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2.3 PRINCÍPIOS DA NARRATIVA TRANSMÍDIA

2.3.7 Performance

A noção de performance transmídia, conforme Jenkins (2009b), compreende a correlação entre atrator cultural, atribuída a Lévy (1995), e ativador cultural, apresentada pelo autor em Cultura da Convergência.

Lévy (1995) diz que o ciberespaço abre um atrator cultural, o qual está centrado em três proposições interdependentes que resumidamente são: (1) mensagens de qualquer ordem que agrupam as pessoas segundo gostos e ocasiões, invertendo a lógica midiática do receptor passivo; (2) decadência da autoria em favor de uma “contínua leitura-escritura”, apagando dicotomias autor-leitor, produtor-espectador e criador-intérprete; (3) desterritorialização das mensagens e das obras, desvinculando-as do local em que foram produzidas e propiciando novos usos e formas de distribuição.

O atrator cultural está ligado com a reunião de pessoas dispersas fisicamente, mas que, com o ciberespaço, podem formar grupos com interesses comuns durante uma determinada situação, como o ativismo político ou a produção de conteúdo. O autor afirma que o “entorno tecnocultural suscita o desenvolvimento de novas espécies de arte, ignorando a separação entre a emissão e a recepção, a composição e a interpretação” (LÉVY, 1995).

Para Lévy (1999), a preocupação central do atrator cultural é como incentivar as pessoas na prática do que ele vem a chamar de “ciberdemocracia” (LÉVY, 1999; LEMOS; LÉVY, 2010). Já Jenkins (2009b) centra-se no engajamento para formas de produção cultural que mudam o conceito de obra. Jenkins (2009b) defende que apenas criar um atrator cultural não basta. É necessário, segundo o autor, o uso do “ativador cultural”.

O ativador cultural é o conjunto de “textos que funcionam como catalisadores, desencadeando um processo de construção compartilhada de significados” (JENKINS, 2009a. p. 374). Dessa forma, o ativador cultural está presente em produtos midiáticos, como, por exemplo, os integrantes da NT, que estimulam a produção coletiva em prol de um objetivo comum. Apenas a produção coletiva não basta é preciso que ela tenha valor para a comunidade.

“Atratores culturais desenham juntos uma comunidade de pessoas que tem interesses em comum – apenas se tiver algum interesse comum sairá da ilha novamente. O ativador cultural dá a esta comunidade algo a fazer” (JENKINS, 2009b. online). Basicamente, o ativador cultural faz com que a comunidade seja potencializada a fazer algo em conjunto. Portanto, os espaços e as ferramentas criados pelas corporações para reunir os fãs são apenas uma das etapas da performance, a atração cultural. É preciso motivá-los e dar um sentido à comunidade.

Um exemplo de ativador cultural e, portanto, de performance transmídia, é o dos mapas encontrados em quebra-cabeças da série Lost. Durante a segunda temporada da série foram lançados quatro quebra-cabeças. Ao ser montado, cada um mostrava, no verso uma imagem holográfica que podia ser vista no escuro com o auxílio de uma lanterna. A imagem

era de um fragmento do mapa da escotilha utilizada pelos personagens na segunda temporada. As comunidades de fãs reuniram-se para trocar informações e, em conjunto, uniram as quatro imagens, a qual pode ser vista na Figura 5.

Figura 5 – Mapa encontrado pelos fãs de Lost a partir da união das quatro imagens existentes no verso dos

quebra-cabeças

O mapa da segunda temporada de Lost é um exemplo de performance transmídia. O atrator cultural já existia: as comunidades de fãs. E o ativador cultural é o mapa colocado de forma segmentada no verso dos quebra-cabeças. A missão é descobrir o que está no mapa e, para isso, os fãs precisaram se unir, trocar informações, compartilhar imagens e o que conseguiram desvendar. O mapa, assim como a série Lost, é cheio de pistas cifradas, que podem ajudar os fãs a compreender melhor a história ou a criar suas próprias teorias sobre acontecimentos considerados estranhos ou absurdos, como o surgimento de ursos polares na ilha.

Os princípios da NT ajudam a entender a complexidade que as histórias contadas dentro do contexto da Cultura da Convergência podem assumir. No próximo capítulo, é feita uma aproximação da notícia com a narrativa e com a narratividade. Apresenta-se também quais são os fatores que influenciam a formas de contar histórias no contexto da convergência.

3 NARRATIVA JORNALÍSTICA E CONVERGÊNCIA

As notícias podem ser consideradas narrativas, ou seja, histórias que relatam fatos extraordinários, como tsunamis, erupções vulcânicas e quedas de aviões, assim como histórias esperadas pelos jornalistas e pelo público, como concursos vestibulares e apresentações artístico-culturais. A narrativa jornalística é a questão que permeia o presente capítulo, em especial sua reconfiguração na Cultura da Convergência.

Como afirma Schudson (1994), a narrativa jornalística é composta de um conjunto de “convenções” ligadas à linguagem jornalística e aos demais recursos utilizados para contar histórias. Os recursos narrativos agregam, basicamente, o texto, o som e a imagem. Portanto, a narrativa jornalística difere a cada plataforma. Por exemplo, na ambiência digital, a narrativa jornalística é constituída da combinação em grande escala de hipertextualidade, multimidialidade e interatividade.

Além das especificidades relacionadas às plataformas, a narrativa jornalística sofre alterações diante do processo de convergência jornalística nas organizações do setor. O fenômeno, perpassado por mudanças nas rotinas produtivas, no perfil profissional, na circulação dos conteúdos e na relação com a audiência, sinaliza uma oportunidade para a elaboração de novas maneiras de contar histórias.

A convergência jornalística introduz a mentalidade multimídia, isto é, a alteração do modo de pensar e produzir notícias orientado para a elaboração da reportagem com recursos multimidiáticos, como galerias de fotos, vídeos, infográficos e animações.

Diante da diversidade de possibilidades e de plataformas, as histórias também podem ser contadas de maneira complementar de modo a oferecer ao público a compreensão aditiva - ampliação do entendimento dos fatos. Assim, o público pode ter uma experiência transmídia com a narrativa jornalística não só ao lê-la e ao fazer as conexões, mas ao participar ativamente em alguma parte do processo noticioso (apuração, produção e circulação).