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A cooperação entre as agências reguladoras e outros entes e órgãos da Administração Pública em

Mecanismos de governança da interação entre as agências reguladoras e outros

4. A cooperação entre as agências reguladoras e outros entes e órgãos da Administração Pública em

contextos específicos

38 Ibid, p. 378-380. 39 Ibid, p. 383. 40 Ibid, p. 383.

Além da ideia de cooperação mais abrangente, existem pontos específicos de interações entre agências reguladoras federais e órgãos e entes da Administração Pública que merecem disciplina especial. Como exemplos podem ser citadas as interações entre regulação e defesa da concorrência, regulação e defesa do consumidor, regulação e meio ambiente, e a cooperação entre a regulação em nível federal, estadual e municipal.

4.1. A cooperação entre as agências reguladoras e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência

Em relação à interação entre as agências reguladoras federais e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, esta pode ocorrer tanto (i) nas atuações preventiva e repressiva do SBDC, nas quais as agências devem cooperar para facilitar o exercício das competências do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica e da Superintendência-Geral, especialmente nos procedimentos administrativos previstos no art. 48, da Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011, como na (ii) advocacia da concorrência, na qual o SBDC, por meio da Secretaria de Acompanhamento Econômico, coopera com as agências mediante a emissão de parecer prévio sobre minutas de normas e editais de licitação em processos de desestatização antes da sua disponibilização para consulta pública, a fim de colher manifestação acerca dos seus potenciais impactos nas condições de concorrência nos mercados.

É oportuno destacar que a proposta do anteprojeto de lei inova em relação aos pareceres prévios sobre minutas de editais de licitação em processos de desestatização, realizados pela Secretaria de Acompanhamento Econômico, eis que somente existe no ordenamento vigente previsão legal genérica sobre a competência desta para opinar sobre minutas de atos normativos elaborados por qualquer entidade pública ou privada submetidos à consulta pública, nos aspectos referentes à promoção da concorrência41.

A previsão legal expressa da cooperação entre as

agências reguladoras e o SBDC, por meio da Secretaria de Acompanhamento Econômico, na modelagem das licitações, com a análise prévia de minutas de editais em processos de desestatização, é relevante porque o nível de competitividade da licitação tem relação direta com as exigências formuladas nos seus editais. Sampaio42 vê que a medida é positiva, merecendo

reparo a omissão legislativa atual. A autora destaca que “setores de infraestrutura poderão beneficiar-se, em muito, de processos institucionalizados de advocacia da concorrência junto aos setores regulados.”

Assim, a cooperação eficiente com a Secretaria de Acompanhamento Econômico nestes procedimentos, mediante ajustes prévios firmados entre esta e as agências reguladoras, possibilita a maximização da “concorrência entre os participantes capazes de prestar o serviço adequadamente, evitando estruturas de licitação que deixem espaço para a ocorrência de situações inibidoras da competição, como conluio, captura ou corrupção, e barreiras de entrada desnecessárias”43.

4.2. A cooperação entre as agências reguladoras e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

A interação entre agências reguladoras e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor deve ter como objetivos (i) promover a eficácia da proteção e defesa do consumidor e do usuário dos serviços regulados, quando for o caso, observado o disposto na Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 e na legislação específica que organizar o setor regulado, (ii) promover a atuação coordenada no tocante à fiscalização de infrações no âmbito das relações de consumo, nos termos da Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990 e da legislação específica que organizar o setor regulado, (iii) obter diagnósticos precisos acerca das demandas de consumo e criar uma estrutura institucional para a elaboração de políticas públicas de promoção e defesa dos direitos do consumidor; e, por fim, (iv) promover a participação da Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor em consultas

42 SAMPAIO, Regulação e concorrência – a atuação do CADE em setores de infraestrutura, op. cit., p. 364. 43 RIBEIRO, Maurício Portugal. Concessões e PPPs: melhores práticas em licitações e contratos. São Paulo: Atlas, 2011, p. 10.

e audiências públicas realizadas em processos normativos ou decisórios que potencialmente afetem direitos e interesses dos consumidores ou usuários dos serviços regulados.

Os objetivos descritos, e que foram incluídos na proposta de anteprojeto de lei, podem ser justificados a partir dos resultados de pesquisa realizada em parceria entre a Secretaria de Reforma do Judiciário, o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento e a Fundação Getulio Vargas44.

Segundo o relatório apresentado como resultado da pesquisa mencionada, há, entre os 20 maiores setores objeto de reclamação por consumidores, diversos serviços objeto de regulação setorial. Tais reclamações, caso não recebam o tratamento adequado, podem resultar em judicialização desnecessária45.

Portanto, “pensar em instrumentos de comunicação entre consumidores, empresas, agências e Judiciário é imprescindível para a) garantir os direitos do consumidor; b) reduzir conflitos e c) consequentemente, demandas no Judiciário”46. Neste sentido, uma atuação coordenada entre

as agências reguladoras e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, com os objetivos acima descritos, pode influenciar não somente a eficiência interna da administração pública, mas a produção de efeitos positivos, inclusive no tocante à redução de demandas judiciais.

4.3. A cooperação entre as agências reguladoras e o Sistema Nacional do Meio Ambiente

No tocante à interação entre as agências reguladoras e o Sistema Nacional do Meio Ambiente, além da necessidade de estabelecer reciprocidade no processo normativo desenvolvido por ambos, deve-se promover a simplificação dos procedimentos de licenciamento ambiental em licitações que tenham como objetivo a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de

44 BRASIL, Ministério da Justiça; FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS; PNUD. Utilização de meios de resolução extrajudicial de conflitos no âmbito de serviços regulados por agências governamentais. Coordenadores: Fabiana Luci de Oliveira e Leandro Molhano Ribeiro. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria da Reforma do Judiciário, 2013. 45 Ibid, p. 14.

recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Tal finalidade possibilita maior segurança jurídica na realização de investimentos em infraestrutura, reduzindo custos públicos e privados envolvidos nos processos administrativos regulatórios. 4.4. A cooperação entre as agências reguladoras federais e os entes reguladores estaduais, do Distrito Federal e municipais

Seguindo a mesma linha de pensamento da cooperação mantida entre agências reguladoras federais e outros sistemas relacionados a políticas públicas específicas, por meio da cooperação entre as agências reguladoras e os entes de regulação estaduais, do Distrito Federal e municipais pode-se promover a redução dos custos de transação relacionados às atividades das agências reguladoras federais.

Por outro lado, com a atuação coordenada, é possível também fomentar a construção e o fortalecimento da atividade reguladora e da cultura da regulação, superando o mito do Estado regulador no país47, mediante ações interfederativas.

Contribui-se igualmente para a melhora regulatória dos serviços públicos e de atividades reguladas da União, estados, Distrito Federal e municípios, mediante a troca de experiências e melhores práticas.