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MÉTODO DE COLHEITA DE DADOS

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 58-61)

PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

4. Metodologia de investigação

4.5 MÉTODO DE COLHEITA DE DADOS

4. Metodologia de investigação

57 Tendo em conta os objetivos definidos para este estudo, as entrevistas realizadas foram semi- estruturadas, pois segundo Tod (2009), as entrevistas semi-estruturadas são as menos diretivas e mais aprofundadas, sendo o objetivo explorar em detalhe um domínio de interesse geral ou um fenómeno.

De acordo com o mesmo autor as entrevistas semi-estruturadas necessitam de tópicos pré- determinados e questões abertas, de forma a manter a flexibilidade necessária para explorar assuntos inesperados referidas pelos entrevistados. O entrevistador detém o controlo e a direção das entrevistas desta natureza, mantendo-se, no entanto, recetivo à perspetiva do entrevistado. Na entrevista semi-estruturada é essencial programar a mesma de forma a balançar adequadamente a sua direção e flexibilidade. Desta forma, a questão orientadora da investigação foi abordada, mas permitiu-se também a exploração de respostas novas e interessantes.

Assim sendo, foi elaborado um guião de entrevista para este estudo, pois segundo Fortin, Grenier e Nadeau (1999), “para a entrevista não estruturada utiliza-se um guião com as grandes linhas dos temas a explorar, sem indicar a ordem ou a maneira de colocar as questões. A grelha da entrevista fornece um inventário dos temas a cobrir. (…) O investigador formula questões de resposta livre. As questões de resposta livre ou questões abertas deixam o sujeito livre para responder como entender, sem que tenha de escolher respostas predeterminadas. São propostas questões pelo entrevistador, mas sem que este forneça uma estrutura para a resposta: o respondente cria as suas respostas e exprime-as pelas suas próprias palavras. As questões abertas podem ser gerais ou combinadas com subquestões. A entrevista não estruturada inclui geralmente questões abertas, mas pode também incluir os dois tipos de questões (abertas e fechadas). As questões abertas têm a vantagem de estimular o pensamento livre e de favorecer a exploração em profundidade da resposta do participante”. Assim sendo, o guião de entrevista (Anexo I) inclui não só questões de resposta fechada, mas também questões de resposta aberta, pois são estas que permitem explorar as vivências da pessoa, de acordo com os objetivos do estudo. Organizámos as questões da seguinte forma:

 Dados de caracterização;  Experiência da dor;

 Impacto da dor nas AV’s e relações interpessoais;  Fatores que influenciam a dor;

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58  A dor no tratamento de feridas e a relação com os profissionais de saúde.

As questões de resposta aberta do guião de entrevista deste estudo, apresentam alguns indicadores, que ajudaram a guiar a entrevista, de forma a que os objetivos fossem atingidos, assegurando a abordagem dos temas pretendidos. A elaboração deste guião teve por base a revisão da literatura realizada previamente, considerando principalmente os estudos/artigos de Mudge, Price, Spanou (2008), Pina (2007), Hollinworth (2005) e Woo et al (2008).

Segundo Tod (2009), o sucesso da entrevista depende da capacidade de se desenvolver um clima de confiança e compatibilidade, pelo que a atitude e a conduta do entrevistador têm um papel preponderante. O entrevistador deve parecer genuíno e interessado na perspetiva dos entrevistados. Segundo Legard et al (2003, citado em Tod, 2009) se o investigador se demonstrar confiante, tranquilo e credível facilitará o processo. Assim sendo, realizámos um contacto prévio com a pessoa antes da entrevista, numa das suas vindas ao Centro de Saúde, para que as partes envolvidas na entrevista (entrevistador e entrevistado) se apresentassem e dialogassem. O facto de haver um contacto prévio com o entrevistado, num dos momentos em que este vem realizar o tratamento à ferida no Centro de Saúde, pode também demonstrar à pessoa o interesse do investigador no seu problema, e facilita também ao entrevistador, a abordagem do tema da dor na ferida na entrevista, permitindo-lhe sentir-se mais confiante e tranquilo.

Segundo Phaneuf (2005), “o principal instrumento de que a enfermeira dispõe para realizar uma entrevista, é ela própria, com a sua sensibilidade, a sua perspicácia e a sua capacidade de observação e de contacto caloroso com a pessoa. Um outro meio precioso é a sua escuta”. Ainda de acordo com Tod (2009), ser organizado, eficiente e concentrado, tendo as questões bem organizadas e sendo recetivo ao humor, linguagem corporal e prioridades dos entrevistados, ajuda a desenvolver uma boa entrevista.

Com base no que foi referido anteriormente, de forma a ter uma abordagem organizada e eficiente, não só realizamos um guião de entrevista, mas também obtivemos informações junto dos enfermeiros que prestam cuidados à pessoa, e através do processo de cuidados da mesma. Desta forma, ao iniciar a entrevista, já tínhamos algum conhecimento sobre a pessoa que íamos entrevistar, o que facilitou a interação com a mesma.

Existem diferentes formas de registar os dados obtidos numa entrevista. Segundo Tod (2006), o mais comum é a gravação áudio, complementada por registos escritos de pormenores que não tenham ficado registados na mesma. Assim sendo, as entrevistas deste estudo foram gravadas em

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59 formato áudio, após ter sido entregue e assinado o consentimento informado, pois ao escolher um meio de gravação da entrevista, é importante ter em conta os aspetos éticos relacionados com a confidencialidade e privacidade. A gravação áudio das entrevistas, foi complementada com notas escritas sobre o comportamento da pessoa ao longo da entrevista, que possam ajudar a interpretar as suas respostas. Estas notas só foram escritas no final da entrevista, pois de acordo com (Tod, 2009), se estas forem registadas durante a entrevista, é fácil o entrevistador parecer, ao entrevistado, mais absorvido em escrever as notas do que em participar na entrevista.

Tal como qualquer método de colheita de dados tem as suas vantagens e desvantagens. Apesar de a entrevista ser um método de colheita de dados flexível e ajustável, permitindo colher dados de uma forma eficaz numa variedade de sujeitos, incluindo as suas perspetivas, atitudes, comportamentos e experiências, existe o risco de introduzir viés no estudo através de amostragem ou técnica de questionamento incorretas. (…) A presença do investigador durante a entrevista pode em si ser um risco, levando a alterar as perspetivas ou perceções do entrevistado (Tod, 2009). Para contornar esse problema, tal como foi referido anteriormente, tentámos falar o mínimo necessário durante a entrevista, evitando a exposição de opiniões, para assim reduzir o risco de enviesamento dos dados.

A vantagem da entrevista deste estudo reside no facto de ser semi-estruturada, pois segundo Tod (2009), tem uma capacidade incomparável de criar dados complexos e profundos, dando ainda a oportunidade de explorar a complexidade de um assunto, da perspetiva individual do entrevistado.

As entrevistas decorreram num local sossegado, sem interrupções, tendo sido assegurada a privacidade da pessoa.

“Os aspetos éticos são decisivos em investigação. Sem um código de ética que aponte limites e oriente os passos da investigação é a própria investigação que fica em causa” (Ribeiro, 2008). Segundo Bogdan e Biklen (1994),

“… duas questões dominam o panorama no âmbito da ética relativa à investigação com sujeitos humanos: o consentimento informado e a proteção dos sujeitos contra qualquer espécie de danos. Tais normas tentam assegurar o seguinte:

1. Os sujeitos aderem voluntariamente aos projetos de investigação, cientes da natureza do estudo e dos perigos e obrigações nele envolvidos.

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 58-61)