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Contexto Populacional

No documento Reabilitação (páginas 44-54)

1. Contextualização do Objecto de Estudo

1.2. Contexto Populacional

A investigação que se apresenta, acerca da temática do espaço doméstico, envolve necessariamente uma reflexão, ainda que de carácter muito generalista, sobre a sua população residente, tendo em conta que a família e o indivíduo são os principais protagonistas da casa.

O seguinte capítulo expõe considerações de abordagem às famílias pertencentes à classe social emergente da burguesia, que habita o espaço doméstico lisboeta, na viragem dos século XIX para o século XX (1880-1930) e posteriormente durante século XXI (2001-2013), em que se optou por não considerar o período de tempo ocorrido entre os dois eventos (1930-2000), pela especificidade e singularidade sociais vividas durante a época do Estado Novo e anos seguintes de estabilização social.

1.2.1. A FAMÍLIA DO FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

A família, enquanto peça-chave da estrutura global da sociedade, é entendida nesta época, e à semelhança das outras cultura ocidentais, como uma garantia de ordem e de autoridade. A família “conjugal” corresponde durante muito tempo, no espaço, a uma unidade de habitação, e do ponto de vista social, a uma unidade de autoridade, a do “senhor da casa” ou chefe de família.

Fig.1: Fotografia de uma família burguesa do princípio do século XX em Portugal. In Portugal 1900, Catálogo e Exposição realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, 2000

Nesta tónica, considera-se os agregados familiares urbanos inseridos no âmbito do campo de estudo, as família nucleares constituídas pelo “senhor”, chefe e sustentador material da família, a “senhora” encarregue do lar e os filhos. As família são estáticas, consideradas como um refúgio, uma garantia de estabilidade ou de ordem social em que o casamento é reconhecido como um contracto civil e o divórcio é autorizado em 1910 não sendo, no entanto, considerado numa sociedade de “bom-tom” (Lima dos Santos, 1983).

1.2.1.1. O AGREGADO FAMILIAR CONJUGAL

No decurso do século XIX, e durante o processo de industrialização, a família deixa de se constituir como unidade de produção, para ser entendida como uma unidade de reprodução e de consumo. Como tal, a divisão do trabalho passa a ser feita conforme o fundamento biológico da ordem sexual, em que os elementos do sexo masculino, detentores de inteligência e capacidade de decisão, integram a vida profissional e produtiva na esfera pública, enquanto os elementos femininos, possuidores de uma grande sensibilidade, gerem a esfera privada do lar.

O homem, provedor material da família, garante o sustento do seu núcleo familiar através da prática profissional honrada. O zelo pelo trabalho foi uma das características diferenciadoras desta classe em relação à nobreza, em que a actividade profissional era reconhecida e encarada como fundamento da ética da burguesia ascendente. À “senhora-esposa-mãe-dona de casa” compete a manutenção do bem-estar interno do agregado, em que é o arquétipo da feminilidade (Vaquinhas e Guimarães, 2011 in “História da Vida Privada em Portugal – A Época Contemporânea”) e pilar espiritual da família garantindo o cuidado afectivo dos filhos.

Fig. 2: A fotografia «Madame Josefina Salazar e os seus filhos» exalta o amor maternal e a afectividade como característica feminina. In Illustração Portugueza, 1914

A sua posição social dispensa-a das tarefas manuais, mas incumbe-a da ocupação e zelo pelos mais íntimos detalhes: dirigir os criados, velar pela moralidade destes e, acima de tudo, garantir que os bens materiais da casa estão sempre em condições e apresentáveis.

1.2.1.2. OS PAIS

Neste fim de século, o XIX, a burguesia preza a intensidade das relações de família.

Os “Manuais de Civilidade” editados em Portugal no século XIX destacam as personagens parentais do “santuário da família”, na medida em que “o pai é justo, recto, probo; vela pela segurança dos filhos, desviando-os dos pergos do mundo, instrui-os. A mãe é meiga e paciente; priva-se de alimento, de distracções e de sono para «prodigializar aos filhos mil cuidados e as mais ternas carícias»”. A educação dos filhos afigura-se como o dever e direito primordial dos pais, após passados os primeiros anos de destaque que competem à mãe, os pais “devem não só dar aos filhos o alimento físico, mas o moral, que é a educação; porque um pai deve ser para a sua família uma segunda Providência”. A actuação do casal é o exemplo que os filhos devem seguir, através da sua delicadeza, vestuário e linguagem introduzindo neles a moral e a religião a seguir.

1.2.1.3. OS FILHOS

No quadro familiar, cabe aos filhos adoptar o comportamento dos pais, às filhas imitarem a conduta da mãe, e aos irmãos, ajudarem-se e protegerem-se reciprocamente.

É nesta sociedade burguesa, que a criança deixa de ser posta a trabalhar com os mais velhos, desde que “fisicamente apta”. Estas são remetidas para o interior familiar feminino, repleto de afectos e resguardado dos olhares exteriores.

1.2.1.4. O PESSOAL DOMÉSTICO

O último patamar hierárquico em que se encontram os criados, é relatado nos manuais de civilidade em que “os criados são inferiores que temos o dever de tratar com humanidade, não só porque «assim o manda a religião, a moral e a civilização». O distanciamento entre amos e criados é desejável e incitado, sobretudo porque “Para amos e criados, precisamente porque habitam o mesmo espaço material, há que demarcar com cuidado as distâncias, no espaço

que vivem do trabalho manual”. O pessoal doméstico, como via de aquisição de maior comodidade e eficácia nos actos das tarefas próprias à rotina familiar diária, apresenta-se como um dos pilares da vida quotidiana (Eleb e Blanchard, 1995) que está ainda no início de um processo de industrialização. A sofisticação dos rituais diários íntimos e sociais celebrados pelo agregado familiar doméstico fundamenta a exigência da presença dos criados em permanência na casa (termo utilizado na altura que caiu posteriormente em desuso), que sustentam a base de todo o aparato.

1.2.1.5. O ESPAÇO DOMÉSTICO FAMILIAR

O século XIX é considerado o século de ouro da vida privada (Vaquinhas, 2011 in “História da Vida Privada em Portugal – A Época Contemporânea”). Em oposição à grande maioria da população que reside em habitações modestas “húmidas e lôbregas sem ar e sem luz” de uma única e diminuta divisão partilhada por famílias completas, a burguesia almeja a intimidade nas suas habitações exigindo condições de alojamento e organização do espaço interior doméstico adaptado aos diversos momentos diários.

A unidade da família, que se fecha sobre si própria, aprecia o conforto doméstico no aconchego do seu lar de ambiente intimista e sinónimo de felicidade. O extracto social burguês, inspirado na corrente cultural e artística românticas, associa a casa a um lugar por excelência de expressão de sentimentos, da materialização dos afectos e a base da felicidade individual em oposição à vida pública, necessariamente controlada pela razão. Este aumento da consciência individual e familiar (entendido por alguns autores como consequência das formulações políticas da oposição entre o Estado e a sociedade, da qual resulta a separação das esferas pública e privada) conduz à modificação do interior das casas criando a delimitação de áreas reservadas (para os criados, quartos de dormir para o casal e para os filhos, espaços destinados à higiene pessoal, escadas de serviço) que promovem o quotidiano vivido em intimidade e presenciado apenas por alguns.

O espaço doméstico familiar burguês pauta-se pela especificidade funcional dos seus compartimentos. Se no século anterior, a “grande casa” era percorrida através de todas as salas por criados e numerosos visitantes, em que se dormia, comia, recebia e dançava nas mesmas divisões, a habitação burguesa da viragem do século XIX para o século XX regra-se pelos seus espaços especializados apetrechados com mobiliário adequado a cada fim. São criados compartimentos que acolhem as actividades diárias relativas ao sono, à alimentação, à higiene, à arrumação e manutenção da casa e à socialização.

1.2.1.6. A HIGIENE

Os preceitos de higiene ocupam um lugar de destaque na mentalidade burguesa da época em estudo, na medida em que esta é valorizada, não só na perspectiva da conservação da saúde e realce da beleza, como pela sua importância como exercício de aplicação virtuosa em que se anseia exibir indumentárias cuidadas e moderadas a par do mais esmerado asseio (“devemos acostumar-nos a estar em casa vestidos de modo que possamos prontamente sair à rua e receber decentemente alguém que venha falar-nos”). O banho frequente no quotidiano afirma-se nesta época como uma das mudanças nos hábitos de higiene da sociedade. A preocupação de limpeza patente estende-se também às habitações, e “a tudo, finalmente, que é do nosso uso”.

1.2.1.7. O TRABALHO E O LAZER

O tempo de ócio coexiste na ideologia burguesa, em alternância com o tempo de negócio. O consumo sumptuário ligado ao ócio surge, como uma das formas de a burguesia se diferenciar relativamente às outras classes que não lhe têm acesso. As formas adoptadas para o consumo do tempo livre são herdadas das gerações anteriores, como “distracção do espírito”, protagonizadas não só por bailes, jogos, soirées musicais, etc., mas também por visitas, jantares, festas e reuniões praticadas em casa.

A casa é o local de preferência para a realização das reuniões de carácter social burguês. Nas visitas, nos jantares, nas recepções ou nas soirées, deve-se “receber com grandeza”. Os Manuais de Civilidade referem os preceitos de estar e servir à mesa, as horas e as toilettes adequadas a estes eventos que servem de pretexto à ostentação da fortuna dos anfitriões. Finalizada a refeição, passa-se para o salão, em que se ocupa o serão a jogar ou a contemplar álbuns e colecções organizadas pelos donos da casa acompanhado pelo canto ao piano por parte das meninas.

As actividades de lazer também se descriminam pelo sexo, em que a mulher demonstra luxo e ociosidade em nome do marido, e o homem mostra a sua importância pelo luxo da mulher e da casa. Este só se permite “conceder ao divertimento” por breves horas quando não está ocupado com os seus negócios. A leitura dos homens centra-se no consumo de jornais, como forma de participação na vida pública, enquanto as “senhoras” se concentram nas revistas apolíticas.

1.2.1.8. AS REFEIÇÕES

O momento de reunião familiar burguesa à refeição tomada em casa, em ambiente intimista e protegido da intrusão alheia, apoiado pelos formalismos relativos aos criados é descrito como a imagem emblemática ilustrativa da vida familiar privada oitocentista em Portugal.

1.2.2. A FAMÍLIA DO SÉCULO XXI

Discorrer sobre a família do século XXI sem introduzir as mudanças ocorridas na contemporaneidade seria insatisfatório. À semelhança do que se passa nas outras sociedades ocidentais, a realidade da democratização política e social do país, a massificação do acesso ao ensino, a terciarização da economia e a feminização da população activa são realidades actuais incontornáveis na democratização, diversificação e informalização da família. A família relacional, que assenta na realização afectiva individual, substitui a família institucional e heterogeneiza os modelos de socialização e de “estar na vida”. Busca-se a autonomia individual, em que cabe ao indivíduo a sistematização e hierarquização dos seus valores próprios enquanto referências de costumes individuais.

A compilação de regras que constava nos manuais de civilidade, enquanto manuais pertinentes na conduta social das famílias do século passado, desenquadram-se das estruturas familiares actuais. De facto, no decorrer das últimas décadas do século XX e início do século XXI, a família mudou. A sua concepção estática de outrora, embora mantendo a sua importância e vigor , afigura-se actualmente como uma identidade transformada. A determinada “imagem” de pai, mãe ou filho já não corresponde à mesma expectativa de comportamento.

1.2.2.1. O AGREGADO FAMILIAR

A “despadronização” (Aboim e Wall, 2002 citado por Barros, 2009) familiar da pós- modernidade vem dar lugar à formação de novos modelos familiares divergentes da família

tradicional, tais como pessoas vivendo sós, famílias monoparentais, casais sem filhos, casais formados por indivíduos de sexo diferente, ou do mesmo sexo, casais com filhos que não descendem dos mesmos pais ou ainda famílias de versão contemporânea do modelo tradicional, em que se verifica uma redução do poder patriarcal e um incremento do sentido de independência individual, intrínseco a cada membro do agregado.

As formas de união de casais mudam, na medida em que, ainda que a união consensual entre marido e mulher -registo religioso ou civil- predomine, a união de facto cresce nas últimas décadas, dando lugar a que os filhos adiem não só o casamento, mas a decisão de deixar a casa dos pais até que atinjam a estabilidade financeira. A sociedade ajustada às novas realidades, reduz a pressão sobre o casamento formal, e os “adultos jovens” (Barreto, 2002) tendem a unir-se informalmente e por pouco tempo, evitando a procriação, e permanecendo na “cultura de solteiros” durante toda a vida.

Outro fenómeno de relevo, é o crescente número de pessoas que vivem sós, associado a diversos factores, entre eles o aumento do número de divórcios. Esta realidade atinge essencialmente as populações femininas, pelo facto de se verificar uma maior esperança de vida entre as mulheres (segundo dados do INE) aliado à tendência que se regista nos homens que voltam a casar em menor espaço de tempo.

1.2.2.2. OS PAIS

A referida democratização social ocorre também no seio do casal. A mulher e o homem adquirem funções equivalentes nos campos familiar, profissional e político. Esta igualdade, cada vez mais evidente entre os sexos não se constitui, no entanto, como uma uniformidade total dos papéis sociais.

Actualmente, as mulheres tomam um papel mais activo, em que já não ficam em casa a tomar conta dos filhos, e são instruídas, trabalham e têm uma carreira, acumulando as funções de mãe, dona de casa e profissional. A profissionalização da mulher, não só por coacção económica, mas também por interesse próprio e pelo desejo de participação mais activa na vida social, acarreta alterações profundas provocadas pela redução do tempo desta dentro das habitações para além da diminuição do papel activo de mãe na educação dos filhos.

A libertação “das maternidades sucessivas” introduzida pela procura por métodos contraceptivos, sobretudo por parte da mulher a partir da década de setenta do século

passado, provoca uma descida drástica da taxa de fecundidade que se reflecte nas estruturas familiares com menor número de filhos, também fruto de uma mudança de mentalidades.

Em sintonia com a alteração do papel da mulher, o homem tem agora uma participação maior e mais participativa nos trabalhos domésticos. É-lhe também solicitado um papel presente de pai junto dos filhos mesmo em tenra idade em que a presença paternal se revela essencial.

É importante salientar a evolução latente no casal do século XXI: a relação entre marido e mulher é alicerçada sobre o amor recíproco. O direito à igualdade por parte das mulheres fez com que, estas deixassem de se subordinar à autoridade do chefe de família e passassem a associar a felicidade à vida a dois.

1.2.2.3. OS FILHOS

Atribui-se actualmente um maior protagonismo aos filhos.

As crianças são encaradas como tal, em que se lhes atribui uma personalidade característica da sua idade e sexo. O abandono da figura de “pessoas grandes inacabadas” (Henri e Lauwe, 1950) que surge na burguesia do seculo XIX evidencia-se actualmente em que esta é considerada um ser de características singulares que os adultos devem amar e proteger.

Os adolescentes e jovens constituem-se como grupo social, evocador de uma identidade e de um estilo de vida identitários, que usufruem de tempo e espaço exclusivos, para além do convívio entre os seus elementos sem pertencerem à lógica do trabalho produtivo.

1.2.2.4. O PESSOAL DOMÉSTICO

Os avanços tecnológicos produzem equipamentos que libertam progressivamente a mulher de diversos trabalhos domésticos, abrindo caminho para o desempenho de outras actividades.

A evolução e o aparecimentos dos electrodomésticos vem facilitar e encurtar o tempo que as tarefas de manutenção e limpeza da casa requerem. O pessoal doméstico (tendo caído em desuso o termo “criados”) deixa de viver e trabalhar em permanência no interior das habitações, sendo o modelo comumente adoptado pelas famílias, ou não, o do recurso a uma empregada doméstica, que se desloca a casa em dias específicos da semana, para executar a limpeza e manutenção do espaço doméstico.

1.2.2.5. O ESPAÇO DOMÉSTICO FAMILIAR

A par do aumento de permanência nas habitações verifica-se, no entanto, a redução do convívio entre os membros do grupo familiar: “(…) a individualização do entretenimento doméstico alterou os padrões de sociabilidade familiar, tendo o contacto pessoal perdido espaço, e a comunicação entre os indivíduos passado a dar-se de forma indirecta. Observa-se, por exemplo, o fim da congregação da família nos horários das refeições, ou a prática do conceito de televisão pessoal, pulverizada nos quartos.” (Wall, 2003 citado por Barros, 2009). A Fundação Europeia para a Melhoria da Qualidade de Vida e Ambiente de Trabalho salienta a criação do modelo de carácter individualista que se estabelece nos membros do agregado doméstico contemporâneo, como consequência dos factos supracitados. Segundo o qual, a “nova casa electrónica” favorece a organização individual do espaço e tempo por parte de cada elemento constituinte da família: a televisão, enquanto entretenimento das crianças, que liberta os adultos para a realização de outras tarefas e a utilização de equipamentos como o micro-ondas (que permite o consumo de comida pré-confeccionada individualmente) que proporciona a realização das refeições conforme a disponibilidade de cada indivíduo são disso exemplos.

1.2.2.6. A HIGIENE

A higiene quotidiana actual apresenta-se na continuidade das preocupações de saúde e imagem anteriores. É um acto diário enraizado e transversal nos costumes dos portugueses.

1.2.2.7. O TRABALHO E O LAZER

A grande euforia consumista, justificada pelo aumento de poder aquisitivo dos portugueses, aliado à evolução tecnológica, traduz-se actualmente na criação e implementação das condições materiais presentes nos lares portugueses. A introdução, e posterior invasão e banalização, dos electrodomésticos nos espaços habitacionais, faz com que a esmagadora maioria das casas possua televisão a cores, e grande parte disponha de telefone, máquina de lavar roupa e microondas. Há ainda uma faixa populacional que detém automóvel, arca congeladora ou computador pessoal e telemóvel. É ainda notório a ligação das televisões por antena parabólica, por cabo e a ligação do computador à internet. A facilidade concedida à

aparelhos de som de alta-fidelidade, leitores de CD, impressoras, consolas de vídeo-jogos, máquinas fotográficas digitais, etc. A revolução tecnológica patente na sociedade provoca o estabelecimento de novos hábitos contemporâneos instalados no quotidiano doméstico. Os novos media, como a televisão, telemóvel e internet, potencializam a introdução nas casas actuais, do “funcionamento à distância” numa “urbe virtual” em que reuniões, encontros e compras podem agora ser efectuados a partir de casa, dispensando os espaços concretos para essas actividades. Estas práticas relacionadas com os novos equipamentos vêm sobrepôr-se às funções tradicionalmente atribuídas a cada compartimento da habitação. As facilidades de comunicação à distância, faz com que “isolar” passe a significar “estar” em contacto com o mundo (Virilio, 1993 citado por Barros, 2009) em ambientes virtuais individuais, independentemente do espaço em que o indivíduo se encontre desde que possua um computador ligado à internet. A utilização do computador pessoal introduz no ambiente doméstico um novo equipamento de lazer para além de uma ferramenta de trabalho que promove a realização de tarefas por meio virtual como o teletrabalho, ou o entretenimento electrónico.

Assim, e em reacção ao stress e agitação diária das cidades, verifica-se a tendência, essencialmente registada nos grandes centros urbanos, de regressão ao ambiente doméstico de conforto, intimidade e segurança em que se desloca o trabalho e o lazer para o interior das habitações, substituindo aquilo que foi outrora a diversão de rua.

1.2.2.8. AS REFEIÇÕES

O momento das refeições, fruto da sobrecarga quotidiana actual, é adaptado aos novos horários de trabalho. O pequeno-almoço faz-se isoladamente, conforme a rotina profissional de cada elemento, o almoço “desapareceu, dando espaço ao hábito de comer aos poucos durante períodos prolongados” (Fernandéz-Arnesto, 2002 citado por Barros, 2009), ou é feito individualmente junto ao local de trabalho, e o jantar mantém-se ainda como a refeição tida em família perdendo, no entanto, o carácter de reunião formal do século anterior.

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