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Capítulo 8 Conclusão

8.1 Contribuições da Pesquisa

Para responder a principal questão de pesquisa apresentada no início deste trabalho: “Por que e como a Semiótica Organizacional e o Design Participativo poderiam juntos contribuir para o design de sistemas de suporte ao trabalho cooperativo no contexto organizacional?”, esta tese lidou com vários desafios presentes no desenvolvimento de sistemas de CSCW. Construir novas abordagens para lidar com estes desafios vem sendo objeto de pesquisa na área de CSCW. O DP e a SO juntos trazem uma nova possibilidade para o design de sistemas de suporte ao trabalho cooperativo ainda inexplorada em outros projetos de pesquisa e contribui diretamente para pesquisa nesta área. Considerando os oito desafios apresentados por Grudin (1994) (destacados no capítulo 2), apresentamos como a abordagem proposta explora com cada um eles:

A disparidade entre quem faz o trabalho e quem tem o benefício. Na

abordagem proposta, os futuros usuários participam da decisão sobre as opções de design que possam afetar o trabalho de cada membro do grupo. Ainda que, mesmo com a participação do trabalhador existam disparidades inevitáveis, estas são tornadas visíveis durante o desenvolvimento do sistema

por meio de uma definição clara do contexto organizacional futuro (e não apenas do software). A abordagem proposta nesta tese permite que usuários discutam as normas que definirão as responsabilidades, os deveres e obrigações de cada trabalhador durante o uso do sistema de CSCW;

Massa crítica e o Problema do Dilema do Prisioneiro. Por meio da

Conferência Semiótica e demais técnicas de DP, o SPaM traz trabalhadores de diferentes funções e posições hierárquicas para dentro do processo de design do sistema. Desta maneira estes trabalhadores representam visões e interesses da organização, o que facilita obter massa crítica para viabilizar o uso do sistema. Além disso as responsabilidades sobre o interesse coletivo durante o uso do sistema são definidas e modeladas, o que dificulta que os membros do grupo de trabalho possam agir somente em função de seus próprios interesses;

Fatores Sociais, Políticos e Motivacionais. O DP permite trazer para a pauta

de discussão durante o desenvolvimento do sistema fatores sociais, políticos e motivacionais que irão influenciar o seu uso. Por outro lado, a SO facilita a interação, comunicação e a modelagem destes fatores;

Tratamento de exceções nos grupos de trabalho. O DP permite que os

trabalhadores exponham estas exceções. De maneira complementar a SO permite, por meio da análise semântica, identificar o que é invariante do comportamento do grupo e a análise de normas permite modelar as normas sociais que não necessariamente devem ser obedecidas pelos agentes. Assim, exceções que violam estas normas podem ser especificadas e tratadas adequadamente pelo sistema via especificação de outras normas que abordam estas exceções;

O Design para características não freqüentemente utilizadas. Através do DP

e SO é possível identificar as características não freqüentemente utilizadas uma vez que os trabalhadores que as conhecem participam do desenvolvimento. Também é possível discutir em grupo o papel destas características em um contexto organizacional futuro, o que permite definir quando e como elas são utilizadas no processo de trabalho como um todo;

A dificuldade subestimada para avaliar groupware. Usando DP os designers

podem avaliar junto com os usuários o dinamismo social, motivacional, econômico e político dos grupos e através da SO é possível representar e compreender melhor estes aspectos;

A quebra da tomada de decisão intuitiva. O DP parte do princípio de que a

intuição do grupo trará melhores resultados sobre as decisões de design do que as baseadas na intuição única dos designers. Incluir o trabalhador no processo de design possibilita trazer parâmetros até então não visíveis pelos designers que tinham que tomar decisões sozinhos, com um conhecimento limitado sobre o contexto de trabalho. Decisões sobre aspectos de design de sistemas de CSCW normalmente envolvem discussões sobre o domínio e seus impactos diretos nos métodos de trabalho. A SO junto com o DP permite que o grupo modele e visualize um suposto contexto organizacional futuro delineando as discussões que precedem as decisões de design;

O gerenciamento da aceitação. Na abordagem proposta nesta tese a

introdução do sistema no ambiente de trabalho é facilitada, uma vez que a aprendizagem mútua ocorrida durante o desenvolvimento do sistema possibilita que os próprios trabalhadores disseminem o sistema na organização.

A partir da questão principal foram derivadas outras questões não menos importantes para a pesquisa em CSCW, DP e SO. A primeira delas é: “Que aspectos trabalhados pelo DP e SO são relevantes para a construção de sistemas cooperativos?” Esta questão foi abordada no capítulo 2 e o resultado desta análise contribui para criar uma definição mais clara sobre a importância do contexto social no desenvolvimento de sistemas para suporte ao trabalho cooperativo.

A segunda questão é: “Por que é possível integrar conceitos de DP e SO?” Na abordagem proposta DP e SO são complementares e juntas podem lidar com vários aspectos do desenvolvimento de sistemas computacionais em organizações. Esta abordagem representou o primeiro passo necessário para o desenvolvimento de pesquisas futuras que envolvam ambas as áreas.

A terceira questão é: “Como promover o design cooperativo através da participação e significação?” Esta questão levanta um ponto crucial que é a busca pelo entendimento do desenvolvimento de software como um processo. Nesta tese o design cooperativo é entendido através do conceito de “aprendizagem mútua” (Kyng, 1991) onde a participação e a significação entram como elementos necessários para que ela ocorra. Para tanto é estabelecido o papel do DP, SO e do Departamento de Recursos Humanos como agentes facilitadores na promoção da aprendizagem mútua.

A quarta questão é: “Como desenvolver um método de design baseado em DP e SO?” Para responder a esta questão foi criado o SPaM, que traz várias contribuições para a pesquisa em DP e SO. O SPaM define ciclos, fases e passos que possibilitam trabalhar as técnicas de ambas as áreas. Para construí-lo foi necessário pesquisar aspectos referentes ao processo de significação ainda não explorados em DP e pesquisar novos aspectos referentes à participação até então não trabalhados na área de SO. Através deste trabalho criamos bases que possibilitam ampliar a visão de assuntos abordados em ambas as áreas.

A quinta questão é: “Como possibilitar a participação dos usuários na modelagem proposta pela SO?” Para tanto foi proposta a Conferência Semiótica; ela definitivamente traz o usuário para dentro da modelagem proposta na SO. Embora existisse a preocupação em trazer os signos do contexto organizacional para os modelos, ainda não existia uma maneira que possibilitasse que os próprios trabalhadores articulassem e participassem da modelagem destes signos. Os significados modelados são comuns aos designers e trabalhadores, uma vez que são clarificados ou construídos pela participação direta do usuário no processo de design.

A sexta questão é: “Como derivar modelos para implementar o sistema e fazer manutenção a partir dos resultados do uso de DP e SO ?” Criar modelos de projeto a partir dos modelos da SO e transpor os aspectos modelados para a implementação do sistema são desafios para os pesquisadores desta área. Embora já houvesse uma solução para a modelagem de banco de dados baseados nos aspectos presentes na análise semântica e de normas, não havia um processo que permitisse construir modelos da UML informados pela SO e tão pouco especificar interfaces do usuário que incorporassem e aproveitassem os aspectos trabalhados pela SO. Neste sentido esta tese vai um passo além

do proposto inicialmente, pois é apresentado um procedimento composto de passos e regras heurísticas para a construção de um primeiro diagrama de classes baseado nos resultados da análise semântica. Além disso, é proposta uma arquitetura para a construção de interfaces do usuário que propiciam a manutenção mais ágil do sistema, baseada em características da análise semântica e de normas.

Em termos gerais, acreditamos que esta tese contribui para a pesquisa em desenvolvimento de software ao incluir em um só método aspectos referentes à participação e à significação que até então não haviam sido explorados em conjunto.