• Nenhum resultado encontrado

Contextualização da Realidade de cada Organização

No documento TESE FINAL Patricia Pacheco (páginas 51-56)

3. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1. Contextualização da Realidade de cada Organização

No sentido de melhor se compreender o contexto sociocultural de cada organização, bem como a sua tipologia e dimensões, apresenta-se a caraterização das mesmas. Esta é resultante dos dados colhidos durante a análise de documental (Anexo VIII, IX, X e XI), tendo sido confrontados com a realidade observada durante a estadia no terreno e, por vezes, esclarecidos pelas entrevistas. As fontes da análise documental são documentos publicados e, na sua maioria, não publicados, do website, vídeos e relatórios de cada organização.

3.1.1. ONG Mar Thoma Child Development Center

Mar Thoma Child Development Center é uma ONG criada em Abril de 2000, durante o Ano Jubilar da Igreja Mar Thoma de Calcutá. Igreja que se reconhece como cristã tem como divisa “Iluminados para iluminar”, pelo que procuram “comunicar o amor e a compaixão do nosso Senhor Jesus aos menos privilegiados de um modo eficaz. Nós somos iluminados para brilhar na escuridão” (Anexo VIII). Deseja alcançar as áreas negligenciadas de Calcutá, no nordeste indiano,

34 | P á g i n a

como a população da vila de Jagaddal, que fica a cerca de 25km do centro da cidade. A população- alvo da ONG está circunscrita a cerca de 317 crianças e 254 mulheres e respetivas famílias, num total de cerca de 571 beneficiários diretos (dados referentes a Março de 2011, gentilmente, fornecidos pelo assistente social da MTCDC.) As atividades de sustento para pessoas com idade superior a 18 anos são maioritariamente o trabalho em fábrica para os homens e o trabalho doméstico para as mulheres. Podendo qualquer um trabalhar em aviários ou como vendedor. No que diz respeito aos problemas da comunidade, foram expressos problemas socioeconómicos, onde o emprego e o baixo rendimento tornam difícil o sustento contínuo a longo prazo. No âmbito da área da saúde, as doenças sazonais como a tosse e a febre eram as mais frequentes, enquanto a icterícia, o sarampo, a diarreia, infeções ORS, febre viral, TB e anemia eram as doenças que mais afetavam as crianças. O baixo nível de escolaridade era também apontado como um problema expresso. Estes problemas eram coincidentes com os identificados pelos responsáveis, à exceção dos problemas de ordem espiritual apontados pela organização.

Num trabalho em parceria com a Compassion East India, ONG que apoia projetos locais dirigidos a crianças, a MTCDC tem desenvolvido um trabalho próximo de centenas, tendo como propósito contribuir para o seu desenvolvimento enquanto cidadãos. O seu compromisso de missão é servir os mais pobres, sem qualquer barreira social, com uma preferência especial pelas crianças, libertando-as de um ciclo de pobreza, ignorância e negligência. Aspirando a um desenvolvimento comunitário centrado nas crianças, a MTCDC implementa esforços dirigidos ao desenvolvimento espiritual, cognitivo, socio-emocional e físico, consideradas as quatro principais áreas de intervenção

No Centro Mar Thoma convivem pacificamente crianças e adultos de diferentes religiões. Partindo do universo das 317 crianças, observa-se que 49% (N=154) assume-se como Hindu, 41% (N=130) como Muçulmana e apenas 10% (N=33) Cristã. A distribuição da religião das famílias acompanhadas pelo CPS é bipartida, entre os 56% (N=28) das famílias que afirma ser Muçulmana e 44% (N=22) Hindu. É de registar que 72% (N=36) das famílias eram constituídas por 4 a 6 elementos (dos quais faziam parte os pais, filhos e avós), 12% (N=6) por 3 elementos e16% (N=8) por 7 elementos no agregado familiar.(Anexo VIII)

3.1.2. OBC Auroville

Auroville foi fundada em 1968, próximo de Pondicherry, no Estado de Tamil Nadu, no sudeste indiano. Esta OBC começou a ser concebida a partir da necessidade reconhecida por Sri Aurobindo e Alfassa, fundadores e referências espirituais de Auroville, de se criar um espaço que desenvolvesse uma ponte para uma nova consciência que se quer manifestar no mundo. Segundo

35 | P á g i n a

a sua missão, “Auroville quer ser uma cidade universal onde homens e mulheres de todos os países sejam capazes de viver em paz e harmonia gradual acima de todas as crenças, todas as políticas e todas as nacionalidades. O propósito de Auroville é realizar a unidade da humanidade.” (Anexo IX)

Auroville destina-se a ser uma cidade para 50 mil habitantes provenientes de todo o mundo. Hoje em dia, vivem cerca de 2000 membros residentes na comunidade, originários de cerca de 30 países diferentes, reconhecidos como Aurovilianos, que se organizam em 100 comunidades, cada uma com características muito próprias. Ainda acolhe um número variável de voluntários e visitantes. Rodeando Auroville existem inúmeras aldeias da população local Tamil, com mais de 35mil habitantes, que tendencialmente enquanto grupo têm uma orientação religiosa, marcada por rituais, orações e sistemas de crenças Hindus, ao contrário dos Aurovilianos.

Cidade espiritual emergente foi a classificação que Bindu citado por Carel (2008), deu a Auroville ao concluir a sua tese de doutoramento, depois de ter entrevistado 130 Aurovilianos. (Anexo IX) Bindu referiu que a espiritualidade é interpretada de modo individual por cada pessoa, contudo há um denominador comum para todos: o compromisso de integrar a espiritualidade na vida do dia-a-dia, nomeadamente, durante a realização da sua atividade profissional, por outras palavras, Karma Yoga. (Carel, 2008) Ao descrever a natureza de um verdadeiro Auroviliano, Alfassa anotou que a primeira necessidade é a descoberta interna através da qual cada um aprende quem realmente é para além das aparências sociais, morais, culturais, raciais ou hereditárias e no centro de cada um está um ser livre e amplo que espera manifestar-se. Então, a procura espiritual está também relacionada com o facto de os Aurovilianos terem escolhido conscientemente um estilo de vida diferente. Por exemplo, o trabalho não tem o objetivo de ganhar dinheiro, mas é considerado uma forma de servir a Divina Consciência e ao mesmo tempo ajuda à sua própria descoberta interna, pelo que são felizes em aceitar qualquer trabalho que deva ser feito. Ainda de acordo com Bindu, a maioria dos Aurovilianos não parece seguir nenhuma prática espiritual regular, há uma visão comum que através do seu trabalho e escolhendo viver em Auroville, as pessoas participam na evolução espiritual da humanidade.Do mesmo modo, o caminho espiritual é marcado pela liberdade que cada um tem para se expressar e realizar da forma que mais lhe aprouver. (Carel, 2008)

Nas últimas décadas, Auroville tem-se dedicado a uma grande variedade de programas de desenvolvimento sobre diferentes campos de atividade, como arte e cultura, pesquisa educativa, regeneração ambiental, indústrias de artesanato e pequena dimensão, saúde e cura, tecnologias de construção, planeamento urbano integrado, agricultura biológica, energias renováveis e desenvolvimento rural. Este desenvolvimento foca-se em cerca de 40 aldeias

36 | P á g i n a

vizinhas de Auroville e tem como objetivos: aumentar a qualidade de vida da população local através de formação vocacional e autoemprego; envolver os habitantes das aldeias num esforço cooperativo de recuperar terreno baldio e praticar agricultura biológica; aumentar os níveis de saúde através da educação, cuidados preventivos e tratamentos; capacitar mulheres e promover educação para as crianças; encorajar em cada aldeia o espírito comunitário e autoconfiança através de iniciativas sociais, microprojectos e campanhas de sensibilização.

3.1.3. OBC Tamera

Tamera foi fundada em 1995 pelo sociólogo e psicanalista, Dieter Duhm, a teóloga e embaixadora da paz, Sabine Lichtenfels e o físico e músico, Rainer Ehrenpreis, no Alentejo, sul de Portugal. Contudo, a sua história começou em 1978 quando tentaram criar uma equipa interdisciplinar de pesquisa para encontrar soluções para os problemas ecológicos e tecnológicos que o mundo enfrentava nessa época. A sua pesquisa nos campos da sociologia, espiritualidade e ciência levou-os a criar o primeiro Biotipo de Cura chamado Tamera. (Duhm, 2005) Esta OBC ambiciona desenvolver um modelo replicável de uma comunidade sustentável a nível ecológico, tecnológico e social baseado na não-violência entre pessoas e estas e a natureza. (Anexo X) A cura da terra e da humanidade, segundo Duhm (2005, p. 150), “é o resultado da mudança de uma matriz de medo e violência para a Matriz Sagrada da vida”, por outras palavras, os padrões de ordem social humana devem estar de acordo com os padrões da vida e criação da natureza.

Atualmente, a comunidade conta com cerca de 200 pessoas a viver em Tamera, destas umas são membros residentes a tempo inteiro, outras passam períodos transitórios a estudar e/ou a trabalhar. Os valores que orientam esta comunidade são o suporte mútuo, a verdade e transparência e a responsável participação. As principais áreas em desenvolvimento em Tamera são o desenvolvimento de novos sistemas de abastecimento em cooperação com a natureza em relação à água, energia e alimentação, que tem lugar na Solar Village; a área social, que procura formas pacíficas de convivência de seres humanos em comunidade, onde a relação entre géneros toma particular atenção; a área da educação de jovens em diferentes campos; e a criação e expansão de uma rede de trabalhadores para a paz, sob o nome Grace.

O desenvolvimento dos vários projetos deve ser acompanhado por um trabalho interno de cada membro da comunidade para que seja possível passar-se de um paradigma de medo para um de confiança e cooperação. Neste sentido, destacam-se alguns projetos como o Campus Global, o Educação para a Paz Monte Cerro, a Fundação Grace, o Instituto para Paz Global, Editora Meiga, o Centro das Crianças, a Solar Village, a Permacultura, projeto de comunicação com animais e o Centro de Visitantes e Seminários.

37 | P á g i n a

A construção de uma comunidade de paz está, defendem os membros de Tamera, profundamente ancorada numa prática de vida espiritual. Esta pretende-se que seja livre de dogmas, regras e fronteiras, onde a espiritualidade se baseia no questionar, pôr em causa e pensar, pelo que inclui elementos centrais de várias religiões. O seu objetivo é ajudar a reconectar com o poder divino e da criação. (Anexo X) As práticas comunitárias relacionadas com a espiritualidade podem ser observadas diariamente logo pela manhã com os Morning

attunements, a Gospel Hour, nos tempos de estudo, ou as cerimónias nos locais de poder

espiritual, semanalmente ou em ocasiões especiais. Destes, destaca-se o Círculo de Pedras, formado por mais de 60 monólitos, que funciona como um lugar de meditação e poder. É de referir ainda que o núcleo da comunidade se reúne todas as manhãs no Ashram Político para sintonizar e conectar através de leituras espirituais.

3.1.4. ONG Leigos para o Desenvolvimento

Os Leigos para o Desenvolvimento (LD) são uma ONGD, fundada em 1986, sem fins lucrativos, dotada de personalidade jurídica, canónica e civil e pessoa coletiva de utilidade pública, com sede em Lisboa, Portugal. (Anexo XI) É uma associação Católica e uma obra de inspiração Inaciana que partilha com os Jesuítas princípios e uma missão comuns. Têm como missão a promoção do desenvolvimento integral e integrado de pessoas e comunidades de países em desenvolvimento e de Portugal, com vista à sua capacitação e autonomização. Apresentam-se com quatro valores essenciais: identidade cristã; espírito de serviço e desenvolvimento; gratuidade e simplicidade; partilha e vida comunitária. A vida comunitária LD toma dois sentidos. No sentido micro, na medida em que os AD são enviados em missão integrados numa comunidade, formada por outros AD (normalmente 3 a 6 elementos) que vivem e partilham toda a vida social, pessoal, espiritual e a execução dos PD. O sentido macro prende-se com a partilha da comunidade local, seja a comunidade onde os agentes se integram e desenvolvem a sua intervenção num território determinado (ex. Comunidade do Bairro da Graça em Benguela), sejam outras comunidades religiosas.

Leigos é o nome atribuído aos AD dos LD, ou seja, às pessoas enviadas em missão

durante pelo menos um ano pela ONGD-LD. Os primeiros leigos,com o desejo de serem úteis e colocarem os seus talentos ao serviço dos outros, concretamente, de comunidades mais carenciadas, foram enviados em missão para S. Tomé e Príncipe, em 1988. Atualmente têm missões em S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor e Portugal.

Desde o início, os LD assumiram a educação e a formação como área fundamental da cooperação para o desenvolvimento, nomeadamente na criação de escolas, apoio à lecionação,

38 | P á g i n a

cursos de alfabetização, técnico-profissionais, criação de bibliotecas, centros infantis e de apoio escolar, promoção de atividades de tempos livres. Porque a formação tem uma interligação com outras áreas, como a da saúde e do desenvolvimento comunitário, várias são também as ações de capacitação dos agentes locais, como professores, técnicos de saúde, líderes associativos, entre outros, como de reforço institucional de parceiros locais.

Na área da saúde, ainda apoiam programas de combate à subnutrição e vacinação de crianças, programas de medicina curativa em Postos de Saúde e/ou Hospitais, ações de educação para a saúde.

Na promoção social, ambicionam o desenvolvimento social e comunitário (associativismo, cooperativismo, empreendedorismo social, etc.), criando e apoiando infraestruturas como tanques, canalizações de água, promover agricultura de subsistência, abertura de lojas comunitárias e atividades de microcrédito. Também apoiam grupos mais desfavorecidos, nomeadamente através da integração familiar de “meninos de rua”, cozinhas sociais para idosos e programas de promoção da mulher.

Na área da pastoral, que tem por objetivo partilhar conhecimentos religiosos e experiências de fé em grupos da Diocese local, os LD realizam atividades como: catequese, grupos de jovens, organização de retiros e eventualmente apoio aos secretariados diocesanos locais. (Leigos para o Desenvolvimento, 2006)

No documento TESE FINAL Patricia Pacheco (páginas 51-56)