• Nenhum resultado encontrado

O CONTROLO DA DOR

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 41-46)

2. A pessoa com dor

2.5 O CONTROLO DA DOR

2. A pessoa com dor

40 Existem ainda outros métodos não farmacológicos para o controlo da dor, que utilizados em conjunto com os analgésicos, podem funcionar como adjuvantes no alívio da dor. São métodos pouco dispendiosos e de fácil realização, apresentando poucos riscos e que capacitam de algum modo a pessoa para o controlo da sua dor.

A estimulação cutânea através de massagens, fricção nas costas ou aplicação de calor ou frio são medidas paliativas que vale a pena usar para ajudar no controlo da dor. Existem também outras intervenções ao nível do comportamento que podem ser adotadas. Por exemplo, a distração, que tem como objetivo encorajar a pessoa com dor a focar a sua atenção numa imagem ou estímulo especial, diferentes da dor (por exemplo televisão, música). Esta técnica é mais eficaz na dor moderada do que na dor forte. Pode-se ainda recorrer à imaginação, sendo frequente as pessoas com dor crónica usarem esta técnica para substituir a sua dor por imagens positivas de locais e coisas de que gostam. Têm ainda como opção as técnicas de relaxamento. O relaxamento é a antítese da ansiedade, sendo o objetivo destas técnicas diminuir a tensão e a ansiedade e proporcionar distração da dor. É também essencial proporcionar confiança à pessoa com dor, pois elas necessitam de ser lembradas de que vai ser feito tudo o que for possível para prevenir a dor e para a reduzir quando ela aparece (Sorensen e Luckmann, 1998).

Segundo Swenson (2000), existem ainda técnicas invasivas que ajudam no alívio da dor: - Bloqueio nervoso: consiste na injeção de agente anestésico no nervo, ou próximo, para entorpecer a via da dor;

- Procedimentos neurocirúrgicos: correspondem à interrupção cirúrgica ou química (álcool) da via da dor;

- Acupuntura: consiste na inserção de agulhas em vários pontos do corpo para aliviar a dor.

O controlo da dor associada a feridas

Relembrando o modelo definido por Krasner (1995, citado em Dallam, Barkauskas, Ayello e Baranoski, 2004), referido anteriormente, a dor associada a feridas pode ser não cíclica, cíclica e crónica. Consoante o tipo de dor, existem diferentes intervenções que podem ser adotadas pelos profissionais de saúde, com o intuito de controlar a dor.

2. A pessoa com dor

41 Dallam, Barkauskas, Ayello e Baranoski (2004), definiram diferentes intervenções consoante o tipo de dor associada à ferida. Para a dor não cíclica são as seguintes:

“- Administrar analgésicos tópicos ou locais;

- Considerar procedimento em bloco operatório sob anestesia geral, para desbridamento de úlceras de grandes dimensões e profundas, em vez de desbridamento no leito;

- Administrar opiáceos e anti-inflamatórios não esteróis ante e após os procedimentos; - Avaliar e reavaliar a dor durante e após procedimentos;

- Evitar usar pensos húmidos – secos;

- Considerar alternativas ao desbridamento cirúrgico/cortante, como pensos transparentes, hidrogéis, hidrocolóides, soluções salinas hipertónicas ou agentes enzimáticos”(Dallam, Barkauskas, Ayello e Baranoski, 2004).

Por sua vez, as intervenções para a dor cíclica em feridas são:

“- Realizar intervenções na altura do dia em que o paciente se apresentar menos cansado; - Fornecer analgesia trinta minutos antes da mudança do penso;

- Avaliar a dor no paciente durante e após a mudança do penso;

- Se o penso do paciente secou, humedeça cuidadosamente a ferida – especialmente a nível dos bordos;

- Observe a ferida destetando sinais de infeção local;

- Suave e cuidadosamente, irrigue a ferida para remover os detritos e reduzir a carga microbiana, que pode levar feridas contaminadas a tornarem-se infetadas. A infeção irá aumentar a inflamação e a dor no local da ferida.

- Evite usar agentes tópicos citotóxicos; - Evite material de preenchimento agressivo; - Evite secar o leito e os bordos da ferida;

- Proteja a área perilesional com selantes, pomadas ou barreiras à humidade; - Minimize o número de mudanças de penso diárias;

- Selecione um penso que providencie redução da dor; - Evite usar adesivo em pele frágil;

- Coloque talas ou imobilize a área ferida sempre que necessário; - Utilize dispositivos de redução da pressão na cama ou cadeira;

- Proporcione analgesia, sempre que necessário, de forma a permitir o posicionamento do paciente;

- Evite o trauma (fricção ou quebras cutâneas) na pele frágil no momento da transferência, posicionamento e quando levantamos um paciente”(Dallam, Barkauskas, Ayello e Baranoski, 2004).

Para o controlo da dor persistente (crónica) em feridas, devem ser consideradas as intervenções previamente referidas para a dor cíclica e não cíclica e as seguintes intervenções:

2. A pessoa com dor

42

- Controle a infeção;

- Vigie a dor da ferida enquanto o paciente está em repouso (em alturas em que não está a decorrer mudança de penso);

- Controle da dor para permitir a cicatrização e posicionamento;

- Forneça regularmente analgesia em horário programado, incluindo opiáceos, analgesia para controlo do paciente e preparações tópicas como a lidocaína a 2%, dependendo da gravidade da dor;

- Preste atenção à dor não resultante das feridas para síndromes de dor co-morbida, como as contracturas e diabetes, e dor induzida iatrogenicamente a partir dos vasos centrais, venopunções, cateteres, tubos de alimentação, gasometrias ou outro equipamento ou procedimentos;

- Trate a componente emocional da dor ou o sofrimento do paciente. Por exemplo, verifique o que a ferida representa para ele, o que significa, se ele associou perdas de função e se a ferida alterou a sua imagem corporal. Em acréscimo, determine se o seu estado mental ou comportamento, se alterou relacionando com a dor não aliviada” (Dallam, Barkauskas, Ayello e Baranoski, 2004).

Segundo Woo et al (2008), num estudo alargado que envolveu cento e onze pessoas com úlceras nos membros inferiores, a cicatrização da ferida melhorou significativamente nas pessoas que apresentavam um controlo adequado da dor associada à ferida.

44 Como foi referido anteriormente, a dor, para além da sua função vital de sinal de alarme, não tem qualquer outra vantagem, senão provocar sofrimento e diminuição da qualidade de vida de quem a experiencia. Tendo este conhecimento por base, torna-se essencial para os profissionais de saúde avaliar a dor de forma a poderem identificar a sua causa e controla-la de forma eficaz, contribuindo para a qualidade dos cuidados de saúde e para a humanização dos mesmos. Neste contexto, a Enfermagem tem um papel preponderante na avaliação quantitativa e qualitativa da pessoa com dor, porque “apesar da multidisciplinariedade dos cuidados aos doentes com dor, na maioria dos casos, os cuidados de enfermagem são a pedra angular, pois o enfermeiro desempenha num papel vital na gestão da dor devido ao contacto contínuo com os doentes” (Swenson, 2000).

“Partindo da premissa que a prestação de cuidados de enfermagem às pessoas – e em concreto às pessoas com sofrimento, como é o caso particular das pessoas com dor –, tem como finalidade a promoção do bem-estar, cabe ao enfermeiro avaliar, diagnosticar, planear e executar as intervenções necessárias, ajuizando dos resultados. Trata-se, então, de conhecer e seguir os princípios científicos que relevam hoje o envolvimento da pessoa na avaliação e no tratamento da sua dor, bem como a finalidade do cuidado” (Ordem dos Enfermeiros, 2008).

Segundo o Guia orientador de boa prática sobre dor (Ordem dos Enfermeiros, 2008), existem determinados princípios de avaliação e controlo da dor que devem ser cumpridos para a excelência dos cuidados de saúde e enfermagem e que são:

 Toda a pessoa tem direito ao melhor controlo da dor;

 A dor é uma experiência subjetiva, multidimensional, única e dinâmica;  A dor pode existir mesmo na ausência de causas identificadas;

3.

CUIDAR A PESSOA COM DOR SEGUNDO O MODELO DE ROPER,

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 41-46)