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Contratos no âmbito do ensino profissional

2. Rede pública de ensino

2.2. Sistema privado

2.2.3. Contratos no âmbito do ensino profissional

As escolas profissionais, reguladas pela Lei n.º 49/2005 de 30 de agosto – LBSE, são consideradas estabelecimentos privados de ensino, podendo o Estado, a título subsidiário, criar unidades para assegurar a cobertura de áreas de formação ou de regiões do país não contempladas pela rede de escolas profissionais existente.

Neste caso, as escolas são consideradas estabelecimentos de ensino não superior pertencentes à rede pública. De acordo com Joaquim Azevedo (s/d)18,

“As escolas profissionais foram criadas, em Portugal, no ano de 1989, por iniciativa conjunta dos Ministérios da Educação e do Trabalho (embora rapidamente viessem a ficar sob responsabilidade apenas do Ministério da Educação) e de muitas pessoas e instituições que há muito reclamavam este tipo de ensino. A inovação educacional teve origem tanto na publicação de um normativo, no Diário da República (o Decreto-lei n.º 24/89, de 21 de janeiro), como na mobilização simultânea de atores sociais da sociedade portuguesa, públicos e privados. O normativo apenas definiu o modelo do novo tipo de escola, enquanto a mobilização social, dinamizada por um novo serviço central do Ministério da Educação, também criado em 198819, procurava suscitar a adesão da sociedade, uma vez que estas escolas deveriam ser criadas não diretamente pelos Ministérios (pelo Estado), mas nasceriam sempre como o resultado de um contrato-programa entre o Estado e um conjunto de parceiros locais.” (s/p.)

Apesar de estarem sujeitas à tutela científica, pedagógica e funcional do Ministério da Educação20, as escolas podem desenvolver as suas atividades culturais, científicas,

18

In, Concelho Nacional de Educação (on-line), 2010.

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O novo serviço central foi criado em novembro de 1988, pelo Ministro da Educação Roberto Carneiro, e chamou-se GETAP – Gabinete de Educação Tecnológica Artística e Profissional. Esclareça-se, antes de mais por uma questão de transparência, que o autor deste texto foi o Diretor-Geral deste novo serviço central, durante cinco anos, e foi responsabilizado pela criação das escolas profissionais. Mais tarde, em 1992 e 1993, foi membro do Governo, também com a responsabilidade de coordenação desta área da política educativa.

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Decreto-lei n.º 70/93 de 10 de março Artigo 3.º - Tutela

No desempenho da sua atividade, as escolas profissionais estão sujeitas à tutela científica, pedagógica e funcional do Ministro da Educação.

Artigo 4.º - Atribuições

São atribuições das escolas profissionais:

a) Contribuir para a formação integral dos jovens, proporcionando-lhes, designadamente, preparação adequada para um exercício profissional qualificado;

tecnológicas e pedagógicas de forma autónoma e sem limitações, para além das decorrentes da legislação aplicável. Esta suspeita do controle estatal apõe Joaquim Azevedo (2011) com alguma ironia “vinte e um anos depois não ficará muito mal dizer isto!”,

“Quando, em 1988, preparámos o lançamento das escolas profissionais (…) e optámos por as fazer nascer não “dentro” do sistema vigente de administração e governação da educação, mas fora, por iniciativa concertada entre o Estado e a “sociedade civil”, sob contrato-programa com o Ministério da Educação e num amplo quadro de autonomia, estávamos bem conscientes da escolha que fizemos (aliás, longamente amadurecida). Estas novas escolas, para poderem efetivamente levar por diante, desde o primeiro ano, desde o primeiro mês e até, desde o primeiro dia do seu funcionamento, os objetivos para que eram criadas, teriam obrigatoriamente que nidificar através de um processo de inovação disruptiva e não incremental. Em boa hora o fizemos. (p. 9, prefácio)

Numa deriva temática ao objeto de estudo, que se assume, teria sido a oportunidade de ressuscitar, com despolitizada vontade e com os fundos sociais europeus de formação profissional, o Ensino Tecnológico instituído pela reforma de Veiga Simão (poder-se-ia copiar e atualizar o modelo implementado à época) – o Liceu (ou outra designação!) e as Escolas Industriais e Comerciais (sistema de ensino que tive o privilégio de frequentar) – adaptado aos tempos de hoje com as novas valências de aplicação do conhecimento, e potenciado às necessidades, capacidades e expectativas intrínsecas da sociedade e de cada um. Não um ensino profissional assistencialista, de combate “à exclusão” e “às más estatísticas”, mas na ênfase de uma assunção de sonhos e vontades vocacionais. Pensa-se que seria, não se esgotando evidentemente (já antes não se esgotava!), por esta vertente técnico-profissional de ensino que se caminharia para uma especialização competitiva das escolas, na atual sociedade tecnológica, assim como uma efetiva integração, numa relação biunívoca, no meio sócio- económico: a escola vai à empresa (em sentido lato).

b) Desenvolver, através de modalidades alternativas às do ensino regular, os mecanismos de aproximação entre a escola e o mundo do trabalho;

c) Facultar aos alunos contactos com o mundo do trabalho e experiência profissional, preparando-os para uma adequada inserção sócio-profissional;

d) Promover, conjuntamente com outros agentes e instituições locais, a concretização de um projeto de formação de recursos humanos qualificados que responda as necessidades do desenvolvimento integrado do País, particularmente no âmbito regional e local;

e) Facultar aos alunos uma sólida formação geral, científica e tecnológica, capaz de os preparar tanto para o ingresso na vida ativa como para o prosseguimento de estudos.

Reconhece-se algum mérito mas não se comunga, por que vivido como aluno e, agora, como professor, do otimismo encantado de Joaquim Azevedo quando diz21,

“Vários foram os elementos de inovação social que esta iniciativa política encerrou. Vejamos muito sinteticamente alguns deles, de caráter mais institucional:

(i) quebrou-se a perspetiva do monopólio estatal na oferta pública e institucional de ensino e investiu-se numa nova via de parceria entre Estado e sociedade civil, capaz de mobilizar a cooperação de muitos atores sociais locais para a educação das populações, sob o modelo de contratos-programa;

(ii) instituiu-se um modelo de gestão autónoma e privada destas instituições, sob o signo da confiança e sem prejuízo da natureza pública da sua atividade, natureza esta inequivocamente inscrita na matriz normativa que criou as escolas profissionais;

(iii) muitas instituições e inúmeras competências de empreendimento e de cooperação ainda “dormentes” foram despertadas na sociedade portuguesa, em liberdade, constituindo âncoras locais para o fomento do ensino profissional e do desenvolvimento sócio-comunitário;

(iv) criou-se uma nova oportunidade educativa que foi amplamente procurada ao longo de muitos anos por uma população jovem que se encontra motivada para a realização de um percurso de formação inicial mais curto (podendo incluir ou não o acesso ao ensino superior), mais prático e articulado com os seus contextos de vida e capaz de promover a sua participação cidadã e a sua integração social e profissional.” (s/p.)

No presente, as escolas profissionais privadas podem candidatar-se a comparticipação pública nas despesas inerentes aos cursos profissionais que organizem. A apreciação e a seleção das candidaturas orientam-se, segundo o documento, por “critérios de pertinência e qualidade”. No entender do ME, estes critérios passam, nomeadamente, pela integração em projeto educativo próprio da escola, a dimensão e distribuição regional equilibrada da rede nacional de cursos profissionais, pela tendência da procura social dos cursos, pelos níveis de empregabilidade dos diplomados e pela harmonização com a rede de escolas e cursos do ensino secundário regular.

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Nos contratos-programa a celebrar entre o Estado e as escolas profissionais, este compromete- se a comparticipar nas despesas de funcionamento, pagando à escola o montante correspondente ao custo efetivo da formação por aluno/ano, tendo em conta a duração dos cursos e a natureza das diferentes áreas de formação. Estes contratos são plurianuais22 e respeitam os ciclos de formação de três anos.

Os cursos ministrados têm dupla certificação: certificação escolar, via tutela do Ministério da Educação e certificação profissional, via Instituto de Emprego e Formação Profissional, no âmbito do Ministério da Solidariedade e Segurança Social23.

No processo de candidatura e reconhecimento do financiamento público as escolas profissionais podem beneficiar ainda de condições especiais de acesso a subsídios a fundo perdido e a linhas de crédito bonificadas destinados à aquisição, construção e equipamento de estabelecimentos de ensino particular ou cooperativo.

Quanto às escolas profissionais de caráter público são, de acordo com o texto de lei, criadas através de portaria conjunta dos ministros das Finanças e da Educação, podendo ser criadas escolas que resultem da transformação de estabelecimentos de ensino já existentes.