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Capítulo 7 Aplicação do SPaM – Um Estudo de Caso

7.2 Aplicação do SPaM – O Sistema Pokayoke

7.2.4 Uso do Sistema

Após os cinco ciclos de prototipação, o Pokayoke substituiu os procedimentos para “Cinco Passos” até então existentes na fábrica. Os trabalhadores que participaram do processo de design foram responsáveis pelo treinamento de outros usuários, evidenciando que a aprendizagem mútua ocorreu durante o processo de design utilizando o SPaM, uma

vez que eles conheciam o sistema e o ambiente suficientemente bem para treinar os outros, sem a necessidade de intervenções dos designers. A aprendizagem mútua aliada com o sentimento de autoria foi fundamental para a aceitação do sistema pelos usuários. Os trabalhadores expressaram várias vezes o sentimento de autoria do sistema durante o design do sistema e seu uso; eram comuns afirmações do tipo: “. . . nós definimos isto desta maneira para evitar . . .”.

Após o sistema Pokayoke ter sido implantado na fábrica, houve um aumento considerável no número de trabalhadores que participam do “Cinco Passos”. Contrapondo a versão em papel do “Cinco Passos”, o sistema é utilizado por trabalhadores de toda a fábrica em diferentes funções e níveis hierárquicos. O sistema foi instalado em cerca de 40 computadores em diferentes pontos da fábrica. Após 10 meses em uso, o sistema contava com a participação de 59 trabalhadores na resolução de 390 problemas. Deste total 185 eram problemas já solucionados e 205 problemas encontravam-se em processo de resolução.

A avaliação da abordagem utilizada para o design da interface do sistema Pokayoke foi realizada através da análise de modificações requeridas pelos usuários durante seu uso. A implementação da parte dinâmica da interface do sistema Pokayoke foi restringida aos tipos de normas apresentadas anteriormente o que exclui normas que detalham por exemplo a inclusão de tarefas pré-definidas ou de novas tarefas obrigatórias a serem realizadas pelo usuário durante o processo. Desta maneira modificações nestes tipos de normas são consideradas modificações no código do sistema. Durante o período de teste, no qual o sistema foi utilizado por sete usuários finais, foi aplicada ao Pokayoke a técnica PHE, conforme proposta por Müller e outros (1998).

Um grupo de 7 usuários e 5 especialistas em interface propôs um total de 25 modificações no sistema durante a aplicação da PHE. Os usuários finais propuseram 14 modificações, das quais 9 referem-se a modificações de normas na parte dinâmica da interface, 3 referem-se a pequenos problemas (uma frase escrita de maneira errada, tamanho do botão, margem da impressão, etc) que podem ser facilmente corrigidos mas foi necessário modificação do código e 2 referem-se a modificações no layout da janela relativo à parte estática; consideramos estas modificações como modificações em código

pois levaram mais de um dia de trabalho para implementá-las (veja distribuição na Figura 7.21).

Normas da parte dinâmica: 64.3%

Pequenos Bugs: 21.4%

Modificações em Código: 14.3%

Normas da parte dinâmica: 64.3%

Pequenos Bugs: 21.4%

Modificações em Código: 14.3%

Figura 7.21 - Modificações propostas pelos usuários finais

Os especialistas em interface propuseram 11 modificações, 4 delas referem-se a normas especificadas na parte dinâmica do sistema, 5 a pequenos problemas de fácil correção mas que requerem modificação no código e 2 que requerem modificações na estrutura da tela da parte estática da interface, para estas modificações foi necessário mais de um dia de trabalho de implementação (veja distribuição na Figura 7.22).

Normas da parte dinâmica:36.4%

Pequenos Bugs: 45.4%

Modificações em Código: 18.2%

Normas da parte dinâmica:36.4%

Pequenos Bugs: 45.4%

Modificações em Código: 18.2%

Figura 7.22 - Modificações propostas pelos usuários especialistas

Outras 3 modificações foram propostas durante os 10 meses de uso do Pokayoke em larga escala por 59 usuários, em substituição ao procedimento de “Cinco Passos” em

papel. Duas modificações referem-se à parte dinâmica do sistema e a outra refere a um pequeno problema facilmente corrigido.

Analisando o total de 28 modificações propostas para o sistema Pokayoke, conforme exibe a Figura 7.23, 54% referem-se à parte dinâmica, 32% à pequenas modificações da parte estática e 14% às modificações que requeriam mais de um dia de trabalho de implementação. Temos que considerar também que este número poderia ser mais favorável se tivéssemos especificado outras funcionalidades do sistema como normas, uma vez que o Pokayoke possui apenas uma versão limitada do NIBC. De maneira geral, a abordagem proposta utilizada no design e no uso do sistema Pokayoke mostrou sua capacidade em facilitar estas modificações.

Normas da parte dinâmica: 53.6% Pequenos Bugs: 32.1%

Modificações em Código: 14.3% Normas da parte dinâmica: 53.6% Pequenos Bugs: 32.1%

Modificações em Código: 14.3%

Figura 7.23 - Distribuição de todas as alterações propostas

7.3 Síntese e Considerações Finais do Capítulo

Neste capítulo foi apresentado o estudo de caso conduzido para explorar o uso do SPaM na prática. Foram descritos o contexto organizacional e o sistema Pokayoke que dá suporte a resolução de problemas em uma organização de manufatura que adota o paradigma de “produção enxuta”.

O tempo total de desenvolvimento do sistema Pokayoke foi de 14 meses distribuídos em cinco ciclos de prototipação. Em cada ciclo de prototipação foram aplicadas várias técnicas de DP que produziram resultados relevantes a todas as fases do

SPaM. Estas técnicas foram aplicadas durante 15 visitas à organização, que totalizaram 52 horas distribuídas durante todos os ciclos de prototipação do sistema.

Os modelos da Análise Semântica e de Normas foram construídos com base nas técnicas de DP aplicadas. Cada uma das técnicas utilizadas contribuiu de maneira complementar dando suporte a tarefas em todas as fases da análise semântica e cobrindo aspectos de todos os níveis da “organizational onion”. As técnicas de DP também foram fundamentais para capturar as regras que regiam o comportamento dos agentes na organização, uma vez que os trabalhadores puderam compartilhar e prover o feedback a respeito da compreensão do ambiente de trabalho.

Entre as técnicas aplicadas está a Conferência Semiótica (proposta nesta tese), explorada durante o primeiro, terceiro, quarto e quinto ciclos de prototipação do SPaM. Seus resultados foram importantes no início de cada iteração, com o objetivo de revisar conceitos do protótipo construído no ciclo anterior e redirecionar o design do próximo protótipo. Também em outros momentos quando era necessário revisar conceitos.

Em relação a aspectos do projeto do sistema Pokayoke, podemos dizer que os modelos iniciais de projeto construídos com base nos procedimentos propostos para serem utilizados durante o design de alto nível (passos 2.2, 2.3 e 2.4 do SPaM) foram importantes para as fases 3 e 4 do SPaM. O sistema Pokayoke foi construído em Java e utiliza RMI (Remote Method Invocation). Possui uma arquitetura dividida em quatro blocos principais: cliente, servidor de aplicação, servidor de dados e estação NBIC. O projeto e implementação da interface (passos 3.1 e 4.1 do SPaM) incluíram o detalhamento de como o sistema dará apoio ao comportamento humano, qual a representação gráfica adequada ao modelo detalhado da interface e também codificação das funcionalidades que permitiram a configuração dinâmica da interface via NBIC.

Analisando as atividades de avaliação aplicadas durante o design do sistema Pokayoke concluímos que algumas delas são necessárias para engajar o grupo em um processo de significação sobre os elementos que envolvem o design do sistema, com o objetivo de “informar” o design da interface. Identificamos um grupo especial de problemas orientados a processo que estão fortemente conectados ao processo de significação. A principal característica destes problemas é que eles promovem a aprendizagem mútua, visto que eles resultam em possibilidades de aprimoramento no

contexto organizacional, identificadas pelos trabalhadores durante o design do sistema (trabalhadores aprendendo sobre oportunidades trazidas pela tecnologia), ou são resultados da falta de compreensão das práticas de trabalho pelos designers do sistema (designers aprendendo sobre o contexto).

Após cinco ciclos de prototipação o Pokayoke substituiu os procedimentos para “Cinco Passos” até então existentes na fábrica. Após 10 meses em uso, o sistema contava com a participação de 59 trabalhadores na resolução de 390 problemas. A avaliação da abordagem utilizada para o design da interface do sistema Pokayoke foi realizada através da análise de modificações requeridas pelos usuários durante seu uso e de maneira geral a abordagem proposta utilizada no design e no uso do sistema Pokayoke, e mostrou-se viável e capaz de facilitar a implementação das modificações.

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