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1.2 CULTURA DA CONVERGÊNCIA

1.2.1 Convergência das mídias

Para Jenkins (2009a), a convergência das mídias implica na confluência entre os diferentes sistemas midiáticos e a interação de forma imprevista entre os poderes do produtor e do consumidor de mídia. A imprevisão a que o autor se refere compreende, principalmente, a modificação do papel do receptor de mídia, mais ativo, mais questionador e, também, um potencial produtor de conteúdo.

A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência (JENKINS, 2009a, p. 43).

Jenkins (2009a) explica que a convergência das mídias não se resume às corporações. O autor enfatiza a importância do público, o qual também faz parte da concepção dele para convergência das mídias. “A convergência, como podemos ver, é tanto um processo corporativo, de cima para baixo, quanto um processo de consumidor, de baixo para cima. A convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa” (JENKINS, 2009a, p. 46).

A convergência corporativa compreende o conjunto de estratégias e ações das empresas de mídia para produzir e distribuir conteúdo por meio de diversas plataformas de mídia. Portanto, a convergência corporativa compreende operações de cooperação entre diferentes empresas de informação e entretenimento, fusões e diversificação midiática (expansão de negócios para novas plataformas).

A convergência alternativa é o “fluxo informal e às vezes não autorizado de conteúdos midiáticos quando se tornam fácil aos consumidores arquivar, comentar os conteúdos, apropriar-se deles e colocá-los de volta em circulação” (JENKINS, 2009a, p. 377). A convergência alternativa está presente tanto na interação dos consumidores com os produtores de mídias quanto na reunião dos consumidores entre si. Assim, a convergência alternativa pode ser observada nos projetos de cocriações, na produção amadora e no

compartilhamento de vídeos, músicas, livros e jogos sem o consentimento dos autores. Como Jenkins (2009a) esclarece:

Às vezes, a convergência corporativa e a convergência alternativa se fortalecem mutuamente, criando relações mais próximas e mais gratificantes entre produtores e consumidores de mídias. Às vezes, essas duas forças entram em guerra, e essas batalhas irão redefinir a face da cultura popular americana (JENKINS, 2009a, p. 46).

Para Jenkins (2004), é importante renegociar as relações entre produtores e consumidores de mídias. O autor cita como exemplos o reconhecimento da importância do relacionamento com a audiência nos planos de negócios, a inclusão de estratégias de busca de feedback do público ainda no processo de produção, o endosso às apropriações do conteúdo e o desenvolvimento de espaços destinados à geração de conteúdo pelo usuário.

A concepção de convergência das mídias, de Jenkins (2009a), como a confluência dos movimentos corporativo e alternativo, pode ser associada à convivência das mídias com funções massivas e pós-massivas29. A noção de funções massivas e pós-massivas é de Lemos e Lévy (2010).

“Por função massiva compreende-se um fluxo centralizado de informações com o controle editorial do polo de emissão por grandes empresas em processo de competição, financiadas pela publicidade” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 48). As funções massivas, conforme os autores, estão baseadas no sucesso de massa, no receptor homogêneo com pouca possibilidade de interagir e nas empresas baseadas no território geográfico nacional ou local, que visam ao lucro por meio da publicidade.

Assim, a gama de mídias com funções massivas compreende, por exemplo, as companhias de cinema, as emissoras comerciais de rádio e televisão, os jornais de abrangência estadual e regional, as revistas semanais e temáticas, os livros de editoras comerciais e os sites das empresas de jornalismo e de entretenimento. É em busca da ampliação e da manutenção das funções massivas que muitas corporações de mídia aderem às estratégias de convergência. Há, portanto, uma forte relação entre as funções massivas e a convergência corporativa.

29A palavra função assinala que existe um conjunto de características que definem as mídias como massivas ou pós-massivas. As mídias digitais não seriam pós-massivas, pois é possível encontrar tanto produtos com funções massivas, como os sites corporativos, quanto com funções pós-massivas, como as redes sociais. Além disso, Lemos e Lévy (2010) lembram que as funções pós-massivas podem ser encontradas entre os meios analógicos, como os fanzines e as rádios comunitárias.

As funções pós-massivas, por sua vez, caracterizam-se por abertura do fluxo informacional, pela liberação da emissão e pela transversalidade e personalização do conteúdo de informação. Elas permitem não só a produção livre, mas também a circulação aberta e cooperativa dos produtos informacionais (sons, textos, imagens, programas). Não há necessidade de grandes recursos financeiros nem de concessão do Estado, e os instrumentos de funções pós-massivas não competem necessariamente por verbas publicitárias e não estão centrados em um território específico. O fluxo comunicacional é mais próximo da conversação (todos- todos) do que da informação (um-todos) (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 48-49).

O sistema midiático com funções pós-massivo inclui emissoras de rádio e televisão comunitárias, os jornais de bairro e as publicações de nicho que não visam ao lucro, os fanzines, os blogs, as mídias sociais e as plataformas de produção e distribuição de conteúdos. Todos esses exemplos de mídias com funções pós-massivas também ilustram a convergência alternativa. Por conseguinte pode-se afirmar que a mudança do comportamento da audiência é resultante da ampliação das funções pós-massivas.

A convergência corporativa está para as funções massivas assim como a convergência alternativa está para as funções pós-massivas. Assim, a convergência das mídias pode ser entendida como a coexistência entre dois sistemas midiáticos “em retroalimentação e conflito” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 26). Com isso, como observa Jenkins (2009a), a convergência também ocorre quando as pessoas comuns assumem o controle das mídias, isto é, apropriam-se delas mediante as funções pós-massivas.