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Contextualizando a atuação do CPP em Itapissuma

Entre os anos de 1959 e 1964, foram organizadas no Brasil campanhas e programas para a educação de adultos. Entre eles esta- vam: o Movimento de Educação de Base, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), estabelecido em 1961, com patrocínio do governo federal; o Movimento de Cultura Popular do Recife, a partir de 1961; os Centros Populares de Cultura, órgãos culturais da UNE; a Campanha De pé no chão também se aprende a ler, da Secretaria Mu- nicipal de Educação de Natal; o Movimento de Cultura Popular do Re- cife; o Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura (1964), o qual contou com a participação do professor Paulo Freire. Grande parte desses programas estava funcionando no âmbito do Estado ou sob seu patrocínio (HADDAD e PIERRO, 2007: 104).

Com o golpe militar de 1964 produziu-se uma ruptura po- lítica, em função da qual os movimentos de educação e cultura po- pulares foram reprimidos, seus dirigentes, perseguidos e seus ideais,

censurados. O Programa Nacional de Alfabetização foi interrompido e desmantelado em abril do mesmo ano, seus dirigentes foram presos e os materiais apreendidos. A Secretaria Municipal de Educação de Natal foi ocupada, os trabalhos da Campanha De pé no chão foram interrompidos e suas principais lideranças foram presas (HADDAD e PIERRO, 2007: 105).

A atuação do Movimento de Educação de Base da CNBB42 foi

bloqueada não só pelos órgãos de repressão, mas também pela própria hierarquia católica. Transformou-se, na década de 1970, muito mais em um instrumento de evangelização do que propriamente de educa- ção popular. As lideranças estudantis e os professores universitários que estiveram presentes nas diversas práticas tiveram seus direitos po- líticos cassados ou foram impedidos de exercerem suas funções.

É nesse panorama político de forte repressão e atuação do Estado militar que, no ano de 1968, é criada a Comissão Pastoral dos Pescadores – hoje denominada Conselho Pastoral dos Pescadores (as). Essa comissão se fez presente na história das lutas e das conquistas dos pescadores (as) no Brasil. Sua contribuição no município de Itapissuma está relacionada ao trabalho do Frei Alfredo Schnuettgen – franciscano de origem alemã, que já havia realizado atividades semelhantes na comunidade de Acaú e na sede do município de Pitimbu, no estado da Paraíba – e da Irmã Nilza Montenegro.

Segundo um relato de Frei Alfredo, em meados de 1972, Itapissuma tinha em torno de nove mil habitantes – cerca de três mil deles viviam da pesca e a Colônia Z-10 contava com aproximadamente quatrocentos associados. Entre as atividades desenvolvidas nessa cadeia produtiva estão a salga e a venda do peixe, além do tecer e consertar as redes utilizadas para a pesca. A maioria dos pescadores 42 A educação de base é um organismo da CNBB (criada em 14 de outubro de 1952) em colaboração ao Ministério da Educação e Desporto com a finalidade de estimular a Educação Popular. Lançado na década de 60, com a implantação de Escolas Radiofônicas, o Movimento de Educação de Base permitiu um amplo processo de alfabetização nas diversas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste e no Norte. O objetivo é alfabetizar pessoas jovens ou adultas das populações mais carentes. Disponível em <http://www.arquidiocesecampinas.org.br/cnbb_historia.htm>. Acesso em: 12 fev. 2011.

150 X q e t u W Saberes, Narrativas e conflitos na pesca artesanal D x X C B M P s x d

utilizava redes de mangotes43 e os chamados arrastos, com malha tão

fina que permitia pescar todos os peixes miúdos.

A proposta da Comissão Pastoral dos Pescadores, segundo a Irmã Nilza, consistia em sensibilizar e mostrar que os trabalhadores tinham inteligência, pois pescavam, teciam as redes, vendiam os peixes, consertavam as baiteiras. Ela considerava que, apoderados de seus direitos e deveres de cidadãos, pescadores (as) poderiam utilizar sua inteligência para a formação de uma sociedade mais justa.

As reuniões de sensibilização ocorreram na Colônia e objetivaram conscientizar principalmente as trabalhadoras sobre seus devidos direitos e acerca da importância da associação de classe.

Essa ação iniciou a luta pela inclusão das pescadoras nas colônias de pesca, considerando que, até o ano de 1978, essas instituições eram controladas pela Marinha de Guerra, a qual não aceitava mulheres em seu quadro de trabalhadores. Pescadoras não eram reconhecidas na instituição que representava os trabalhadores da cadeia produtiva da pesca até 1979, quando puderam obter seu reconhecimento profissional por meio de registro. Apesar disso, ainda há muito a ser feito para dar equidade às trabalhadoras da pesca artesanal em relação aos pescadores do sexo masculino.

Dados coletados demonstraram que a questão ambiental tomou fôlego na comunidade durante os anos de 1980 em virtude de lutas contra a poluição provocada pelas usinas de cana-de-açúcar e por outras indústrias que então despejavam dejetos no Rio Botafogo e no Canal de Santa Cruz.

Em 1985, na Constituinte da Pesca, realizada em Brasília - DF, fizeram-se presentes Anita de Luna, presidente da Associação dos Pescadores de Ponte dos Carvalhos (município de Cabo de San- to Agostinho - PE), e Margarida Mousinho Rodrigues, que assumiu o cargo de presidente da Colônia Z-10 (Itapissuma - PE) após a renún- 43 Mangote: rede utilizada para pescar peixes de pequeno porte. Utiliza até sete pessoas para o arrasto. In SILVA, Almir José Da. Dissertação de Mestrado do PRODEMA/UFPB, 2001, p.107.

cia de Genival Aquino de Souza. Anita e Margarida lutaram e defende- ram a aposentadoria para as pescadoras casadas, considerando que desde 1979 as pescadoras solteiras poderiam obter esse benefício. No entanto, tal direito era ainda pouco acessado, o que resultava num privilégio apenas dos pescadores homens.

Na eleição de 1989 foi organizada uma chapa para presidente da Colônia Z-10. À frente estava a pescadora Joana Rodrigues Mousinho.

Eleição da primeira presidente de colônia de