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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2. Apresentação: caracterização da investigação

2.3. Contexto e sujeitos da investigação

Esta investigação realiza-se na cidade de Camaçari, localizada na região metropolitana de Salvador, capital do estado da Bahia. Territorialmente, o município é composto pela zona urbana, costa marítima e pela zona rural e apresentando a maior extensão territorial da região metropolitana.

Integra um Polo Industrial, instalado desde 1978, com empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade6. Entre 2000 e 2004, Camaçari experimentou um grande crescimento populacional com a ampliação do Polo Petroquímico e a implantação do Polo Automotivo, além da abertura de inúmeras empresas fora desses polos, sem que houvesse um preparo na infraestrutura urbana para essa nova fase de expansão industrial7 (Memorial da Educação Infantil, 2013-2016). Este movimento econômico atraiu um grande número de trabalhadores oriundos de outras cidades baianas, como também de outros estados e de fora do país, a maioria com esperança e expectativa de melhoria de vida.

Conforme dados do IBGE 20198, Camaçari ocupava a segunda posição no ranking entre as cidades mais ricas do Estado em relação ao PIB – Produto Interno Bruto. No entanto, o desenvolvimento socioeconômico da população, a qualidade dos serviços essenciais e a educação oferecida aos munícipes não condiz com a realidade econômica local. Há um contrassenso em relação à renda gerada no

6 Fonte: www.coficpolo.com.br/pagina.php?p=39

7 Fonte: Memorial da Gestão da Educação Infantil de Camaçari - por uma transição republicana: 2013-2016. Realizado pelo Instituto C&A com parceria técnica da Avante e da equipe técnica da Educação Infantil de Camaçari. Este material teve como base o documento Memorial da Gestão da Educação Municipal – construindo uma transição republicana no Brasil, publicado pelo MEC/UNICEF 2008 e a ferramenta Memorial da Gestão Municipal que integra o site do Conviva Educação.

município e o serviço disponibilizado à comunidade. Essa ascensão econômica impacta direta e indiretamente na educação oferecida às crianças, aos jovens e aos adultos, pois, sabe-se que o crescimento econômico nem sempre anuncia a melhoria na qualidade de vida da população. Pelo contrário, em Camaçari o crescimento econômico, associado às outras circunstâncias, intensificou os problemas sociais. Houve um acréscimo no número de famílias com baixos salários ou sem expectativa de trabalho formal com carteira assinada. As famílias das crianças atendidas na escola que serviu de campo para coleta de dados, por exemplo, são de baixa renda – 67% delas possui, em sua composição, trabalhadores informais, com renda familiar inferior a dois salários mínimos (dados fornecidos pela escola).

Justapondo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que integrou a Educação Infantil ao serviço educacional, com o crescimento populacional, o qual incidiu na ampliação da procura por escolas, exigiu-se do poder público o aumento do número de vagas nas unidades escolares, mesmo exigiu-sem as devidas condições para o funcionamento efetivo. Esta evolução, quanto a ampliação no número de vagas, destina-se às crianças de quatro e cinco anos de idade, como cumprimento da Meta n.º 1 do Plano Nacional de Educação em vigência. A mesma, correspondente ao decênio de 2014 a 2024, que estabelece a universalização do atendimento da pré-escola. Entretanto, no que se refere ao atendimento às crianças de zero a três anos, o município precisa potencializar esforços para atender às necessidades da população e garantir a efetivação das metas do PNE, como podemos constatar na descrição da Meta n.º1.

Universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50%

(cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2015, p. 21).

Atualmente, a Educação Infantil municipal de Camaçari é ofertada em 17 (dezessete) CIEI – Centro Integrado de Educação Infantil; em 30 (trinta) escolas de Ensino Fundamental que atendem turmas de Educação Infantil e em 13 (treze) Instituições Comunitárias que prestam serviço à Secretaria de Educação por meio de convênio.

Nestes espaços estão distribuídos 285 (duzentos e oitenta e cinco) professores, sendo 190 (cento e noventa) nas escolas da Rede Municipal e 95 (noventa e cinco) na Rede Comunitária (dados fornecidos pelo Diretoria Pedagógica da Secretaria de Educação de Camaçari).

2.3.1. Caracterização do contexto

Escolhemos inicialmente, dois contextos escolares para recolhimento dos dados que compõem a amostra para a investigação. Nas duas escolas, seriam realizadas as entrevistas com os professores, e em uma delas, as observações. Uma delas, situada na zona urbana e outra na costa marítima do Município. A seleção dessas unidades escolares justifica-se primeiro, por ambas já terem sido referências em outras experiências exitosas condizentes ao desenvolvimento do currículo da Educação Infantil vigente. Segundo, em função da equipe gestora declarar, durante contatos preliminares, que a proposta pedagógica da unidade escolar está fundamentada nos princípios expressos na Base Nacional Comum Curricular. No entanto, durante a conversa com as gestões destas unidades, para alinhamento sobre a aplicação das entrevistas com os professores, no início do ano letivo do corrente ano, a realidade mostrou-se um tanto quanto diferente do que foi referido no período dos primeiros contatos estabelecidos.

Em uma das escolas, a gestora voltou atrás na autorização da investigação, justificou que a rotatividade de professores na escola durante o ano letivo de 2021 em conjunto com o período em que a escola ficou fechada por causa da pandemia da COVID-19, fez com que a proposta embasada na BNCC

“perdesse a consistência”, sendo necessário um tempo para que os princípios, antes alicerçados, fossem reconstruídos. Na segunda escola, também ocorreram mudanças no quadro de professores devido ao término do contrato de serviço de algumas profissionais. Contudo, em virtude de a coordenadora pedagógica sustentar a garantia da organização do currículo em “campos de experiências”, apesar das mudanças e do fato da coordenação pedagógica, por meio da pessoa designada pela escola para recepcionar a pesquisadora, se mostrar aberta, acolhedora à proposta, optamos em continuar com a investigação neste contexto para coleta de dados por meio de parte das entrevistas e das observações das práticas pedagógicas.

Após esses primeiros percalços, foi marcada uma reunião com a coordenação da escola para apresentação do projeto de investigação. Na oportunidade, a coordenação solicitou uma contrapartida como contribuição para o desenvolvimento do currículo escolar, firmando-se a realização de uma formação em lócus com as professoras sobre um tema em evidência na escola, após o período de distanciamento social, provocado pela pandemia da COVID-19: “Experiências envolvendo as emoções das crianças”.

Neste mesmo momento, marcou-se uma visita com a escola para apresentação formal da proposta da investigação (entrevistas e observações) ao corpo docente. Nessa visita realizou-se o convite individual às professoras para participação nas entrevistas, deixando clara a autonomia para escolher

participar, ou não, da ação. As professoras demostraram interesse em participar, mas expressaram a preocupação em não saber responder às perguntas, em “responder certo”. Essa inquietação foi amenizada quando lhes foi informado o objetivo e perceberam que o eixo da investigação relaciona-se com as suas perspectivas sobre o currículo organizado em “campos de experiências” e que, por isso, não haveria essa dicotomização de respostas certas ou erradas.

Na oportunidade, as professoras também foram consultadas quanto à sua autorização e disponibilidade para a entrada da investigadora em suas respectivas salas de referência para observação das práticas. Inicialmente demostraram receio e insegurança, mas aceitaram o “desafio” – nome dado por todas elas ao fato de se colocarem à disposição para serem objeto de estudo.

Após isso, as entrevistas foram agendadas inicialmente mediante a disponibilidade de tempo da escola, ficando marcadas para um dia em que as professoras estariam em planejamento pedagógico.

Porém, com o intuito das professoras se sentirem o mais confortável possível para falarem, as mesmas foram consultadas via WhatsApp, sobre a possibilidade de a entrevista ocorrer em outro momento e em algum espaço fora da escola, se assim desejassem. Uma delas optou por conversar em um outro local e em outra data, antes do dia agendado na escola. As demais escolheram permanecer no dia marcado pela coordenação.

Diante do que já expusemos acima, precisamos refletir sobre o ponto da situação e concluímos a importância de diversificarmos a escuta das professoras para que se tenha um panorama mais abrangente e o mais fidedigno à realidade. Daí, buscamos outro contexto, que está situado na zona urbana, onde foram realizadas as demais entrevistas.

Para a realização das entrevistas com as professoras, elaborou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), contendo informações sobre a pesquisa, dados da investigadora, a finalidade do estudo, esclarecimentos quanto à garantia do anonimato, da liberdade em querer ou não participar da investigação e assinatura do termo, sendo entregue uma cópia no momento da entrevista.

E para a entrada no campo para realização das observações, também se criou um Termo de Autorização assinado pela gestora da escola.

2.3.2. Caracterização dos sujeitos

Quanto à escolha das professoras9 para participação nas entrevistas. Selecionamos 7 (sete) que contribuíram para a amostragem dessa investigação, por meio da entrevista semiestruturada. Dessas, 4

9 A palavra “professora/s” será utilizada neste texto toda vez que nos referirmos aos sujeitos da investigação, visto que todas as participantes na investigação são do sexo feminino.

(quatro) atuam numa escola e 3 (três) professoras em outra escola, selecionadas por conveniência pelo fato de apresentarem uma prática aproximada dos conceitos estabelecidos na BNCC.

Dentre as sete professoras, três atuam há mais de vinte anos na primeira etapa da educação básica e duas têm mais de dez anos de docência na Educação Infantil. Uma delas iniciou sua experiência profissional oficialmente como professora há dois anos, e outra está começando sua carreira como professora. No período da entrevista, havia apenas três meses que ela atuava oficialmente como professora. Segundo declarações cedidas nas entrevistas, essas duas últimas, antes, eram estagiárias, auxiliando professoras em escolas comunitárias com convênio com Secretaria de Educação. O termo estagiária é usado para as estudantes de pedagogia, sendo que legalmente não podem exercer o papel de professora e atuam como assistentes das professoras nas salas de aula.

As idades das professoras entrevistadas, compreende a faixa etária de 30 a 57 anos de idade.

No que se refere ao tempo de serviço, existe uma larga diferença que vai de 3 meses a 33 anos de atuação profissional, divididos em espaços da esfera privada, comunitária e pública. Significa que, nessa investigação a amostragem abrange professora recém-formada, em início de carreira, na fase intermediária e professoras em processo de finalização da mesma (Gráfico 01).

Gráfico 01 – Amostragem das professoras entrevistadas por idade e tempo de serviço na Educação Infantil.

Fonte: dados coletados nas entrevistas semiestruturadas.

Ao relacionarmos o tempo de serviço na Educação Infantil com a formação acadêmica, conclui-se que as professoras em faconclui-se inicial da carreira começaram sua trajetória profissional, neste conclui-segmento, ainda durante a graduação, enquanto trabalhavam como estagiárias em instituições comunitárias e particulares. Das sete professoras escolhidas para amostragem deste estudo, duas são graduadas e têm menos de 3 anos de atuação como professoras. As demais têm de 14 a 33 anos de serviço, quatro são

0 10 20 30 40 50 60

P I P II P III P IV P V P VI P VII

Distribuição das professoras por idade e tempo de serviço na Educação Infantil Idade Tempo de serviço

pós-graduadas e uma estudante de mestrado.

Quanto à formação acadêmica, as professoras compõem o seguinte cenário representado pelo Gráfico 02.

Gráfico 02 – Amostragem das professoras entrevistadas por formação académica.

Fonte: dados coletados nas entrevistas semiestruturadas.

No que se refere a outras atuações desempenhadas pelas professoras, três delas já foram coordenadoras pedagógicas em espaços escolares, uma já atuou como gestora, e três já trabalharam em instituições onde participavam de formações em lócus com princípios baseados no currículo de Reggio Emília.