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3.3 O curso de Radiologia: trajectos de formação

Actualmente o Curso de Radiologia é uma Licenciatura Bietápica, constituída por dois ciclos. O primeiro com a duração de três anos lectivos confere o grau de Bacharel e permite o exercício da profissão, o segundo de duração de um ano lectivo, confere o grau de Licenciado.

O curso é composto por aulas teóricas, teórico-práticas e estágios. Os seus planos curriculares integram disciplinas gerais na área da saúde como, Anatomia, Fisiologia, Patologia, Terapêutica Geral e Cuidados de Saúde. Existem disciplinas especificamente relacionadas com a área da Radiologia, tais como, Técnicas Radiológicas, Física das Radiações, Anatomia Radiológica, Equipamentos em Radiologia, Processamento Radiofotográfico, Protecção e Segurança Radiológica. São também incluídas disciplinas oriundas da área das Ciências Sociais e Humanas, como a Psicossociologia, disciplinas ligadas à actuação ética e deontológica e ainda disciplinas complementares, tais como, Sistemas de Informação, Estatística ou Gestão.

Esta matriz teórica pretende dotar o futuro Técnico de Radiologia de um quadro conceptual, que lhe permita ter uma visão holística da sua profissão. Por um lado os Técnicos de Radiologia não actuam de uma forma isolada mas estão inseridos em contextos complexos que caracterizam as Instituições de Saúde. Por outro lidam com seres humanos, cada um deles com características individuais muito próprias, com quadros clínicos por vezes delicados que é necessário compreender na sua amplitude, por quem tem de intervir junto deles.

A matriz teórica pretende ainda dotar os futuros profissionais de competências que lhes permitam desempenhar de forma eficiente e eficaz os papeis que lhe estão reservados, sendo capazes de resolver os problemas com os quais são confrontados no seu dia-a-dia profissional. Os estágios clínicos terão a missão de aprofundar e consolidar a aquisição dessas mesmas competências.

A abrangência do plano curricular reflecte ainda a amplitude das actividades em que os Técnicos de Radiologia se vêem envolvidos. Para além de actividades ao nível da prevenção, diagnóstico e terapêutica, desenvolvem ainda acções nas áreas da investigação e do ensino, podendo assumir funções ao nível da administração ou gestão das Escolas ou Serviços. O curso de base deverá munir os futuros Técnicos de conhecimentos e competências gerais em todos esses domínios, sendo no entanto necessário realizar cursos de pós graduação em algumas áreas, para aquisição de competências complementares para o desempenho dessas funções.

De uma forma sintética podemos afirmar que a matriz teórica do Curso de Radiologia, à semelhança dos restantes cursos da área das Tecnologias da Saúde, pretende contribuir decisiva e positivamente para a legitimação da Técnica Radiológica enquanto profissão e disciplina científica.

Os alunos

Ao longo da sua história a formação dos Técnicos de Radiologia sofreu profundas alterações, tornando-se gradualmente mais exigente de forma a acompanhar a contínua evolução verificada na área, de modo a dotar os futuros profissionais do perfil de competências necessárias para o desempenho das suas funções. A par desta evolução na formação, verificou-se uma situação análoga na concepção do aluno do Curso de Radiologia.

Começaram por ser alunos com habilitações académicas muito baixas, os primeiros praticantes desta profissão. Só em 1938 surge o primeiro diploma a regulamentar o acesso à profissão de ajudante de Técnico de Radiologia e que exigia como condição para a admissão o Curso Geral de Enfermagem. Belo (2003: 35) citando Soares (1997) caracteriza os candidatos ao Curso Geral de

Enfermagem dessa época como pertencendo a classes como: “dactilógrafos, caixeiros e caixeiras, empregados da câmara municipal, alfaiates, vendedores ambulantes”. A mesma autora refere ainda que “quanto às habilitações literárias só a partir de 1918 passou a ser o exame de instrução primária e depois de 1947 generalizou-se o exame de admissão aos cursos”. Uma vez que os candidatos a Técnicos de Radiologia teriam de possuir o Curso Geral de Enfermagem, esta descrição serve de igual forma para caracterizar os seus alunos na época em questão.

Em 1961 com a criação dos Centros de Preparação de Técnicos e Auxiliares dos Serviços Clínicos do Ministério da Saúde e Assistência, deixou de ser necessário possuir o Curso Geral de Enfermagem. No entanto as habilitações literárias exigidas eram ainda muito baixas.

Com a criação das Escolas Técnicas dos Serviços de Saúde, estabelece-se como condições de acesso possuir o nono ano de escolaridade, passando o curso a ter uma duração mínima de cinco semestres, mas rapidamente a admissão dos candidatos se tornou mais exigente ficando a par dos requisitos para o ingresso no Ensino Superior.

Actualmente os candidatos ao Curso de Radiologia regem-se pelas regras de acesso ao Ensino Superior.

Fazendo uma analogia com o aluno do Curso de Enfermagem, podemos definir o aluno actual do Curso de Radiologia pelas palavras de Schmidt (1993,citado por Carvalhal, 2003: 37) como “um ser humano inteiro, com passado e um presente que lhe são próprios, bem como com a possibilidade de projectar-se futuramente em termos pessoais e profissionais”. Partilhamos da ideia expressa por Carvalhal (2003: 38) que socorrendo-se dos estudos de Barnard e Dunn (1994) caracteriza o estudante como alguém que é “auto-dirigido, auto-motivado construindo a nova aprendizagem sobre a experiência passada, sendo capaz de definir metas pessoais e alcançar o seu máximo potencial se lhe forem dadas oportunidades adequadas”.

Ao longo da sua história a educação clínica assumiu desde sempre um papel crucial na formação dos alunos do curso de Radiologia. Os Estágios Clínicos

constituem-se como espaços de aprendizagem onde o aluno tem a oportunidade de “viver” em contexto real, um conjunto de situações com que se irá deparar no seu exercício profissional. O facto de o fazerem sob a orientação de um profissional experiente e competente ajudá-los-á a transformar as experiências vividas em momentos significativos de aprendizagem. Com ele os alunos terão a oportunidade de reflectir sobre as actividades desenvolvidas e os contextos sociais inerentes ao local de estágio, permitindo-lhes adquirir competências imprescindíveis para enfrentar com sucesso a sua vida profissional. É ainda durante os estágios clínicos que os alunos têm a oportunidade de adquirirem uma visão profissional integrada da teoria com a prática clínica. O modelo de acompanhamento dos alunos em estágio terá uma importância decisiva no desenvolvimento do aluno, pelo que deve constituir matéria de reflexão por parte das Escolas e das Instituições de saúde envolvidas. Um acompanhamento inadequado dos alunos em estágio poderá por em causa os objectivos globais do próprio curso.