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A Radiologia é um ramo da ciência relativamente recente, pois a descoberta da radiação que lhe deu origem ocorreu apenas há cerca de 100 anos. Em virtude deste facto pode-se considerar que as profissões que lhe estão associadas na área da saúde têm um tempo de existência curto, quando comparadas com outras no mesmo espectro de profissões, como são exemplo a Medicina e a Enfermagem.

De acordo com Wicke (1990: X), foi no dia 8 de Novembro de 1895 que Wilhelm Konrad Röentgen, professor e Director do Instituto de Física da Universidade de Würzburg na Alemanha, descobriu um novo tipo de radiação que denominou por Radiação X. Esta descoberta foi desde logo considerada muito importante por vários ramos do conhecimento, sendo que na área da saúde atraiu de imediato a atenção da classe médica, reconhecendo-lhe potencial para impulsionar um grande avanço ao nível do diagnóstico. Pela primeira vez a medicina poderia ter ao seu dispor a capacidade de obter imagens do interior do corpo humano, através de um método não invasivo. Por esta descoberta e pelo potencial desenvolvimento que significava para a humanidade, Wilhelm Konrad Röentgen

foi galardoado com o Prémio Nobel da Física em 1901 (Jiménes-Reyes e Balbulian, 1994).

A primeira radiografia a uma estrutura do corpo humano foi realizada pelo próprio Röentgen à mão da sua esposa, em 22 de Dezembro de 1895, mas, de imediato o impacto criado pela descoberta da Radiação X potenciou o desenvolvimento de múltiplas experiências na área da Medicina, descobrindo-se rapidamente os efeitos biológicos que poderia provocar a quem ela se expunha. Com estas experiências tomou-se consciência que a Radiação X não apresentava só aspectos positivos, mas que ela própria encerrava vários perigos de manuseamento sobre os quais era urgente conhecer a amplitude, de forma a serem concebidas estratégias de protecção e segurança para os profissionais que a manipulavam e para os pacientes, bem como estabelecer limites de exposição. Foi o início do desenvolvimento da Protecção Radiológica.

Rapidamente a Radiologia proliferou pelo mundo inteiro. Portugal foi um dos países pioneiros na utilização da Radiação X como meio auxiliar de diagnóstico. Raposo et al (1995) relembram que no seu início a Radiologia em Portugal obteve os contributos de profissionais de áreas diversas, tais como, “Físicos, Médicos ou estudantes de Medicina e Fotógrafos”.

Em Portugal as primeiras radiografias são obtidas em Coimbra em 1896. O primeiro serviço de Radiologia surge em 1901 no Hospital Real de S. José, em Lisboa, seguindo-se o da Universidade de Coimbra em 1902 e do Hospital Geral de Santo António, no Porto, em 1908. Apesar de na época já serem conhecidos alguns dos efeitos nocivos da radiação e a necessidade de protecção de quem com ela trabalha, muitos destes pioneiros sofreram graves danos pessoais, resultantes da sua prolongada exposição à radiação.

Os primeiros equipamentos de Radiologia usados em medicina eram nas palavras de Raposo et al (1995) constituídos por uma tecnologia “logicamente primitiva e exigia tempos de exposição muito longos”. Era a época das experiências e descobertas sobre as potencialidades deste novo tipo de radiação electromagnética, pelo que os exames eram essencialmente realizados por Médicos que se dedicavam à investigação nesta nova área do conhecimento.

No entanto, com o desenvolvimento desta área cientifica as suas potencialidades foram aumentando, tornando-se cada vez mais diversificada e complexa. Os Médicos tiveram de recorrer a outros profissionais para operar com o equipamento, realizar os exames e processar as películas. Foi através deles que começou a germinar uma nova profissão que mais tarde e por força dos avanços técnico-científicos, veio a resultar nos actuais Técnicos de Radiologia.

Até 1938 a formação destes profissionais era essencialmente feita através de estágios mais ou menos prolongados nos serviços onde iriam desempenhar funções, sobre a supervisão dos Médicos Radiologistas. Não eram exigidas habilitações especiais para integrar a profissão.

Em 1938 surge o primeiro diploma legal, Decreto-Lei nº 28794, que regulamenta o acesso à profissão de Ajudante de Técnico de Radiologia, exigindo como condição de admissão o Curso Geral de Enfermagem. Entre 1938 e 1953, desenvolveram-se alguns cursos de carácter casuístico, destinados a profissionais que não possuíam o Curso Geral de Enfermagem. A avaliação dessas formações era validada através de um exame nacional a cargo do Departamento dos Recursos Humanos da Saúde. Aos seus possuidores era dado um título que lhes permitia ingressar nas categorias profissionais correspondentes aos quadros de pessoal dos serviços oficiais e particulares dependentes do Ministério da Saúde.

Em 1961, através da Portaria nº 18523 de 12 de Junho, são criados com o objectivo de colmatar as lacunas existentes no Serviço Nacional de Saúde, os Centros de Preparação de Técnicos e Auxiliares dos Serviços Clínicos do Ministério da Saúde e Assistência. Estes centros foram criados junto aos hospitais centrais. A partir desse momento passou a ser condição necessária para a inclusão na categoria profissional possuir este curso. Os planos de estudos eram estabelecidos pela Escola Nacional de Saúde Pública.

Desde o inicio que a formação dos Técnicos de Radiologia era construída, ministrada e/ou supervisionada por Médicos Radiologistas que organizavam os cursos de forma a preparar os profissionais para serem seus auxiliares. A sua formação era orientada em função das necessidades médicas, centrando-se em

estágios práticos sem a devida fundamentação teórica. Apesar da formação ter evoluído ao longo do tempo, fruto do aumento da complexidade da profissão e da necessidade de aprofundar os conhecimentos para uma maior eficiência, era sentida a falta de um enquadramento teórico que suportasse as suas práticas clínicas.

Neste período o modelo adoptado para a formação dos Técnicos de Radiologia assemelhar-se-ia muito ao cenário descrito por Alarcão e Tavares (2003: 17) como de Imitação Artesanal, em que um futuro profissional aprendia através da imitação das acções dos profissionais mais experientes, sem um enquadramento teórico com suficiente amplitude que lhe permitisse ter uma consciência científica das suas acções. Era o “praticar com o mestre, o modelo, o bom professor, o experiente, o prático, aquele que sabia como fazer e transmitia a sua arte ao neófito”. Deste modo os candidatos a Técnicos de Radiologia aprendiam através da observação das actividades desenvolvidas por Técnicos experientes, os quais tentavam imitar, servindo-lhes de modelo profissional. No entanto as práticas não eram acompanhadas de um enquadramento teórico suficientemente desenvolvido de forma a que os Técnicos pudessem compreenderem de uma forma holística a origem, o alcance e as consequências das suas práticas. Belo (2003: 27) descreve uma situação análoga vivida na formação dos enfermeiros caracterizando o saber que dela resultava como “um saber utilitário, subordinado aos saber e interesse médico, um modelo biomédico”.

A profissão encontrava-se numa situação em que os campos científicos e de actuação profissional ainda não se encontravam definidos, sendo também o nível educacional dos candidatos a Técnicos de Radiologia muito baixo.

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