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CONTEXTO PESQUISADO: POR QUE O MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL-RS?

2 METODOLOGIA DE PESQUISA: O PROCESSO DE UMA INVESTIGAÇÃO

2.1 CONTEXTO PESQUISADO: POR QUE O MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL-RS?

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), como uma ação da política pública de governo, vem potencializando a Formação Continuada de professores do ciclo de alfabetização, em todos os estados brasileiros, desde o ano de 2013. Na metade norte do estado do Rio Grande do Sul (RS), a UFSM assumiu a responsabilidade de contribuir com a Formação Continuada de professores, via PNAIC. Na metade sul do RS, a Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) foi designada como a responsável pelo Programa, como ilustra a Figura 1.

Figura 1 – Divisão PNAIC-RS

Fonte: (UFPEL, 2013)

Na primeira formação do PNAIC/UFSM (2012/2013), os encontros presenciais de formação dos Orientadores de Estudo foram realizados na sede da cidade de Santa Maria-RS. A Coordenação do programa contou com a parceria de escolas estaduais e da própria UFSM, que cederam as suas estruturas físicas, para desenvolvermos as formações. Para a segunda

(2014/2015) e terceira etapa (2015), as formações foram realizadas em três municípios-polos do Rio Grande do Sul: Santa Maria (Sede), Santa Rosa e Caxias do Sul (Figura 2).

Figura 2 – Polos gestados pela UFSM

Fonte: Autora

O atendimento em polos de formação justificou-se pela falta de espaço físico no município sede e pelo estreitamento da distância física entre os envolvidos, principalmente os Orientadores de Estudo de municípios próximos aos polos. Assim, a partir da segunda formação acompanhei as formações do PNAIC no polo de Caxias do Sul, pois participo da equipe de gestão do trabalho desenvolvido pela UFSM, acompanhando o monitoramento no Simec das propostas de Formação Continuada de professores. Acompanhei todas as formações presenciais dos Orientadores de Estudo e Coordenadores Locais desenvolvidas neste polo, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), que foi colaboradora do programa.

Durante as formações do PNAIC, no polo de Caxias do Sul-RS (Figura 3), contávamos, diariamente com o apoio da Coordenadora Local do município, que convidou a equipe de Coordenação da UFSM para fazer uma visita à Secretaria Municipal de Educação (SMED). Nessa ocasião, nos mostrou as propostas de Formação Continuada do município e os materiais que vinham sendo desenvolvidos com os Professores Alfabetizadores

pertencentes ao Ciclo de Alfabetização, como material de apoio e avaliações diagnósticas, integradas ao PNAIC.

Figura 3 – Polo Caxias do Sul/2013

Da direita para a esquerda: Simone Cardoso de Quadros, Cinthia Cardona de Avila (Supervisoras) e Elizandra Aparecida Nascimento Gelocha (apoio à Coordenação).

Fonte: Autora.

Esta visita à SMED me possibilitou identificar o contexto da pesquisa analisado, pois senti o interesse e a necessidade de realizar uma amostragem do trabalho desenvolvido pela UFSM e, também, de compreender o trabalho que vinha sendo desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Caxias do Sul.

O município é o que tem maior número de Orientadores de Estudo e Professores Alfabetizadores vinculados ao programa e se destacava pela organização e desenvolvimento da Formação Continuada oferecida a seus professores. De acordo com os dados do Simec, o município possui 17 Orientadores de Estudo cadastrados e 323 Professores Alfabetizadores, vinculados diretamente ao PNAIC. Assim, nesta pesquisa, busquei compreender se o trabalho realizado pelo Coordenador Local tinha articulação com a proposta de Formação Continuada da Rede Municipal de Caxias do Sul-RS, pois haviam aderido ao Programa de Formação Continuada PNAIC. Em suma, analisei as ações propostas pelos Coordenadores Locais e impactos do PNAIC frente à realidade educacional do município.

A sistematização e a análise do que foi produzido sobre as ações de Formação Continuada do PNAIC é essencial para assegurarmos a importância da Formação Continuada

de Professores. Os dados do contexto histórico e político pesquisado afirmam que este direito não está garantido e que a formação contínua é condição essencial para a aprendizagem permanente, que contribui para os docentes [re]significarem as suas práticas educativas.

2.2 INSTRUMENTOS E SUJEITOS DE COLETA DE INFORMAÇÕES

O estudo de caso voltou o olhar para a Formação Continuada de Professores no Município de Caxias de Sul-RS, pois, no meu entendimento, este apresenta uma gestão participativa e procura garantir a Formação Continuada de seus professores. Os sujeitos alvo da pesquisa foram duas Coordenadoras Locais que atuaram no PNAIC nos anos de 2013, 2014/2015, 2015 do referido município. Ressalto que neste intervalo de tempo, ocorreram à troca de três Coordenadores Locais, sendo que um, que participou por um curto período, não respondeu ao aceite desta pesquisa. Também, iria realizar uma entrevista com a Secretária de Educação, mas não consegui marcar horário com ela, informo que, nos últimos meses, houve troca de Secretário de Educação. Como as entrevistas com as Coordenadoras Locais se deu no contexto da secretaria, e elas fazem parte da equipe de trabalho que organiza e supervisiona as ações de Formação Continuada no município, não insisti em marcar entrevista com o Secretário vigente.

Os dados coletados para análise e interpretação foram levantados pela pesquisadora considerando que, o Coordenador Local ocupa um lugar de fundamental importância no processo e desenvolvimento das ações propostas pelo PNAIC. Ele é o profissional responsável por toda a logística da formação, pelo cumprimento da carga horária entre os Orientadores de Estudo e Professores Alfabetizadores, pela interlocução entre o município e a Instituição de Ensino Superior formadora e pela articulação e aperfeiçoamento das ações pedagógicas no município, dentre outras funções (Simec, 2013/2014). A Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Caxias do Sul possui uma equipe responsável pela Formação Continuada de seus professores, a mesma parte do princípio que é de sua competência “[...] organizar, manter e desenvolver as políticas educacionais do município, integrando-se às políticas e planos educacionais da União e do Estado”.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi necessário fazer uma revisão da literatura existente para elaboração conceitual da trajetória histórica e política da Formação Continuada de professores. Essa fase foi fundamental para a construção do olhar teórico, pois me oportunizou conhecer, identificar, descrever e analisar as políticas educacionais voltadas para

a formação contínua, suas relações e implicações para o fortalecimento da qualidade educacional que tanto se almeja. Contextualizei a formação do PNAIC em nível nacional e em especial seu desenvolvimento na UFSM. Na sequência, procurei conhecer e compreender as ações que compõem o trabalho da equipe responsável pela Formação Continuada de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental na Secretaria Municipal de Educação de Caxias do Sul-RS. Também, busquei compreender se a Formação Continuada de professores desenvolvida pela SMED vem ao encontro dos objetivos propostos pelo PNAIC.

No procedimento da pesquisa com os sujeitos, utilizei como técnica principal de coleta de informações o questionário com perguntas abertas. Segundo Chizzotti (1991), o questionário consiste em um conjunto de questões pré-elaboradas, sequencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o objetivo de obter respostas verbais ou por escrito dos informantes sobre um assunto em relação ao qual eles saibam informar ou opinar. Assim, o questionário tornou-se um instrumento importante para o processo de obtenção dos dados, me ajudando a produzir respostas condizentes com a realidade investigada ou mais próximas dela.

Além do questionário, também utilizei a entrevista semiestruturada, uma vez que esta possibilitou a coleta de informações, a partir de conversa com a Coordenação Local do PNAIC, no ambiente da Secretaria Municipal de Educação. De acordo com Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada possibilita que o informante expresse suas ideias através do discurso oral ou escrito. Este instrumento permitiu respostas livres e espontâneas, já que possibilitou que as Coordenadoras Locais se sentissem estimuladas a contar sobre o seu trabalho, expondo, por exemplo, as facilidades e/ou dificuldades que encontram para efetivar as formações propostas. A entrevista possibilitou a coleta de informações pertinentes para alcançar o objeto de pesquisa, permitindo contato direto com os sujeitos investigados. Para Bauer e Gaskell (2011, p. 73):

Toda pesquisa com entrevista é um processo social, uma interação ou um empreendimento cooperativo, em que as palavras são o meio principal de troca. Não é apenas um processo de informação de mão única passando de um (o entrevistado) para outro (o entrevistador). Ao contrário, ele é uma interação, uma troca de ideias e de significados, em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas.

Desse modo, tanto o entrevistado como o entrevistador estão, de formas diferentes, envolvidos na produção de conhecimentos. Para Minayo (1994), a entrevista privilegia a

obtenção de informações através da fala individual, que é um porta-voz das representações de determinado grupo.

Para alcançar a análise que propus, adotei as seguintes práticas: apresentei o projeto de pesquisa para a equipe responsável pelo PNAIC na Secretaria Municipal de Educação de Caxias do Sul-RS; realizei a coleta de informações; apresentei, aos entrevistados, as sínteses sobre as informações narradas para o acompanhamento da pesquisa e posterior análise.

Para análise e interpretação dos dados coletados, utilizei como estratégia metodológica a análise de conteúdo, pois ela se integra na exploração qualitativa das informações e se constituiu como uma possibilidade para atingir os níveis de compreensão aos quais me propus a investigar. A análise de conteúdo se caracterizou como uma técnica importante para analisar a comunicação verbal e a comunicação não verbal. Bardin (2009) define a análise de conteúdo como conjunto de técnicas de análise das comunicações que visa obter a descrição do conteúdo emitido no processo de comunicação, seja por meio de falas ou de textos.

Para Oliveira(2008, p. 570) análise de conteúdo permite:

O acesso a diversos conteúdos, explícitos ou não, presentes em um texto, sejam eles expressos na axiologia subjacente ao texto analisado; implicação do contexto político nos discursos; exploração da moralidade de dada época; análise das representações sociais sobre determinado objeto; inconsciente coletivo em determinado tema; repertório semântico ou sintático de determinado grupo social ou profissional; análise da comunicação cotidiana seja ela verbal ou escrita, entre outros.

Assim, esta estratégia metodológica permitiu uma pré-análise na escolha de documentos, formulação de hipóteses, objetivos, índices e indicadores. Ao organizar a análise descrevi os caminhos da Formação Continuada de professores na Educação Básica, a partir da década de 80, 90 e início do século XXI, em que uma série de demandas discutiram e garantiram a Formação Continuada de professores por meio de políticas educacionais explicitadas em leis e programas, onde, destaco, o PNAIC. O estudo das políticas públicas e ações governamentais, possibilitou analisar os dados com mais clareza e segurança.

A análise de conteúdo foi conceituada, considerando a vertente teórica e a intencionalidade da pesquisadora em analisar as ações e impactos do PNAIC por meio da identificação objetiva e sistemática dos dados coletados. De acordo com Bardin (2009) para uma aplicabilidade coerente do método, a análise de conteúdo organiza-se em torno de três pólos: a pré-análise; a exploração do material; e, por fim, o tratamento dos resultados: inferência e interpretação. Na pré-análise, a análise de conteúdo objetiva a sistematização de

um plano inicial, ou seja, a construção de conhecimento, a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, também a formulação de hipóteses para a elaboração de indicadores para a interpretação final.

Assim, realizei a leitura e pré leitura do material transcrito, fazendo uma leitura vertical de cada item. A seguir, fiz uma análise horizontal, onde detive atenção, aos mesmos itens das entrevistas, realizando uma síntese do conteúdo. A partir deste levantamento, iniciei uma tessitura das práticas e dos saberes registrados, bem como das bibliografias a respeito do tema. Esta possibilitou a seguinte dimensão: trabalho docente compartilhado, formação e avaliação.

A categoria permitiu a percepção e compreensão do Programa PNAIC em nível nacional, e também, realizar um olhar no desenvolvimento do mesmo na UFSM, e especificamente compreender as ações constituídas e impactos enfrentados pelos sujeitos pesquisados em relação à Formação Continuada no município de Caxias do Sul. Para Bardin (2009, p. 51), “[...] a análise de conteúdo se faz pela prática” e utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

3 POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: