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Cuidar a pessoa com dor segundo o Modelo de Roper Logan e Tierney

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 48-52)

LOGAN E TIERNEY

3. Cuidar a pessoa com dor segundo o Modelo de Roper Logan e Tierney

46 O pensamento sobre a natureza da enfermagem não é algo recente, até porque em 1859, Florence Nightingale lamentava o fato de a enfermagem ser considerada como pouco mais do que a administração de medicamentos e aplicação de cataplasmas. Não há dúvida de que as tarefas observáveis são um aspeto importante da enfermagem, no entanto, não consideram o processo de raciocínio que é envolvido antes, durante e após essas tarefas observáveis. Assim sendo, ao longo de anos, diversas enfermeiras desenvolveram modelos conceptuais de enfermagem, na tentativa de identificar os conceitos principais que consideram únicos na enfermagem. “Os modelos conceptuais de enfermagem são as apresentações formais de algumas imagens privadas de enfermeiros sobre a enfermagem. Consistem nos conceitos principais que identificam os componentes essenciais da disciplina; mostram o relacionamento entre os conceitos e podem introduzir teorias já estabelecidas de outras disciplinas que são aplicadas numa situação de enfermagem” (Roper, Logan e Tierney, 1990).

Existem diferentes Modelos de Enfermagem desenvolvidos ao longo dos anos, de entre os quais salientamos o Modelo de Roper, Logan e Tierney.

Como seria expectável, torna-se impossível desenvolver um Modelo suficientemente simples para ter significado e simultaneamente, captar todas as complexidades do “viver”. O modelo de vida que sustenta o Modelo de Enfermagem de Roper, Logan e Tierney, é uma tentativa de identificar as características principais desse fenómeno complexo, incluindo estes cinco componentes principais: Atividades de Vida (AV’s), duração de vida, continuum dependência/independência; fatores que influenciam as AV’s; individualidade de vida. Para compreender o Modelo de Vida de Roper, Logan e Tierney é importante saber que a duração de vida, continuum dependência/independência e os fatores influentes são todos interpretados em termos da sua relação com cada uma das AV’s. Por sua vez estes quatro conceitos interativos (AV’s, duração de vida, continuum dependência/independência e fatores) combinam-se e dão origem a um outro conceito: a individualidade de vida (Roper, Logan e Tierney, 2001).

No que concerne às Atividades de Vida, de acordo com Roper, Logan e Tierney (2001), são doze:  Manter um ambiente seguro: todas as pessoas desenvolvem atividades diariamente com o intuito de manter o ambiente seguro quer seja em casa, no trabalho, nos tempos livres, enquanto viajam, entre outros;

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47  Comunicar: os humanos são na sua essência seres sociais e passam a maior parte do dia a comunicar com outros, fazendo a comunicação parte de todos os relacionamentos e comportamentos humanos;

 Respirar: é uma AV da qual quase ninguém tem consciência, até que qualquer circunstância anormal lhes chame a atenção para a mesma;

 Comer e beber: esta AV desempenha um papel significativo no padrão de vida de todos os grupos etários e é essencial à vida;

 Eliminar: à algo que é praticado por todos os indivíduos, com regularidade constante e durante toda a vida;

 Higiene pessoal e vestir-se: uma boa higiene pessoal e brio são encontrados em muitas culturas, quaisquer que sejam os padrões específicos e normas;

 Manter a temperatura corporal;

 Mobilizar-se: a capacidade de mover-se é uma das características de todos os seres vivos, e a capacidade de movimentar livremente o corpo é uma atividade humana necessária e muito valorizada;

 Trabalhar e distrair-se: o trabalho e a distração são complementares e ambos constituem aspetos fundamentais da vida;

 Exprimir sexualidade: cada ser humano é uma ser “sexual” e tem identidade sexual, existindo uma perceção do self como rapaz ou rapariga e, mais tarde, como homem ou mulher;

 Dormir: em média um ser humano passar um quarto a um terço da sua vida a dormir, o que em termos puramente temporais, torna a AV dormir importante;

 Morrer: a morte é o que marca o final da vida, tal como o nascimento marca o seu início. A duração de vida é um dos componentes do modelo de vida mais fácil de compreender, pois esta vai desde o nascimento até à morte, englobando diferentes fases (lactência, infância, adolescência, idade adulta, anciania), pelas quais nem todos vão passar, consoante a sua duração de vida. Por sua vez, associado a este componente surge o continuum de dependência/independência, que relembra que há fases da vida em que a pessoa ainda não pode

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48 ou já não pode realizar determinadas AV’s de forma independente, podendo este continuum variar de acordo com cada AV (Roper, Logan e Tierney, 2001).

Existem ainda diferentes fatores que influenciam as Atividades de Vida desempenhadas por cada pessoa, pelo que cada individuo fá-las de maneira diferente. Segundo Roper, Logan e Tierney (2001), estes fatores são de origem:

 Biológica: dizem respeito ao desempenho anatómico e fisiológico do corpo humano, o que é em parte determinado pela herança genética do individuo;

 Psicológica: estes não podem ser considerados isoladamente pois também estão relacionados com os fatores biológicos, socioculturais, ambientais e político-económicos. Também estão relacionados com outros componentes do modelo, afetando a duração de vida, especialmente, o desenvolvimento intelectual e emocional, e têm impacto ao nível da independência da pessoa.

 Sociocultural: engloba os aspetos espirituais, religiosos e éticos da vida.

 Ambiental: estes fatores diferem dos que foram referidos anteriormente, pois não se enquadram no conjunto de conhecimentos associados a um disciplina reconhecida como a biologia, psicologia ou sociologia. Assim sendo, considera-se que o ambiente é tudo o que é externo à pessoa individual, não tendo portanto limites e poderá incluir uma multiplicidade de circunstâncias.

 Político-económica: diz respeito a aspetos da vida que têm uma relação jurídica. De acordo com as autoras do Modelo de Vida de Roper, Logan e Tierney:

“O nosso modelo de vida tenta oferecer uma conceptualização simples do complexo processo de “viver”. No entanto, ele preocupa-se com a vida tal como ela é experienciada por cada individuo, e este quinto e último componente, o conceito de individualidade de vida, serve para realçar este ponto. (…) A individualidade de cada pessoa ao executar as AV’s é, em parte, determinada pela fase em que se encontra na duração de vida e pelo seu grau de dependência/independência, e é ainda moldada pelos diversos fatores biológicos, ambientais, psicológicos, socioculturais e político- económicos”(Roper, Logan e Tierney, 2001).

Ainda segundo Roper Logan e Tierney (2001):

“O objetivo de concetualizar a vida de acordo com os quatro primeiros conceitos do modelo de vida é identificar a individualidade de vida de cada pessoa, o que constitui a base da nossa conceptualização da enfermagem. O objetivo de conceptualizar a enfermagem de acordo com os quatro primeiros conceitos do modelo de enfermagem é identificar o padrão de individual de vida (e os problemas reais ou potenciais em qualquer das AV’s) de forma a que o enfermeiro possa individualizar os cuidados de enfermagem àquela pessoa, tomando em consideração o respetivo estilo de vida – e (sempre que se aplique) o da família e outras pessoas significativas”.

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49 Quer o Modelo de Enfermagem, quer o Modelo de Vida, são deliberadamente simples, não porque a enfermagem ou a “vida” seja algo simples, mas porque oferecem uma estrutura geral que ajuda a desenvolver uma forma de raciocínio sobre a enfermagem em termos gerais, que pode depois ser utilizada na prática, como forma de desenvolver uma enfermagem individualizada.

No documento A dor na pessoa com ferida crónica (páginas 48-52)