• Nenhum resultado encontrado

1.2 CULTURA DA CONVERGÊNCIA

1.2.2 Cultura participativa

A expressão cultura participativa é usada por Jenkins (2009a) em contraposição a certa passividade atribuída aos espectadores das mídias tradicionais. Para o autor, a cultura participativa é a “cultura em que fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e da circulação de novos conteúdos” (JENKINS, 2009a, p. 378).

Em função dos comentários, das recomendações, das cocriações e de outras formas de apropriação, os consumidores interagem mais entre si e com os responsáveis pelos produtos culturais. Como as apropriações não estão sob o controle da indústria midiática, o autor explica que, na relação entre produtores e consumidores de mídias, existe “um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo” (JENKINS, 2009a, p. 30).

Jenkins (2009a) considera que a participação compreende “formas de engajamento do público moldadas pelos protocolos sociais e culturais, e não pela tecnologia em si” (p. 385). O autor argumenta que a interatividade significa o “potencial de uma nova tecnologia de mídia (ou de textos produzidos nessa mídia) para responder ao feedback do consumidor” (p.

382). Para o autor, a interatividade é mais limitada e previamente determinada pelas corporações de mídia, e a participação, por conseguinte, é mais ampla, “sendo moldada pelas escolhas do consumidor” (JENKINS, 2008, p. 382). A participação, portanto, é menos controlada pelos produtores de mídias, podendo ocorrer externamente aos espaços de interação previstos pelas corporações.

A cultura participativa compreende tanto as cooperações feitas pelo público a partir de estratégias promovidas pelas corporações de mídia, como as seções destinadas à colaboração do internauta, quanto as ações em que as empresas não têm nenhum controle, a exemplo das paródias amadoras de filmes, vídeos de música e programas de televisão. Assim, a cultura participativa envolve a convergência alternativa, um dos movimentos da convergência das mídias.

Aliás, o segmento mais ativo do público de mídias e responsável por diversas formas de convergência alternativa e estratégias de participação é o dos fãs. Além de contribuir com o fluxo de comunicação alheio às mídias com funções massivas, os fãs estão mais dispostos a interagir entre si, por meio de comunidades, e com as corporações, em projetos que podem envolver a cocriação.

Embora a nova cultura participativa tenha raízes em práticas que, no século XX, ocorriam logo abaixo do radar da indústria das mídias, a web empurrou essa camada oculta de atividade cultural para primeiro plano, obrigando as indústrias a enfrentar as implicações em seus interesses comerciais. Permitir aos consumidores interagir com as mídias sob circunstâncias controladas é uma coisa; permitir que participem na produção e distribuição de bens culturais – seguindo as próprias regras – é totalmente outra (JENKINS, 2009a, p. 190).

Com base nessa perspectiva, a cultura participativa ganha novo status diante da Web 2.030, também chamada de internet aberta por O'Reilly (2005), de computação social por Lemos e Lévy (2010) ou, ainda, de meios sociais por Igarza (2008). Os blogs são exemplos da arquitetura aberta da Web 2.0, permitindo que o fã, o amador ou qualquer pessoa tenha a sua página virtual. Os blogs também oferecem espaço para comentários e, assim, diálogo entre blogueiros e leitores, e leitores entre si.

Os quatro pilares da Web 2.0, discutidos por Kuklinski e Romani (2007), ajudam a compreender a importância da internet aberta para a cultura participativa: redes sociais;

30Segundo O’Reilly (2005), a Web 2.0 tem como princípios constitutivos: uso da web como plataforma de trabalho, fortalecimento da inteligência coletiva, gestão de base de dados, como competência básica, modelo rápido de programação em conformidade com a busca da simplicidade e experiência enriquecedora do usuário.

conteúdos; organização social e inteligente das informações; e ferramentas, softwares e plataforma que oferecem valor agregado.

As redes sociais - também chamadas de mídias sociais - são as plataformas que promovem ou facilitam a formação de comunidades e instâncias de intercâmbio social, como

Facebook31, Orkut32, MySpace33 e Twitter34. Conforme Kuklinski e Romani (2007), as redes sociais são regidas por normas equivalentes às da sociedade, como a participação que é implicada pela reputação do usuário. Os autores mencionam a importância da reciprocidade nas redes sociais, isto é, quanto mais pessoas as usam, melhores elas são.

O pilar dos conteúdos se refere às ferramentas que favorecem a produção e a distribuição de conteúdos pelo usuário, como os sites que proporcionam a criação de blogs, as ferramentas wiki35 e as plataformas de compartilhamento de fotos, vídeos e slides. O segundo pilar descrito por Kuklinski e Romani (2007) só é possível em decorrência da liberação do polo de emissão de conteúdo, antes restrito, principalmente, às corporações midiáticas. Esse pilar alia produção, circulação e consumo de conteúdos com funções pós-massivas.

A organização social e inteligente de informações compreende o conjunto de recursos que permite etiquetar e indexar, como as tags (palavras-chaves), e sindicar, como os buscadores e os agregadores RSS36. O processo de etiquetagem social (social tag) permite aos internautas adicionarem palavras-chave aos conteúdos existentes em plataformas da Web 2.0. Tal recurso identifica, agrupa e inter-relaciona os conteúdos, facilitando a circulação. Já a sindicação de conteúdo pode ser feita com base na quantidade de acessos, como no Google, ou conforme chamadas (mais conhecidas como feeds) organizadas por temática e atualizadas constantemente, como o RSS.

O último pilar da Web 2.0 é constituído de ferramentas, softwares e plataformas que oferecem valor adicional ao usuário final, como os organizadores de projetos e os tocadores e armazenadores de música. Kuklinski e Romani (2007) citam como exemplo desse pilar o

Gmail, por possibilitar e integrar uma série de recursos e aplicativos além do serviço de e- mail (os principais são Google Agenda, Google Docs, GTalk).

Os quatro pilares da computação social estão ligados à cultura participativa e à inteligência coletiva – tema do próximo tópico. Entretanto, atualmente, as redes sociais

31<http://pt-br.facebook.com/> 32 < http://www.orkut.com.br> 33 <http://www.myspace.com/> 34 <http://twitter.com/>

35Ferramentas baseadas na Web 2.0 que proporcionam produção e distribuição de conteúdo e, mediante cadastro e/ou senha, permitem a alteração do conteúdo feito por outro usuário.

36RSS são aplicações que permitem ao usuário recorrer as chamadas, os feeds, de blogs ou sites que possuem sistema de sindicação, exibindo de forma dinâmica a nova atualização de conteúdo.

sobrepõem-se aos demais em função dos usos. Para Igarza (2008) e Recuero (2009), o verdadeiro valor, ou capital social, das redes está nos usuários, nas comunidades e nas relações mantidas por meio delas. “Nos meios sociais, a expressão é o valor fundamental. As comunidades não são produtos em si mesmas. Seu valor reside no que os usuários podem dizer e fazer. E este valor é tanto apreciado pelos membros como por quem quer conhecer a opinião do grupo” (IGARZA, 2008, p. 178)37.

Os pilares da Web 2.0 e, em especial, as redes sociais ampliam as possibilidades de reunião e utilização da inteligência coletiva, como será apresentado na subseção a seguir.