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Um dos cenários supervisivos descritos por Alarcão e Tavares (2003) no âmbito da formação de professores é designado por cenário clínico. Este é inspirado no modelo clínico de formação dos médicos em que a componente prática do curso é realizada nos hospitais e em que o supervisor adopta uma atitude de atenção e apoio às necessidades do formando, sugerindo uma forte colaboração entre supervisor e supervisado.

Fonte inspiradora para a teorização de um cenário supervisivo no âmbito da formação de professores, os estágios e a supervisão dos estágios realizados na área da saúde contêm algumas particularidades que a diferenciam das outras formas de supervisão.

A supervisão clínica de um modo genérico, refere-se ao acompanhamento das práticas de um profissional ou pré-profissional, por outro profissional mais experiente, ou como a define Abreu (2003), “é um processo de acompanhamento de competências clínicas dos alunos e do exercício dos profissionais”.

Consequentemente, a supervisão clínica consiste numa estratégia de acompanhamento das práticas clínicas não só no âmbito da formação inicial, mas também no contexto profissional. A esse propósito, Abreu (2002) refere que a supervisão clínica se constitui como estratégia de suporte para organizações de saúde, dinâmicas de formação, funcionamento de equipas, maturação pessoal e desenvolvimento profissional.

Tait (1994) concebe a supervisão clínica como um mecanismo para preservar standards de qualidade e segurança dos cuidados, proporcionando a melhoria contínua da qualidade.

Bond e Holland (1998) referem que a supervisão clínica tem como objectivo proporcionar ao supervisado a aquisição e desenvolvimento de competências que lhe permitam realizar práticas de qualidade, através de um suporte adequado.

Wright (1989) considera a reflexão o principal suporte para a supervisão. A ênfase na supervisão clínica tem efeitos educativos, normativos e restaurativos.

Butterworth e Faugier (1992) definem a supervisão clínica como um intercâmbio entre profissionais com o objectivo de desenvolverem competências profissionais. Os autores indicam que na supervisão clínica podem ser usadas um conjunto de estratégias tais como: preceptorship, mentorship, supervisão da qualidade das práticas e revisão de pares.

Abreu e Calvário (2005), num estudo efectuado no âmbito da formação em Enfermagem, realçam que a educação clínica representa um importante processo ecológico, contribuindo decisivamente para a construção de uma identidade profissional por parte dos alunos, auxiliando-os a melhor compreenderem a intervenção e saberes próprios da Enfermagem.

Abreu (2003), no âmbito da profissão de Enfermagem, socorre-se de vários investigadores para caracterizar o conceito de supervisão clínica. Segundo este autor, Peplau identificava o acompanhamento das práticas como um processo onde convergiam diversas complexidades: o desenvolvimento de atitudes, habilidades e características pessoais, em paralelo com a inteligência emocional, preocupações éticas e pensamento relacional. Neuman refere que o acompanhamento das práticas clínicas em Enfermagem se constitui como um processo que permite avaliar a consecução dos objectivos e a necessidade de reformulação, tendo em vista os diagnósticos de Enfermagem, os resultados pretendidos e a validação do próprio processo de Enfermagem. Ainda segundo Abreu (2003), para o investigador Imogene King o acompanhamento das práticas clínicas pressupõe uma dinâmica de supervisão, a qual permite uma avaliação sobre o tipo de informação considerada para a tomada de decisão, sobre as alternativas colocadas e sobre os conhecimentos que possuem para considerar essas alternativas, enquanto que para Rogers permitiria explorar novas atitudes assistenciais virtualmente inexploradas. Abreu (2003: 16) conclui que apesar destas abordagens diferirem de autor para autor, todas elas evidenciam a “articulação entre a prática clínica, o desenvolvimento profissional e a formação de uma inteligência emocional”.

Brown (1980, referenciado por Steves, 2005) identifica três estádios de aprendizagem dos alunos em estágio. Numa primeira fase os alunos preocupam- se em adquirir competências técnicas inerentes à profissão. Dominando os aspectos técnicos os alunos começam a preocupar-se com o agir profissional. Observam os profissionais no desempenho das suas funções servindo-se deles como modelo, ao mesmo tempo que desenvolvem valores e atitudes inerentes à profissão. Numa última etapa os alunos adquirem maior autonomia, participando activamente no planeamento das actividades do estágio, seleccionando aquelas que no seu entender tragam maiores benefícios e melhor se adeqúem ao seu processo de aprendizagem.

A formação inicial dos Técnicos de Radiologia, a par da formação efectuada na maioria das profissões ligadas ao domínio da saúde, contempla uma forte componente de estágios clínicos realizados em contexto de trabalho, efectuados em instituições de cuidados de saúde. Sendo profissões que lidam com a vida, a morte e a saúde das pessoas, é necessário que a sua formação seja constituída por uma sólida e exigente componente teórica e que em paralelo, seja dada oportunidade aos futuros profissionais de colocarem em prática, sob a supervisão de profissionais experientes e no meio ecológico apropriado, os conhecimentos teóricos apreendidos, ao mesmo tempo que vão adquirindo novos conhecimentos e competências, que advêm da prática, constituindo-se os ensinos clínicos como uma “dimensão estruturante da qualidade dos cuidados de saúde” (Abreu 2003: 12).

A primeira dúvida que se coloca é se o termo clínico se pode aplicar às actividades desenvolvidas pelos Técnicos de Radiologia. Abreu (2003: 12) desfaz a incerteza ao afirmar que “desenvolvem actividades clínicas os profissionais de saúde que se “debruçam” (cuidam, tratam, curam) sobre os doentes, orientando, ajudando ou mesmo substituindo-os no desenvolvimento das suas actividades de vida. Neste sentido os médicos, os enfermeiros, os técnicos de saúde (fisioterapia, radiologia, análises clínicas, …) desenvolvem actividades clínicas”. De igual modo, o Decreto-Lei nº 564/99 de 21 de Dezembro diz claramente que os Técnicos de Radiologia têm a responsabilidade clínica sobre os exames que executam.

Desfeita a dúvida importa caracterizar os ensinos clínicos, ou educação clínica nome pela qual é designada a formação em estágio no curso de Radiologia, para melhor compreensão da sua importância na formação dos profissionais de saúde. Para Abreu (2003: 9) os ensinos clínicos constituem-se como “um espaço insubstituível de transformação de conhecimentos e aquisição de saberes práticos e processuais”. Carvalhal (2003: XV) acrescenta que o interesse dos ensinos clínicos advém ainda “pelos contactos que proporciona com a realidade, que permitem uma critica reflexiva, estimulam uma reflexão pessoal e o desenvolvimento de certas competências essenciais para o futuro de uma profissão”. Belo (2003: 38), por seu turno afirma que “permitem o alargamento do domínio do saber nas dimensões científicas, técnicas, de desenvolvimento pessoal e interpessoal, incluindo estas últimas a dimensão psico-afectiva”.