filosófica sobre os contornos da assistência, os hospitais encontram-se num processo de reflexão sobre as

estratégias a adoptar, de forma a encararem cada vez mais o paciente que recorre aos seus serviços, como um indivíduo que necessita de cuidados globais e não apenas de ser tratado a uma determinada doença de um foro específico. Cada doente é uma pessoa com uma determinada teia de relações sociais, com uma história de vida única, com medos e receios face à situação que está a viver e como tal necessita que o hospital represente um espaço humanizado que lhe proporcione a par de cuidados médicos de qualidade, conforto e tranquilidade, transmitindo-lhe segurança e que ao mesmo tempo se constitua como uma resposta para os seus anseios. Para tal as instituições de saúde necessitam de adaptar o seu arquétipo organizativo, fortemente influenciado pelo modelo biomédico, fazendo-o evoluir no sentido de uma perspectiva mais integrada que vá ao encontro das reais necessidades dos doentes.

Os hospitais são locais em que os contextos socioculturais se encontram em constante mutação (Abreu, 2003). A par de uma constante evolução científica e tecnológica em que continuamente se descobrem novos elementos, se desenvolvem novas técnicas e se adquirem novos equipamentos, também as “formas de gestão e de organização se alteram sistematicamente, não sendo propriamente dimensões que se pautem por estabilidade” (Abreu, 2003:21), por conseguinte não transmitem segurança, quanto ao futuro, aos profissionais que a integram.

De acordo com o Plano Nacional de Saúde elaborado pelo Ministério da Saúde para o período de 2004 a 2010, prevê-se a implementação de modelos de gestão de cariz empresarial das unidades de saúde, sendo que a sua execução já começou a ser realizada em alguns estabelecimentos de saúde. É um modelo que vem agilizar e desburocratizar as organizações, permitindo a responsabilização de todos os profissionais que a integram pelos actos que praticam, e dos gestores em particular pelas opções estratégicas que assumem. Este modelo apresenta numerosas vantagens face ao anterior que cultivava o imobilismo, a desresponsabilização dos profissionais e em que os actos de gestão tinham por vezes de obedecer a processos burocráticos morosos, que inviabilizavam, em diversas ocasiões, a tomada de decisão em tempo útil, originando a ineficácia das mesmas. No entanto o sucesso deste novo paradigma

de gestão está directamente dependente da formação e da sensibilidade dos gestores para as questões da saúde. A formação é algo que absorve inúmeros recursos, mas a formação dos profissionais que integram a instituição deve ser sempre encarado como um investimento e não como um custo. Manter os profissionais, científica e tecnicamente actualizados através de planos de formação contínua e promover estágios de integração com a duração necessária à adaptação do profissional ao Serviço onde irá exercer funções, são práticas que devem ser encaradas como normativas, funcionando como medidas estruturantes de promoção da qualidade dos cuidados prestados pela instituição, constituindo- se como procedimentos elementares para garantir a segurança dos mesmos.