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Cooperativas e Fábricas Analisadas e/ ou Visitadas

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Entendendo o Balde Cheio

4.5. Cooperativas e Fábricas Analisadas e/ ou Visitadas

Foram visitadas e analisadas duas cooperativas produtoras de leite: uma situada em Valença e outra localizada no município de Rio das Flores. As entrevistas foram realizadas no mês de julho de 2013 com o técnico do Balde Cheio em Rio das Flores que representou o presidente da cooperativa da Laticínios Fazenda do Degredo, este não pode comparecer à entrevista marcada, e com o presidente e o diretor comercial da Cooperativa Mista de Valença. Os dados obtidos da fábrica da Nestlé somente foram possíveis via página institucional na internet. Por meio de contatos telefônicos, tentou-se agendar uma visita e uma entrevista convidando-os a participar da pesquisa de tese com o diretor geral de Recursos Humanos da Nestlé, que por sua vez direcionou o contato ao técnico da empresa responsável

pelo relacionamento com os produtores rurais. Após conversa por telefone, este funcionário passou seu correio eletrônico para envio das perguntas de pesquisa. Durante o mês de julho foram feitos outros contatos com o representante da empresa para o agendamento de uma reunião, e em um deles pessoalmente na recepção da organização quando o mesmo se encontrava na empresa, mas em ambos os casos o proponente da pesquisa não obteve sucesso, tampouco o questionário enviado via correio eletrônico foi respondido.

Conforme a tabela 29 (p. 97), durante a entrevista152 com o técnico do Balde Cheio que assiste os produtores cadastrados nos Laticínios Fazenda do Degredo153, situado no município de Rio das Flores, a empresa conta com quarenta e cinco produtores cadastrados que tem o leite coletado por meio de caminhão próprio nos municípios vizinhos, inclusive mineiros. Destes, apenas um aderiu ao programa Balde Cheio e para este produtor a cooperativa envia regularmente a visita do veterinário e extensionista154. Ainda como um benefício pela entrega de um leite de melhor qualidade, este produtor pode receber um adiantamento de parte da produção entregue antes do prazo155. O laticínio é particular e considerado pequeno pelo próprio presidente da instituição. De acordo com sua explicação, a cadeia do leite é muito competitiva entre outros laticínios, cooperativas e multinacionais do setor, e muitos produtores percebem esta concorrência e por falta de tecnologia e apoio governamentais, e por uma maior exigência qualitativa, quantitativa e sanitária das empresas captadoras e consumidores, muitos pequenos produtores estão saindo da atividade por não ter renda, vendendo a propriedade ou migrando para o gado de corte.

Ainda em conversa com o técnico extensionista de Rio das Flores, a especialização do produtor seria uma forma de inclusão na cadeia do leite por ter um produto de melhor qualidade, e possuir visão de gestão e de negócio. A inclusão de tecnologias e visitas por extensionistas e técnicos não seriam, segundo ele, a única forma de inclusão do produtor na cadeia, o respondente cita alguns exemplos que não prosperaram como programa estadual Rio-Genética156 que por meio de uma força-tarefa de técnicos da EMATER muitas vacas foram inseminadas e subsidiadas pelo governo estadual, mas após o nascimento das bezerras a continuidade da política não existiu.

Como pode ser demonstrado e apontado na tabela 29, o laticínio não realiza a coleta de amostras de CCS e CCT de forma regular, segundo o técnico que assiste a empresa láctea, o governo estadual não cumpre com o seu papel fiscalizador. Em razão disto, a importância pela quantidade do leite fica evidenciada em detrimento da qualidade entregue pela fala do mesmo técnico “sabemos que o leite é misturado na origem entre os produtores por meio dos tanques comunitários e por isto o pagamento se faz pela quantidade e não pela qualidade”.

152 A referida entrevista foi acompanhada pelo técnico extensionista que atende o único produtor rural participante do Balde Cheio no município de Rio das Flores.

153 Neste dia foi marcada entrevista com o presidente do laticínio, mas ele não pode comparecer. Mesmo assim, por telefone o presidente autorizou a visita juntamente com o técnico e o fornecimento de dados sobre a empresa pelo mesmo.

154 Os extensionistas Paulo Maurício e Marcelo Afonso da Graça possuem metas de produção nas propriedades atendidas, e que são aferidas por técnicos responsáveis pelo programa da EMBRAPA que visitam a região de 6 em 6 meses. Feita esta medição e o atingimento de metas dos multiplicadores estes recebem pela manutenção e/ou aumento da produtividade via SENAR.

155 No caso da Cooperativa Valença, o diretor comercial revelou que após a entrega do leite demora-se 20 dias para a apuração total e mais 30 dias para o efetivo pagamento. Após a entrega no primeiro dia até o trigésimo dia apura-se a quantidade entregue no dia 20 subsequente é realizado o pagamento. Segundo ele, este período é imprescindível para o pagamento de custos fixos e variáveis da produção e comercialização do produto. Parte deste valor apurado também pode ser aplicada no mercado financeiro como forma de aumento de giro de capital. 156 O Programa Rio-Genética formatado pelo governo estadual do Rio de Janeiro foi idealizado a prover dentre outros objetivos a melhora gradativa genética do rebanho fluminense por meio de técnicas de inseminação artificial. Apesar disso, muitos produtores ficaram sem a continuidade do auxílio técnico após o nascimento das bezerras.

98 Tabela 29: Dados apurados após visitas e consultas às instituições receptoras e beneficiadoras

do leite produzido na região pesquisada. Laticínios Fazenda do

Degredo

Cooperativa de Valença

DPA - Nestlé

Município Rio das Flores Valença Três Rios

Número de Produtores Fornecedores

45 280 400

Porte da produção Pequena Média Grande

Características do fornecedor

Quantidade e Proximidade

Quantidade e Qualidade Quantidade, Qualidade e Proximidade. Dificuldades em manter e/ou aumentar a base de fornecedores Abandono da produção leiteira, venda da propriedade. Aumento da produção acarreta em aliciamento de outras cooperativas e fábricas. Relacionamento distante, dificuldade de

acesso aos produtores (social, logístico e sanitário). Facilidades em sem manter a base de fornecedores O caminhão consegue chegar até a propriedade. Ótimo relacionamento. Assistência Técnica Veterinária. O caminhão consegue coletar o leite na propriedade. Convênio

com a EMATER para limpar estradas. Assistência Técnica Veterinária e Extensionista. Parceria com a prefeitura de Valença. Desenvolvimento e fortalecimento da bacia leiteira da região Produção litros/dia 8.000 30.000 200.000157 Controle CCS e CBT

Não está sendo feito. Realiza coleta mensal de todos os produtores.

Toda a produção é rastreada desde a coleta

na fazenda até o recebimento na fábrica, assegurando a qualidade do produto final. Nível de Fiscalização e marcas comercializadas

Estadual e marca Rio das Flores.

Federal e marcas Boa Nova e Vitalatte.

Federal e marcas Ninho, Molico, Nescau

e a linha Sollys. Fonte: Dados da pesquisa.

Já a Cooperativa Mista de Valença tem uma dinâmica e estrutura voltada para o mercado onde os melhores produtores tendem a ter uma rentabilidade por uma política que o diretor comercial chama de “programa de fidelidade”. O produtor que entrega o leite durante 1 ano ininterrupto recebe R$ 0,01/litro sobre toda a produção entregue naquele ano. São 280 produtores cooperados de Valença, Distrito de Conservatória e Rio das Flores que compõem o quadro de fornecedores de cerca de 30.000 litros/dia de leite.

O respondente alegou que a maior dificuldade do produtor em se manter no Balde Cheio seria após o aumento de produção, quando o produtor também incorre em um aumento de custos, número de funcionários necessários, e por esta razão, o programa tende a não mais ser útil, uma vez que ele sai da característica de agricultura familiar para patronal.

Outra questão levantada pelo presidente da cooperativa foi a forte concorrência com a Nestlé, LBR e BR Foods e outras cooperativas regionais (Barra Mansa). Segundo ele, por

157 Estimativa de produção, número de produtores cadastrados e demais dados coletados na página oficial da

Nestlé planta de Três Rios.

http://corporativo.nestle.com.br/media/pressreleases/Pages/Nestl%C3%A9inauguraf%C3%A1bricadeBebidasno munic%C3%ADpiodeTresRios.aspx. Acessado em 06 jul 2013.

meio de políticas de incentivo de tributos estaduais e municipais, terrenos doados pelos entes públicos, a região sul fluminense passou a ser chamada de “via láctea” que vai de Três Rios até Barra Mansa.158 De acordo com a sua fala, o que deveria ser motiv

“tornou-se uma via crucis porque a região não tem toda a oferta para atender a demanda instalada por todas estas empresas”.

Aos produtores do Balde Cheio a cooperativa destina um veterinário e extensionista que recebe 1/3 de sua remuneração pelos trabalhos prestados, além dos honorários recebidos pelo SENAR, juntamente com o treinamento recebido da EMBRAPA. Outra vantagem em se trabalhar como cooperado da instituição é a logística adequada no transporte do leite possuindo caminhões próprios e de tamanhos específicos para a realidade das estradas que a região necessita, que segundo o respondente, algo que a Nestlé não tem. Outro ponto apontado como vantajoso em se trabalhar no sistema cooperado, pela visão do diretor comercial seria: “aqui o produtor é atendido pelo nome, quaisquer problemas que ele tenha na coleta de seu leite e distribuição, tenta

numa processadora de grande porte se ele esquecer o número de identificação que ele pos não há nada que possa ser feito para atendê

Uma prova de que essa relação seria mais proveitosa entre as partes foi constatada no dia da visita de campo onde pode ser observado n

Laticínio Fazenda do Degredo para

coleta no sítio Paraíso I. Foi presenciada pelo autor deste trabalho uma chamada telefônica do produtor Delmo Lopes para o laticínio avisando do problema ocorrido com o caminhão a 500 metros de sua propriedade. Em pouco mais de meia hora foi

início do resgate.

Figura 18: Caminhão atolado e o envio de um auxiliar para ajuda (moto). Fonte: Dados da pesquisa.

158 A referência “Via Láctea” foi utilizada para explicar que na região existem plantas lácteas que demandam muito leite: LBR (Parmalat e Bom Gosto) em Barra Mansa 300.000 litros/dia, Nestlé 500.000 litros/dia em Três meio de políticas de incentivo de tributos estaduais e municipais, terrenos doados pelos entes públicos, a região sul fluminense passou a ser chamada de “via láctea” que vai de Três Rios De acordo com a sua fala, o que deveria ser motivo para comemorações porque a região não tem toda a oferta para atender a demanda instalada por todas estas empresas”.

Aos produtores do Balde Cheio a cooperativa destina um veterinário e extensionista remuneração pelos trabalhos prestados, além dos honorários recebidos pelo SENAR, juntamente com o treinamento recebido da EMBRAPA. Outra vantagem em se trabalhar como cooperado da instituição é a logística adequada no transporte do leite s próprios e de tamanhos específicos para a realidade das estradas que a região necessita, que segundo o respondente, algo que a Nestlé não tem. Outro ponto apontado como vantajoso em se trabalhar no sistema cooperado, pela visão do diretor : “aqui o produtor é atendido pelo nome, quaisquer problemas que ele tenha na coleta de seu leite e distribuição, tenta-se ao máximo resolver seu problema, enquanto que numa processadora de grande porte se ele esquecer o número de identificação que ele pos não há nada que possa ser feito para atendê-lo”.

Uma prova de que essa relação seria mais proveitosa entre as partes foi constatada no de campo onde pode ser observado na figura 18 o envio de auxiliar (moto) do egredo para desatolar o caminhão-tanque que estava para fazer a . Foi presenciada pelo autor deste trabalho uma chamada telefônica do produtor Delmo Lopes para o laticínio avisando do problema ocorrido com o caminhão a 500 e sua propriedade. Em pouco mais de meia hora foi verificado o envio da ajuda para

Caminhão atolado e o envio de um auxiliar para ajuda (moto).

A referência “Via Láctea” foi utilizada para explicar que na região existem plantas lácteas que demandam muito leite: LBR (Parmalat e Bom Gosto) em Barra Mansa 300.000 litros/dia, Nestlé 500.000 litros/dia em Três meio de políticas de incentivo de tributos estaduais e municipais, terrenos doados pelos entes públicos, a região sul fluminense passou a ser chamada de “via láctea” que vai de Três Rios o para comemorações porque a região não tem toda a oferta para atender a demanda Aos produtores do Balde Cheio a cooperativa destina um veterinário e extensionista remuneração pelos trabalhos prestados, além dos honorários recebidos pelo SENAR, juntamente com o treinamento recebido da EMBRAPA. Outra vantagem em se trabalhar como cooperado da instituição é a logística adequada no transporte do leite s próprios e de tamanhos específicos para a realidade das estradas que a região necessita, que segundo o respondente, algo que a Nestlé não tem. Outro ponto apontado como vantajoso em se trabalhar no sistema cooperado, pela visão do diretor : “aqui o produtor é atendido pelo nome, quaisquer problemas que ele tenha na se ao máximo resolver seu problema, enquanto que numa processadora de grande porte se ele esquecer o número de identificação que ele possui Uma prova de que essa relação seria mais proveitosa entre as partes foi constatada no o envio de auxiliar (moto) do tanque que estava para fazer a . Foi presenciada pelo autor deste trabalho uma chamada telefônica do produtor Delmo Lopes para o laticínio avisando do problema ocorrido com o caminhão a 500 o envio da ajuda para

A referência “Via Láctea” foi utilizada para explicar que na região existem plantas lácteas que demandam muito leite: LBR (Parmalat e Bom Gosto) em Barra Mansa 300.000 litros/dia, Nestlé 500.000 litros/dia em Três

100 A cooperativa recentemente fechou um contrato com a rede de supermercados Zona Sul para venda dos produtos lácteos da marca Vitallate159, o que de acordo com as entrevistas do presidente e do diretor comercial da Cooperativa Valença lhe trouxeram prestígio e renda. A produção é compartilhada entre marcas próprias (da Cooperativa) e a marca da rede varejista, segundo os gestores da cooperativa, “o maior problema agora é vender e não mais receber”, ou seja, com a parceria a captação de leite tem destino certo na linha de produção para produtos do Zona Sul, agora, a preocupação por obter a matéria-prima passou a ser mais importante para atender a demanda.

Em relação ao controle de células somáticas e bacteriano, os responsáveis pela cooperativa assumem que fazem a coleta mensal de todos os produtores (figura 19) e enviam para a Clínica do Leite previsto na Normativa 62, mas admitem que não penalizam o produtor se por um momento teve uma amostra reprovada, mas avisam aos mesmos que obtiverem alguma reprovação para se adequarem.

Na visão dos cooperados, o programa Balde Cheio tem a vantagem de organizar e planejar a produção do pequeno produtor, mas percebe como desvantagens uma metodologia um tanto ortodoxa cujo produtor é obrigado a seguir, além do nível de crescimento limitado e da geração de dependência em relação aos extensionistas.

Perguntados se a Cooperativa Valença acredita que naturalmente alguns produtores serão excluídos do processo de especialização e de inclusão na cadeia do leite, tanto o presidente quanto o diretor comercial afirmaram que há campo para todos, mas naturalmente se eles não se capacitarem sairão da cadeia.

Figura19: Coleta de amostras de leite realizada pela Cooperativa Valença. Fonte: Dados da pesquisa.

No documento Download/Open (páginas 116-120)